16.04.2013 Views

Hannah Arendt: Legitimidade e Política - Programa de Pós ...

Hannah Arendt: Legitimidade e Política - Programa de Pós ...

Hannah Arendt: Legitimidade e Política - Programa de Pós ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

“Mas o po<strong>de</strong>r, contràriamente ao que somos inclinados a pensar, não po<strong>de</strong> ser controlado, ou pelo<br />

menos não o po<strong>de</strong> <strong>de</strong> modo seguro, pelas leis, pois que o chamado po<strong>de</strong>r do dirigente, que é controlado num<br />

governo legítimo, constitucional, limitado, não é, <strong>de</strong> facto, po<strong>de</strong>r, mas violência; é a força multiplicada <strong>de</strong> um,<br />

que monopolizou o po<strong>de</strong>r dos muitos. As leis, por outro lado, correm sempre o perigo <strong>de</strong> ser abolidas pelo<br />

po<strong>de</strong>r dos muitos, e, num conflito entre lei e o po<strong>de</strong>r, raramente é a lei que sai vitoriosa. Contudo, mesmo se<br />

supusermos que a lei é capaz <strong>de</strong> controlar o po<strong>de</strong>r – e nesta suposição se <strong>de</strong>vem basear todas as formas <strong>de</strong><br />

governo verda<strong>de</strong>iramente <strong>de</strong>mocráticas, quando não vêm a <strong>de</strong>generar na pior das tiranias –, a limitação que<br />

as leis estabelecem sobre o po<strong>de</strong>r apenas po<strong>de</strong> resultar num enfraquecimento da sua força.” 293<br />

Passagem tensa da obra Sobre a Revolução em que articula a passagem das<br />

liberda<strong>de</strong>s políticas das revoluções para a fundação <strong>de</strong> organismos políticos legítimos,<br />

<strong>Arendt</strong> primariamente não nega que a questão da limitação constitucional do po<strong>de</strong>r não seja<br />

um pressuposto fundamental para a instituição da vida política. A bem dizer, a distinção<br />

entre o po<strong>de</strong>r político e autorida<strong>de</strong> da lei é acolhida como um pressuposto fundamental para<br />

pensar uma esfera política assentada nos freios ao arbítrio dos governantes através da<br />

imposição dos pressupostos constituintes do corpo político. O que a autora antepõe na<br />

citação acima é que nos momentos <strong>de</strong> fundação política, a autorida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma Constituição<br />

provém diretamente dos po<strong>de</strong>res constituintes do corpo político, e que sua legitimida<strong>de</strong> só é<br />

assegurada quando a Constituição conserva integrado e distribuído os po<strong>de</strong>res constituintes<br />

que perfazem o espaço político. Para a autora,<br />

“nesta função da Constituição, já não havia qualquer problema <strong>de</strong> constitucionalismo, no sentido <strong>de</strong><br />

direitos civis – não obstante uma Declaração dos direitos ter sido, então, incorporada na Constituição como<br />

emenda, como um suplemento que lhe era necessário – mas sim <strong>de</strong> instituição <strong>de</strong> um sistema <strong>de</strong> po<strong>de</strong>res que<br />

viesse a controlar e a equilibrar <strong>de</strong> tal modo, que nem o po<strong>de</strong>r da união nem o das suas partes, os estados<br />

<strong>de</strong>vidamente constituídos, viessem a controlar e equilibrar <strong>de</strong> tal modo, que nem o po<strong>de</strong>r da união nem o das<br />

suas partes, os estados <strong>de</strong>vidamente constituídos, viessem a diminuir ou a <strong>de</strong>struir-se um ao outro.” 294<br />

Oriunda e ratificada pela pluralida<strong>de</strong> <strong>de</strong> po<strong>de</strong>res que habitavam o espaço político<br />

americano, para <strong>Arendt</strong>, a Constituição Americana não visava limitar estes po<strong>de</strong>res, mas<br />

instituí-los em <strong>de</strong>finitivo, <strong>de</strong> modo que a própria Constituição estabelecia um novo centro<br />

<strong>de</strong> po<strong>de</strong>r e auferia sua legitimida<strong>de</strong> através da adição <strong>de</strong> novos membros ao corpo político<br />

295 . Para a autora, “A Constituição Americana consolidou, finalmente, o po<strong>de</strong>r da<br />

Revolução e, já que o objectivo da revolução era a liberda<strong>de</strong>, ela veio a ser aquilo a que<br />

293 H. ARENDT, SR, p. 149. [grifo meu]<br />

294 H. ARENDT, SR , p. 150.<br />

295 I<strong>de</strong>m, SR, p. 151.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!