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Hannah Arendt: Legitimidade e Política - Programa de Pós ...

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do espaço público e do po<strong>de</strong>r e no conceito <strong>de</strong> fundação constitucional nas revoluções<br />

mo<strong>de</strong>rnas.<br />

Mas <strong>Hannah</strong> <strong>Arendt</strong> não somente matizou sua reflexão sobre o conceito <strong>de</strong><br />

legitimida<strong>de</strong> política nas suas diversas abordagens teóricas – o que na autora significa um<br />

pensamento que se constitui <strong>de</strong> maneira especial na sua relação com os eventos políticos 305 .<br />

A bem dizer, a questão da legitimida<strong>de</strong> política acompanha todo o pensamento filosófico <strong>de</strong><br />

<strong>Arendt</strong>, na medida em que todo o trajeto intelectual da autora, das Origens do Totalitarismo<br />

até a obra A Vida do Espírito 306 , é impulsionado pela perda da valida<strong>de</strong> dos padrões morais,<br />

políticos e jurídicos da tradição, face os eventos mo<strong>de</strong>rnos e contemporâneos. É em razão<br />

da quebra da valida<strong>de</strong> <strong>de</strong>stes padrões que a interrogação concernente à legitimida<strong>de</strong> política<br />

emerge <strong>de</strong> maneira geral no pensamento <strong>de</strong> <strong>Arendt</strong>.<br />

Em razão do <strong>de</strong>clínio da legitimida<strong>de</strong> das autorida<strong>de</strong>s assentadas na tradição e no<br />

costume, <strong>de</strong>corrência <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rna caracterizada pelo processo <strong>de</strong><br />

mo<strong>de</strong>rnização social e pela secularização política, <strong>Arendt</strong> reformula os pressupostos e o<br />

conteúdo da legitimida<strong>de</strong> política a partir da análise das suas condições <strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong> na<br />

época mo<strong>de</strong>rna e contemporânea. Além do que, a questão se põe como um <strong>de</strong>safio ao<br />

pensamento da autora, na medida em que a emergência do totalitarismo como evento que<br />

assinalou o esgotamento do repertório e a quebra dos padrões <strong>de</strong> valida<strong>de</strong> da tradição,<br />

305 Toda a filosofia <strong>de</strong> <strong>Arendt</strong> se constitui <strong>de</strong> uma maneira especial tecendo-se com o<br />

acontecimento, com os eventos. Das Origens até A Vida do Espírito. “Era [referindo-se a<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r o Totalitarismo], pelo menos, o primeiro momento em que se podia<br />

elaborar e articular as perguntas com as quais a minha geração havia sido obrigada a viver a maior<br />

parte da sua vida adulta. O que havia acontecido? Porque havia acontecido ? Como pô<strong>de</strong> Ter<br />

acontecido ?” Prefácio, Totalitarismo, In OT, p. 339-340; “O que proponho nas páginas que se<br />

seguem é uma reconsi<strong>de</strong>ração da condição humana à luz <strong>de</strong> nossas mais novas experiências e<br />

nossos temores mais recentes. (...) O que proponho é simples, portanto, é muito simples: nada<br />

mais que pensar o que estamos fazendo. Prefácio, In CHM, p. 38. [Trad. bras., 13] [Grifo meu]; Ver<br />

ainda a conferência “Travail, Oeuvre, Action”, [Trabalho, obra, ação] In J. TAMINIAUX, J. e outros.<br />

(Org.), Étu<strong>de</strong>s phénoménologiques, 2: 3. “Minha preocupação com as ativida<strong>de</strong>s espirituais tem<br />

origem em duas fontes bastantes distintas. O impulso imediato <strong>de</strong>rivou do fato <strong>de</strong> eu ter assistido<br />

ao julgamento <strong>de</strong> Eichmann em Jerusalém. (...) Dizendo <strong>de</strong> outra maneira e utilizando uma<br />

linguagem kantiana: tendo sido aturdida por um fato que, queira eu ou não, ‘me pôs na posse <strong>de</strong><br />

um conceito’ (a banalida<strong>de</strong> do mal), não me era possível <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> levantar a questio juris e me<br />

perguntar ‘com que direito eu o possuía e utilizava’.” Introdução, Pensar, In VE, p. 6. <strong>Arendt</strong> cita<br />

Kant a partir <strong>de</strong> Kants handschriftlicher Nachlass, vol. V. in Kants gesammelter Schriften. Berlim,<br />

Peipzign. 1928. V. XVIII. [Grifo meu].<br />

306 A Vida do Espírito pensa a análise das ativida<strong>de</strong>s espirituais – o pensar, o querer e o julgar – a<br />

partir do <strong>de</strong>smantelamento da valida<strong>de</strong> dos padrões e medidas da metafísica. Este pressuposto<br />

<strong>de</strong>fine-se, inclusive, ao nível metodológico <strong>de</strong> leitura da autora. Cf. Introdução, VE, p. 5-14. I<strong>de</strong>m,<br />

A lacuna entre passado e futuro: o nunc stans, Pensar, In VE, p. 159-60.

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