16.04.2013 Views

Hannah Arendt: Legitimidade e Política - Programa de Pós ...

Hannah Arendt: Legitimidade e Política - Programa de Pós ...

Hannah Arendt: Legitimidade e Política - Programa de Pós ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

separação entre Igreja e Estado e na passagem da liberda<strong>de</strong> em relação ao mundo político –<br />

com o Cristianismo – para a liberda<strong>de</strong> propriamente política, lhe é essencial.<br />

A tese <strong>de</strong> <strong>Arendt</strong> <strong>de</strong> que as revoluções mo<strong>de</strong>rnas colocam a questão da fundação <strong>de</strong><br />

instituições assentadas nas liberda<strong>de</strong>s políticas, coloca-lhe a exigência <strong>de</strong> repensar a<br />

chamada tradição revolucionária. Para a autora, “se tomássemos para ponto <strong>de</strong> partida<br />

apenas as gran<strong>de</strong>s revoluções européias – a guerra civil inglesa no século <strong>de</strong>zassete, a<br />

Revolução Francesa no século <strong>de</strong>zoito e a Revolução <strong>de</strong> Outubro no século vinte –<br />

po<strong>de</strong>ríamos ficar tão confusos com a evidência histórica que aponta unanimemente a<br />

interligação <strong>de</strong> uma monarquia <strong>de</strong>spótica seguida <strong>de</strong> ditaduras <strong>de</strong>spóticas, ...” 260 . A análise<br />

das revoluções a partir da ótica da fundação, conduz <strong>Arendt</strong> em Sobre a Revolução a<br />

avaliar o significado e o legado político da Revolução Americana com o objetivo <strong>de</strong><br />

repensar a tradição revolucionária 261 .<br />

Conforme a análise <strong>de</strong> <strong>Arendt</strong>, a Revolução Francesa foi conduzida pela libertação<br />

da pobreza do povo, pela emancipação das suas necessida<strong>de</strong>s vitais e, com efeito, foi<br />

orientada pela urgência das questões sociais e econômicas. Embora reconhecesse que nas<br />

fases iniciais da Revolução Francesa houvera uma forte preocupação com formas <strong>de</strong><br />

governo que fundassem o domínio político, <strong>Arendt</strong> registra que nesta revolução, com o<br />

Jacobinismo, houve uma reorientação da “mudança das formas <strong>de</strong> governo para ‘o bem<br />

natural <strong>de</strong> uma classe’, ou da república para o povo.” 262 Como tal, o recém constituído<br />

260 I<strong>de</strong>m. SR, p. 153. [grifo meu]<br />

261 I<strong>de</strong>m. “A triste verda<strong>de</strong> do caso é que a Revolução Francesa, que terminou em <strong>de</strong>sastre, fez<br />

história no mundo, enquanto a Revolução Americana, <strong>de</strong> êxito triunfal, permaneceu um<br />

acontecimento com pouco mais do que uma importância local.” P. 54. ... “ ela nunca arrastou<br />

consigo persuasão e plausibilida<strong>de</strong> suficientes para prevalecer na tradição da revolução” P. 93. Na<br />

sua análise das revoluções, <strong>Arendt</strong> é profundamente crítica em relação ao legado jacobinista da<br />

Revolução Francesa cuja tradição <strong>de</strong>sdobrou-se até a Revolução Russa. SR, p. 55-56. Referindose<br />

às razões porque radicou-se nos Estados Unidos <strong>Arendt</strong> afirma: “Ser reconhecida por uma<br />

contribuição à civilização européia não é pouca coisa para alguém que <strong>de</strong>ixou a Europa há trinta e<br />

cinco anos, <strong>de</strong> modo algum voluntariamente – e <strong>de</strong>pois se tornou cidadã dos Estados Unidos, um<br />

ato totalmente voluntário, porque a república era um governo da lei, e não <strong>de</strong> homens. O que<br />

aprendi nesses primeiros anos cruciais entre a imigração e a naturalização correspon<strong>de</strong>u<br />

aproximadamente a um curso autodidata sobre a filosofia política dos Fundadores da Nação, e o<br />

que me convenceu foi a exist6encia factual <strong>de</strong> um corpo político, totalmente diferente dos Estadosnação<br />

europeus com suas populações homogêneas, seu senso orgânico da história, sua divisão<br />

mais ou menos <strong>de</strong>cisiva em classes e sua soberania nacional cm sua noção <strong>de</strong> raison d’état.”<br />

Prólogo, In RJ, p. 66. Sobre a Revolução assinala um retorno aos fundamentos da República<br />

Americana. Cf. A. AMIEL, <strong>Política</strong> e Acontecimento, p. 97.<br />

262 I<strong>de</strong>m, SR, p. 90. Para uma avaliação da implicação das questões sociais e econômicas na<br />

interpretação arendtiana da Revolução Francesa, ver AMIEL, A. La non-philosophie <strong>de</strong> <strong>Hannah</strong><br />

<strong>Arendt</strong> – Revolution et Jugement, p. 41-42.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!