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Hannah Arendt: Legitimidade e Política - Programa de Pós ...

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Revoluções, para <strong>Arendt</strong>, não se reduzem a simples “insurreições bem sucedidas”,<br />

“golpes <strong>de</strong> Estado” ou “guerras civis”, nem tampouco a meras “rebeliões” ou “revoltas” 256 .<br />

Revoluções, para a autora, são <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>adas através da capacida<strong>de</strong> humana <strong>de</strong> instituir<br />

algo novo – e é esta capacida<strong>de</strong> que está subjacente à consciência <strong>de</strong> novida<strong>de</strong> expressa nas<br />

Revoluções Americana e Francesa, conforme salienta a autora 257 –, colocando através da<br />

experiência da ação e do discurso a questão da liberda<strong>de</strong> política no trajeto das socieda<strong>de</strong>s<br />

mo<strong>de</strong>rnas 258 . Não significam somente a libertação da opressão social e política mas,<br />

sobretudo, a instituição <strong>de</strong> formas <strong>de</strong> governo que abriguem as liberda<strong>de</strong>s políticas<br />

emergentes na revolução. Colocam assim, o problema político da fundação política do<br />

começo que advém na ação e no discurso em um espaço legitimamo que assegure as<br />

liberda<strong>de</strong>s humanas.<br />

Construir este abrigo on<strong>de</strong> as liberda<strong>de</strong>s possam se manifestar, significa que para<br />

<strong>Arendt</strong>, as revoluções não são permanentes 259 , mas estabelecem objetivos políticos que<br />

<strong>de</strong>vem ser materializados e salvaguardados em instituições políticas; e, <strong>de</strong> outro lado, que a<br />

objetivação política das revoluções em governos constitucionais não significa a simples<br />

instituição <strong>de</strong> um governo limitado com garantias negativas asseguradas em lei. Ao<br />

contrário, revoluções fundam um corpo político on<strong>de</strong> as liberda<strong>de</strong>s políticas são<br />

reconhecidas, instituindo um espaço no qual o po<strong>de</strong>r gerado possa ser politicamente<br />

salvaguardado e aumentado. Neste sentido, a secularização da política, no sentido da<br />

256 H. ARENDT, SR, p. 34.<br />

257 I<strong>de</strong>m. “... as revoluções são os únicos acontecimentos políticos on<strong>de</strong> enfrentamos directa e<br />

inevitàvelmente o problema do começo.” SR, p. 19. “O que a revolução tornou evi<strong>de</strong>nte foi essa<br />

experiência <strong>de</strong> se ser livre (...) E esta experiência relativamente nova, pelo menos para os que a<br />

fizeram, era ao mesmo tempo a experiência que revelava a capacida<strong>de</strong> humana <strong>de</strong> começar algo<br />

<strong>de</strong> novo.” P. 33. Para <strong>Arendt</strong>, é esta experiência que subjaz no “tom enfático que se encontra na<br />

Revolução Americana e na Revolução Francesa, essa insistência constantemente repetida <strong>de</strong> que,<br />

em gran<strong>de</strong>za e significado, jamais em toda a história da humanida<strong>de</strong> existira algo <strong>de</strong> comparável”.<br />

33. Vale dizer que no contexto <strong>de</strong> sua análise das R. Americana e Francesa, <strong>Arendt</strong> observa que<br />

as revoluções foram <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>adas por homens que tentavam restaurar a or<strong>de</strong>m das coisas que<br />

foi violada pelo abuso das monarquias absolutas e que “a enorme insistência numa nova era, ... só<br />

surgiu <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> eles [os revolucionários] terem chegado, muito contra vonta<strong>de</strong>, a um ponto <strong>de</strong> não<br />

regressão.” SR, p. 41.<br />

258 <strong>Arendt</strong> inscreve a Revolução no curso <strong>de</strong> um espírito republicano nas socieda<strong>de</strong>s mo<strong>de</strong>rnas. “O<br />

que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então se tornou irrevogável, e que os actores e espectadores da revolução<br />

imediatamente reconheceram como tal, foi que o domínio político – reservado, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que há<br />

memória, àqueles que eram livres, isto é, livres dos cuidados que estão ligados às necessida<strong>de</strong>s<br />

da própria vida, às necessida<strong>de</strong>s físicas – teria <strong>de</strong> oferecer o seu espaço e a sua luz a esta imensa<br />

maioria que não era livre por estar impelida pelas necessida<strong>de</strong>s do dia a dia.” SR, p. 47.<br />

259 I<strong>de</strong>m, SR, p. 49.

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