Hannah Arendt: Legitimidade e Política - Programa de Pós ...
Hannah Arendt: Legitimidade e Política - Programa de Pós ...
Hannah Arendt: Legitimidade e Política - Programa de Pós ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
quando a autorida<strong>de</strong> política é objeto <strong>de</strong> contestação e suas pretensões <strong>de</strong> reconhecimento<br />
são colocadas em dúvida, <strong>de</strong>correndo que as instituições políticas do po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>ixam <strong>de</strong><br />
funcionar a<strong>de</strong>quadamente, são as legitimações gestadas no espaço público que po<strong>de</strong>m<br />
reativar o reconhecimento a uma autorida<strong>de</strong> que se coloca diante <strong>de</strong> emergências<br />
políticas 345 .<br />
Desta dupla articulação entre as legitimações política do po<strong>de</strong>r que estão assentadas<br />
no espaço público <strong>de</strong>liberativo, e das pretensões <strong>de</strong> reconhecimento <strong>de</strong> uma autorida<strong>de</strong> que<br />
integra e conserva o conjunto do espaço político, é que <strong>Arendt</strong> pensa a legitimida<strong>de</strong> do<br />
âmbito político. A<strong>de</strong>mais, para a autora, a emergência do totalitarismo no século XX<br />
assinala que a legitimida<strong>de</strong> auferida segundo a eficácia dos interesses dos <strong>de</strong>stinatários do<br />
sistema político não po<strong>de</strong> assegurar sua permanência e tampouco sua estabilida<strong>de</strong> políticas.<br />
E que, por outro lado, a simples equiparação da legitimida<strong>de</strong> do po<strong>de</strong>r com sua<br />
conformação à legalida<strong>de</strong>, não só obscurece os dois fenômenos em questão, mas é que a<br />
própria valida<strong>de</strong> das leis positivas só é possível se elas tiverem a legitimida<strong>de</strong> da autorida<strong>de</strong><br />
que estabelece o corpo político. Se privada da legitimida<strong>de</strong>, a própria legalida<strong>de</strong> resvala<br />
para o arbítrio político.<br />
A distinção do pensamento clássico entre um regime político que é legítimo porque<br />
obe<strong>de</strong>ce as suas leis e a <strong>de</strong> que um regime é arbitrário porque não está conforme as leis, foi<br />
posta em questão com o totalitarismo, porque, como <strong>de</strong>monstra <strong>Arendt</strong>, o totalitarismo<br />
operava pelo <strong>de</strong>sprezo as leis positivas ao tempo que juncava a lei e o po<strong>de</strong>r acima dos<br />
homens, conjugando, <strong>de</strong> maneira inédita, a legitimida<strong>de</strong> do po<strong>de</strong>r à obediência as leis<br />
naturais do regime. Doravante, uma legitimida<strong>de</strong> política que é produto da ação humana e<br />
que toma como ponto <strong>de</strong> ancoradouro a instituição <strong>de</strong> uma comunida<strong>de</strong> política para o<br />
abrigo e conservação <strong>de</strong>stas liberda<strong>de</strong>s, é essencial para sair da equiparação clássica da<br />
legitimida<strong>de</strong> com a legalida<strong>de</strong>. Além do que, contrasta com um regime político que<br />
somente existi na medida em que torna por princípio inválido o <strong>de</strong>bate contínuo sobre o<br />
legítimo e o ilegítimo que constitui propriamente a esfera do político.<br />
Para concluir, resta dizer que o objetivo do nosso trabalho foi percorrer o problema<br />
da legitimida<strong>de</strong> do registro das Origens do Totalitarismo até aquele apresentado em Sobre<br />
a Revolução. Ao <strong>de</strong>marcar nos conceitos <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r e autorida<strong>de</strong> o fio da reconstituição do<br />
345 Ver a esse respeito, H. ARENDT, Desobediência Civil, In CR, p. 90.