Hannah Arendt: Legitimidade e Política - Programa de Pós ...
Hannah Arendt: Legitimidade e Política - Programa de Pós ...
Hannah Arendt: Legitimidade e Política - Programa de Pós ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
exigia que o pensamento reconstruísse novos móbeis <strong>de</strong> constituição <strong>de</strong> domínio político,<br />
assim como novas fontes <strong>de</strong> garanti-lo legitimamente.<br />
Na sua obra, <strong>Arendt</strong> suscita na tematização do conceito <strong>de</strong> legitimida<strong>de</strong> uma<br />
elaboração filosófica que remonta, sobretudo, aos escritos em que retoma o conceito <strong>de</strong><br />
autorida<strong>de</strong> a partir da experiência da fundação com os romanos e na fundação<br />
constitucional das revoluções mo<strong>de</strong>rnas 307 . Da articulação da experiência das liberda<strong>de</strong>s<br />
políticas manifesta na esfera pública da ação e da palavra, até a retomada do conceito <strong>de</strong><br />
fundação constitucional nas revoluções mo<strong>de</strong>rnas – <strong>de</strong> maneira enfática na Revolução<br />
Americana –, a autora <strong>de</strong>limita: Em primeiro lugar, através do conceito <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, <strong>Arendt</strong><br />
tece uma formulação do conceito <strong>de</strong> legitimação política ancorado na participação política<br />
dos cidadãos no conjunto da esfera pública. Para <strong>Arendt</strong>, somente as liberda<strong>de</strong>s públicas<br />
advindas através da ação e da fala, somente no espaço <strong>de</strong>liberativo originado quando os<br />
homens atuam em comum acordo, po<strong>de</strong>-se produzir po<strong>de</strong>r legítimo, e é neste enraizamento<br />
que as instituições do po<strong>de</strong>r estão ancoradas. Quando isto não suce<strong>de</strong>, o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>genera na<br />
impotência e na violência políticas; Em segundo lugar, através do conceito <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong>,<br />
<strong>Arendt</strong> pensa as fontes que conferem legitimida<strong>de</strong> a um sistema político que foi fundado<br />
pelo conjunto dos seus cidadãos. Através da autorida<strong>de</strong> se concebe a estrutura, apreendida<br />
como legítima, <strong>de</strong> uma comunida<strong>de</strong> política. É por meio <strong>de</strong>sta estrutura legítima que o<br />
conjunto das leis positivas são tornados válidos e a pluralida<strong>de</strong> constituinte dos po<strong>de</strong>res que<br />
perfazem o corpo político são integrados, visando sua estabilida<strong>de</strong> e conservação. Remeter<br />
a legitimida<strong>de</strong> à fundação do corpo político implica ancorar-se nos pressupostos que<br />
instituíram a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> do corpo político, e <strong>de</strong> cujo abandono, a própria pluralida<strong>de</strong><br />
constituinte do corpo político seria cindida. Na sua filosofia política, <strong>Arendt</strong> ancora a<br />
autorida<strong>de</strong> no reconhecimento oriundo do po<strong>de</strong>r político e, <strong>de</strong> outro lado, o po<strong>de</strong>r reaver<br />
seus fundamentos através do apoio adicional da autorida<strong>de</strong>.<br />
A seguir, procuraremos sistematizar a questão da legitimida<strong>de</strong> política em <strong>Arendt</strong><br />
referenciando-se no seu pensamento a partir dos conceitos <strong>de</strong> Po<strong>de</strong>r e Autorida<strong>de</strong>. Antes,<br />
307 O que não quer dizer que a temática não esteja apresentada em obras como Origens do<br />
Totalitarismo e A Condição Humana. Para uma abordagem do problema da autorida<strong>de</strong> em <strong>Arendt</strong>,<br />
P. RICOEUR, Pouvoir et Violence, In Politique et Pensée, p. 171-172. L. AVRITZER, “Ação,<br />
Fundação e Autorida<strong>de</strong> em <strong>Hannah</strong> <strong>Arendt</strong>.”, In Lua Nova, 6 : 148-149. J. TAMINIAUX, Athens and<br />
Rome, In D. VILLA, (Org.), The Cambridge Companion to <strong>Hannah</strong> <strong>Arendt</strong>, p. 176-177. A.<br />
ENEGREN, Le pensée politique <strong>de</strong> <strong>Hannah</strong> <strong>Arendt</strong>, p. 115.