16.04.2013 Views

Hannah Arendt: Legitimidade e Política - Programa de Pós ...

Hannah Arendt: Legitimidade e Política - Programa de Pós ...

Hannah Arendt: Legitimidade e Política - Programa de Pós ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

séculos do Império Romano e aos primeiros do Cristianismo, quando o ‘Verbo se fez carne’<br />

e a incarnação <strong>de</strong> um absoluto sobre a terra começou por ser representada pelos vigários do<br />

próprio Cristo, pelo bispo e pelo papa, aos quais vieram a suce<strong>de</strong>r os reis, que<br />

reinvindicavam o po<strong>de</strong>r em virtu<strong>de</strong> dos direitos divinos, até que, eventualmente, a<br />

monarquia absoluta foi seguida pela não menos absoluta soberania da nação.” 299 A busca <strong>de</strong><br />

um Absoluto atesta para a influência que esta tradição tinha para os revolucionários e, <strong>de</strong><br />

outro lado, para as perplexida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>correntes da perda das sanções religiosas no domínio<br />

político com a secularização mo<strong>de</strong>rna.<br />

Tais perplexida<strong>de</strong>s que advieram para os revolucionários e que se impuseram no<br />

curso da Revolução Francesa, contudo, não tiveram um peso <strong>de</strong>cisivo para os <strong>de</strong>stinos da<br />

Revolução Americana, conforme <strong>de</strong>monstra a autora. Para <strong>Arendt</strong>, a fonte <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong> do<br />

corpo político americano adveio da própria fundação da República. Nas suas palavras,<br />

“foi a autorida<strong>de</strong> que o acto da fundação implicava em si, mais do que a crença num Legislador<br />

Imortal, as promessas <strong>de</strong> recompensa e as ameaças <strong>de</strong> castigo num ‘futuro estado’ ou mesmo a duvidosa<br />

evidência das verda<strong>de</strong>s enumeras no preâmbulo à Declaração da In<strong>de</strong>pendência, que assegurou estabilida<strong>de</strong> à<br />

nova república. Esta autorida<strong>de</strong> é, sem dúvida, completamente diferente do absoluto que os homens das<br />

revoluções tão <strong>de</strong>sesperadamente pretendiam introduzir como fonte <strong>de</strong> valida<strong>de</strong> das suas leis e fonte <strong>de</strong><br />

legitimida<strong>de</strong> do novo governo” 300 .<br />

A autorida<strong>de</strong> da Constituição, por sua vez, foi materializada em uma instituição política concreta: no<br />

romano judiciário do governo. Para a autora, a invenção maior dos americanos na política mo<strong>de</strong>rna foi<br />

instituir uma fonte constitucional <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong> para o corpo político, materializada em uma instituição que<br />

era o Supremo Tribunal Fe<strong>de</strong>ral. Diferenciava-se da autorida<strong>de</strong> romana, que esta era política e residia no<br />

senado, uma vez que a distinção republicana entre po<strong>de</strong>r e autorida<strong>de</strong> seria negligenciada se a autorida<strong>de</strong> se<br />

estabelecesse no ramo legislativo. Na Republica Americana o senado cumpria o papel <strong>de</strong> assegurar a<br />

existência <strong>de</strong> facções no país, representando a pluralida<strong>de</strong> dos po<strong>de</strong>res que perfaziam a esfera política<br />

americana. Para a autora, “em termos <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, o ramo judiciário, não possuindo ‘nem Força nem Vonta<strong>de</strong>,<br />

mas apenas julgamento (...), [era] sem comparação o mais fraco’ (Hamilton) (...) a sua própria autorida<strong>de</strong><br />

tornou-o incapaz <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, tal como, reciprocamente, o próprio po<strong>de</strong>r da legislatura tornou o Senado incapaz<br />

<strong>de</strong> exercer autorida<strong>de</strong>.” 301 No Supremo Tribunal Americano, a falta <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r aliada à permanência no cargo,<br />

tornava-o a verda<strong>de</strong>ira autorida<strong>de</strong> na República Americana.<br />

Para <strong>Arendt</strong>, o Supremo Tribunal Americano enraizava sua autorida<strong>de</strong> na Constituição e sua função<br />

principal era interpretá-la. Enquanto para os romanos, conforme salienta a autora, a continuida<strong>de</strong> da fundação<br />

299 H. ARENDT, SR, p. 192.<br />

300 H. ARENDT, SR, p. 196.<br />

301 I<strong>de</strong>m, SR, p.197.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!