Hannah Arendt: Legitimidade e Política - Programa de Pós ...
Hannah Arendt: Legitimidade e Política - Programa de Pós ...
Hannah Arendt: Legitimidade e Política - Programa de Pós ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
mo<strong>de</strong>rna entrou em colapso. Conforme <strong>Arendt</strong>, foi nessa atmosfera social e política no<br />
período entre a Primeira e a Segunda Guerra Mundial que os movimentos e governos<br />
totalitários ascen<strong>de</strong>ram politicamente.<br />
Para <strong>Arendt</strong>, socieda<strong>de</strong>s mo<strong>de</strong>rnas assentadas nos processos <strong>de</strong> socialização e no<br />
progresso material, parecem supor por secundário que problemas <strong>de</strong> reconhecimento e<br />
valida<strong>de</strong> política não sejam por princípio relevantes na permanência e continuida<strong>de</strong> do<br />
âmbito político. Esta questão é muito bem exemplificada no pensamento da autora com a<br />
crítica dirigida ao modo como “escritores conservadores e liberais” tratam o problema da<br />
autorida<strong>de</strong>: fazendo da expansão do social mo<strong>de</strong>rno e do progresso das socieda<strong>de</strong>s o<br />
suporte nos quais a autorida<strong>de</strong> política está ancorada, para estas concepções, a eficácia da<br />
autorida<strong>de</strong> política está regulada pelo progresso material das socieda<strong>de</strong>s 334 .Para <strong>Arendt</strong>, a<br />
eficácia <strong>de</strong> um sistema político em assegurar através do Estado a autoreprodução<br />
socioeconômica das socieda<strong>de</strong>s, garantindo a obediência dos súditos através da posse dos<br />
instrumentos <strong>de</strong> violência, pressupõe que a questão da legitimida<strong>de</strong> é secundária. 335 Sem<br />
dúvida, <strong>Arendt</strong> <strong>de</strong>monstra que o princípio da legitimida<strong>de</strong> parece se revelar aos olhos do<br />
pensador político somente quando estas socieda<strong>de</strong>s entram em crise, quer dizer, quando a<br />
esfera política das socieda<strong>de</strong>s está <strong>de</strong>sintegrada em razão da progressiva erosão da<br />
autorida<strong>de</strong> do governo e da sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> funcionar a<strong>de</strong>quadamente. Como diz a<br />
autora, é somente quando “brotam as dúvidas dos cidadãos sobre sua legitimida<strong>de</strong>” 336 que<br />
questões <strong>de</strong> legitimida<strong>de</strong> política emergem publicamente e aparecem aos olhos do<br />
intérprete.<br />
A<strong>de</strong>mais, a época mo<strong>de</strong>rna inaugura o período histórico em que os fundamentos <strong>de</strong><br />
legitimida<strong>de</strong> das instituições políticas estão <strong>de</strong>sancorados do esteio da tradição e do<br />
costume 337 . Para a autora, na medida em que o processo <strong>de</strong> secularização política implicou<br />
<strong>Hannah</strong> <strong>Arendt</strong>, p. 42-43 e 96-99. J. M. L ADEODATO, O Problema da <strong>Legitimida<strong>de</strong></strong> – No rastro do<br />
pensamento <strong>de</strong> <strong>Hannah</strong> <strong>Arendt</strong>, p. 183-207. C. LAFER, A Reconstrução dos Direitos Humanos –<br />
um diálogo com o pensamento <strong>de</strong> <strong>Hannah</strong> <strong>Arendt</strong>, p. 103-112. Para uma discussão da expressão<br />
“Pretensões <strong>de</strong> <strong>Legitimida<strong>de</strong></strong>”, ver J. HABERMAS, Problemas <strong>de</strong> Legitimação no Estado mo<strong>de</strong>rno,<br />
In Para Reconstrução do Materialismo Histórico, p. 224.<br />
334 S. COTTA, Éléments d’une Phénomónologie <strong>de</strong> la Légitimité, In Annales <strong>de</strong> Philosophie<br />
Politique – L’Idée <strong>de</strong> Légitimité, p. 65-67.<br />
335 Remeto à análise <strong>de</strong> <strong>Arendt</strong> nas Origens do Totalitarismo sobre o colapso das instituições<br />
européias. Cf. Imperialismo, OT, p. 295.<br />
336 H. ARENDT, Desobediência civil, In CR, p. 64.<br />
337 Para uma discussão <strong>de</strong>stas questões ver, J. G. MERQUIOR, Rousseau e Weber – Dois Estudos Sobre a<br />
Teoria da <strong>Legitimida<strong>de</strong></strong>, p. 66.