16.04.2013 Views

Hannah Arendt: Legitimidade e Política - Programa de Pós ...

Hannah Arendt: Legitimidade e Política - Programa de Pós ...

Hannah Arendt: Legitimidade e Política - Programa de Pós ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

político pela esfera pública da ação e do discurso cumpre assim o papel <strong>de</strong> salvaguardar o<br />

domínio político dos processos metabólicos que solapam a permanência das comunida<strong>de</strong>s<br />

políticas. Porque o político, para <strong>Arendt</strong>, somente po<strong>de</strong> existir se resta assegurado um<br />

espaço comum aos homens, espaço que se transforma em político na medida em que é<br />

habitado pela pluralida<strong>de</strong> humana.<br />

Não obstante, mesmo se o po<strong>de</strong>r gestado na esfera pública e consubstanciado em<br />

instituições políticas conferi legitimação ao conjunto do espaço político, ele próprio não se<br />

constitui em fonte legitimadora que confere permanência e estabilida<strong>de</strong> ao âmbito político.<br />

Para <strong>Arendt</strong>, permanência e estabilida<strong>de</strong> para <strong>Arendt</strong> se articulam ao fato <strong>de</strong> que um regime<br />

assentado nas liberda<strong>de</strong>s públicas da ação e do discurso não po<strong>de</strong> ser estabelecido e<br />

conservado ao longo do tempo se não tem regras objetivas para o espaço político e válidas<br />

para as gerações <strong>de</strong> cidadãos que irrompem continuamente no seu seio.<br />

Esta provém da autorida<strong>de</strong> política que enquanto <strong>de</strong>rivada da fundação inicial do<br />

organismo político, fundamenta a legitimida<strong>de</strong> do po<strong>de</strong>r e do direito positivo estatuído. Em<br />

um trecho do seu ensaio Da Violência, <strong>Arendt</strong> pon<strong>de</strong>ra esta diferenciação:<br />

“O po<strong>de</strong>r não necessita <strong>de</strong> justificação, sendo inerente à própria existência <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong>s<br />

políticas; o que realmente necessita é legitimida<strong>de</strong>. O comum emprego <strong>de</strong>stas duas palavras como sinônimos<br />

é tão enganoso e confuso quanto a comum i<strong>de</strong>ntificação entre obediência e apoio. O po<strong>de</strong>r brota on<strong>de</strong> quer<br />

que as pessoas se unam e atuem <strong>de</strong> comum acordo, mas obtém sua legitimida<strong>de</strong> mas do ato inicial <strong>de</strong> unir-se<br />

do que <strong>de</strong> outras opções que se possam seguir. A legitimida<strong>de</strong> quando <strong>de</strong>safiada fundamenta-se a si própria<br />

num apelo ao passado, enquanto a justificação se relaciona com um fim que existe no futuro. A violência<br />

po<strong>de</strong> ser justificada mas nunca será legitima.” 339<br />

2. É com o conceito <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong> que a questão da <strong>Legitimida<strong>de</strong></strong> <strong>Política</strong> aparece no<br />

pensamento arendtiano 340 . A procura <strong>de</strong> um fundamento <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong> que <strong>de</strong>rivasse<br />

diretamente da esfera política conduziu a investigação fenomenológica da autora a retomar<br />

a experiência da fundação política como os romanos. Em razão dos gregos não conhecerem<br />

um princípio <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong> que brotasse do âmbito político – uma vez que a polis<br />

<strong>de</strong>mocrática era um autogoverno diretamente conduzido pelos cidadãos – é que a autora<br />

retoma do conceito <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong> com os romanos, a contrapelo da idéia <strong>de</strong> governo<br />

339 H. ARENDT, Da Violência, CR, p. 129.<br />

340 H. ARENDT, O que é Autorida<strong>de</strong>?, In EPF, p. 142-144. Para a origem do conceito <strong>de</strong><br />

autorida<strong>de</strong>, ver R. POLIN, Analyse Philosophique <strong>de</strong> l’idée <strong>de</strong> légitimité, In Annales <strong>de</strong> Philosophie<br />

Politique – L’Idée <strong>de</strong> Légitimité, p. 17.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!