Hannah Arendt: Legitimidade e Política - Programa de Pós ...
Hannah Arendt: Legitimidade e Política - Programa de Pós ...
Hannah Arendt: Legitimidade e Política - Programa de Pós ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
questão <strong>de</strong> que os assuntos práticos que predominaram na vida política da Cida<strong>de</strong> são<br />
sempre uma restauração <strong>de</strong> questões práticas preexistentes aos atores políticos, que terão<br />
enfim sua legitimida<strong>de</strong> contestada se estiverem privados da sua referência.<br />
Para <strong>Arendt</strong>, a autorida<strong>de</strong> política legitima não somente o po<strong>de</strong>r mas também<br />
sanciona a existência das leis conferindo-lhe valida<strong>de</strong>, posto que estas na mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong><br />
carecem dos esteios da sanção divina segundo sua justificativa tradicional, e per<strong>de</strong>riam sua<br />
substância se fossem apenas dadas empiricamente através da ação 343 . Para a autora, a<br />
valida<strong>de</strong> das leis positivas auferida através da autorida<strong>de</strong> materializada na fundação<br />
constitucional, atesta para o fato <strong>de</strong> que a legalida<strong>de</strong> das leis somente é obtida se estas<br />
possuírem a legitimida<strong>de</strong> conferida pela fundação constitucional, e que, a sua simples<br />
expressão positiva po<strong>de</strong>ria redundar no arbitrário. É porque é na fundação constitucional<br />
que um regime político é constituído segundo o princípio formal da integração e<br />
configuração da sua pluralida<strong>de</strong> que ela <strong>de</strong>fine a legitimida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma or<strong>de</strong>m constituída, e é<br />
balizando-se neste pressuposto que as leis positivas são <strong>de</strong>claradas legais segundo sua<br />
constitucionalida<strong>de</strong>. Na medida em que incorpora através da or<strong>de</strong>nação constitucional os<br />
pressupostos que conduziram a fundação <strong>de</strong> um corpo político, as leis são tornadas<br />
legitimas na medida em que conservam, através da adição <strong>de</strong> novas leis, a Constituição, que<br />
integra e constitui os cidadãos <strong>de</strong> um regime político 344 .<br />
Não obstante, se é através da Autorida<strong>de</strong> que o po<strong>de</strong>r obtém legitimida<strong>de</strong> política e<br />
que as leis são tornadas válidas, as fontes nos quais estão fincados precisa ser atualizada ao<br />
longo do tempo uma vez que estão <strong>de</strong>sancoradas do fundamento <strong>de</strong> sua valida<strong>de</strong> última<br />
com a secularização mo<strong>de</strong>rna. Posto que, para <strong>Arendt</strong>, a autorida<strong>de</strong> se fundamenta no<br />
reconhecimento, o princípio da sua garantia precisa ser continuamente renovado segundo o<br />
po<strong>de</strong>r político que se consorcia no espaço público. Esta questão implica que, se com os<br />
romanos, o fundamento <strong>de</strong> legitimida<strong>de</strong> se encontrava no passado e este tinha sua<br />
conservação assegurada pela tradição, com a mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> suas pretensões <strong>de</strong> valida<strong>de</strong><br />
política <strong>de</strong>vem ser atualizadas através das legitimações advindas do po<strong>de</strong>r. Para <strong>Arendt</strong>,<br />
343<br />
H. ARENDT, Imperialismo, In OT, p. 332. Para a questão da valida<strong>de</strong> das leis, ver o <strong>de</strong>bate <strong>de</strong><br />
<strong>Arendt</strong> com Sieyés. SR. p. 160-161.<br />
344<br />
S. COTTA, “Or, si la léitimité <strong>de</strong>s gouvernants, hier comme aujourd’hui, peut être réduite sans<br />
inconvénient à la notion <strong>de</strong> légalité, cette réduction ne peut se fair quand on oconsdère le régime<br />
politique lui-même e as constitution.” Éléments d’une phénoménologie <strong>de</strong> la légitimité, In Annales<br />
<strong>de</strong> Philosophie Politique – L’Idée <strong>de</strong> Légitimité, p. 71.