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Hannah Arendt: Legitimidade e Política - Programa de Pós ...

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dos negócios públicos através <strong>de</strong> uma representação também privatizada. Em<br />

consonância com isso, o Estado era expresso na perspectiva <strong>de</strong> reconhecer como<br />

cidadão indivíduos não organizados politicamente – fora <strong>de</strong> partidos. Dito <strong>de</strong> outra<br />

forma, a principal função dos partidos continentais era representar interesses, e<br />

conforme esses se encontravam articulados nas classes sociais, sua sustentação<br />

se encontrava garantida. Contudo, quando o sistema <strong>de</strong> classes entra em <strong>de</strong>clínio<br />

a partir da Primeira Guerra Mundial, produto da atomização social e política, os<br />

partidos continentais perdiam o consentimento que repousava nas classes sociais,<br />

tendo como conseqüência que o sistema político entrava em <strong>de</strong>clínio.<br />

Segundo <strong>Arendt</strong>,<br />

“Quando consi<strong>de</strong>ramos a diferença entre o sistema multipartidário do Continente e o sistema<br />

bipartidário britânico no que tange à predisposição <strong>de</strong> movimentos [totalitários], parece mais fácil a<br />

uma ditadura unipartidária assenhoriar-se da máquina estatal em países on<strong>de</strong> o Estado está acima<br />

dos partidos, e, portanto, acima dos cidadãos, do que em países on<strong>de</strong> os cidadãos, por agirem ‘em<br />

conjunto’, isto é, através da organização <strong>de</strong> um partido, po<strong>de</strong>m galgar legalmente o po<strong>de</strong>r e se<br />

sentem como donos do Estado, seja o <strong>de</strong> hoje, seja <strong>de</strong> amanhã.” 22<br />

Com a erosão dos interesses que articulavam as classes sociais ao sistema partidário continental,<br />

<strong>Hannah</strong> <strong>Arendt</strong> <strong>de</strong>monstra como este fato abalou a própria representativida<strong>de</strong> do sistema político. Segundo a<br />

autora, a partir <strong>de</strong> então a continuida<strong>de</strong> dos partidos era alimentada pela possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> virem a restaurar o<br />

status quo no qual sua representação estava garantida na socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> classes. Isso significa que estavam<br />

ancorados não em autênticos interesses comuns, mas no sonho <strong>de</strong> restaurá-los, tornando-se, com efeito,<br />

apologéticos e nostálgicos em sua orientação política. Doravante, os partidos perdiam o consentimento das<br />

pessoas <strong>de</strong>sprovidas <strong>de</strong> ligação política que percebiam neles a representação política que cuidava <strong>de</strong> seus<br />

interesses, assim como da geração mais jovem que não mais se tornava passível <strong>de</strong> recrutamento para<br />

composição dos seus quadros. Das limitadas obrigações políticas das socieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> classes que as vinculava<br />

<strong>de</strong> forma tradicional ao governo e impossibilitava <strong>de</strong> sentirem-se social e individualmente responsáveis por<br />

ele, as massas marchavam para on<strong>de</strong> pu<strong>de</strong>ssem expressar violenta oposição às instituições políticas<br />

<strong>de</strong>slegitimadas. Segundo <strong>Arendt</strong>, estes fatos, situados numa atmosfera marcada pelo sentimento <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>simportância e superfluida<strong>de</strong> 23 , pelo sentimento <strong>de</strong> dissolução nas forças anônimas da história, significaria<br />

o <strong>de</strong>sprezo das massas a todo governo visível e o carreamento <strong>de</strong> sua existência em forças anônimas que as<br />

reintegrassem <strong>de</strong> volta ao mundo.<br />

22 Imperialismo, OT, p. 288.<br />

23 Para a análise do niilismo na atmosfera do entre-guerras, cf. H. ARENDT, Totalitarismo, In OT, p.<br />

376-389. W. BENJAMIN, Sobre a coletânea Guerra e Guerreiros, ed. por Ernest Jünger,<br />

Experiência e Pobreza, In Obras Escolhidas I – Magia e Técnica, Arte e <strong>Política</strong>, p. 61-72 ; 114-<br />

119.

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