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Hannah Arendt: Legitimidade e Política - Programa de Pós ...

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acentuação em instituições objetivas, por oposição ao acento das normas e ao papel do<br />

domínio das maiorias nas <strong>de</strong>mocracias. 274<br />

Conforme <strong>Arendt</strong>,<br />

“enquanto o po<strong>de</strong>r, enraizado num povo que havia estabelecido os seus próprios laços através <strong>de</strong><br />

compromissos mútuos e que vivia em organismo constituídos por meio do acordo, era suficiente para<br />

‘atravessar uma revolução’ (sem libertar a violência <strong>de</strong>senfreada das multidões), não era <strong>de</strong> modo algum<br />

suficiente para estabelecer uma ‘união perpétua’, ou seja, para fundar uma nova autorida<strong>de</strong>. Nem o acordo,<br />

nem o compromisso, no qual se baseiam os acordos, são suficientes para assegurarem a perpetuida<strong>de</strong>, isto é,<br />

para conferirem aos problemas dos homens aquela medida <strong>de</strong> estabilida<strong>de</strong> sem a qual eles seriam incapazes<br />

<strong>de</strong> criar um mundo para a sua posterida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>stinado e projectado para perdurar para além das suas vidas<br />

mortais.” 275<br />

Face à perda da legitimida<strong>de</strong> do domínio político, analisada tanto nas Origens do<br />

Totalitarismo quanto em Sobre a Revolução, <strong>Arendt</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> a instituição <strong>de</strong>liberativa <strong>de</strong><br />

uma nova fundação política que seja conservada através da esfera intersubjetiva da ação e<br />

do discurso. Para a autora, o retorno à tradição, a simples restauração <strong>de</strong> um passado<br />

atravessado pela ruptura do presente, revela-se um retrocesso quando confrontado com as<br />

exigências <strong>de</strong> um futuro que não é mais iluminado pelo passado.<br />

“No âmbito político, a restauração nunca é um substituto para uma nova fundação, mas será, no<br />

máximo, uma medida <strong>de</strong> emergência que se torna inevitável quando o ato <strong>de</strong> fundação, chamado revolução,<br />

fracassa. Mas é igualmente inevitável que, numa tal constelação, principalmente quando se esten<strong>de</strong> por<br />

períodos tão longos <strong>de</strong> tempo, a <strong>de</strong>sconfiança das pessoas em relação ao mundo e a todos os aspectos do<br />

âmbito público <strong>de</strong>ve crescer constantemente. Pois a fragilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sses esteios repetidamente restaurados da<br />

or<strong>de</strong>m pública está fadada a se tornar cada vez mais evi<strong>de</strong>nte após cada colapso, <strong>de</strong> modo que, ao final, a<br />

or<strong>de</strong>m pública se baseia na sustentação pelas pessoas da auto-evidência justamente daquelas ‘verda<strong>de</strong>s mais<br />

bem conhecidas’ em que, intimamente, quase ninguém mais acredita.” 276<br />

3.3 Qual a autorida<strong>de</strong> da lei?<br />

274 Para a oposição entre república e <strong>de</strong>mocracia, ver. S.R, p. 118. S. CARDOSO, “Nas<br />

<strong>de</strong>mocracias, a vonta<strong>de</strong> do povo mostra-se sempre transitiva, quer isto ou aquilo, visa objetos (e,<br />

portanto, busca naturalmente o terreno da economia); a vonta<strong>de</strong> geral republicana, através disto ou<br />

aquilo, figura o direito, o bem comum da cida<strong>de</strong>; visam, portanto, às leis, as condições da<br />

coexistência civilizada.” Porque República ? Nota sobre o I<strong>de</strong>ário Democrático e Republicano, In<br />

Retorno ao Republicanismo (Org.) S. CARDOSO, p. 58-64.<br />

275 H. ARENDT, SR, p. 180. [Grifo meu]<br />

276 H. ARENDT, Sobre a Humanida<strong>de</strong> em Tempos Sombrios – Reflexões sobre Lessing, In HTS, p.<br />

20.

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