16.04.2013 Views

Hannah Arendt: Legitimidade e Política - Programa de Pós ...

Hannah Arendt: Legitimidade e Política - Programa de Pós ...

Hannah Arendt: Legitimidade e Política - Programa de Pós ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

evolucionária. Contudo, o caráter ambíguo do estabelecimento da Revolução Americana se<br />

manifestara na Declaração <strong>de</strong> In<strong>de</strong>pendência, que teria indiferenciado os objetivos da<br />

revolução no duplo significado <strong>de</strong> “felicida<strong>de</strong> pública” com “bem estar privado”, tornando<br />

equívoco se a finalida<strong>de</strong> da revolução era a participação do povo no po<strong>de</strong>r político, ou<br />

assegurar a felicida<strong>de</strong> privada do povo contra os abusos do po<strong>de</strong>r político. Segundo <strong>Arendt</strong>,<br />

o caráter ambíguo da Revolução Americana se manifestou imediatamente na mudança <strong>de</strong><br />

ênfase da participação política do povo para o chamado Bill of Rights, ou seja, para as<br />

restrições constitucionais ao governo visando assegurar a proteção da felicida<strong>de</strong> privada do<br />

povo. Se esta questão permaneceu equívoca no princípio da revolução, a prosperida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senfreada dos americanos, o impacto da contínua imigração em massa dos pobres<br />

Europeus e a questão da escravidão, trariam como conseqüência a pressão das questões<br />

sociais e econômicas em <strong>de</strong>trimento da participação do povo na conservação dos<br />

fundamentos da república americana 269 .<br />

Numa palavra, as Revoluções Mo<strong>de</strong>rnas colocam para <strong>Arendt</strong> essa articulação<br />

problemática entre fundação e liberda<strong>de</strong> política no trajeto das socieda<strong>de</strong>s mo<strong>de</strong>rnas. Se a<br />

autora aponta o inequívoco êxito da Revolução Americana em estabelecer sua fundação<br />

política, <strong>Arendt</strong> assinala, por outro lado, o esquecimento dos princípios que presidiram a<br />

Revolução Americana 270 com a assunção das necessida<strong>de</strong>s econômicas e sociais ao<br />

domínio público. Efetuou-se a conversão dos cidadãos participantes das questões políticas<br />

(citoyens) em indivíduos privados <strong>de</strong>sprotegidos dos governos e da socieda<strong>de</strong><br />

269 I<strong>de</strong>m, “O resultado da Revolução Americana, diferente dos objectivos que a iniciaram, sempre<br />

tem sido ambíguo, e a questão <strong>de</strong> saber se o fim do governo viria a ser a prosperida<strong>de</strong> ou a<br />

liberda<strong>de</strong> nunca foi estabelecida.” SR, p. 133. Sobre os fatores que ensejavam o colapso do po<strong>de</strong>r<br />

político da República Americana ver, Tiro pela culatra, In RJ, p. 327-345. A. AMIEL, “Mais nous<br />

avons <strong>de</strong>ux figures différentes <strong>de</strong> l’effet catastrophique <strong>de</strong> son interférence avec le politique. Dans<br />

le cas français, comme dans le cas <strong>de</strong>s soviets, sont en jeu l’utilisation <strong>de</strong> moyens politique pour<br />

résoudre la question économique, et donc la confusion <strong>de</strong>s <strong>de</strong>ux domaines, <strong>de</strong> leurs critèes, <strong>de</strong> leur<br />

articulation. Dans le cas américain, c’est l’évacuation <strong>de</strong> la politique, et l’ignorance <strong>de</strong> as dignité, au<br />

profit <strong>de</strong> la substitution <strong>de</strong> critères et <strong>de</strong> modèles mercantiles, qui reconduisent l’èloge du statu quo<br />

et d’une existence en <strong>de</strong>rnière instance privée <strong>de</strong> sem. Enfin, c’est ce Qui renvoie aux rapports<br />

conflictuels et complices entre la sphère du social et la sphère <strong>de</strong> l’intime, au refuge <strong>de</strong> la liberté<br />

dans la ‘cita<strong>de</strong>lle assiégée’ <strong>de</strong> la conscience, au règne d’une intériorité d’autant plus menacée<br />

qu’elle ne saurait assurer <strong>de</strong> véritable individualisation.” La non-philosophie <strong>de</strong> <strong>Hannah</strong> <strong>Arendt</strong> –<br />

Revolution et Jugement, p. 109-110.<br />

270 H. ARENDT, “ ... a sobrevivência do espírito do qual brotara o acto da fundação.” SR, p. 194.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!