Hannah Arendt: Legitimidade e Política - Programa de Pós ...
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(bourgeois). 271 Com a Revolução Francesa, <strong>Arendt</strong> observava o <strong>de</strong>perecimento da fundação<br />
em favor da primazia das necessida<strong>de</strong>s do povo.<br />
Tratando-se do tema da fundação por meio da análise das revoluções mo<strong>de</strong>rnas,<br />
<strong>Arendt</strong> articula o problema da instituição <strong>de</strong> uma república duradoura em condições <strong>de</strong><br />
liberda<strong>de</strong>s público-políticas. Seu <strong>de</strong>sdobramento aponta para o fato <strong>de</strong> que somente tais<br />
liberda<strong>de</strong>s po<strong>de</strong>m assegurar a permanência <strong>de</strong> um corpo político que não po<strong>de</strong> se ancorar<br />
em tradições e costumes, uma vez que sua continuida<strong>de</strong> no tempo está condicionada ao<br />
assentimento <strong>de</strong> que dispõe dos homens. Para a autora, ao tempo que é através da ação<br />
política que a fundação é instituída, é também graças à própria ação que a valida<strong>de</strong> inicial<br />
obtida da fundação política é reinstituída 272 .<br />
A<strong>de</strong>mais, para <strong>Arendt</strong>, as socieda<strong>de</strong>s mo<strong>de</strong>rnas são caracterizadas pela diluição dos<br />
espaços <strong>de</strong> coexistência comuns na esfera do mo<strong>de</strong>rno social e, como tal, os processos <strong>de</strong><br />
instituição do social solapam continuamente as estruturas estabilizadoras do âmbito político<br />
. A instituição da fundação <strong>de</strong> um corpo político que abrigue as liberda<strong>de</strong>s dos homens em<br />
condições mo<strong>de</strong>rnas, pressupõe a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estabelecer espaços duradouros que<br />
resistam aos processos metabólicos das socieda<strong>de</strong>s mo<strong>de</strong>rnas. Como afirma <strong>Arendt</strong> em<br />
Sobre a Revolução, “humanamente falando, é a sua resistência que torna o homem capaz <strong>de</strong><br />
criar durabilida<strong>de</strong> e continuida<strong>de</strong>.” 273<br />
Esta questão é essencial no curso da reflexão da autora, pois o tema da fundação<br />
emerge como uma questão inadiável para organismos políticos secularizados que precisam<br />
instituir legitimamente sua esfera política. <strong>Hannah</strong> <strong>Arendt</strong> retoma o conceito republicano <strong>de</strong><br />
fundação, com o objetivo <strong>de</strong> pensar um domínio político firmado nas liberda<strong>de</strong>s positivas<br />
da ação e do discurso, fundamentando-se no pressuposto <strong>de</strong> que as formas republicanas <strong>de</strong><br />
governo são as únicas capazes <strong>de</strong> abrigar a participação dos homens nos negócios políticos.<br />
Com o conceito <strong>de</strong> fundação republicana nas revoluções mo<strong>de</strong>rnas, enfaticamente a partir<br />
do legado da Revolução Americana, <strong>Arendt</strong> pensa um domínio político com forte<br />
271 I<strong>de</strong>m, SR, p. 137.<br />
272 I<strong>de</strong>m. É através da fundação “que o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> acção é suficientemente gran<strong>de</strong> para erigir o seu próprio<br />
monumento. (...) A morfologia da ação... e a sintaxe do po<strong>de</strong>r... combinam-se no acto da fundação, em virtu<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> se fazerem e <strong>de</strong> cumprirem promessas, o que, no domínio da política, po<strong>de</strong> bem ser a mais elevada<br />
faculda<strong>de</strong> humana.” SR. p. 172.<br />
273 I<strong>de</strong>m, SR, p. 94.