16.04.2013 Views

Hannah Arendt: Legitimidade e Política - Programa de Pós ...

Hannah Arendt: Legitimidade e Política - Programa de Pós ...

Hannah Arendt: Legitimidade e Política - Programa de Pós ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

era assegurada pelo senado, uma vez que abrigava os fundadores da cida<strong>de</strong> que dispunham <strong>de</strong> uma tradição<br />

que assegurava à continuida<strong>de</strong> da fundação, na América, as emendas à Constituição, a interpretação adicional<br />

que o Supremo Tribunal aditava, aumentava e <strong>de</strong>senvolvia as fundações da República Americana,<br />

assegurando sua conservação na história através das leis.<br />

A Constituição Americana foi legitimamente estabelecida porque estava ancorada na pluralida<strong>de</strong> dos<br />

po<strong>de</strong>res radicado nos estados. Por esta razão, era um documento válido na medida em que era reconhecido<br />

pelos diversos estados, cujo arranjo e equilíbrio na fe<strong>de</strong>ração era produto exatamente da eficácia da<br />

Constituição. Mas, por outro lado, enquanto documento instituído e posto em prática pelo Supremo Tribunal<br />

através da adição <strong>de</strong> novas leis, a Constituição <strong>de</strong>finia a própria legitimida<strong>de</strong> da República, posto que<br />

encarnava os fundamentos do corpo político americano.<br />

A positivação da revolução americana numa constituição escrita atesta, para <strong>Arendt</strong>, a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

conferir permanência a um organismo político que adveio a partir da <strong>de</strong>liberação e do agir em concerto. A<br />

tarefa <strong>de</strong> conferir permanência e valida<strong>de</strong> à fundação, instituindo legitimida<strong>de</strong> à própria arbitrarieda<strong>de</strong> das<br />

revoluções, testemunha para a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conferir legitimida<strong>de</strong> a um corpo político que, secularmente,<br />

não podia mais se ancorar na força das tradições e do costume. Para <strong>Arendt</strong>, posto que a valida<strong>de</strong> da<br />

Constituição estava condicionada a manutenção do equilíbrio dos po<strong>de</strong>res que constituem a fe<strong>de</strong>ração, sua<br />

autorida<strong>de</strong> é relativa aos po<strong>de</strong>res que a constituem 302 e condicionada pelas <strong>de</strong>terminações das questões<br />

políticas ao longo do tempo.<br />

Para <strong>Arendt</strong>, as leis cumprem o papel <strong>de</strong> estruturar e equilibrar o domínio político<br />

segundo a pluralida<strong>de</strong> dos po<strong>de</strong>res que lhes são constitutivos. Visam assim assegurar a<br />

continuida<strong>de</strong> dos fundamentos do sistema político, possibilitando que o constante<br />

movimento que advém da ação política seja conformando numa comunida<strong>de</strong> política.<br />

Como tal, a valida<strong>de</strong> das leis é continuamente reafirmada conforme as leis estruturem o<br />

campo da ação política, possibilitando que indivíduos <strong>de</strong>siguais sejam igualados<br />

artificialmente pelas medidas e os artifícios isonômicos da lei 303 . De outro lado, a<br />

referência das leis positivas à fundação constitucional <strong>de</strong> um corpo político, comporta, para<br />

<strong>Arendt</strong>, uma menção ao fato <strong>de</strong> que a legitimida<strong>de</strong> das leis não é produto da sua simples<br />

302 H. ARENDT, “Apenas na medida em que enten<strong>de</strong>mos por lei um mandamento ao qual os<br />

homens <strong>de</strong>vem obediência, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente do seu consentimento e dos seus acordos<br />

mútuos, é que a lei requer para a sua valida<strong>de</strong> uma fonte transcen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong>, ou seja,<br />

uma origem que <strong>de</strong>ve situar-se para além do po<strong>de</strong>r humano.” P. 187. No seu texto sobre a<br />

Desobediência Civil <strong>Arendt</strong> menciona: “Há uma (...) característica geral da lei ela não é<br />

universalmente válida – tanto é limitada territorialmente como é etnicamente restrita ... ”.<br />

Desobediência Civil, In CR, p. 72.<br />

303 “O fulcro da questão, contudo, é que, numa forma republicana <strong>de</strong> governo, tais <strong>de</strong>cisões são<br />

tomadas, e esta vida é conduzida, <strong>de</strong>ntro da estrutura e <strong>de</strong> acordo com as normas <strong>de</strong> uma<br />

constituição que, em troca, não é mais a expressão <strong>de</strong> uma vonta<strong>de</strong> nacional, u está mais sujeita à<br />

vonta<strong>de</strong> da maioria.“ SR, p. 191.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!