16.04.2013 Views

Hannah Arendt: Legitimidade e Política - Programa de Pós ...

Hannah Arendt: Legitimidade e Política - Programa de Pós ...

Hannah Arendt: Legitimidade e Política - Programa de Pós ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

instituições políticas. Para <strong>Arendt</strong>, o que caracteriza a socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> massas é o esgarçamento da urdidura<br />

social e política que permitia que as classes da socieda<strong>de</strong> se vinculassem as instituições políticas,<br />

reconhecendo-as e reafirmando-as.<br />

Com efeito, se é fundamental assinalar esta impossibilida<strong>de</strong> política das massas <strong>de</strong> se vincularem às<br />

instituições políticas do po<strong>de</strong>r, a partir <strong>de</strong> agora <strong>de</strong>stacaremos a ascensão e <strong>de</strong>clínio das instituições políticas<br />

mo<strong>de</strong>rnas – o Estado-naçional europeu e seu sistema partidário – segundo o diagnóstico arendtiano da quebra<br />

da autorida<strong>de</strong> política na mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>.<br />

Na sua análise do surgimento e <strong>de</strong>clínio do Estado nacional europeu, <strong>Hannah</strong> <strong>Arendt</strong> empreen<strong>de</strong> uma<br />

crítica ao colapso da legitimida<strong>de</strong> das instituições políticas no escopo das suas análises da era mo<strong>de</strong>rna. A<br />

esse respeito, a compreensão do surgimento e <strong>de</strong>clínio das instituições políticas mo<strong>de</strong>rnas assinala sua<br />

compreensão “das disparida<strong>de</strong>s aparentemente absurdas entre causa e efeito que assinalam a história<br />

mo<strong>de</strong>rna.” 15 O Estado-nação, que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a Revolução Francesa foi her<strong>de</strong>iro da idéia <strong>de</strong> representação popular<br />

e soberania nacional, era fruto da combinação da idéia <strong>de</strong> nacionalida<strong>de</strong> – ou seja, da compreensão <strong>de</strong> que as<br />

nações a<strong>de</strong>ntrariam a história e se emancipariam quando os povos adquirissem consciência <strong>de</strong> serem<br />

entida<strong>de</strong>s culturais distintas com um passado histórico e <strong>de</strong>stino territorial comuns – com a estrutura do<br />

Estado, produto da sua evolução da monarquia e <strong>de</strong>spotismo esclarecido (legitimida<strong>de</strong> dinástica), para a<br />

forma <strong>de</strong> nova república ou <strong>de</strong> monarquia constitucional reformada (legitimida<strong>de</strong> popular). Esta articulação<br />

assumia no estado constitucional a função <strong>de</strong> proteger todos os habitantes <strong>de</strong> seu território, transcen<strong>de</strong>ndo a<br />

própria idéia <strong>de</strong> nacionalida<strong>de</strong> e agindo respaldado como instituição legal maior.<br />

Se a autocompreensão nacional criava entre os súditos um vínculo <strong>de</strong> coesão a partir <strong>de</strong> uma<br />

i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> nacional comum, esta articulação obrigava, por sua vez, o Estado-nação a ancorar sua autorida<strong>de</strong><br />

política nos vínculos que aí eram firmados. O que então sucedia era que a consciência nacional emergente<br />

tornava possível vincular essa integração social abstrata – a nação – à estrutura política do Estado que<br />

precisava repor sua base legitimatória <strong>de</strong> forma secularizada, pela quebra da legitimação das monarquias<br />

tradicionais. Nos limites <strong>de</strong> sua corporificação através <strong>de</strong> um direito constitucional positivo, o Estado pô<strong>de</strong><br />

integrar os indivíduos in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes da idéia <strong>de</strong> nacionalida<strong>de</strong>, através <strong>de</strong> um corpo jurídico que viabilizava<br />

uma cidadania reconhecida. Contudo, a articulação do Estado constitucional com a idéia <strong>de</strong> nacionalida<strong>de</strong><br />

seria cindida na mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, com o predomínio da Nação em <strong>de</strong>trimento das estruturas jurídicas do Estado.<br />

Historicamente, segundo <strong>Arendt</strong>, a queda das monarquias absolutistas e o subseqüente surgimento das<br />

classes contribuíram para conflagrar a conquista do Estado pela Nação, uma vez que a queda do monarca<br />

absoluto e da soberania que sua figura encarnava, vacilavam ante a substituição <strong>de</strong>ssa unida<strong>de</strong> nacional<br />

corporificada pelo contínuo conflito entre as classes e uma luta pelo controle da máquina estatal. Doravante,<br />

os laços comuns estabelecidos como requisitos para a unida<strong>de</strong> dos cidadãos do Estado-nação, <strong>de</strong>ixavam <strong>de</strong> se<br />

referenciar na constitucionalida<strong>de</strong> da qual o Estado era o guardião e passavam a se orientar na origem<br />

nacional. O que significa que a legitimação do Estado- nação era auferida não mais através <strong>de</strong> um corpo <strong>de</strong><br />

cidadãos integrados constitucionalmente, e sim através da própria nacionalida<strong>de</strong>. O resultado <strong>de</strong>ssa<br />

15 I<strong>de</strong>m, Imperialismo, In OT, p. 161.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!