16.04.2013 Views

Educação: uma noite no parque - Parque Biológico de Gaia

Educação: uma noite no parque - Parque Biológico de Gaia

Educação: uma noite no parque - Parque Biológico de Gaia

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

A<strong>no</strong> I - N.° 4 - 21 Jun./22 Set. 2002 – Revista trimestral E 2.50 IVA incluído<br />

Aguda: <strong>Parque</strong> <strong>de</strong> Dunas<br />

Maio: Recor<strong>de</strong> <strong>de</strong> 36 mil visitantes!…<br />

<strong>Educação</strong>: <strong>uma</strong> <strong><strong>no</strong>ite</strong> <strong>no</strong> <strong>parque</strong>


14 Uma Noite <strong>no</strong> <strong>Parque</strong><br />

Este é o título <strong>de</strong> um dos programas <strong>de</strong> educação<br />

ambiental <strong>de</strong>senvolvido pelo <strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Gaia</strong>. Nas activida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>staca-se um passeio <strong>no</strong>ctur<strong>no</strong><br />

pelo percurso <strong>de</strong> <strong>de</strong>scoberta. Em Junho, os vaga-<br />

-lumes surpreen<strong>de</strong>m os visitantes...<br />

20 <strong>Parque</strong> <strong>de</strong> Dunas da Aguda<br />

Saiba por que razão as dunas <strong>de</strong>vem ser protegidas.<br />

Nesse habitat esten<strong>de</strong>m-se as plantas que estabilizam<br />

a areia e se conjugam com diversa fauna que ali<br />

encontra o apoio essencial para a sua sobrevivência e/ou reprodução.<br />

Além disso, protegem o Litoral.<br />

26 Centro <strong>de</strong> Ribeiras <strong>de</strong> <strong>Gaia</strong><br />

Mais um equipamento <strong>de</strong> educação<br />

ambiental vem enriquecer o concelho<br />

<strong>de</strong> Vila Nova <strong>de</strong> <strong>Gaia</strong>. Em<br />

Miramar, aguarda as suas visitas.<br />

Secções<br />

Ver e Falar: O Leitor escreve 4<br />

Breves 7<br />

Colectivismo: Associação dos Amigos do <strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong> 8<br />

Registo: Novo recor<strong>de</strong> <strong>de</strong> visitantes 9<br />

Quinteiro: Vai <strong>uma</strong> banhoca? 10<br />

Habitat: Montado 17<br />

Flora: Sobreiro 18<br />

Fauna: Veado 19<br />

<strong>Educação</strong>: Dunas que florescem 20<br />

<strong>Educação</strong>: Ribeiras <strong>de</strong> <strong>Gaia</strong> 26<br />

Litoral: Áreas protegidas marinhas 28<br />

Conservação: O cavalo Tahki 32<br />

Internacional 34<br />

Geologia: Do garrafão ao bloco <strong>de</strong> <strong>no</strong>tas 35<br />

Espigueiro: Aconteceu <strong>no</strong> <strong>Parque</strong> 37<br />

Jardim: Vai um cheirinho? 44<br />

Bloco <strong>de</strong> <strong>no</strong>tas: Títulos para as férias 46<br />

Infância: Se alguém ama <strong>uma</strong> flor 48<br />

Foto da estação<br />

Visite o site da revista “<strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong>”:<br />

http://www.revista<strong>parque</strong>biologico.com<br />

E-mail: revista@revista<strong>parque</strong>biologico.com<br />

Revista<br />

“<strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong>”<br />

Director<br />

Nu<strong>no</strong> Gomes Oliveira<br />

Editor<br />

Jorge Gomes<br />

Fotografias<br />

Arquivo Fotográfico do <strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>Gaia</strong>, E. M.<br />

Revisão<br />

Fernando Pereira<br />

Maquetagem<br />

ORGALimpressores<br />

Proprieda<strong>de</strong><br />

<strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong> <strong>de</strong> <strong>Gaia</strong>, E. M.<br />

Pessoa colectiva<br />

504888773<br />

Tiragem<br />

5000 exemplares<br />

ISSN<br />

1645-2607<br />

N.º Registo <strong>no</strong> I.C.S.<br />

123937<br />

Dep. Legal<br />

170787/01<br />

Execução Gráfica<br />

ORGALimpressores<br />

Rua do Godim, 272<br />

4300-236 Porto<br />

Administração e Redacção<br />

<strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong> <strong>de</strong> <strong>Gaia</strong>, E. M.<br />

Estrada Nacional 222<br />

4430-757 AVINTES – Portugal<br />

Telefone: 22 7878120<br />

E-mail: pbmgaia@mail.telepac.pt<br />

Página na internet:<br />

http://www.<strong>parque</strong>biologico.pt<br />

Conselho <strong>de</strong> Administração<br />

Jorge Queiroz<br />

Firmi<strong>no</strong> Pereira<br />

Nu<strong>no</strong> Gomes Oliveira<br />

FOTO DA CAPA<br />

Parte final do percurso <strong>de</strong> <strong>de</strong>scoberta do<br />

<strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong> <strong>de</strong> <strong>Gaia</strong>. Foto Jorge<br />

Gomes/Arquivo PBG.


Em Maio o <strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong> teve um número surpreen-<br />

<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> visitantes: 36.083 pessoas, mais 11.775 que <strong>no</strong><br />

anterior mês mais visitado <strong>de</strong> sempre (Junho <strong>de</strong> 2000).<br />

O <strong>Parque</strong> atinge, assim, ao entrar <strong>no</strong> seu 20.º a<strong>no</strong> <strong>de</strong><br />

activida<strong>de</strong>, 1 milhão e 400 mil visitantes, dos quais<br />

cerca <strong>de</strong> 50% são alu<strong>no</strong>s <strong>de</strong> escolas em visita <strong>de</strong> estu-<br />

do. Ou seja 700.000 estudantes já visitaram o <strong>Parque</strong>!<br />

Não po<strong>de</strong>mos dissociar este aumento do número <strong>de</strong><br />

visitantes, que se vinha registando <strong>de</strong>s<strong>de</strong> Novembro do<br />

a<strong>no</strong> passado, da edição da revista "PA R Q U E<br />

BIOLÓGICO", que tem sido enviada a cerca <strong>de</strong> 5.000<br />

pessoas, e está a constituir um assinalável sucesso.<br />

A opção <strong>de</strong> concentrar a divulgação do <strong>Parque</strong> n<strong>uma</strong><br />

publicação <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> vai <strong>de</strong> encontro aos interesses<br />

dos visitantes mais atentos e assíduos e contribui para<br />

criar <strong>uma</strong> "cultura" <strong>de</strong> instituição fundamental para<br />

um interesse cada vez maior da população pela temá-<br />

tica ambiental.<br />

Reflexo disso, para além do referido aumento <strong>de</strong> visi-<br />

tantes, foi a presença <strong>de</strong> quase 500 pessoas na "NOITE<br />

DOS PIRILAMPOS", <strong>uma</strong> iniciativa tão simples como<br />

convidar para um passeio <strong>no</strong>ctur<strong>no</strong> <strong>no</strong> <strong>Parque</strong>, para<br />

simples observação <strong>de</strong>ssa forma <strong>de</strong> vida tão espectacu-<br />

lar e ameaçada como são os Vaga-lumes ou Pirilampos<br />

que, <strong>no</strong> <strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong>, temos conseguido preservar<br />

graças a <strong>uma</strong> cuidada gestão da flora espontânea e à<br />

não aplicação <strong>de</strong> herbicidas e pesticidas.<br />

Num concelho como <strong>Gaia</strong>, on<strong>de</strong> o investimento muni-<br />

cipal nas acções <strong>de</strong> qualificação ambiental, e o suces-<br />

so <strong>de</strong>ssas acções, vem aumentando (12 ban<strong>de</strong>iras azuis<br />

nas praias, este a<strong>no</strong>!), o <strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong> não po<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> chamar a si um bocadinho <strong>de</strong> mérito: não foi<br />

em vão o <strong>no</strong>sso contributo ao longo <strong>de</strong> 20 a<strong>no</strong>s <strong>de</strong><br />

<strong>Educação</strong> Ambiental.<br />

e d i t o r i a l<br />

Hoje, felizmente, ao <strong>no</strong>sso trabalho junta-se a Estação<br />

Litoral da Aguda e, recém-inaugurado, o Centro <strong>de</strong><br />

<strong>Educação</strong> Ambiental das Ribeiras <strong>de</strong> <strong>Gaia</strong>, da respon-<br />

sabilida<strong>de</strong> da Empresa Águas <strong>de</strong> <strong>Gaia</strong>, o que <strong>no</strong>s faz<br />

antever um futuro ambiental melhor para este conce-<br />

lho e para os outros, já que estas acções não se fecham<br />

<strong>no</strong>s limites territoriais <strong>de</strong> <strong>Gaia</strong> e têm efeitos <strong>de</strong>mons-<br />

trativos e reprodutivos.<br />

Veja-se o caso do mo<strong>de</strong>lo "<strong>parque</strong> biológico", concebi-<br />

do e <strong>de</strong>senvolvido em <strong>Gaia</strong> e hoje reproduzido em<br />

Madrid (<strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong> <strong>de</strong> Madrid), Silves (<strong>Parque</strong><br />

<strong>Biológico</strong> <strong>de</strong> Silves) e Lamego (<strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong> da<br />

Serra das Meadas).<br />

Entretanto, <strong>no</strong> «<strong>no</strong>sso» <strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong>, <strong>de</strong>ixámos <strong>de</strong><br />

ter como Presi<strong>de</strong>nte do Conselho <strong>de</strong> Administração o<br />

Prof. Dr. Fernando <strong>de</strong> Sousa que, por motivos pessoais,<br />

teve <strong>de</strong> abandonar a função, sendo substituído pelo Dr.<br />

Jorge Queiroz, vereador da área administrativa e<br />

financeira da Câmara Municipal <strong>de</strong> <strong>Gaia</strong> e experiente<br />

gestor, que presi<strong>de</strong> a outra empresa municipal, a <strong>Gaia</strong><br />

Social, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a sua fundação. Também o vereador<br />

Nu<strong>no</strong> Sousa <strong>de</strong>ixou o <strong>no</strong>sso Conselho <strong>de</strong> Administra-<br />

ção, sendo substituído pelo vereador Firmi<strong>no</strong> Pereira.<br />

Nu<strong>no</strong> Gomes Oliveira<br />

Director da Revista «<strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong>»<br />

Administrador do <strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong><br />

Verão 2002 <strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong> 3


O PATRIMÓNIO RURAL ESTÁ EM PERIGO<br />

No <strong>de</strong>correr dos últimos 20 a<strong>no</strong>s e após um contacto assíduo<br />

com o mundo rural da região <strong>de</strong> Entre Douro e Tâmega, tive<br />

oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> colaborar em diversos programas agrícolas<br />

e socioculturais, on<strong>de</strong> contactei com o património h<strong>uma</strong><strong>no</strong>,<br />

animal e vegetal.<br />

A biodiversida<strong>de</strong> está a ser adulterada com prejuízos incalculáveis<br />

para a h<strong>uma</strong>nida<strong>de</strong>. Introduzem-se sementes híbridas,<br />

material vegetativo para propagação e duplicação <strong>de</strong><br />

espécies arbustivas (frutícolas e vitícolas), e prejudicam as<br />

raças autóctones* através <strong>de</strong> cruzamentos com raças exóticas<br />

<strong>de</strong> maior potencial produtivo em carne, leite e lã.<br />

Aparecem, porém, doenças difíceis <strong>de</strong> controlar. Ig<strong>no</strong>ram-se<br />

práticas <strong>de</strong> maneio <strong>de</strong> formas ajustadas à ética e ao bem-<br />

-estar dos animais.<br />

Há a modificação da paisagem. Manchas florestais <strong>de</strong>saparecem<br />

<strong>de</strong>vido a incêndios. Esquecem-se que há <strong>uma</strong> história<br />

<strong>de</strong> vivência rural?<br />

Outrora, na periferia das parcelas e ao longo dos caminhos<br />

situavam-se sebes arbustivas que tinham <strong>uma</strong> importância<br />

imensa para o equilíbrio do ecossistema <strong>de</strong> produção agrícola.<br />

O milho, <strong>de</strong> varieda<strong>de</strong>s regionais, cultivava-se associado<br />

ao feijão <strong>de</strong> trepar ou a parcelas <strong>de</strong> centeio em camalhões<br />

com milho-grão e feijão semeados <strong>no</strong>s intervalos.<br />

Quando estas culturas saíam do terre<strong>no</strong> davam lugar a<br />

sementeiras <strong>de</strong> culturas forrageiras para alimentação dos<br />

animais e dos homens. O colmo proporcionava coberturas <strong>de</strong><br />

casas e palheiros.<br />

A batata cultivava-se associada à couve-galega, assim como<br />

a fava e a ervilha. As fruteiras eram plantadas nas bordaduras<br />

das referidas parcelas e geralmente próximas das habitações.<br />

Junto <strong>de</strong>stas colocava-se sempre <strong>uma</strong> figueira. As<br />

vinhas plantavam-se nas bordaduras das referidas parcelas<br />

dando lugar a bardos ou enforcados altos e ramadas.<br />

Os bovi<strong>no</strong>s <strong>de</strong> raças autóctones – barrosã, arouquesa, galega<br />

e maronesa – viviam em comunida<strong>de</strong> com as ovelhas,<br />

dormiam e pastoreavam juntos. Nos rebanhos <strong>de</strong> ovelhas<br />

havia <strong>uma</strong> ou duas ovelhas pretas.<br />

Os suí<strong>no</strong>s, <strong>de</strong> raça bísara, explorados e fechados em cortes,<br />

eram muito resguardados da vizinhança para os livrar do<br />

mau-olhado.<br />

As águas <strong>de</strong> rega provinham <strong>de</strong> levadas (linhas <strong>de</strong> água) —<br />

on<strong>de</strong> se faziam as regas das culturas pelo sistema <strong>de</strong> gravida<strong>de</strong><br />

e alagamento —, eram atribuídas <strong>de</strong> acordo com as<br />

áreas e com a distância a que as parcelas ficavam com as<br />

culturas que habitualmente se praticava.<br />

Na Primavera tirava-se o estrume das cortes e transportava-<br />

-se em carros <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira puxados por bovi<strong>no</strong>s autóctones<br />

para os campos, on<strong>de</strong> era colocado em montes alinhados ao<br />

longo das parcelas. Mais tar<strong>de</strong> o estrume era estendido<br />

manualmente e realizavam-se as lavouras. Estas eram efectuadas<br />

por arados puxados pela tracção dos melhores bovi-<br />

4 <strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong> Verão 2002<br />

v e r e f a l a r<br />

Vida campestre<br />

O leitor Henrique Bastos envia-<strong>no</strong>s <strong>uma</strong> reflexão sobre a mudança <strong>de</strong> costumes<br />

rurais, em 2002.01.15, e <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> <strong>uma</strong> agricultura sustentável<br />

<strong>no</strong>s. As sementeiras efectuavam-se manualmente a lanço.<br />

No Verão realizava-se alg<strong>uma</strong>s colheitas. Uma das mais tradicionais<br />

era as malhas do centeio, sempre muito animadas<br />

pela população.<br />

No Outo<strong>no</strong> ocorriam as <strong>de</strong>sfolhadas do milho grão acompanhadas<br />

do cantarolar <strong>de</strong> canções populares. Os rapazes que<br />

encontrassem <strong>uma</strong> espiga vermelha tinham <strong>de</strong> dar um beijo<br />

às raparigas solteiras. Nas vindimas, ao esmagar as uvas <strong>no</strong><br />

lagar, os homens organizavam autênticos festivais <strong>de</strong> música<br />

popular acompanhados <strong>de</strong> concertina e cantavam ao<br />

<strong>de</strong>safio.<br />

No Inver<strong>no</strong> era a matança dos porcos, o que resultava n<strong>uma</strong><br />

gran<strong>de</strong> fartura, ou seja, havia <strong>uma</strong> mesa com gran<strong>de</strong> varieda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> comida, não faltando o sarrabulho. Chamava-se<br />

sempre os vizinhos e os bons amigos, havendo <strong>uma</strong> gran<strong>de</strong><br />

animação em toda a região.<br />

Transformava-se os cereais (milho e centeio) em farinha <strong>no</strong>s<br />

moinhos-<strong>de</strong>-água individuais e comunitários. A farinha era<br />

comercializada pelos moleiros que a transportavam em burros<br />

através <strong>de</strong> diversas al<strong>de</strong>ias. Quando as pessoas não<br />

tinham dinheiro para pagar a moagem, davam <strong>uma</strong> maquia<br />

(<strong>uma</strong> parte do cereal moído).<br />

Cada habitação possuía o seu for<strong>no</strong> para cozer a broa, a bola<br />

<strong>de</strong> carne <strong>de</strong> porco ou <strong>de</strong> sardinhas. Assavam o borrego e o<br />

cabrito em épocas festivas. Também andavam pelas portas os<br />

intermediários que compravam aos agricultores os cereais, o<br />

vinho, a batata, fruta, fe<strong>no</strong> e animais, escoando os produtos.<br />

O amolador <strong>de</strong> tesouras aparecia com um apito característico<br />

para alertar a população da sua passagem. Consertava<br />

tesouras, facas para afiar, louças <strong>de</strong> barro e guarda-chuvas.<br />

Nas várias al<strong>de</strong>ias havia postos <strong>de</strong> cobrição <strong>de</strong> bovi<strong>no</strong>s e suí<strong>no</strong>s,<br />

on<strong>de</strong> os habitantes levavam as fêmeas para serem<br />

cobertas, on<strong>de</strong> pagavam os trabalhos <strong>de</strong> reprodução com<br />

cereais.<br />

Os produtores pagavam as rendas das explorações agrícolas<br />

aos senhorios com produtos produzidos na exploração. As<br />

rendas eram estipuladas oralmente <strong>no</strong> início do contrato. A<br />

mão-<strong>de</strong>-obra era comunitária, praticavam a entreajuda.<br />

* Que se <strong>de</strong>senvolveram cá e são próprias do <strong>no</strong>sso país.


Aulas <strong>de</strong> Língua Portuguesa<br />

Uma manhã inesquecível<br />

No dia 2 <strong>de</strong> Maio fomos fazer <strong>uma</strong> visita <strong>de</strong> estudo ao <strong>Parque</strong><br />

<strong>Biológico</strong> <strong>de</strong> <strong>Gaia</strong>.<br />

Infelizmente, o S. Pedro não esteve do <strong>no</strong>sso lado, pois estava<br />

<strong>uma</strong> manhã fria, triste, cinzenta e chuvosa.<br />

Mas lá chegamos, tiramos <strong>uma</strong> fotografia <strong>de</strong> conjunto, à<br />

entrada do <strong>Parque</strong>, para mais tar<strong>de</strong> recordar.<br />

De seguida, alguns simpáticos funcionários levaram-<strong>no</strong>s a<br />

visitar <strong>uma</strong> linda exposição sobre a Evolução do Homem na<br />

Terra.<br />

Depois, em fila indiana e acompanhados sempre pelos <strong>no</strong>ssos<br />

professores, lá partimos à <strong>de</strong>scoberta da Natureza.<br />

Durante o percurso, por bosques e campos ver<strong>de</strong>jantes,<br />

vimos coisas maravilhosas: um jardim tropical repleto <strong>de</strong><br />

coloridas aves, plantas aromáticas e medicinais, a famosa<br />

Árvore dos Sonhos, <strong>uma</strong> raposa amedrontada, jovens gamos<br />

curiosos, aves <strong>de</strong> rapina, <strong>uma</strong> quinta com um espigueiro,<br />

cabrinhas brincando, carneiros pastando, burricos zurrando,<br />

porcos dorminhocos, a casa do moinho, o lago dos cisnes, a<br />

família do bo<strong>de</strong> e do javali, elegantes cavalos pastando,<br />

po<strong>de</strong>rosos bisontes, o rio Febros rasgando a floresta e muito<br />

mais, coisas só vistas e sentidas.<br />

Mas, não foi só passear! Pelo caminho, íamos lendo as vitrinas<br />

informativas, que <strong>no</strong>s ajudavam a preencher a ficha: «À<br />

Descoberta do <strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong>». Esta activida<strong>de</strong> foi impor-<br />

tante, porque ficamos a saber mais sobre a fauna e a flora do<br />

<strong>Parque</strong>.<br />

Finalmente e com a barriga já a «dar horas», fomos almoçar<br />

num encantador <strong>parque</strong> <strong>de</strong> merendas, on<strong>de</strong>, para <strong>no</strong>ssa surpresa,<br />

não faltavam escorregas, balancés e outros divertimentos.<br />

“Cabrinhas brincando, carneiros pastando,<br />

burricos zurrando”<br />

Verão 2002 <strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong> 5


Antes <strong>de</strong> regressar à escola, ainda <strong>de</strong>u tempo para comprar<br />

alg<strong>uma</strong>s recordações na Loja do Campo, on<strong>de</strong> havia livros,<br />

postais, ví<strong>de</strong>os, porta-chaves, lápis, flores...<br />

Visitar o <strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong> é, sem dúvida alg<strong>uma</strong>, <strong>uma</strong> aven-<br />

No número anterior aconteceu: as gralhas atacaram!<br />

Não as <strong>de</strong> penas, mas as <strong>de</strong> tinta. Duas em legendas:<br />

<strong>uma</strong>, na página 9, dizia «Ninhos artificiais para<br />

peneireiros-cinzentos (Alentejo), enriquecidos pelas<br />

cegonhas e pelas aves mais pequenas que aproveitam<br />

os gravetos do ninho maior». Mas por que é que<br />

não ficou só «peneireiros»? Assim, passava! É que há<br />

várias espécies <strong>de</strong> peneireiros e a espécie a que se<br />

<strong>de</strong>stinam aqueles ninhos tubulares são os peneireiros-<strong>de</strong>-dorso-liso!<br />

Na outra legenda em causa, na<br />

pág. 19, foi a palavra milhões que se pensou escre-<br />

6 <strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong> Verão 2002<br />

v e r e f a l a r<br />

O ataque das gralhas!<br />

Os peneireiros-cinzentos<br />

nidificam em<br />

árvores. Reproduz-se<br />

<strong>uma</strong> das primeiras<br />

fotos <strong>de</strong>ssa ave a<br />

nidificar (Foto <strong>de</strong> M.<br />

D. England - Elanus<br />

coeruleus - Figueira<br />

<strong>de</strong> Castelo Rodrigo,<br />

Junho <strong>de</strong> 1963)<br />

Ficamos a saber mais sobre<br />

a fauna e a flora do <strong>Parque</strong><br />

tura fantástica, que iremos repetir, mas agora com a <strong>no</strong>ssa<br />

família.<br />

Os alu<strong>no</strong>s do 5.º F e 5.º G da Escola E.B 2/3 Fernando Pessoa <strong>de</strong><br />

Santa Maria da Feira<br />

Exposição sobre a Evolução do<br />

Homem na Terra<br />

ver mas ficou só <strong>no</strong> campo das intenções: referia<br />

«Água dos ocea<strong>no</strong>s (1320 Km 3 ): 97,2%» e <strong>de</strong>via ter<br />

sido escrito «1320 milhões <strong>de</strong> Km 3 ». Se com revisão<br />

acontece isto, imagine como não seria sem ela!<br />

Na pág. 34, na peça «Próximo <strong>de</strong>sti<strong>no</strong>: Slimbridge»,<br />

aponta-se um custo <strong>de</strong> viagem a Inglaterra, alojamento<br />

incluído, <strong>de</strong> 7500 e; ora, isso seria <strong>uma</strong> fortuna!<br />

Coisas da conversão do euro em fecho <strong>de</strong> edição<br />

– custo correcto: 750 e (150.362$00). Com<br />

este esclarecimento, com certeza já po<strong>de</strong> começar a<br />

planear a sua ida!


ENCONTRO INTERNACIONAL<br />

DE ANÁLISE DA VEGETAÇÃO<br />

b r e v e s<br />

De 11 a 15 <strong>de</strong> Setembro os botânicos reúnem-se <strong>no</strong><br />

seu IV Encontro da Associação Lusitana <strong>de</strong><br />

Fitossociologia (ALFA) com o fito <strong>de</strong> «promover a partilha<br />

<strong>de</strong> experiências entre cientistas, técnicos e outros<br />

profissionais envolvidos na análise da vegetação. O<br />

programa <strong>de</strong> três dias incluirá comunicações por especialistas<br />

convidados em análise <strong>de</strong> vegetação, sessões<br />

abertas para apresentações orais e em poster, <strong>uma</strong><br />

excursão ao <strong>no</strong>roeste <strong>de</strong> Portugal e <strong>uma</strong> sessão final<br />

<strong>de</strong>dicada à vegetação litoral <strong>de</strong> Portugal».<br />

DIAS VERDES<br />

Sob o mote «Para <strong>de</strong>scobrir e conhecer a re<strong>de</strong> Natura<br />

2000», o Instituto <strong>de</strong> Conservação da Natureza, entre<br />

13 e 21 <strong>de</strong> Abril promoveu passeios, percursos interpretativos,<br />

palestras e exposições. Estes «<strong>no</strong>ve dias<br />

ver<strong>de</strong>s» preten<strong>de</strong>ram aproximar os cidadãos da re<strong>de</strong><br />

Natura 2000.<br />

É que, a partir <strong>de</strong> Bruxelas, a Comissão Europeia mobilizou<br />

os países da União para <strong>uma</strong> campanha <strong>de</strong> informação<br />

sobre a re<strong>de</strong> ecológica europeia em construção.<br />

Mas o que é a re<strong>de</strong> Natura?<br />

«Em Maio <strong>de</strong> 1992, os gover<strong>no</strong>s dos países da União<br />

Europeia adoptaram legislação para proteger os habitat<br />

e espécies da Europa mais seriamente ameaçados.<br />

Esta legislação é a Directiva Habitats (92/43/CEE) e<br />

complementa a Directiva Aves (79/409/CEE), adoptada<br />

em 1979. Uma das finalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>stas duas directivas<br />

comunitárias é a criação <strong>de</strong> <strong>uma</strong> re<strong>de</strong> ecológica europeia<br />

chamada Natura 2000.<br />

«A Directiva Aves propõe a criação <strong>de</strong> Zonas <strong>de</strong><br />

Protecção Especial (ZPE) para as aves. Do mesmo<br />

modo, a Directiva Habitats propõe a criação <strong>de</strong> Zonas<br />

Especiais <strong>de</strong> Conservação (ZEC) para outras espécies,<br />

<strong>de</strong> flora e <strong>de</strong> fauna, e para habitats. Juntas, as ZPE e as<br />

ZEC constituem a re<strong>de</strong> Natura 2000».<br />

Estão protegidos como Zonas Especiais <strong>de</strong><br />

Conservação 198 tipos <strong>de</strong> habitat naturais.<br />

A re<strong>de</strong> Natura 2000 vai <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os Açores a Creta e da<br />

Ma<strong>de</strong>ira à Finlândia e assenta n<strong>uma</strong> parceria europeia.<br />

«Em Portugal, a lista nacional <strong>de</strong> Sítios aprovada<br />

abrange cerca <strong>de</strong> 25% do território nacional».<br />

O calendário internacional dos Dias Ver<strong>de</strong>s po<strong>de</strong> ser<br />

visto em http://www.eurosite-nature.org<br />

III SEMANA DA CARQUEJA<br />

Entre os dias 4 e 12 <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong>correu a III Semana da<br />

Carqueja, na Fraguinha. Os fogos florestais e a energia<br />

eólica foram os temas fortes do colóquio que se <strong>de</strong>sdobrou<br />

<strong>no</strong> dia 11. Activida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ar livre, passeios<br />

pe<strong>de</strong>stres e acções <strong>de</strong> formação foram alguns dos<br />

outros pontos do programa.<br />

Verão 2002 <strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong> 7


Uma Assembleia Geral da Associação dos Amigos do<br />

<strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong> <strong>de</strong> <strong>Gaia</strong> <strong>de</strong>correu <strong>no</strong> passado dia 11<br />

<strong>de</strong> Maio, pelas 17h30, em Avintes, conforme anúncio<br />

publicado <strong>no</strong> jornal «Público» <strong>de</strong> 26 <strong>de</strong> Abril. Da agenda<br />

<strong>de</strong> trabalho constaram os seguintes pontos: 1)<br />

aprovação do Relatório e Contas referente ao a<strong>no</strong> <strong>de</strong><br />

2001; 2) eleição, para o biénio 2002/2003, dos Corpos<br />

Gerentes, que são os seguintes: Assembleia Geral –<br />

Presi<strong>de</strong>nte, Fernando Lopes Vieira; Vogal, António<br />

Peres Almada; Secretário, João Loureiro; Conselho<br />

Fiscal – Presi<strong>de</strong>nte, Manuel Meneses Figueiredo;<br />

Relator, Henrique Alves; Vogal, Arcanjo Pereira Araújo.<br />

Direcção – Presi<strong>de</strong>nte, Nu<strong>no</strong> Gomes Oliveira;<br />

Secretária, Sandra Brito; Tesoureiro, Joaquim Moreira<br />

Peixoto; Vogal, Telma Cruz; Vogal, Fernando Pereira<br />

Gomes.<br />

8 <strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong> Verão 2002<br />

colectivismo<br />

O <strong>Parque</strong> tem Amigos<br />

Associação dos Amigos do <strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong> <strong>de</strong> <strong>Gaia</strong><br />

PROPOSTA DE SÓCIO<br />

Nome:<br />

Morada:<br />

O Relatório e Contas está disponível para consulta <strong>no</strong>s<br />

arquivos da Associação.<br />

Ficou ainda agendado um jantar periódico <strong>de</strong> confraternização,<br />

sendo o primeiro já <strong>no</strong> próximo dia 20 <strong>de</strong><br />

Julho. Por razões logísticas, terá <strong>de</strong> ser marcada a presença<br />

dos sócios que <strong>de</strong>sejem participar <strong>no</strong> mesmo até<br />

dia 17 <strong>de</strong> Julho.<br />

A AAPBG conta até ao fecho <strong>de</strong>sta edição 1959 sócios!<br />

Não admira, pois há vantagens. Ser amigo do <strong>Parque</strong><br />

<strong>Biológico</strong> é muito mais do que ter entrada gratuita <strong>no</strong><br />

<strong>Parque</strong>, <strong>no</strong>s termos do protocolo celebrado entre a<br />

Associação e o <strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong> <strong>de</strong> <strong>Gaia</strong>, E. M. Os<br />

Amigos do <strong>Parque</strong> são <strong>uma</strong> voz em <strong>de</strong>fesa da sua<br />

ampliação e melhoramento, e po<strong>de</strong>m colaborar <strong>no</strong>s<br />

trabalhos do <strong>Parque</strong>.<br />

PROPOSTA DE SÓCIO<br />

Telefone: Bilhete <strong>de</strong> I<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>: Arquivo: Data: / /<br />

N.º contribuinte:<br />

Junto envio 15 euros para pagamento da quota do a<strong>no</strong> em curso e fico a aguardar recibo, cartão <strong>de</strong> sócio e outra documentação.<br />

Enviar para: Amigos do <strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong> – 4430-757 Avintes – Vila Nova <strong>de</strong> <strong>Gaia</strong><br />

(Inclui entrada gratuita <strong>no</strong> <strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong>)<br />

ASSINATURA<br />

Reunião dos Amigos do <strong>Parque</strong><br />

Sábado, 20 <strong>de</strong> Julho<br />

Apresentação do Clube dos Amigos das Aves<br />

18h00 - Visita ao <strong>Parque</strong><br />

19h30 - Jantar<br />

Jantar (10 euros) com inscrições pelo telefone 227878123


Maio bateu recor<strong>de</strong><br />

Que gran<strong>de</strong> número: 36 mil visitas só <strong>no</strong> mês <strong>de</strong> Maio!<br />

O número que atingia antes essa fasquia máxima era 24 mil.<br />

Bem visto este ponto, a procura constante do <strong>Parque</strong><br />

<strong>Biológico</strong> em melhor servir a população dá resultado, o<br />

que se sabe e se tor<strong>no</strong>u até tradição nesta empresa:<br />

assim, trata-se <strong>de</strong> <strong>uma</strong> tendência a que não se regateia<br />

esforço.<br />

Associado a isto, verifica-se que está quase a fazer um<br />

a<strong>no</strong> que um projecto conseguido se consolidou e tem,<br />

com certeza, a sua quota <strong>de</strong> influência <strong>de</strong>cisiva neste<br />

«boom» <strong>de</strong> visitantes: a revista PARQUE BIOLÓGICO.<br />

Através <strong>de</strong>sta publicação, o visitante isolado passou a<br />

compreen<strong>de</strong>r que o <strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong> <strong>de</strong> <strong>Gaia</strong> não é só<br />

VISITA DO PRESIDENTE<br />

No passado dia 8 <strong>de</strong> Maio, quarta-feira, o presi<strong>de</strong>nte da<br />

Câmara Municipal <strong>de</strong> <strong>Gaia</strong>, Luís Filipe Menezes, almoçou <strong>no</strong><br />

<strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong>, acompanhado do secretário <strong>de</strong> Estado do<br />

Ambiente do actual Gover<strong>no</strong>, Dr. José Eduardo Martins.<br />

Verso da Capa (1 página). . . . . . . . . . 1000 euros<br />

Verso da Contracapa (1 página) . . . . 1000 euros<br />

1 página. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 800 euros<br />

r e g i s t o<br />

— e já não seria pouco — um passeio em plena natureza<br />

mas também um equipamento singular, e também<br />

valioso, para que os professores das escolas da região<br />

— e <strong>de</strong> além <strong>de</strong>la — o aproveitem para intensificar o<br />

seu esforço educativo.<br />

Sem ficar por aí, esta revista aponta dados e i<strong>de</strong>ias<br />

sobre um amplo leque <strong>de</strong> inúmeras activida<strong>de</strong>s, tanto<br />

<strong>de</strong> educação ambiental como <strong>de</strong> conservação da natureza<br />

<strong>no</strong> seu sentido mais estrito.<br />

Porque se é facto que o <strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong> já conta<br />

quase 20 a<strong>no</strong>s <strong>de</strong> profícuo trabalho, por vezes, diante<br />

do que há para fazer, até parece que ainda estamos a<br />

começar!...<br />

Anuncie na revista «PARQUE BIOLÓGICO»!<br />

TABELA DE PUBLICIDADE PARA 2002<br />

1/2 página . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 400 euros<br />

1/4 página . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 200 euros<br />

1 rodapé. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 200 euros<br />

Somar 17% <strong>de</strong> IVA aos preços da tabela.<br />

Inclui publicação <strong>de</strong> anúncios a todas as cores.<br />

Mais informações através do telefone 227878123 (Sandra Brito) ou através <strong>de</strong> <strong>uma</strong> visita pessoal ao <strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong> <strong>de</strong> <strong>Gaia</strong>.<br />

Verão 2002 <strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong> 9


Vi pela janela o passarito<br />

esver<strong>de</strong>ado, <strong>uma</strong><br />

felosa mínima, abordar<br />

o lago. Pequenito, saltitante,<br />

era um pompom<br />

a que um mágico tinha<br />

soprado vida. Quando<br />

pensei «vai fugir», aterra,<br />

seguro, na folha <strong>de</strong><br />

n e n ú f a r, a boiar à<br />

superfície. Po u s a d o ,<br />

acreditei: «vai afundar»!<br />

Enga<strong>no</strong>-me outra vez. A<br />

folha redonda imerge<br />

apenas o suficiente<br />

para o peque<strong>no</strong>te se<br />

espolinhar, como via os<br />

pardais fazerem na<br />

terra, repetidamente.<br />

Pelo à-vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong>le,<br />

não era a primeira vez.<br />

Refrescar<br />

Afinal, <strong>no</strong> topo do Verão<br />

não somos só nós quem<br />

gosta da banhoca!<br />

E tanto é assim que<br />

hoje as lojas ven<strong>de</strong>m o<br />

que chamam, e muito<br />

bem, banheiras e bebedouros<br />

para pássaros.<br />

Estas peças não se <strong>de</strong>stinam<br />

às aves típicas<br />

dos ambientes lacustres<br />

e estuari<strong>no</strong>s, como as<br />

garças e os patos, os<br />

galeirões e outros tais.<br />

São objectos feitos a<br />

pensar nas aves que, se<br />

por algum enga<strong>no</strong>,<br />

aterram na água, não<br />

têm como sobreviver.<br />

Falamos dos piscos e<br />

das felosas, dos tenti-<br />

10 <strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong> Verão 2002<br />

q u i n t e i r o<br />

Uma banhoca?<br />

Nem só <strong>de</strong> grão vivem as aves. No Estio, quando o calor empurra para a sombra do<br />

casario ou do arvoredo, água para beber e para um banho são a atracção da passarada<br />

Ou dispõe <strong>de</strong> um lago <strong>no</strong> seu jardim... ou vive lado a lado com um<br />

ribeiro, se quer oferecer água aos seus amigos <strong>de</strong> penas


lhões e das escreve<strong>de</strong>iras, e até dos tordos e afins.<br />

Estes recipientes que franqueiam água às aves revestem<br />

formatos múltiplos. Mas há dois que dominam: as<br />

banheiras assentes num pe<strong>de</strong>stal e os minitanques ao<br />

nível do solo. Em comum, duas características: <strong>de</strong>verão<br />

ter pouca profundida<strong>de</strong> e água sempre fresca, sem<br />

<strong>de</strong>pósito <strong>de</strong> folhas ou outros resíduos.<br />

Acesso<br />

Fora isso, <strong>no</strong> que toca a água, viver perto <strong>de</strong> um ribeiro<br />

ou dispor <strong>de</strong> um lago <strong>no</strong> jardim são as outras formas<br />

<strong>de</strong> chamar a passarada ao seu quinteiro.<br />

A água serve para as aves, primeiro, beberem, e, também,<br />

tomarem banho.<br />

Tratando-se <strong>de</strong> beber, percebe-se que, ao falar <strong>de</strong><br />

lagos, é forçoso pensar em vários porme<strong>no</strong>res. Por<br />

exemplo, bordas abruptas, plantas <strong>de</strong> peque<strong>no</strong> porte,<br />

sem ramos, que formam maciços vegetais <strong>de</strong>nsos, dificultam<br />

a tarefa <strong>de</strong> beber. Mais: até po<strong>de</strong>m ser armadilhas,<br />

e os <strong>de</strong>scuidados afogam-se. Assim, um acesso<br />

fácil à água é obrigatório, trate-se <strong>de</strong> um lago peque-<br />

Um pato-real será visita possível num rio ou em lagos maiores,<br />

quem sabe, na ponta do seu jardim<br />

<strong>no</strong>, médio ou gran<strong>de</strong>...<br />

Há vários caminhos para favorecer a segurança da<br />

passarada <strong>no</strong>s espelhos-<strong>de</strong>-água. Um consiste em prevenir<br />

a emboscada dos gatos que, com um salto, muitas<br />

vezes são letais. Outra passa por dispor um monte<br />

<strong>de</strong> pedras em forma <strong>de</strong> pequena ilha na área inundada,<br />

pois isso cria abrigos para os insectos aquáticos e<br />

serve <strong>de</strong> poleiro seguro às pequenas aves que queiram<br />

abeirar-se da água. Outra, ainda, resi<strong>de</strong> em instalar<br />

peque<strong>no</strong>s pontos <strong>de</strong> baixa profundida<strong>de</strong>, cujo acesso<br />

seja fácil e seguro, por exemplo, criando <strong>uma</strong> pequena<br />

queda <strong>de</strong> água artificial alinhavada em calhaus.<br />

As soluções não se esgotam: peque<strong>no</strong>s poleiros <strong>de</strong><br />

ma<strong>de</strong>ira à flor da água po<strong>de</strong>m ser instalados na fímbria<br />

do lago, <strong>de</strong> tal forma que as pequenas aves ali<br />

pousem e sorvam da superfície <strong>uma</strong>s gotas, ao alcance<br />

do bico.<br />

Por isso, com banheira, poça, lago ou ribeiro, é sempre<br />

possível dar mais um jeitito à feição do gosto da passarada.<br />

Porque, afinal, em ple<strong>no</strong> Verão, quem não<br />

gosta d<strong>uma</strong> banhoca?!<br />

Quem mais os usa?<br />

Quais as aves que mais usam o<br />

lago <strong>de</strong> jardim?<br />

Felosas, piscos, pardais, chapins<br />

Quais as aves que mais usam o<br />

rio com que vive lado a lado?<br />

Patos, galeirões, mergulhões,<br />

garças, guarda-rios<br />

Quais as aves que mais usam o<br />

bebedouro-banheira?<br />

Felosas, piscos, pardais, chapins<br />

Bebedouro-banheira<br />

para aves<br />

Verão 2002 <strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong> 11


q u i n t e i r o<br />

É só montar!<br />

Este é o cantinho habitual do Clube dos Amigos das<br />

Aves, <strong>uma</strong> i<strong>de</strong>ia que suscita curiosida<strong>de</strong> e interesse.<br />

Temos sido contactados por várias pessoas, por escrito<br />

e presencialmente, que <strong>no</strong>s pe<strong>de</strong>m mais esclarecimentos.<br />

As perguntas mais habituais são as seguintes:<br />

— Para me juntar ao Clube dos Amigos das Aves,<br />

tenho <strong>de</strong> pagar <strong>uma</strong> quota?<br />

A resposta é clara: não, ninguém precisa <strong>de</strong> aumentar<br />

as suas <strong>de</strong>spesas ao a<strong>de</strong>rir a este projecto.<br />

CLUBE DOS AMIGOS DAS AVES<br />

Os bons projectos estão <strong>no</strong> meio: antes e <strong>de</strong>pois<br />

ficam as boas i<strong>de</strong>ias. Uma <strong>de</strong>las consiste em criar o<br />

Clube dos Amigos das Aves <strong>de</strong> jardim. O que é isso?<br />

É simples: quem tem — ou preten<strong>de</strong> vir a ter — este<br />

passatempo (apoiar as aves <strong>no</strong> seu próprio jardim)<br />

contacta a revista "<strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong>", secção<br />

Quinteiro, que passa a unir os Amigos das Aves. E<br />

isso ao ponto <strong>de</strong> fornecer dados a respeito <strong>de</strong>ste<br />

saudável passatempo.<br />

É facultativo, para cada membro inscrito, associar-<br />

-se à Associação dos Amigos do <strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong>.<br />

Que tal? Gostou? Ficamos à espera das suas <strong>no</strong>vida<strong>de</strong>s,<br />

venham elas por carta (<strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong> <strong>de</strong> <strong>Gaia</strong><br />

- Revista "<strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong>" - 4430-757 AV I N T E S )<br />

ou por correio electrónico: revista@revista<strong>parque</strong>b<br />

i o l o g i c o . c o m<br />

12 <strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong> Verão 2002<br />

— Mas não há <strong>de</strong>spesas <strong>de</strong> expediente a suportar?<br />

Sim, mas não são expressivas, sobretudo quando se verifica<br />

que muitos dos interessados já são sócios da<br />

Associação dos Amigos do <strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong> <strong>de</strong> <strong>Gaia</strong>, que,<br />

salientamos, recebem gratuitamente esta revista por<br />

correio. De resto, o que se quer é que as pessoas interessadas<br />

<strong>no</strong> Clube façam as suas próprias experiências em<br />

casa, <strong>no</strong>s seus jardins, e as relatem a esta revista, sendo<br />

certo que mais dia me<strong>no</strong>s dia encontrarão aqui, nestas<br />

páginas, um espaço <strong>de</strong> comunicação e partilha.<br />

Daqui, propomo-<strong>no</strong>s apoiar o esforço <strong>de</strong> quem se <strong>no</strong>s<br />

dirija nesse sentido.<br />

— E o que se faz para integrar o Clube?<br />

Envia-se <strong>uma</strong> carta a esta secção da revista, manifestando<br />

essa vonta<strong>de</strong> e, sendo o caso, pedindo os esclarecimentos<br />

necessários. Aqui ficamos com o <strong>no</strong>me e<br />

morada, e daremos <strong>no</strong>ta das <strong>no</strong>vida<strong>de</strong>s sempre que<br />

isso seja útil.<br />

Por falar em <strong>no</strong>vida<strong>de</strong>, aqui fica <strong>uma</strong>!<br />

O <strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong> <strong>de</strong> <strong>Gaia</strong> está a preparar um kit<br />

Ninho-comedouro, a baixo preço, que contém as<br />

tábuas já cortadas à medida para ser só montar um<br />

ninho <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira artificial. Assim, <strong>de</strong>pressa arranja um<br />

ninho <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira, bem como um comedouro <strong>de</strong> re<strong>de</strong>,<br />

tão do agrado dos chapins.


Loja do Campo<br />

A Loja do Campo quis ficar mais perto dos seus clientes: agora está mesmo ao lado da recepção<br />

do <strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong> e, <strong>no</strong> Verão, funciona todos os dias das 10h00 às 20h00. O <strong>Parque</strong><br />

possui um horto, on<strong>de</strong> os visitantes po<strong>de</strong>m adquirir plantas e árvores. Telefone: 227878120<br />

FICHA DE ASSINANTE<br />

FICHA DE ASSINANTE<br />

Po<strong>de</strong> receber em sua casa a revista «<strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong>» através <strong>de</strong> dois processos:<br />

1) enviando o seu pedido <strong>de</strong> admissão <strong>de</strong> sócio à Associação dos Amigos do <strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong> (neste caso <strong>de</strong>ve preencher a ficha da pág.<br />

8 <strong>de</strong>sta revista); ou então:<br />

2) fazendo-se assinante <strong>de</strong>sta Revista pela quantia <strong>de</strong> 7.5 euros por a<strong>no</strong>, preenchendo e enviando esta ficha:<br />

Nome:<br />

Morada:<br />

Telefone: N.º contribuinte:<br />

Junto envio 7.5 euros para pagamento <strong>de</strong> <strong>uma</strong> assinatura anual da revista «<strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong>».<br />

Enviar para: <strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong> – 4430-757 Avintes<br />

ASSINATURA:<br />

Assine a revista “<strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong>”


<strong>Parque</strong> ao luar<br />

A Lua aparece sob um véu, <strong>no</strong> alto, branca. Na escadaria do <strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong> a<br />

turma, cheia <strong>de</strong> entusiasmo, prepara-se para a incursão: será que já se vêem os<br />

pirilampos?<br />

«Fiquem lado a lado e não façam barulho», diz a guia,<br />

na <strong><strong>no</strong>ite</strong> <strong>de</strong> 21 <strong>de</strong> Maio. O ar sentia-se lavado pelas<br />

chuvas do fim da tar<strong>de</strong> que perigaram a realização da<br />

visita. Os sentidos absorvem o ambiente. A folhagem<br />

dos carvalhos é ver<strong>de</strong>, na escuridão tranquila, graças à<br />

luz <strong>de</strong> um iluminador solitário.<br />

A vintena <strong>de</strong> crianças estaca. A guia aponta e baixinho<br />

diz: «Vejam aquele morcego!». Uma silhueta alada risca<br />

o ar. Insectos atraídos pela lâmpada são o seu alimento,<br />

quando a hibernação que o protegeu do Inver<strong>no</strong><br />

ficou para trás.<br />

14 <strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong> Verão 2002<br />

e d u c a ç ã o<br />

O <strong>Parque</strong> mostra outra atmosfera. As sombras da <strong><strong>no</strong>ite</strong><br />

ocultam os contor<strong>no</strong>s exactos do percurso e um ar<br />

fresco realça a so<strong>no</strong>rida<strong>de</strong> <strong>no</strong>cturna. O chão está<br />

húmido e alg<strong>uma</strong>s folhas colam-se-lhe. Cuidado, não<br />

vamos calcar alg<strong>uma</strong> salamandra!<br />

Já estamos na parte dos relvados. O primeiro vagalume<br />

ilumina-se, <strong>no</strong> voo lento. Apaga, <strong>de</strong>saparece,<br />

acen<strong>de</strong>! Que <strong>no</strong>vida<strong>de</strong>! João, que estagia <strong>no</strong> <strong>Parque</strong> e<br />

acompanha a turma, conta que eles começam a ver-se<br />

nesta altura e <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>saparecem <strong>no</strong> princípio do<br />

Verão. Os que vemos a voar são os rapazolas! As


fêmeas, mais pesadas, estão pousadas algures e piscam<br />

as luzes aos da sua espécie, para se reproduzirem.<br />

Passo a passo, a luz amarela da lanterna aponta ali e<br />

acolá. Revela alg<strong>uma</strong>s plantas aromáticas, como a<br />

alfazema e o rosmaninho, o tomilho e a lúcia-lima, o<br />

chá-<strong>de</strong>-príncipe, alguns em flor.<br />

Aqui, ouve-se por momentos o ruído da estrada. O<br />

grupo avança, e a ansieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>sarranja a fila, que se<br />

recompõe.<br />

Adiante espreita-se o gaiolão dos bufos-reais, os<br />

maiores mochos da fauna ibérica. Uma fêmea, cega <strong>de</strong><br />

um olho, está <strong>no</strong> choco. A miudagem é só silêncio, não<br />

vá perturbar as aves <strong>no</strong>cturnas. Estas são irrecuperáveis:<br />

se fossem libertadas, não sabendo caçar ou não<br />

estando aptas fisicamente para isso, morreriam.<br />

Quando se retoma o percurso, outro vaga-lume <strong>de</strong>ambula.<br />

O professor Jorge — que lecciona Inglês, acompanha<br />

os alu<strong>no</strong>s e per<strong>no</strong>ita com eles <strong>no</strong> <strong>Parque</strong><br />

<strong>Biológico</strong> —, sem alarido, aponta-o perto do engenho-<br />

-<strong>de</strong>-buchas. A guia aponta a lanterna para um ninho<br />

<strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira aplicado n<strong>uma</strong> árvore, igual aos que a<br />

turma tinha construído horas antes. «Se estiver ocupado,<br />

estão a dormir!».<br />

As fêmeas, mais<br />

pesadas, estão<br />

quietas e piscam<br />

as luzes aos da<br />

sua espécie<br />

Verão 2002 <strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong> 15


À medida que palmilham caminho,<br />

alguns petizes já pensam <strong>no</strong><br />

prazer do chá e da broa que ajudaram<br />

a fazer ao fim da tar<strong>de</strong>.<br />

I<strong>de</strong>ias interrompidas pelo breu do<br />

carvalhal: os que mais receiam o<br />

escuro juntam-se, não vá o monstro-das-bolachas<br />

aparecer a<br />

qualquer altura!<br />

A guia pára junto ao recinto <strong>de</strong><br />

uns animais patuscos, esguios,<br />

peludos. Outro sai do buraco <strong>de</strong><br />

um tronco <strong>no</strong> chão. «O que é<br />

isto?», indagam. «São os toirões»,<br />

alguém respon<strong>de</strong>.<br />

De resto, a raposa e os gamos<br />

estão tranquilos. Barriga cheia, não precisam <strong>de</strong> calcorrear<br />

o escuro.<br />

Pouco <strong>de</strong>pois, quando as nuvens <strong>de</strong>saparecem <strong>de</strong> vez e<br />

o luar <strong>de</strong>svenda a leveza da <strong><strong>no</strong>ite</strong>, o professor aponta<br />

os cinco astros alinhados, que nesta data se vêem<br />

entre as silhuetas dos pinheiros.<br />

As corujas não têm o sossego do dia. Estão muito activas.<br />

Pu<strong>de</strong>ra! São predadoras na escuridão. Comem<br />

ratos, e até insectos. E há muitas espécies: aqui vemos<br />

O professor aponta o alinhamento dos astros<br />

16 <strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong> Verão 2002<br />

e d u c a ç ã o<br />

Mais alguns pirilampos entretêm o caminho <strong>de</strong> volta<br />

corujas-das-torres e corujas-do-mato, irrecuperáveis,<br />

como os bufos-reais.<br />

Não se prossegue o percurso. É que os animais domésticos,<br />

os bisontes, os grifos e restante fauna estão com<br />

certeza a aproveitar a <strong><strong>no</strong>ite</strong> para dormitar. Alguns pirilampos<br />

entretêm o caminho <strong>de</strong> volta e a Lua, mais brilhante,<br />

só se vê quando a copa dos carvalhos permite.<br />

Chegou a hora das broas e dos chás. E das memórias,<br />

essas perdurarão.


O montado, em Portugal, impera na região alentejana.<br />

Quando a romaria das férias flui para o Algarve fica a<br />

i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> tonalida<strong>de</strong>s castanhas, típicas do Estio.<br />

Aqui e acolá, montes <strong>de</strong> linhas onduladas e suaves contestam<br />

a planície. O cultivo <strong>de</strong> searas <strong>de</strong> aveia, trigo e<br />

centeio mistura-se com as pastagens <strong>de</strong> gado, para<br />

quem a sombra dos sobreiros e das azinheiras faz muito<br />

jeito.<br />

Face à intervenção antiga e mo<strong>de</strong>rna do ser h<strong>uma</strong><strong>no</strong>, o<br />

montado é um habitat seminatural.<br />

h a b i t a t<br />

Montado: contra a <strong>de</strong>sertificação<br />

A paisagem plana tinge-se <strong>de</strong> cores diversas segundo as épocas do a<strong>no</strong>. No Verão, o<br />

montado lembra calor e secura, mas abriga <strong>uma</strong> flora rica e <strong>uma</strong> fauna diversificada<br />

Revela um elevado interesse ecológico. Não é por acaso<br />

que, com frequência, passando entre montes e seus<br />

caminhos <strong>de</strong> terra batida, se <strong>de</strong>para com os «ingleses»<br />

munidos dos seus binóculos e telescópios, absorvidos<br />

na contemplação da rica avifauna do montado. E isso<br />

até <strong>no</strong> Inver<strong>no</strong>: os ecossistemas associados a este habitat<br />

acolhem um sem-número <strong>de</strong> aves que se refugiam<br />

do frio que se abate <strong>no</strong> Norte europeu.<br />

A flora não fica atrás! Há mais <strong>de</strong> 140 espécies aromáticas,<br />

medicinais e melíferas, como a alfazema e o rosmaninho,<br />

a lavanda e o alecrim, ou o tomilho. Os boletos,<br />

os míscaros, as silarcas — leia-se cogumelos —,<br />

entre o solo criam simbioses com o arvoredo, oferecendo<br />

vantagens e colhendo favores.<br />

É por estas e por outras que se diz: o montado combate<br />

a <strong>de</strong>sertificação! Protege o solo dos <strong>de</strong>sgastes erosivos,<br />

ten<strong>de</strong>ndo a reter a sua fertilida<strong>de</strong>. Beneficia o solo<br />

favorecendo a infiltração da água da chuva <strong>no</strong> solo que,<br />

como não abunda, é preciosa. Na prática, da confluência<br />

<strong>de</strong> <strong>uma</strong> constelação <strong>de</strong> factores, surgem microclimas<br />

ame<strong>no</strong>s.<br />

Há mais virtu<strong>de</strong>s a <strong>de</strong>stacar: a riqueza <strong>de</strong>ste habitat<br />

passa por ser constituído sobretudo por vegetação<br />

autóctone e por <strong>uma</strong> baixa <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong>mográfica,<br />

ocupando as vilas e al<strong>de</strong>ias extensas áreas <strong>de</strong> forma<br />

relativamente contínua.<br />

As charcas são <strong>uma</strong> intensificação da acção h<strong>uma</strong>na sobre o montado. Escavadas para dar <strong>de</strong> beber ao gado, aproveitam-nas<br />

espécies silvestres como mergulhões, patos, galeirões, entre outros<br />

Verão 2002 <strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong> 17


C a s c a<strong>de</strong> peso<br />

Na flora do montado pontuam o sobreiro, a azinheira<br />

e o carvalho-negral. Mas a presença <strong>de</strong> muitas outras<br />

espécies, como os loureiros, piteiras, funcho, estevas,<br />

sargaço, esten<strong>de</strong>-se <strong>de</strong> permeio com gramíneas e<br />

outras ervas a cobrirem o chão. Tanta varieda<strong>de</strong> veste<br />

a paisagem <strong>de</strong> um colorido tão típico quão surpreen<strong>de</strong>nte,<br />

<strong>de</strong> acordo com a época do a<strong>no</strong>.<br />

Árvore endémica da região mediterrânica, o sobreiro é<br />

<strong>uma</strong> espécie robusta, <strong>de</strong> folha permanente, e po<strong>de</strong><br />

alcançar 25 metros <strong>de</strong> altura.<br />

A floração dá o ar <strong>de</strong> sua graça em Abril e Maio. O<br />

fruto — a bolota — amadurece <strong>no</strong> Outo<strong>no</strong>.<br />

Com preferência por solos soltos e ricos em sílica,<br />

resiste pouco ao frio e às geadas. Inver<strong>no</strong>s húmidos,<br />

suaves, e verões quentes são do seu agrado. Distribui-<br />

-se até aos 1200 metros <strong>de</strong> altitu<strong>de</strong>. Protegido por lei,<br />

o sobreiro suporta a extracção da cortiça, <strong>no</strong> máximo,<br />

<strong>de</strong> <strong>no</strong>ve em <strong>no</strong>ve a<strong>no</strong>s. Portugal é um dos gran<strong>de</strong>s produtores<br />

<strong>de</strong> cortiça <strong>no</strong> cenário mundial.<br />

Conhecer melhor esta quercínea é dar passos para a<br />

sua conservação.<br />

No <strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong> há vários espécimes <strong>de</strong>sta árvore,<br />

Quercus suber, em diferentes fases <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento.<br />

18 <strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong> Verão 2002<br />

f l o r a<br />

O sobreiro é a mais-valia <strong>no</strong> montado. Po<strong>de</strong> viver meio milénio! Espécie que só se<br />

dá <strong>no</strong> clima mediterrânico, oferece ao homem sobretudo cortiça, bolota e ma<strong>de</strong>ira<br />

O Alentejo abriga as gran<strong>de</strong>s manchas florestais do sobreiro em Portugal<br />

Uma casca leve com gran<strong>de</strong> peso económico


O cervo<br />

Diz quem sabe que os veados não apreciam o calor. É<br />

também por isso que se torna mais fácil vê-los activos<br />

ao pôr-do-sol e ao amanhecer. Mas é <strong>de</strong> <strong><strong>no</strong>ite</strong> que são<br />

mais mexidos.<br />

A sua ementa são folhagens diversas, ervas, caules<br />

suculentos, bagas, frutos, e até casca <strong>de</strong> árvores.<br />

Apesar <strong>de</strong> se esten<strong>de</strong>r por diversos habitat, certo é que<br />

os veados, por entre o matagal mediterrânico, aproveitam<br />

os recursos do montado.<br />

Po<strong>de</strong>ndo pesar <strong>de</strong> 100 a 350 Kg, é o maior cerví<strong>de</strong>o da<br />

Península Ibérica. Nome científico: Cervus elaphus.<br />

O macho distingue-se da fêmea pelas hastes ramificadas<br />

que o caracterizam e por ser maior. Mas essa<br />

armação só é vista na sua plenitu<strong>de</strong> em Setembro. Um<br />

facto que traz vantagem, <strong>uma</strong> vez que, lá para<br />

Novembro, ocorrem as disputas territoriais: é a brama<br />

ou berreio. No cio, o ar vibra com o resfolegar e os<br />

urros sonantes dos machos. Ultrapassadas as posturas<br />

ameaçadoras, se nenhum <strong>de</strong>siste, dá-se a medição <strong>de</strong><br />

forças: hastes contra hastes,<br />

empurram-se. Na maior parte<br />

das vezes não se ferem: assim<br />

que um se dá como vencido,<br />

renuncia e foge. Acontece<br />

sempre que os veados dominantes<br />

são contestados por<br />

rivais. O grupo <strong>de</strong> fêmeas é o<br />

prémio do vencedor. Em teoria<br />

vence quase sempre o macho<br />

mais forte fisicamente, os seus<br />

genes são transmitidos à <strong>de</strong>scendência,<br />

e assim sucessivamente,<br />

robustecendo a espécie.<br />

A fêmea fica prenhe durante<br />

cerca <strong>de</strong> 8 meses. Com muita<br />

frequência só nasce <strong>uma</strong> cria,<br />

sarapintada com manchas<br />

brancas, <strong>uma</strong> ajuda preciosa à<br />

invisibilida<strong>de</strong> que <strong>de</strong>ve vestir<br />

frente aos predadores, e que<br />

funciona quando se imobiliza.<br />

O vereto, <strong>no</strong>me que i<strong>de</strong>ntifica<br />

f a u n a<br />

Chega a viver um quarto <strong>de</strong> século e o seu efectivo <strong>no</strong> montado português está a<br />

aumentar, possivelmente vindo <strong>de</strong> Espanha<br />

o macho jovem, po<strong>de</strong> acompanhar a mãe. Esta po<strong>de</strong><br />

ser vista com <strong>uma</strong> cria <strong>de</strong> poucos meses e um subadulto,<br />

também seu <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte.<br />

No final <strong>de</strong> Fevereiro/Março chamam <strong>no</strong> Alentejo ao<br />

veado adulto vergonhoso, é mais difícil vê-lo, caíram-<br />

-lhe as hastes. Como convém, mudam <strong>de</strong> pelagem <strong>no</strong><br />

Verão e <strong>no</strong> Inver<strong>no</strong>.<br />

Velozes, ágeis e fugidios, como é típico dos cerví<strong>de</strong>os,<br />

as fêmeas agregam-se em manadas, admitindo crias<br />

<strong>de</strong> várias ida<strong>de</strong>s.<br />

Em séculos passados, além do ser h<strong>uma</strong><strong>no</strong>, o seu predador<br />

era sobretudo o lobo. Hoje, é <strong>uma</strong> peça <strong>de</strong> caça,<br />

sendo as cabeças um troféu apreciado pelos amigos-<br />

-do-gatilho.<br />

Por exemplo, na região do Tejo Internacional, sentiu-se<br />

um aumento da população <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a década <strong>de</strong> 1980. Os<br />

estudiosos pensam ser este reaparecimento consequência<br />

do êxodo rural.<br />

Verão 2002 <strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong> 19


Quando pisei as tábuas do passadiço <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira<br />

naquela manhã, o nevoeiro levantava e a humida<strong>de</strong><br />

enriquecia <strong>de</strong> tonalida<strong>de</strong>s o solo. A areia branca, solta<br />

e seca dos dias <strong>de</strong> sol forte agora estava acastanhada<br />

em cores pastel, alisada pelo vento, sem mácula, esten<strong>de</strong>ndo-se<br />

como um bordado primoroso on<strong>de</strong> dominavam<br />

as flores amarelas e cor-<strong>de</strong>-rosa, lilases e azuis,<br />

<strong>uma</strong>s a rastejarem pela areia, outras semierguidas. O<br />

rasto <strong>de</strong> aves e insectos, <strong>de</strong> répteis e <strong>de</strong> artrópo<strong>de</strong>s<br />

dominava as marcas na areia. Na verda<strong>de</strong>, <strong>de</strong>senhos <strong>de</strong><br />

activida<strong>de</strong> <strong>no</strong>cturna, histórias <strong>de</strong> vida da <strong><strong>no</strong>ite</strong> dunar.<br />

Se não conhecesse a história <strong>de</strong>ste <strong>Parque</strong> <strong>de</strong> Dunas,<br />

diria que algum jardineiro ali tivesse andado a pôr<br />

e d u c a ç ã o<br />

Dunas que florescem<br />

O <strong>Parque</strong> <strong>de</strong> Dunas da Aguda é um exemplo <strong>de</strong> como a natureza recupera, se o ser<br />

h<strong>uma</strong><strong>no</strong> lhe dá oportunida<strong>de</strong>. De um areal aparentemente estéril surgiu um formoso<br />

jardim espontâneo on<strong>de</strong> florescem lições <strong>de</strong> educação ambiental<br />

CONSOLIDAR HÁBITOS<br />

O <strong>Parque</strong> <strong>de</strong> Dunas da Aguda foi criado na Primavera <strong>de</strong><br />

1997 como resultado da aprovação <strong>de</strong> um programa<br />

LIFE, a que o <strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong> se candidatou. A candidatura<br />

foi formulada por Nu<strong>no</strong> Gomes Oliveira. Na altura<br />

<strong>uma</strong> gran<strong>de</strong> i<strong>no</strong>vação, o <strong>Parque</strong> <strong>de</strong> Dunas da Aguda consiste<br />

em dois terre<strong>no</strong>s <strong>no</strong> Litoral – à volta <strong>de</strong> 3 hectares<br />

– que se situam lado a lado na Aguda. Uma das partes<br />

não é visitável, mas a outra é, está aberta ao público<br />

todos os dias, sendo a entrada grátis.<br />

Em tor<strong>no</strong> <strong>de</strong>ste <strong>Parque</strong> fizeram-se ví<strong>de</strong>os, distribuiu-se<br />

banda <strong>de</strong>senhada, folhetos, ofereceram-se toalhetes a<br />

bares para colocação <strong>no</strong>s tabuleiros. Muitas pessoas<br />

aperceberam-se, graças a esse trabalho, dos problemas<br />

do Litoral.<br />

Curiosamente, todas as bandas <strong>de</strong>senhadas que o <strong>Parque</strong><br />

produziu, painéis <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> dois metros, estiveram<br />

expostos durante <strong>uma</strong> série <strong>de</strong> a<strong>no</strong>s <strong>no</strong> Litoral e nenhum<br />

<strong>de</strong>les teve um único risco, nem nenhum bigo<strong>de</strong> n<strong>uma</strong><br />

ave, nada. Ficaram intocados até terem sido retirados. É<br />

<strong>uma</strong> proeza!<br />

Ainda assim, é possível encontrar quem, ao levar o filho<br />

à praia, escapando aos passadiços <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira, se o pé da<br />

criança encontra um cardo-marítimo meio enterrado,<br />

queira que essa planta <strong>de</strong>sapareça <strong>de</strong> vez...<br />

20 <strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong> Verão 2002<br />

or<strong>de</strong>m e protecção para atingir aquele efeito. Mas não:<br />

vedara-se apenas aquela área para que as plantas<br />

emergentes não fossem trucidadas.<br />

Há cinco a<strong>no</strong>s que o <strong>Parque</strong> <strong>de</strong> Dunas abriu ao público,<br />

sob a égi<strong>de</strong> da Câmara Municipal <strong>de</strong> <strong>Gaia</strong> e especificamente<br />

sob cuidado do <strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong>. Fica<br />

<strong>de</strong>monstrado: pisar as dunas <strong>de</strong>strói as plantas e,<br />

assim, a base do habitat dunar. Quem mais per<strong>de</strong> com<br />

isso são as populações, sobretudo as da vizinhança.<br />

Este <strong>parque</strong> <strong>de</strong> dunas conta agora 30 mil visitantes, só<br />

os que foram guiados e transportados por autocarro a<br />

partir do <strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong>.<br />

Mas isso é apenas falta <strong>de</strong> informação: à medida que as<br />

pessoas se apercebem da importância que as plantas que<br />

vivem nas dunas têm na fixação da areia, é evi<strong>de</strong>nte que<br />

começam a pensar duas vezes quando as pisam. Além<br />

disso, cada vez há mais passadiços e, até por <strong>uma</strong> questão<br />

<strong>de</strong> comodida<strong>de</strong>, os banhistas usam <strong>de</strong> forma crescente<br />

essas estruturas. Se é certo que os objectivos são<br />

claros, não há como fixar <strong>uma</strong> data a partir da qual se<br />

possa dizer que estes esclarecimentos atingiram todos os<br />

<strong>de</strong>stinatários. Talvez seja necessário <strong>de</strong>monstrar à população<br />

as vantagens <strong>de</strong> proteger as dunas durante mais<br />

uns 10 a 15 a<strong>no</strong>s para que os (bons) hábitos se possam<br />

consolidar.<br />

Entrada do <strong>Parque</strong>


1<br />

4<br />

7<br />

2<br />

5<br />

8<br />

1 - Silene littorea Brt.; 2 - Luzerna-das-praias ( Medicago marina L.); 3 - Estor<strong>no</strong> (Ammophila arenaria (L.); 4 - Relva-da-<br />

-praia (Polygonum maritimum (L.); 5 - Eruca-marinha ( Cakile maritima (Scop.); 6 - Helichrysum italicum (Roth. G. Don fil.<br />

ssp.; 7 - Cardo-marinho (Eryngium maritimum L.); 8 - Cor<strong>de</strong>iros-da-praia ( Otanthus maritimus (L.) Hoffmanns & Link); 9 -<br />

Artemisia campestris (L.) ssp. maritima<br />

3<br />

6<br />

9<br />

Verão 2002 <strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong> 21


Pontas-<strong>de</strong>-lança<br />

As plantas das dunas são a vanguarda da evolução<br />

vegetal?<br />

Não serão se calhar as mais especializadas, pois há<br />

plantas que vivem em habitates extremos. Mas, em<br />

termos <strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong>, elas ficam n<strong>uma</strong> fasquia muito<br />

elevada: são ao mesmo tempo, na prática, plantas <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>serto e plantas sujeitas a vendavais fortes. Quer a<br />

brisa marítima quer a terrestre estão sempre a atacar.<br />

As diferenças <strong>de</strong> temperatura são drásticas: <strong>de</strong> dia um<br />

sol tórrido, <strong>de</strong> <strong><strong>no</strong>ite</strong> <strong>uma</strong> brisa fria. Nesse aspecto, esta<br />

flora evi<strong>de</strong>ncia adaptações fantásticas.<br />

Como se o <strong>de</strong>scrito não fosse já complicado, enfrentam<br />

ainda a falta <strong>de</strong> água e <strong>de</strong> nutrientes. A areia, pelas<br />

suas características, não consegue reter esses elementos.<br />

Assim, como contrapartida, as plantas dunares recorrem<br />

a estratégias que satisfazem um aproveitamento<br />

máximo <strong>de</strong> água e favorecem a absorção <strong>de</strong> nutrientes.<br />

Por exemplo, diminuem a superfície das folhas:<br />

quase todas têm folhas pequeninas. Quanto me<strong>no</strong>r a<br />

superfície <strong>de</strong> contacto com o ar, me<strong>no</strong>r a evaporação.<br />

Outras espécies sobrepõem as folhas, em forma <strong>de</strong><br />

telhado. Assim, têm me<strong>no</strong>s contacto com o exterior e<br />

estabelecem <strong>uma</strong> espécie <strong>de</strong> câmaras que retêm humida<strong>de</strong><br />

entre si. Muitas <strong>de</strong>las têm pêlos, que visam<br />

reflectir a lumi<strong>no</strong>sida<strong>de</strong> e impedir que a luz bata directamente<br />

na superfície. Ora aí está um tópico que os<br />

carecas percebem bem em dias <strong>de</strong> sol!<br />

Mas a criativida<strong>de</strong> <strong>de</strong>stas plantas não pára: os espinhos<br />

que muitas <strong>de</strong>las possuem são <strong>uma</strong> adaptação à<br />

secura. Quanto mais rijas as suas superfícies (fala-se<br />

<strong>de</strong> <strong>uma</strong> textura coriácia, <strong>de</strong> couro) me<strong>no</strong>s transpiram.<br />

Por isso é que os cardos mostram aquela superfície<br />

dura. Olhando-os, parecem mais ou me<strong>no</strong>s encerados.<br />

Alg<strong>uma</strong>s plantas, em vez <strong>de</strong> revelarem a habitual seiva<br />

líquida, evi<strong>de</strong>nciam <strong>uma</strong> seiva mais pastosa, que tam-<br />

22 <strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong> Verão 2002<br />

1997<br />

e d u c a ç ã o<br />

bém dificulta a perda <strong>de</strong> água. Outras adaptações passam<br />

pelo enrolamento das folhas, como <strong>no</strong> caso do<br />

estor<strong>no</strong>.<br />

E há também respostas à falta <strong>de</strong> nutrientes. Com rizomas<br />

gigantescos, conseguem <strong>uma</strong> gran<strong>de</strong> superfície <strong>de</strong><br />

contacto e <strong>uma</strong> maior absorção. Mas a vida num habitat<br />

móvel exige mais: a qualquer momento as plantas<br />

po<strong>de</strong>m ficar soterradas, se o vento sopra e a areia as<br />

cobre. Como resolvem esse problema?<br />

Em vez <strong>de</strong> crescerem num só local crescem em vários<br />

pontos – se <strong>uma</strong> ou outra for tapada com areia, os<br />

outros rebentos continuam a fazer fotossíntese e esse<br />

espécime sobrevive. Outras plantas conseguem excretar<br />

sal, <strong>no</strong> caso das espécies mais próprias <strong>de</strong> sapal.<br />

Outras são suculentas, para terem reservas <strong>de</strong> água.<br />

As plantas dunares <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m sobretudo da água da<br />

chuva e do orvalho, porque pela raiz, dada a proximida<strong>de</strong><br />

do mar, os lençóis freáticos ten<strong>de</strong>m a salinizar.<br />

Primeiro passo<br />

No arranque <strong>de</strong>ste projecto, os terre<strong>no</strong>s do <strong>Parque</strong> <strong>de</strong><br />

Dunas da Aguda eram constantemente atravessados<br />

pelas pessoas na direcção do mar. É possível ver n<strong>uma</strong><br />

fotografia aérea antiga que a maior parte da zona<br />

frontal estava sem vegetação. As plantas não se conseguiam<br />

fixar.<br />

Ao ser pisada, a duna torna-se mais móvel. Havia<br />

muito mais areia exposta do que cobertura vegetal. À<br />

medida que se colocaram passadiços, as pessoas passaram<br />

a evitar pisar a areia, por comodida<strong>de</strong>, e as<br />

plantas começaram a surgir.<br />

Nessa altura, colocaram-se paliçadas para fixação da<br />

areia das dunas. Mas não <strong>uma</strong>s paliçadas quaisquer!<br />

Paliçadas ecológicas – reaproveitaram-se podas <strong>de</strong><br />

árvores do município e foi essa ma<strong>de</strong>ira que se usou<br />

com vantagens acrescidas: são mais eficientes porque<br />

os ramos, redondos e colocados em molhos, simulam


melhor o efeito do vento na vegetação. Criam mais<br />

turbulência e a areia ten<strong>de</strong> a ficar ali retida.<br />

Mas, e os vizinhos? Sim, porque o <strong>Parque</strong> <strong>de</strong> Dunas da<br />

Aguda tem vizinhos. Há 5 a<strong>no</strong>s, a vizinhança compreen<strong>de</strong>u<br />

perfeitamente o que era o <strong>Parque</strong> <strong>de</strong> Dunas.<br />

Até ajudou na vigilância. Os problemas ocorriam com<br />

<strong>uma</strong> série <strong>de</strong> grupos que frequentavam a área <strong>de</strong> <strong><strong>no</strong>ite</strong>.<br />

Deitavam a re<strong>de</strong> abaixo às vezes só para fazerem ali<br />

<strong>uma</strong> fogueira ou um piquenique. Outros roubavam<br />

parte da vedação talvez para algum galinheiro.<br />

Aconteceu também pais portarem-se pior que os<br />

filhos. Quando a bola saltava da praia para o <strong>Parque</strong>,<br />

galgavam a vedação e ofereciam pancada ao segurança.<br />

Isto <strong>no</strong> Verão era frequente. Outras pessoas usavam<br />

a vedação para servir <strong>de</strong> encosto, cabi<strong>de</strong>, e <strong>de</strong>terioravam-na.<br />

Também o «melhor amigo do homem» abandonado é<br />

um problema que atinge a vedação e a fauna que visita<br />

o <strong>Parque</strong>. Chegou-se a ver lá 15 cães <strong>de</strong> <strong>uma</strong> só vez.<br />

Dá sarilhos: há aves que fazem ninho nas dunas ou que<br />

precisam <strong>de</strong>las para <strong>de</strong>scansar durante as migrações.<br />

Esses cães iam aos ninhos. E, muitas vezes, bastava a<br />

presença <strong>de</strong>les para as aves – como os borrelhos e os<br />

ostraceiros – não pousarem.<br />

No <strong>Parque</strong> <strong>de</strong> Dunas da Aguda há um ou outro ouriço-<br />

-cacheiro. Se fossem dunas extensas haveria até raposas.<br />

Neste espaço limitado há <strong>uma</strong> série <strong>de</strong> répteis:<br />

lagartos e lagartixas, talvez cobras, uns poucos anfíbios,<br />

mais ligados a <strong>uma</strong> charca temporária criada a<br />

<strong>no</strong>rte para servir <strong>de</strong> bebedouro às aves migradoras.<br />

Face às vantagens, o i<strong>de</strong>al seria expandir o <strong>Parque</strong>.<br />

Mas não há como fazer isso. De um lado está o mar e,<br />

dos outros, mares <strong>de</strong> habitações. O que é possível é<br />

preservar o que resta das dunas, isso sim, apesar da<br />

erosão marinha que avança. Manter estes espaços<br />

naturais ou naturalizados é tarefa complicada!<br />

2001 2002<br />

<strong>Parque</strong> <strong>de</strong><br />

Dunas da<br />

Aguda<br />

Verão 2002 <strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong> 23


Bem comum<br />

Ainda assim não há como esquecer: as populações<br />

beneficiam <strong>de</strong>stes <strong>parque</strong>s dunares. No caso aqui da<br />

Aguda, se a duna frontal <strong>de</strong>saparecer a estrada passa<br />

a ser marginal, com todas as implicações que isso tem<br />

a nível da conservação dos edifícios. As marés vivas<br />

entrarão <strong>de</strong>ntro das casas, fora o gran<strong>de</strong> património<br />

florístico e faunístico que se esvai.<br />

Com esta revista,<br />

o Relatório e<br />

Contas <strong>de</strong> 2001<br />

do <strong>Parque</strong><br />

<strong>Biológico</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Gaia</strong>, E. M. em<br />

CD-ROM<br />

24 <strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong> Verão 2002<br />

Silene portensis L.<br />

e d u c a ç ã o<br />

Apesar do <strong>Parque</strong> <strong>de</strong> Dunas da Aguda não ser gran<strong>de</strong>,<br />

nele conseguiu-se proteger, entre muitas outras, <strong>uma</strong><br />

espécie que só existe <strong>no</strong> Douro Litoral, sendo a Aguda<br />

o seu ponto mais a sul (o ponto mais a <strong>no</strong>rte é<br />

Angeiras): a Rhynchosinapis johnstoni ( S a m p . )<br />

Heywood, <strong>uma</strong> rarida<strong>de</strong>.<br />

Há outra que também existe neste <strong>Parque</strong> <strong>de</strong> Dunas: a<br />

Jasione lusitanica A. DC. Possui estatuto <strong>de</strong> protecção<br />

<strong>no</strong> Anexo II da Directiva Habitats.<br />

Outras <strong>de</strong>sapareceram pensa-se que há <strong>uma</strong>s décadas,<br />

como é o caso da camarinha, Corema album (L.) D.<br />

Don. Havia até <strong>uma</strong> rua na Aguda com esse <strong>no</strong>me.<br />

Porquê <strong>de</strong>gradar?<br />

O que mais <strong>de</strong>strói as plantas das dunas, a nível local,<br />

é o trânsito <strong>de</strong> jipes, <strong>de</strong> motas, <strong>de</strong> pessoas <strong>de</strong> passagem<br />

para a praia. N<strong>uma</strong> escala mais abrangente, ainda com<br />

<strong>uma</strong> dimensão média, contam-se a extracção <strong>de</strong> areia<br />

e as barragens. As últimas imobilizam os sedimentos,<br />

que vão ficando em gran<strong>de</strong> parte na albufeira, e não<br />

são distribuídos pelo Litoral.<br />

A <strong>uma</strong> escala maior, consi<strong>de</strong>ra-se o problema do aquecimento<br />

global, o <strong>de</strong>scongelamento das calotes polares,<br />

o aumento do nível da água do mar, <strong>uma</strong> série <strong>de</strong><br />

fenóme<strong>no</strong>s como a acidificação da própria chuva (que<br />

mata), e, claro, os movimentos tectónicos.


EXEMPLO<br />

(CON)SEGUIDO<br />

Quando o que se faz num sítio se converte em<br />

mo<strong>de</strong>lo é porque a qualida<strong>de</strong> marcou pontos.<br />

Foi isso mesmo que ocorreu com o <strong>Parque</strong> <strong>de</strong><br />

Dunas da Aguda. Por exemplo, se <strong>no</strong>s <strong>de</strong>slocarmos<br />

<strong>no</strong> Litoral para <strong>no</strong>rte e chegarmos a Matosinhos, à<br />

Praia da Memória, encontramos um peque<strong>no</strong> edifício<br />

<strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira, um prefabricado que em tudo<br />

evoca o <strong>Parque</strong> <strong>de</strong> Dunas da Aguda. Perto <strong>de</strong><br />

Angeiras, embora possa e <strong>de</strong>va ser visitado todo o<br />

a<strong>no</strong>, a melhor altura é a Primavera e início <strong>de</strong><br />

Verão, isto se quer apreciar as lindas flores silvestres<br />

das plantas dunares.<br />

De <strong>uma</strong> forma diferente, mais a <strong>no</strong>rte, a Área<br />

Protegida do Litoral <strong>de</strong> Esposen<strong>de</strong> também acolheu<br />

um elemento do <strong>Parque</strong> <strong>de</strong> Dunas da Aguda:<br />

<strong>uma</strong> banda <strong>de</strong>senhada distribuída aos milhares, a<br />

dada altura, aos restaurantes self-service do<br />

Litoral – na prática, foi só trocar o logótipo do<br />

<strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong> pelo da Área Protegida.<br />

Mas voltando a sul, também Mira e Vagos estabeleceram<br />

contacto com o <strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong> <strong>de</strong> <strong>Gaia</strong><br />

<strong>no</strong> sentido da criação <strong>de</strong> um <strong>Parque</strong> <strong>de</strong> Dunas<br />

como o da Aguda.<br />

Tocando <strong>no</strong> facto <strong>de</strong> Portugal dispor <strong>de</strong> um Litoral<br />

extenso e ameaçado – já que a maior parte da<br />

população é aí que se concentra – é natural e<br />

<strong>de</strong>sejável: o <strong>Parque</strong> <strong>de</strong> Dunas da Aguda continuará<br />

a inspirar projectos <strong>de</strong> educação ambiental e <strong>de</strong><br />

conservação da natureza, <strong>no</strong> sentido <strong>de</strong> um <strong>de</strong>senvolvimento<br />

sustentado.<br />

Praia da Memória, Matosinhos<br />

Os borrelhos nidificam abundante e frequentemente <strong>no</strong> <strong>Parque</strong> <strong>de</strong><br />

Dunas da Aguda<br />

Uma rarida<strong>de</strong>: Rhynchosinapis johnstoni (Samp.) Heywood<br />

As activida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> educação ambiental propostas aos<br />

visitantes do <strong>Parque</strong> <strong>de</strong> Dunas passam por se prestar<br />

informações em visitas acompanhadas por um guia,<br />

sujeitas a marcação (programa «Dunas: conhecer e<br />

conservar»). Explica-se a importância das zonas húmidas,<br />

como funcionam as dunas, as adaptações das<br />

plantas, etc. No futuro, o <strong>Parque</strong> <strong>de</strong> Dunas vai dispor<br />

<strong>de</strong> <strong>uma</strong> série <strong>de</strong> outros programas <strong>de</strong> educação<br />

ambiental.<br />

Face ao presente, é <strong>de</strong> aguardar o futuro próximo com<br />

a melhor expectativa!<br />

Verão 2002 <strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong> 25


Inaugurado <strong>no</strong> passado dia 12 <strong>de</strong> Junho pelo presi<strong>de</strong>nte<br />

da Câmara Municipal <strong>de</strong> Vila Nova <strong>de</strong> <strong>Gaia</strong>, o Centro<br />

<strong>de</strong> <strong>Educação</strong> Ambiental das Ribeiras <strong>de</strong> <strong>Gaia</strong> fica junto<br />

à ribeira do Espírito Santo, por trás do campo <strong>de</strong> golfe.<br />

Este centro acolhe diversas activida<strong>de</strong>s: expõe aquários<br />

com várias espécies típicas das ribeiras <strong>de</strong>ste concelho<br />

— montados pela Estação Litoral da Aguda —, dispõe <strong>de</strong><br />

biblioteca e mediateca, <strong>de</strong> um minicampo <strong>de</strong> energias<br />

alternativas e <strong>uma</strong> sala <strong>de</strong> monitorização da qualida<strong>de</strong><br />

26 <strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong> Verão 2002<br />

e q u i p a m e n t o<br />

Ribeiras <strong>de</strong> <strong>Gaia</strong><br />

Em Miramar surge um centro <strong>de</strong> educação ambiental vocacionado para sensibilizar<br />

sobre a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> protecção dos cursos <strong>de</strong> água doce<br />

Porme<strong>no</strong>r do Centro junto à ribeira do<br />

Espírito Santo<br />

da água da ribeira do Espírito Santo, entre outras.<br />

Cria-se assim «um espaço físico que possibilita o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

<strong>de</strong> acções pedagógicas e a disseminação da<br />

estratégia ambiental do município <strong>de</strong> <strong>Gaia</strong>, criando e<br />

<strong>de</strong>senvolvendo <strong>no</strong> concelho <strong>uma</strong> maior consciência<br />

ambiental», bem como «sensibilizar os visitantes para as<br />

problemáticas ambientais, particularmente para a água,<br />

energia, conservação da natureza e resíduos».<br />

O Presi<strong>de</strong>nte da Câmara inaugurou<br />

o Centro <strong>de</strong> <strong>Educação</strong><br />

Ambiental das Ribeiras <strong>de</strong> <strong>Gaia</strong><br />

Praias azuis<br />

Vila Nova <strong>de</strong> <strong>Gaia</strong> dispõe hoje <strong>de</strong> 12 praias com a cobiçada ban<strong>de</strong>ira<br />

azul, <strong>no</strong>meadamente Cani<strong>de</strong> Norte e Sul, Madalena Sul, Valadares Norte<br />

e Sul, Dunas Mar, Francelos, Sãozinha, Mar e Sol, Aguda, Senhor da<br />

Pedra e Miramar.<br />

«Das 144 praias portuguesas galardoadas, 22 estão na Região Norte e,<br />

<strong>de</strong>stas, 12 na Área Metropolitana do Porto, todas localizadas em <strong>Gaia</strong>»,<br />

afirma um cartaz da Águas <strong>de</strong> <strong>Gaia</strong>, E. M.<br />

A Ban<strong>de</strong>ira Azul é atribuída pela Fundação para a <strong>Educação</strong> Ambiental<br />

(em inglês FEE), <strong>uma</strong> organização não governamental <strong>de</strong> ambiente em<br />

que cada um dos países participantes é representado por organizações<br />

nacionais. Em Portugal, o operador nacional é a Associação Ban<strong>de</strong>ira<br />

Azul da Europa - secção portuguesa da FEE.


No âmbito <strong>de</strong>ste centro, está em curso «um programa<br />

<strong>de</strong> limpeza, renaturalização e reabilitação dos 400 km<br />

<strong>de</strong> ribeiras do território concelhio e suas margens. Esta<br />

reabilitação, um misto <strong>de</strong> engenharia fluvial e <strong>de</strong><br />

arquitectura paisagística, com forte componente ecológica,<br />

está <strong>no</strong> topo das priorida<strong>de</strong>s da política<br />

ambiental dos países mais <strong>de</strong>senvolvidos. Dando resposta<br />

à procura crescente <strong>de</strong> activida<strong>de</strong> <strong>de</strong> lazer por<br />

parte das populações, a empresa Águas <strong>de</strong> <strong>Gaia</strong> está a<br />

construir <strong>uma</strong> re<strong>de</strong> <strong>de</strong> caminhos pedonais junto às<br />

margens das ribeiras e que abrange todo o concelho. O<br />

objectivo é que seja possível passear a pé ou <strong>de</strong> bicicleta<br />

ao longo <strong>de</strong> percursos sem automóveis, interli-<br />

gando o interior e o litoral e que permitirá criar acessos<br />

agradáveis e seguros às praias».<br />

Poças Martins, vereador do<br />

Ambiente, e Luís Filipe<br />

Menezes <strong>no</strong> Centro <strong>de</strong><br />

Documentação<br />

Rio Febros:<br />

ETAR em construção<br />

Na sala dos aquários do Centro<br />

as crianças olham <strong>de</strong> perto<br />

peixes comuns das ribeiras da<br />

região<br />

As estações <strong>de</strong> tratamento <strong>de</strong> águas residuais (ETAR) em<br />

bom funcionamento são equipamentos fundamentais para<br />

que a activida<strong>de</strong> h<strong>uma</strong>na massiva não <strong>de</strong>gra<strong>de</strong> a natureza.<br />

A Câmara Municipal <strong>de</strong> <strong>Gaia</strong> constrói estações <strong>de</strong>stas na<br />

Madalena, Areinho, Crest<strong>uma</strong>/Lever e rio Febros. A primeira<br />

vai servir todo o litoral do município gaiense, abrangendo<br />

300 mil habitantes.<br />

A ETAR do rio Febros servirá cerca <strong>de</strong> 60 mil pessoas. O site<br />

da Câmara <strong>de</strong>clara também que «após a entrada em funcionamento<br />

<strong>de</strong>sta infra-estrutura, o concelho <strong>de</strong> Vila Nova <strong>de</strong><br />

<strong>Gaia</strong> passará a contar com <strong>uma</strong> eficiente re<strong>de</strong> <strong>de</strong> saneamento,<br />

na qual se inclui o tratamento final <strong>de</strong> efluentes».<br />

Nessa altura, <strong>no</strong> <strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong> <strong>de</strong> <strong>Gaia</strong> assistir-se-á também<br />

a <strong>uma</strong> gran<strong>de</strong> valorização da fauna fluvial. Habitantes<br />

antigos, falam da pesca da truta à linha e, até, da toupeira-<br />

-<strong>de</strong>-água, um en<strong>de</strong>mismo ibérico que há todo o interesse<br />

em conservar.<br />

Verão 2002 <strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong> 27


Áreas protegidas marinhas<br />

Dos 13 <strong>Parque</strong>s Naturais e mais <strong>uma</strong> mão-cheia <strong>de</strong> outras zonas com estatuto <strong>de</strong><br />

protecção, existentes em Portugal continental, apenas quatro englobam território<br />

marinho ou parcelas da zona entre-marés<br />

Eis alguns: <strong>Parque</strong> Natural da Arrábida, <strong>Parque</strong> Natural<br />

do Sudoeste Alenteja<strong>no</strong> e Costa Vicentina, <strong>Parque</strong><br />

Natural da Ria Formosa e a Reserva Natural das<br />

Berlengas. Se atentarmos na localização <strong>de</strong>stas áreas<br />

facilmente percebemos que todas se situam <strong>no</strong> Sul do<br />

país, encontrando-se cerca <strong>de</strong> 400 km da costa oci<strong>de</strong>ntal<br />

sem nenh<strong>uma</strong> área protegida ou reservada.<br />

A estratégia <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento sustentável da<br />

Comissão Europeia apresenta a gestão integrada do<br />

litoral como um instrumento essencial para atingir<br />

objectivos imediatos como sejam <strong>uma</strong> melhor exploração<br />

dos recursos vivos marinhos. Também a Agenda<br />

XXI, <strong>de</strong>rivada da Conferência do Rio <strong>de</strong> 1992, apresenta<br />

a necessida<strong>de</strong> da preservação dos ecossistemas costeiros<br />

e a criação <strong>de</strong> áreas protegidas marinhas. Por<br />

outro lado, a nível nacional, o Pla<strong>no</strong> Nacional <strong>de</strong><br />

Política <strong>de</strong> Ambiente, <strong>de</strong> 1995, apontava a necessida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> se avançar com medidas <strong>de</strong> protecção da biodiversida<strong>de</strong><br />

marinha apoiada, entre outras coisas, na<br />

Zona do intertidal inferior na praia da Aguda (Barroeira coberta com algas)<br />

28 <strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong> Verão 2002<br />

l i t o r a l<br />

conservação dos habitates costeiros.<br />

Mais recentemente, os Pla<strong>no</strong>s <strong>de</strong> Or<strong>de</strong>namento da Orla<br />

Costeira (POOC) recuam em termos <strong>de</strong> objectivos e <strong>de</strong><br />

alcance estratégico, não avançam significativamente<br />

em termos <strong>de</strong> medidas <strong>de</strong> gestão para a parte submersa<br />

e, erradamente, não propõem claramente a implantação<br />

<strong>de</strong> áreas protegidas marinhas. O POOC Caminha-<br />

-Espinho, <strong>no</strong> entanto, <strong>no</strong> que respeita à conservação<br />

da natureza, prevê, na sua Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Paisagem 4<br />

(U4), a protecção das bancadas rochosas em Angeiras<br />

e na zona Aguda-Granja. Como é que isso vai ser feito,<br />

é que ninguém ainda <strong>de</strong>finiu.<br />

Ocupando as praias cerca <strong>de</strong> 60% da linha <strong>de</strong> costa, e<br />

estando sujeitas a <strong>uma</strong> sobreocupação h<strong>uma</strong>na, parte<br />

importante dos restantes 40% - que <strong>no</strong> Norte correspon<strong>de</strong>m<br />

sobretudo a curtos troços <strong>de</strong> costa rochosa<br />

intercalada entre as sucessivas praias e às <strong>de</strong>sembocaduras<br />

dos rios - <strong>de</strong>verá ser preservada como espaço <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>scompressão h<strong>uma</strong>na e como refúgio <strong>de</strong> vida selva-


l i t o r a l<br />

gem, sobretudo <strong>no</strong>s troços que abriguem en<strong>de</strong>mismos<br />

vegetais, ou espécies animais e bioce<strong>no</strong>ses com pequena<br />

expressão <strong>no</strong> país ou em riscos <strong>de</strong> extinção.<br />

A preservação do interesse recreativo, e portanto da<br />

atractivida<strong>de</strong> das praias tem <strong>de</strong> assentar <strong>no</strong> conhecimento<br />

das razões que explicam essa aptidão, e que<br />

tem muito a ver com a fuga ao stress das gran<strong>de</strong>s<br />

cida<strong>de</strong>s. No entanto, em Portugal, assiste-se ao envolvimento<br />

das praias por ambientes tipicamente urba<strong>no</strong>s,<br />

quase tão viciados como aqueles <strong>de</strong> que os seus<br />

utentes querem fugir, acontecendo isso não para correspon<strong>de</strong>r<br />

ao bem-estar e aos <strong>de</strong>sejos da socieda<strong>de</strong> em<br />

geral, mas por pressão dos especuladores urbanísticos<br />

sobre o egoísmo d<strong>uma</strong> mi<strong>no</strong>ria <strong>de</strong> utentes que julgam<br />

po<strong>de</strong>r assenhorear-se individualmente <strong>de</strong> <strong>uma</strong> parcela<br />

da atractivida<strong>de</strong> daquelas praias comprando nas imediações<br />

um lote <strong>de</strong> terre<strong>no</strong>.<br />

Encarar o litoral como um recurso finito torna-se cada<br />

vez mais <strong>uma</strong> evidência e <strong>uma</strong> necessida<strong>de</strong>. Para que<br />

possamos continuar a usufruir <strong>de</strong> <strong>uma</strong> paisagem costeira<br />

equilibrada e saudável, na qual as zonas naturais<br />

tenham cabimento, é urgente a consciencialização <strong>de</strong><br />

que o litoral <strong>de</strong> amanhã <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da forma como o planearmos<br />

e usarmos hoje. A natureza não é um reservatório<br />

inesgotável, que tudo suporta, mas caminha<br />

sim para um ponto <strong>de</strong> ruptura <strong>de</strong>vido ao uso e abuso<br />

que <strong>de</strong>la fazemos.<br />

Nunca é <strong>de</strong>mais falar da <strong>de</strong>lapidação <strong>de</strong> recursos <strong>de</strong><br />

que o litoral é alvo. Des<strong>de</strong> as dunas até ao sublitoral, as<br />

<strong>de</strong>struições suce<strong>de</strong>m-se e tudo parece ser um bom pretexto<br />

para se <strong>de</strong>struir mais <strong>uma</strong> duna primária, para se<br />

usar mais um método <strong>de</strong> pesca <strong>no</strong>civo ou para se pilhar<br />

e <strong>de</strong>scaracterizar a zona intertidal (zona entre-marés).<br />

Quem frequenta a beira-mar facilmente testemunha a<br />

<strong>de</strong>struição levada a cabo <strong>no</strong> intertidal, o que manifesta<br />

<strong>uma</strong> gran<strong>de</strong> ig<strong>no</strong>rância por parte da esmagadora maioria<br />

das pessoas que têm acesso ao litoral.<br />

Muitas <strong>de</strong>stas pessoas, das mais variadas classes etárias,<br />

<strong>de</strong>stroem os recifes da barroeira (Sabellaria alveolata)<br />

anelí<strong>de</strong>o poliqueta, completamente alheias à sua<br />

importância ecológica (ver n.º anterior da revista<br />

« <strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong>»), apanham peixes <strong>de</strong> tamanho<br />

diminuto, sem o me<strong>no</strong>r interesse gastronómico, bem<br />

como peque<strong>no</strong>s crustáceos e moluscos que a maior<br />

parte das vezes acabam mortos <strong>no</strong> areal, <strong>de</strong>stroem ao<br />

pontapé, nas rochas, inúmeros seres vivos <strong>de</strong> vida fixa<br />

ou semifixa por curiosida<strong>de</strong> mal orientada ou pelo<br />

mórbido prazer <strong>de</strong> <strong>de</strong>struir…<br />

É urgente inverter esta situação, através da regulamentação<br />

da apanha <strong>de</strong> animais e plantas na zona<br />

intertidal (activida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que se ocupam e usufruem<br />

eco<strong>no</strong>micamente milhares <strong>de</strong> pessoas ao longo do lito-<br />

ral português sem pagarem impostos), e principalmente<br />

através da educação ambiental.<br />

É necessário que se proporcione às pessoas um mínimo<br />

<strong>de</strong> conhecimentos sobre a ecologia da zona entre-<br />

-marés, para que não se continue a assistir a um pisoteio<br />

indiscriminado <strong>de</strong> espécies sensíveis e a <strong>uma</strong><br />

pilhagem <strong>de</strong> formas juvenis <strong>de</strong> espécies que têm interesse<br />

gastronómico e portanto económico, quando<br />

atingem o estado adulto.<br />

Torna-se bastante difícil hoje em dia observar na zona<br />

intertidal indivíduos com o tamanho máximo, e muitas<br />

vezes mesmo com o tamanho médio para a sua espécie,<br />

<strong>de</strong> acordo com o que vem referido <strong>no</strong>s manuais.<br />

Qualquer pessoa que trabalhe com organismos intertidais<br />

sentiu já esse problema que, por vezes, dificulta a<br />

própria i<strong>de</strong>ntificação das espécies. Este facto é <strong>de</strong>vido<br />

precisamente à apanha <strong>de</strong> espécimes, cada vez com<br />

me<strong>no</strong>r tamanho, e que por isso nunca atingem a ida<strong>de</strong><br />

adulta.<br />

É pois <strong>de</strong> extrema importância conservar <strong>de</strong>terminados<br />

troços da zona intertidal, criando zonas reservadas,<br />

on<strong>de</strong> as comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> seres vivos possam atingir o<br />

estado clímax e que funcionem ao mesmo tempo como<br />

verda<strong>de</strong>iros museus vivos on<strong>de</strong> seja possível estudar as<br />

espécies, on<strong>de</strong> se possam realizar acções <strong>de</strong> educação<br />

ambiental e <strong>de</strong> esclarecimento dos cidadãos sobre a<br />

importância e sensibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>stas áreas e que sirvam<br />

também como zonas <strong>de</strong> dispersão e <strong>de</strong> repovoamento<br />

para o restante litoral.<br />

A praia da Aguda é <strong>uma</strong> pequena al<strong>de</strong>ia piscatória<br />

localizada 19 km ao sul do estuário do Rio Douro <strong>no</strong><br />

concelho <strong>de</strong> Vila Nova <strong>de</strong> <strong>Gaia</strong>. Aí, <strong>de</strong>vido à elevada<br />

diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> organismos marinhos e habitates, a<br />

costa rochosa adjacente apresenta <strong>uma</strong> vocação espe-<br />

Casulos da Barroeira<br />

Verão 2002 <strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong> 29


cial para a educação ambiental e para a conservação,<br />

bem como muitas oportunida<strong>de</strong>s para a investigação<br />

científica.<br />

Nos últimos a<strong>no</strong>s foram efectuados vários levantamentos<br />

das espécies da fauna e flora, bem como estudos<br />

<strong>de</strong> zonação e sucessão <strong>no</strong> litoral, envolvendo a<br />

zona entre-marés e as dunas (ver bibliografia).<br />

A base <strong>de</strong>stes estudos foi, na maioria dos casos, o<br />

Departamento <strong>de</strong> <strong>Educação</strong> e Investigação da Estação<br />

Litoral da Aguda (ELA), <strong>uma</strong> instituição criada pela<br />

Câmara Municipal <strong>de</strong> Vila Nova <strong>de</strong> <strong>Gaia</strong>, cujo Museu<br />

das Pescas e Aquário estão abertos ao público <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o<br />

Verão <strong>de</strong> 1999.<br />

A praia da Aguda é <strong>uma</strong> das poucas praias rochosas da<br />

costa portuguesa on<strong>de</strong> <strong>uma</strong> gran<strong>de</strong> área do seu substrato<br />

rochoso, sobretudo na parte sul, ainda está colonizada<br />

por um anelí<strong>de</strong>o poliqueta (Sabellaria alveolata),<br />

<strong>de</strong>signado localmente por Barroeira.<br />

Este organismo tem a particularida<strong>de</strong> <strong>de</strong> construir<br />

casulos tubiformes com partículas <strong>de</strong> areia e peque<strong>no</strong>s<br />

pedaços <strong>de</strong> conchas, para neles se alojar. Uma vez que<br />

estes organismos se agregam em colónias, os casulos<br />

ficam totalmente unidos entre si, fazendo lembrar o<br />

aspecto característico dos favos <strong>de</strong> mel, e assim contribuem<br />

para a formação <strong>de</strong> <strong>no</strong>vos substratos, que<br />

po<strong>de</strong>m atingir as dimensões <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>iros «recifes».<br />

Os «recifes» <strong>de</strong> Sabellaria alveolata apresentam <strong>uma</strong><br />

diversida<strong>de</strong> e abundância <strong>de</strong> organismos significativamente<br />

maior do que as zonas <strong>de</strong>sprovidas <strong>de</strong>stas<br />

estruturas. São assim muito atractivos para várias<br />

espécies <strong>de</strong> espongiários, cnidários, anelí<strong>de</strong>os, crustáceos,<br />

moluscos, equi<strong>no</strong><strong>de</strong>rmes e peixes que ali encontram<br />

refúgio, abrigo, alimento e óptimas condições<br />

para a sua activida<strong>de</strong> reprodutora.<br />

Bloco ou «recife» <strong>de</strong> Barroeira <strong>de</strong>struído pelo pisoteio<br />

30 <strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong> Verão 2002<br />

l i t o r a l<br />

Dada a gran<strong>de</strong> importância ecológica <strong>de</strong>stes «recifes» e<br />

tendo em conta que nada se conhecia acerca <strong>de</strong>stes<br />

"tesouros" da costa portuguesa, <strong>de</strong>u-se início a um<br />

trabalho que teve como principais objectivos a caracterização<br />

do ritmo <strong>de</strong> crescimento dos «recifes» na<br />

praia da Aguda e a caracterização do tipo <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong>s<br />

que neles vivem. Foram encontradas mais <strong>de</strong><br />

140 espécies marinhas diferentes, que são associadas<br />

aos «recifes» da Barroeira (ver n.º anterior da revista<br />

«<strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong>»).<br />

Foram propostas medidas <strong>de</strong> conservação para estas<br />

estruturas, dada a facilida<strong>de</strong> com que po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong>struídas.<br />

Principalmente nas épocas balneares, estes<br />

«recifes» são sujeitos a gran<strong>de</strong> pisoteio pelo Homem e,<br />

não raras vezes, sofrem a acção <strong>de</strong>strutiva <strong>de</strong> picaretas<br />

que são usadas pelos pescadores pouco escrupulosos<br />

na procura <strong>de</strong> isco (outros poliquetas que não a<br />

Barroeira), para a pesca.<br />

Como primeiro passo foi elaborado um folheto <strong>de</strong><br />

informação com o título «Proteja a Barroeira» que é<br />

gratuitamente distribuído aos visitantes da Estação<br />

Litoral da Aguda (ELA).<br />

Os trabalhos efectuados po<strong>de</strong>rão futuramente possibilitar<br />

a <strong>de</strong>marcação <strong>de</strong> <strong>uma</strong> zona reservada <strong>no</strong> litoral<br />

entre a praia da Aguda e a praia da Granja. Um «<strong>Parque</strong><br />

Litoral» on<strong>de</strong> se minimizarão, <strong>de</strong>ntro do possível, a<br />

maioria das potenciais ameaças a este ecossistema, e<br />

on<strong>de</strong> se po<strong>de</strong>rão <strong>de</strong>senvolver importantes acções <strong>de</strong><br />

sensibilização das pessoas, <strong>no</strong> âmbito do Programa <strong>de</strong><br />

<strong>Educação</strong> Ambiental <strong>no</strong> Litoral da ELA.<br />

Bibliografia<br />

DIAS SANTOS, J.P., (1996) - "Estudos <strong>de</strong> Ecologia Marinha<br />

Aplicada <strong>no</strong> Litoral da Praia da Aguda". I.C.B.A.S., Instituto <strong>de</strong><br />

Ciências Biomédicas Abel Salazar, Universida<strong>de</strong> do Porto, 137<br />

pp.<br />

DIAS SANTOS, J.P., (2001) - "Concepção, Construção,<br />

Implantação e Monitorização <strong>de</strong> um Sistema Piloto <strong>de</strong><br />

Recifes Artificiais". Tese <strong>de</strong> Mestrado, Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Engenharia da Universida<strong>de</strong> do Porto: 154 pp.<br />

PEREIRA, A. S., (1998) - "Morfologia, crescimento e fauna e<br />

flora associadas dos "recifes" <strong>de</strong> Sabellaria alveolata (L.) da<br />

praia da Aguda". Dissertação <strong>de</strong> mestrado. Instituto <strong>de</strong><br />

Ciências Biomédicas Abel Salazar, Universida<strong>de</strong> do Porto.<br />

WEBER, M., (1998) - "Aguda entre as Marés - Fauna e Flora<br />

<strong>no</strong> Litoral da Praia da Aguda". Edições Afrontamento, Porto:<br />

237 pp.<br />

WEBER, M., CAMPOS, J., COELHO, A.M., DIAS SANTOS, J.P.,<br />

BENEVIDES, S.C.R., & SANTOS, A., (1999) - "Guia <strong>de</strong> Campo<br />

do Litoral da Praia da Aguda". Estação Litoral da Aguda,<br />

Câmara Municipal <strong>de</strong> <strong>Gaia</strong>. 104 pp.<br />

WEBER, M. , PRATA, J., CUNHA, I., SANTOS, A. & A. FERREIRA<br />

2001 - Guia da Estação Litoral da Aguda. Fundação ELA, Vila<br />

Nova <strong>de</strong> <strong>Gaia</strong>: 102 pp.<br />

WEBER, M. , JESUS, P. & A. SANTOS 2001 - Cem a<strong>no</strong>s na<br />

praia da Aguda. Edições Afrontamento, Porto: 168 pp.


09H00 – Partida do <strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong>, em<br />

autocarro,<br />

Vale da Campeã (Marão) / Fisgas do Ermelo /<br />

Lamas <strong>de</strong> Olo / Vila Real<br />

p e r c u r s o<br />

Conheça o Património<br />

Natural com o <strong>Parque</strong><br />

13 <strong>de</strong> Julho (sábado): visita <strong>de</strong> estudo<br />

ao PARQUE NATURAL DO ALVÃO<br />

19H00 – Chegada prevista ao Pa r q u e<br />

<strong>Biológico</strong><br />

A visita será guiada pelos técnicos do <strong>Parque</strong>:<br />

Eng.ª Telma Cruz (Geologia), Dr. Henrique<br />

Alves (Botânica) e Dr. Nu<strong>no</strong> Gomes Oliveira<br />

(Zoologia).<br />

As inscrições serão feitas por or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> reserva,<br />

até ao limite <strong>de</strong> 45 pessoas, e o seu custo<br />

(a liquidar <strong>no</strong> início da visita) é <strong>de</strong> e 15.<br />

Os participantes <strong>de</strong>verão levar almoço volante,<br />

e a visita realiza-se in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente<br />

das condições atmosféricas. Calçado a<strong>de</strong>quado<br />

e binóculo ou telescópio são vivamente<br />

aconselhados.<br />

Verão 2002 <strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong> 31


32 <strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong> Verão 2002<br />

c o n s e r v a ç ã o<br />

Takhi: <strong>uma</strong> espécie em extinção…<br />

Takhi, na Mongólia, significa ser espiritual ou divi<strong>no</strong>, mas esta palavra é utilizada<br />

também para <strong>de</strong>finir os belos e graciosos cavalos que viviam <strong>no</strong> alto das montanhas<br />

Altai na estepe mongol, em total vida selvagem <strong>de</strong>s<strong>de</strong> há alguns milhares <strong>de</strong><br />

a<strong>no</strong>s…<br />

Os takhi são cavalos <strong>de</strong> aspecto robusto talvez <strong>de</strong>vido<br />

aos climas rigorosos que estão habituados a suportar.<br />

São equi<strong>no</strong>s que po<strong>de</strong>m chegar a cerca <strong>de</strong> 300 kg <strong>de</strong><br />

peso, atingindo apenas 1,4 m <strong>de</strong> altura ao garrote, daí<br />

a sua aparência baixa e robusta. Com <strong>uma</strong> tonalida<strong>de</strong><br />

muito particular, vai <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a castanha-escura (risca<br />

que traça o seu corpo <strong>no</strong> sentido longitudinal, terminando<br />

na rabada) passando pela castanha mais clara<br />

<strong>no</strong> dorso e garupa, e ainda, quase branco na barriga,<br />

retornando à castanha-escura nas patas. A pelagem,<br />

curta <strong>no</strong> Verão, torna-se comprida e <strong>de</strong>nsa <strong>no</strong> Inver<strong>no</strong>,<br />

<strong>de</strong>vido ao frio que reina nas estepes da Mongólia.<br />

Nesta época, a manada — constituída <strong>no</strong>rmalmente<br />

por 10 a 20 fêmeas acompanhadas <strong>de</strong> um macho com<br />

mais <strong>de</strong> 6 a<strong>no</strong>s que cobre e guarda a manada e suas<br />

crias (que são <strong>de</strong>smamadas entre 6 e 8 meses <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>,<br />

mas permanecem com a manada até cerca dos 2 a<strong>no</strong>s)<br />

— <strong>de</strong>sce do alto das montanhas para os prados situados<br />

mais abaixo, que lhes dão abrigo <strong>no</strong> Inver<strong>no</strong>, pois<br />

para além <strong>de</strong> terem <strong>uma</strong>s temperaturas mais altas, fornecem-lhes<br />

pasto durante essa estação.<br />

Os exemplares recebidos em Portugal vieram <strong>de</strong> Inglaterra em 13 <strong>de</strong> Dezembro passado<br />

O tempo <strong>de</strong> gestação dos takhi é <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 340 dias.<br />

Normalmente só nasce <strong>uma</strong> cria, por volta <strong>de</strong> Abril e<br />

Maio. Ao fim <strong>de</strong> 24 horas já se encontra em condições<br />

<strong>de</strong> seguir a mãe e o resto da manada nas suas rotas<br />

diárias em busca <strong>de</strong> forragens e água.<br />

Os takhi ou cavalos-<strong>de</strong>-przewalski (assim chamados<br />

pois o último exemplar em liberda<strong>de</strong> foi visto por um<br />

russo, Nikolai Przewalski) passam a maior parte do dia<br />

a pastar, pois as forragens <strong>no</strong>s <strong>de</strong>sertos das estepes da<br />

Mongólia não são muito ricas nem muito vastas, e <strong>de</strong><br />

<strong><strong>no</strong>ite</strong> aproveitam para procurar água...<br />

Estão sempre alerta para evitarem os predadores: o<br />

lobo e o homem. Este último começou por lhes invadir<br />

o território, ficando os takhi sujeitos a espaços <strong>de</strong> terra<br />

sem água (porque o ser h<strong>uma</strong><strong>no</strong> ocupava espaços <strong>de</strong><br />

terra com água). As terras altas da Mongólia atingem<br />

temperaturas muito baixas <strong>no</strong> Inver<strong>no</strong> e a caça excessiva<br />

é um factor para a extinção <strong>de</strong> qualquer espécie.<br />

A carne dos takhi já foi muito apreciada pelos povos da<br />

Mongólia. Assim, o número <strong>de</strong> exemplares baixou,


Os takhi têm<br />

66 cromossomas<br />

n<strong>uma</strong> molécula<br />

<strong>de</strong> ADN, e os<br />

cavalos<br />

domésticos<br />

têm 64<br />

chegando a extinção em vida selvagem. Os cerca <strong>de</strong><br />

1500 przewalski restantes estão espalhados por zoológicos<br />

e reservas naturais do mundo inteiro, ao abrigo<br />

<strong>de</strong> protocolos e leis <strong>de</strong> conservação <strong>de</strong> espécies, para<br />

que haja <strong>uma</strong> reprodução com sucesso e controlada a<br />

fim <strong>de</strong> futuramente serem reintroduzidos nas estepes<br />

da Mongólia, o que aparenta ser possível já que, hoje,<br />

a casa ancestral dos takhi, o <strong>de</strong>serto <strong>de</strong> Gobi, é <strong>uma</strong><br />

reserva natural.<br />

Cá, nas planícies lusitanas, mais precisamente <strong>no</strong>s<br />

riquíssimos prados da cou<strong>de</strong>laria <strong>de</strong> Alter, em cerca <strong>de</strong><br />

2 ou 3 hectares <strong>de</strong> montado, vivem os quatro exemplares<br />

que lhes foram <strong>de</strong>stinados, ao abrigo <strong>de</strong> um acordo<br />

feito entre o Jardim Zoológico <strong>de</strong> Lisboa, a Faculda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Ciências <strong>de</strong> Lisboa e o Serviço Nacional Coudélico.<br />

Os exemplares recebidos em Portugal <strong>no</strong> passado dia 13<br />

<strong>de</strong> Dezembro vieram <strong>de</strong> Inglaterra (Marwell) e pertencem<br />

a um programa europeu <strong>de</strong> conservação <strong>de</strong> espécies<br />

em cativeiro, sendo coor<strong>de</strong>nadora do programa em<br />

Portugal Maria do Mar Oom, da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ciências<br />

<strong>de</strong> Lisboa. Cabe-lhe <strong>de</strong>finir os exemplares que se po<strong>de</strong>rão<br />

reproduzir uns com os outros, enviar os possíveis<br />

exce<strong>de</strong>ntes para a reintrodução que recentemente<br />

(cerca dos a<strong>no</strong>s 90) começou a ser feita na Reserva<br />

Natural <strong>de</strong> Hustain Nuruu, na Mongólia.<br />

Na cou<strong>de</strong>laria <strong>de</strong> Alter, vivem quatro exemplares, ao<br />

abrigo <strong>de</strong> um acordo feito entre o Jardim Zoológico<br />

<strong>de</strong> Lisboa, a Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ciências <strong>de</strong> Lisboa e o<br />

Serviço Nacional Coudélico<br />

O cavalo-<strong>de</strong>-przewalski<br />

pertence a um programa<br />

europeu <strong>de</strong> conservação<br />

<strong>de</strong> espécies em cativeiro<br />

Os exemplares chegados a Portugal vinham <strong>de</strong> óptima<br />

saú<strong>de</strong> e <strong>de</strong>pressa se integraram nas características do<br />

clima rigoroso <strong>de</strong> Alter do Chão. Mo e Virgínia, <strong>de</strong> 11<br />

a<strong>no</strong>s, e Suzannah, <strong>de</strong> 8 a<strong>no</strong>s, foram as primeiras a sair<br />

do camião que os transportava, alinharam-se em três<br />

e saíram em trote ligeiro a fazerem reconhecimento ao<br />

território; Cyra<strong>no</strong> só mais tar<strong>de</strong>, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> muito lutar<br />

<strong>de</strong>ntro da box, em que o transportaram, é que sai meio<br />

trôpego do camião. Mal sentiu o cheiro das suas três<br />

esposas saiu em trote rápido atrás <strong>de</strong>las... os Takhi são<br />

animais instintivamente agressivos e dominantes. A<br />

cerca-limite dos três hectares que lhes são <strong>de</strong>stinados<br />

está reforçada com <strong>uma</strong> faixa electrificada com<br />

pequena voltagem, a fim <strong>de</strong> se evitarem alguns aci<strong>de</strong>ntes<br />

<strong>de</strong> percurso como fuga e cruzamento com os<br />

restantes cavalos da cou<strong>de</strong>laria.<br />

Há quem <strong>de</strong>fenda a tese <strong>de</strong> que os przewalski seriam o<br />

antece<strong>de</strong>nte do cavalo doméstico, visto terem sido<br />

<strong>de</strong>scobertos fósseis <strong>no</strong> Norte dos Estados Unidos que<br />

<strong>de</strong>monstram que foram extintos na última época glaciar,<br />

mas recentemente cientistas chineses <strong>de</strong>scobriram<br />

que os takhi têm 66 cromossomas n<strong>uma</strong> molécula<br />

<strong>de</strong> ADN, e os cavalos domésticos têm 64.<br />

Aguarda-se, assim, ansiosamente pelos resultados positivos<br />

<strong>de</strong>sta luta pela preservação da última espécie <strong>de</strong><br />

equi<strong>no</strong>s que viveu até há pouco em vida selvagem,<br />

indomáveis e sem alterações nas características <strong>de</strong><br />

r a ç a .<br />

NOTA: Baixo, robusto, orelhas pequenas, com maxilares e<br />

cabeça larga, pescoço e pernas curtas, cor-<strong>de</strong>-areia, com<br />

<strong>uma</strong> linha ao comprimento do dorso que começa na crina<br />

curta e dura e termina na rabada, castanha-escura, barriga<br />

quase branca e pernas castanhas-escuras também — estas<br />

são as características dos takhi que permaneceram imutáveis<br />

durante milhares <strong>de</strong> a<strong>no</strong>s.<br />

Verão 2002 <strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong> 33


34 <strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong> Verão 2002<br />

g e o l o g i a<br />

Da cesta e do garrafão...<br />

à câmara fotográfica e ao bloco <strong>de</strong> <strong>no</strong>tas<br />

Já lá vai o tempo em que os <strong>no</strong>ssos <strong>parque</strong>s e matas florestais, especialmente aos<br />

fins-<strong>de</strong>-semana, quando o tempo começava a aquecer, eram ocupados pela "cesta<br />

e pelo garrafão" em lautos piqueniques que, <strong>no</strong> geral, terminavam com <strong>uma</strong> roncadora<br />

sesta sobre <strong>uma</strong> manta estendida à sombra acolhedora da mata<br />

O contacto com a<br />

natureza vai sendo feito<br />

cada vez mais, com os<br />

olhos e a cabeça em<br />

<strong>de</strong>trimento do estômago<br />

Os <strong>parque</strong>s exercem, pela forma prática e pedagógica do que directamente<br />

transmitem a quem os visita, um forte e <strong>de</strong>cisivo contributo<br />

para o respeito e a <strong>de</strong>fesa do Ambiente<br />

No fim, o "campo <strong>de</strong> batalha" ficava inundado <strong>de</strong> <strong>de</strong>spojos<br />

espalhados à superfície. Hoje, os <strong>parque</strong>s <strong>de</strong><br />

merendas continuam a existir, aumentados até e<br />

melhorados com estruturas <strong>de</strong> apoio para os seus utilizadores,<br />

mas talvez as cestas e os garrafões <strong>de</strong> outrora<br />

tenham diminuído, bem como, seguramente, os <strong>de</strong>spojos<br />

<strong>de</strong> lautas batalhas. Sinais dos tempos?<br />

Nos dias que correm, o contacto com a natureza vai<br />

sendo feito, cada vez mais, com os olhos e a cabeça em<br />

<strong>de</strong>trimento do estômago. O bloco <strong>de</strong> <strong>no</strong>tas e a câmara<br />

fotográfica substituem-se à cesta e ao garrafão. Bebe-<br />

-se e saboreia-se, ao ar livre e puro, a fruição da bele-


za da paisagem, buscando já o seu entendimento através<br />

da informação científica do meio físico que dá<br />

suporte às formas, ganhando, assim, esse <strong>no</strong>vo tipo <strong>de</strong><br />

conhecimentos; procura-se enten<strong>de</strong>r a distribuição do<br />

coberto florestal, das culturas agrícolas e dos solos a<br />

elas associados, e, também, porventura, através do<br />

reconhecimento do habitat, completar a "simbiose"<br />

entre o meio físico, com o vegetal e o animal. É na<br />

base <strong>de</strong>sta trilogia que concebemos a estruturação dos<br />

<strong>parque</strong>s naturais ou nacionais portugueses que já<br />

temos, e que aos poucos vamos procurando enriquecer<br />

e preservar.<br />

Portugal possui <strong>uma</strong> razoável re<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>parque</strong>s naturais.<br />

In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente da tutela a que estão subordinados,<br />

seja ao ICN seja às autarquias, importa mais, neste<br />

caso, quais os seus objectivos e finalida<strong>de</strong>s, o que oferecem<br />

e quem procuram servir. Enten<strong>de</strong>mos, em primeiro<br />

lugar, que — não tendo a fruição e o culto da<br />

natureza o fim em si mesmos — os <strong>parque</strong>s exercem,<br />

pela forma prática e pedagógica do que directamente<br />

transmitem a quem os visita, um forte e <strong>de</strong>cisivo contributo<br />

para o respeito e a <strong>de</strong>fesa do Ambiente, em<br />

geral. Em segundo lugar, po<strong>de</strong>m contribuir, <strong>de</strong> forma<br />

complementar, com o ganho e mais-valia <strong>de</strong> conhecimentos<br />

<strong>no</strong>s campos da biologia, da geologia, da geomorfologia<br />

associada à paisagem, da pedologia, da climatologia,<br />

da et<strong>no</strong>grafia, etc., <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo essa aprendizagem<br />

da forma como se encontram estruturados<br />

nas suas diversas vertentes e potencialida<strong>de</strong>s aplicadas<br />

a esses factores-base da natureza.<br />

Deve, por isso, um <strong>parque</strong> natural procurar explorar <strong>de</strong><br />

forma exaustiva, pela multidisciplinarida<strong>de</strong> <strong>de</strong> factores<br />

e acções que a natureza lhe conce<strong>de</strong>, todas as suas<br />

potencialida<strong>de</strong>s, através <strong>de</strong> <strong>uma</strong> interdisciplinarida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> conhecimentos <strong>de</strong> base científica, <strong>de</strong> forma que<br />

possam ser <strong>de</strong>vidamente objectivados e se tornem<br />

facilmente inteligíveis e assimiláveis pelo comum<br />

cidadão visitante.<br />

Neste sentido, verifica-se serem já alguns dos <strong>no</strong>ssos<br />

<strong>parque</strong>s capazes <strong>de</strong> complementar a sua vertente biológica<br />

natural e a paisagística (geomorfológica) com a<br />

geológica que a enforma. Esta, para além do indispensável<br />

suporte físico (rochoso ou terroso) que empresta<br />

ao meio pedológico* e biológico, contribui também<br />

como importante condicionante climático. O meio físico,<br />

para além da <strong>de</strong>finição da paisagem, consi<strong>de</strong>ra-se<br />

ainda responsável pela escorrência das águas pluviais,<br />

superficiais e subterrâneas e como "barreira", ou não,<br />

climática.<br />

Alguns dos <strong>no</strong>ssos <strong>parque</strong>s naturais possuem já alg<strong>uma</strong><br />

<strong>de</strong>ssa mais-valia geológica complementar que,<br />

dia-a-dia, vai enriquecendo os seus patrimónios em<br />

informação científica. São eles o da Peneda-Gerês, o<br />

<strong>de</strong> Sintra-Cascais, o <strong>Parque</strong> Natural da Serra da<br />

Estrela, estando em curso o projecto do <strong>Parque</strong> <strong>de</strong><br />

Montesinho e do Douro Internacional.<br />

O <strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong> <strong>de</strong> <strong>Gaia</strong>, que em boa hora foi criado,<br />

possui todos os condimentos para po<strong>de</strong>r vir a ser<br />

mais um <strong>de</strong>sses <strong>parque</strong>s on<strong>de</strong> a diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> informação<br />

<strong>de</strong> base científica, acessível ao nível da pedagogia<br />

mais elementar, se po<strong>de</strong> e <strong>de</strong>ve diversificar e<br />

refinar.<br />

Por exemplo, <strong>no</strong> que respeita à Geologia e afins, a<br />

diversida<strong>de</strong> morfológica a que se associam diversos<br />

suportes geológicos — <strong>de</strong>pósitos <strong>de</strong> terraços, xistos e<br />

granitos — gerados em ida<strong>de</strong>s geológicas tão separadas<br />

e distantes <strong>no</strong> tempo, formam só por si um atractivo<br />

<strong>de</strong> múltiplo interesse didáctico que vale a pena<br />

explorar e ilustrar da forma pedagógica mais acessível<br />

e elementar.<br />

E se essa pedagogia passar pela "cesta e o garrafão" <strong>de</strong><br />

outrora, que o "sacrifício" valha pelo prazer <strong>de</strong> dormir<br />

<strong>uma</strong> sesta sobre um chão que se acaba por conhecer<br />

melhor e para o qual se passará a olhar <strong>de</strong> outra forma<br />

para o resto da <strong>no</strong>ssa existência.<br />

* Pedologia é a ciência que estuda os solos.<br />

Texto: Bernardo Barbosa e Narciso Ferreira, geólogos do<br />

IGM<br />

Verão 2002 <strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong> 35


36 <strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong> Verão 2002<br />

i n t e r n a c i o n a l<br />

A maior flor do mundo<br />

Uma das plantas mais espectaculares<br />

do mundo é o Jarro-gigante<br />

(Amorphophallus titanum), cuja<br />

flor po<strong>de</strong> atingir três metros <strong>de</strong><br />

altura, e é a maior conhecida <strong>no</strong><br />

mundo. A sua forma assemelha-se<br />

aos jarros (Arum italicum e A .<br />

maculatum) comuns em Portugal,<br />

quer cultivados em jardins quer <strong>no</strong><br />

estado selvagem.<br />

O Jarro-gigante é originário das<br />

florestas húmidas <strong>de</strong> S<strong>uma</strong>tra e o<br />

primeiro europeu a encontrar esta<br />

planta foi o botânico italia<strong>no</strong><br />

Odoardo Beccari, em 1878. Enviou<br />

sementes para Itália, <strong>uma</strong> das<br />

quais <strong>de</strong>u origem a <strong>uma</strong> planta,<br />

enviada mais tar<strong>de</strong> para o Jardim<br />

Botânico <strong>de</strong> Kew, em Londres, on<strong>de</strong><br />

floriu pela primeira vez em 1889.<br />

Voltou a florir em 1926, com um<br />

tal impacto <strong>no</strong> público que foi<br />

necessário <strong>de</strong>stacar polícia para<br />

controlar os visitantes.<br />

Um <strong>no</strong>vo exemplar <strong>de</strong> Jarro-gigante,<br />

produzido em 1995 por micropropagação,<br />

a partir <strong>de</strong> um outro<br />

exemplar existente <strong>no</strong> Jardim<br />

Botânico <strong>de</strong> Bona, começou a florir<br />

em Abril <strong>de</strong>ste a<strong>no</strong>, <strong>no</strong> Jardim<br />

Botânico <strong>de</strong> Londres (foto junta); a<br />

flor atingiu já os 75 kg <strong>de</strong> peso!<br />

XIII CONGRESSO NACIONAL<br />

DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL<br />

<strong>Educação</strong> Ambiental — o Ambiente e a Qualida<strong>de</strong><br />

A Câmara Municipal da Maia organiza este congresso em parceria com o <strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong> <strong>de</strong> <strong>Gaia</strong>, E. M.<br />

e com o Instituto do Ambiente. Decorre já <strong>no</strong>s próximos dias 24/27 <strong>de</strong> Outubro. Inscrição: 75 euros. Do<br />

programa constam workshops e percursos, com <strong>de</strong>staque para os do Gerês, Cor<strong>no</strong> do Bico, Alvão e Pias.<br />

Mais informações através do telefone: 227878120 (Verónica Magalhães).


Histórias da Árvore dos Sonhos<br />

O <strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong> <strong>de</strong> <strong>Gaia</strong> e a Ilha Mágica – Projecto<br />

para a Infância e Juventu<strong>de</strong> editaram<br />

o livro "Histórias da<br />

Árvore dos Sonhos".<br />

Da autoria <strong>de</strong> Alice Vieira,<br />

Anabela Mimoso, António Mota,<br />

Arsénio Mota, Inácio Nu<strong>no</strong><br />

Pignatelli, João Pedro Mésse<strong>de</strong>r,<br />

José Vaz, José Viale Moutinho,<br />

Luísa Dacosta, Luísa Ducla Soares,<br />

Manuel António Pina, Maria<br />

Alberta Menéres, Renata Gil, Violeta<br />

Caçadores <strong>de</strong> autógrafos<br />

Viale Moutinho e João Pedro Mésse<strong>de</strong>r, dois dos<br />

14 autores que participam na obra, em plena<br />

sessão <strong>de</strong> autógrafos<br />

e s p i g u e i r o<br />

Figueiredo e com ilustrações <strong>de</strong><br />

Fernando Saraiva, esta obra foi lançada<br />

<strong>no</strong> <strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong> <strong>de</strong> <strong>Gaia</strong>, ao fim da<br />

tar<strong>de</strong> do passado dia 2 <strong>de</strong> Abril, também<br />

Dia Internacional do Livro<br />

Infantil.<br />

Marta Martins, do Instituto <strong>de</strong><br />

Estudos da Criança da Universida<strong>de</strong><br />

do Minho, apresentou a obra.<br />

Acorreu ao auditório do Pa r q u e<br />

<strong>Biológico</strong> um vasto público, apesar<br />

da chuva <strong>de</strong>sencorajadora.<br />

Dedicatórias dos vários autores<br />

Verão 2002 <strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong> 37


38 <strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong> Verão 2002<br />

e s p i g u e i r o<br />

Campos <strong>de</strong> Verão<br />

Os Campos <strong>de</strong> Verão, um dos "filhos" mais <strong>no</strong>vos do <strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong>, vão lançar-se<br />

<strong>de</strong> corpo e alma para a segunda volta, mas para percebermos como as i<strong>de</strong>ias nascem<br />

e resultam temos <strong>de</strong> procurar a sua fundação<br />

Em Abril <strong>de</strong> 2001 a primeira luz surgiu e a partir daí as<br />

i<strong>de</strong>ias, as activida<strong>de</strong>s, as vonta<strong>de</strong>s, as curiosida<strong>de</strong>s, as<br />

visitas, as buscas e os anseios e <strong>de</strong>sejos brotaram em<br />

explosão.<br />

Chegados a 13 <strong>de</strong> Julho, véspera do primeiro campo, a<br />

ansieda<strong>de</strong> subiu em escala galopante, mas entre<br />

peque<strong>no</strong>s percalços, gargalhadas, e até brinca<strong>de</strong>iras<br />

tudo correu bem.<br />

Ao todo realizámos 3 Campos: o primeiro <strong>de</strong> 14 a 23<br />

<strong>de</strong> Julho, o segundo <strong>de</strong> 1 a 10 <strong>de</strong> Agosto e o terceiro<br />

<strong>de</strong> 14 a 23 <strong>de</strong> Agosto. Tivemos um total <strong>de</strong> 86 participantes,<br />

dos quais 28 respon<strong>de</strong>ram a um inquérito que<br />

foi a base para apresentarmos alg<strong>uma</strong>s curiosida<strong>de</strong>s.<br />

As activida<strong>de</strong>s mais relevantes foram: contacto com os<br />

animais, que assume um valor extraordinário, a visita<br />

Caça ao tesouro 5<br />

Construção <strong>de</strong> ninhos 2<br />

Contacto com os animais 12<br />

Visita <strong>no</strong>cturna 5<br />

Laboratório 3<br />

Jornal 2<br />

Broa 3<br />

Reciclagem 1<br />

Visitas 1<br />

Construção <strong>de</strong> papagaios 1<br />

Construção <strong>de</strong> briquetes 1<br />

Por: Rita Va l e n t e<br />

<strong>no</strong>cturna e a caça ao tesouro, e as activida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> laboratório<br />

e broa.<br />

Alguns dos <strong>no</strong>ssos meni<strong>no</strong>s também <strong>de</strong>ram sugestões<br />

para possíveis activida<strong>de</strong>s futuras:<br />

circuitos <strong>de</strong> BTT 1<br />

mais activida<strong>de</strong>s ligadas ao ar livre 1<br />

maior contacto com os animais 5<br />

passeios a cavalo 1<br />

maior contacto com os pais 1<br />

manter jogos tipo caça 1<br />

maior número <strong>de</strong> activida<strong>de</strong>s 1<br />

Uma vez que a reacção foi tão boa e a <strong>no</strong>ssa experiência<br />

pareceu agradar à maioria, não podíamos <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong><br />

realizar <strong>uma</strong> <strong>no</strong>va "aventura".<br />

Este a<strong>no</strong> os Campos <strong>de</strong> Verão terão 7 dias e ao todo<br />

serão quatro: 6 a 13 <strong>de</strong> Julho, 20 a 27 <strong>de</strong> Julho, 3 a 10<br />

<strong>de</strong> Agosto e 17 a 24 <strong>de</strong> Agosto. As activida<strong>de</strong>s serão:<br />

Noite à Descoberta, Dia <strong>de</strong> Praia e Jogos, Passeio <strong>no</strong><br />

Gerês, Música Natural <strong>no</strong> <strong>Parque</strong>, Pintura em Painel,<br />

Peque<strong>no</strong>s Petiscos e Bebidas, À Descoberta do Porto,<br />

Caça ao Tesouro, Volta da Alimentação, Jardim dos<br />

Cheiros, Noite <strong>de</strong> Festa, Decorpapel, Malabaristas, Ilha<br />

Mágica (1) e Broa com...<br />

As inscrições po<strong>de</strong>rão ser feitas até ao dia 14 <strong>de</strong> Junho<br />

e nós estaremos aqui disponíveis para qualquer dúvida.<br />

(1) Com o apoio do Projecto para a Infância e Juventu<strong>de</strong><br />

Os Campos <strong>de</strong> Verão<br />

terão sete dias e ao<br />

todo serão quatro:<br />

6 a 13 <strong>de</strong> Julho,<br />

20 a 27 <strong>de</strong> Julho,<br />

3 a 10 <strong>de</strong> Agosto e<br />

17 a 24 <strong>de</strong> Agosto


Ali estava o Gamo<br />

Pura lã virgem<br />

Do Jardim <strong>de</strong> Infância «Pimpão» chegou-<strong>no</strong>s a Chanel,<br />

<strong>uma</strong> ovelha jovem e charmosa. Foi oferecida ao infantário<br />

com aproximadamente dois meses <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> e, a<br />

partir daí, tor<strong>no</strong>u-se mascote da escola, brincando e<br />

jogando à bola com os meni<strong>no</strong>s.<br />

Era muito bem tratada. Todos lhe levavam comida e<br />

davam-lhe banho com Soflan.<br />

No entanto, preocupada com a vida sentimental da<br />

ovelhinha, a directora do Jardim dirigiu-se ao <strong>Parque</strong><br />

<strong>Biológico</strong> para se aconselhar.<br />

... e foi assim que se <strong>de</strong>cidiu: a Chanel veio «casar» ao<br />

<strong>Parque</strong>. Agora está como quer: tem um marido, outras<br />

amigas e os antigos companheiros <strong>de</strong> brinca<strong>de</strong>ira vêm<br />

Bezerros à vista<br />

Dia 9 <strong>de</strong> Maio a vaca frísia chamada Matil<strong>de</strong> <strong>de</strong>u à luz<br />

um bezerro. Mas, sem que tenha sido necessário fazer<br />

um clone, juntou-se-lhe um outro bezerro da mesma<br />

ida<strong>de</strong>, entretanto adquirido.<br />

Por: Vanessa Soeiro<br />

Bem, até po<strong>de</strong> ficar mal dizê-lo, mas certo é que<br />

<strong>de</strong>morei uns <strong>de</strong>z minutos a <strong>de</strong>scobrir a cria <strong>de</strong> gamo<br />

que nasceu <strong>no</strong> fim-<strong>de</strong>-semana do passado dia 10 <strong>de</strong><br />

Junho. No observatório, olhava para mais longe e, afinal,<br />

bastava ter olhado à direita: ali estava aquela bolita<br />

<strong>de</strong> pêlo, <strong>de</strong> olhos doces, aninhada <strong>no</strong> sopé da árvore.<br />

Depois da fotografia, até parece fácil <strong>de</strong>scobri-lo.<br />

visitá-la sempre que po<strong>de</strong>m.<br />

No final do mês <strong>de</strong> Abril fizemos as tosquias e eles não<br />

faltaram. Agora, aguardam ansiosos que nasçam os<br />

filhotes!... Texto: Ana Mafalda<br />

Manuel Costa, Eng.ª Ana Mafalda, Paulo Costa<br />

após o êxito do parto<br />

Nasceram gémeas<br />

Duas cabras-anãs nasceram em 16 <strong>de</strong> Maio passado. Poucas<br />

horitas <strong>de</strong>corridas, ei-las enxutas e prontas para o que fosse<br />

necessário.<br />

Verão 2002 <strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong> 39


40 <strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong> Verão 2002<br />

e s p i g u e i r o<br />

Dias mundiais<br />

No início <strong>de</strong> Junho, duas datas das mais importantes marcaram o seu lugar. Uma<br />

lançou o mote da meninada, outra o do ambiente<br />

O Rei vai nu<br />

Nu<strong>no</strong> Oliveira palestrou na Expo<strong>no</strong>r<br />

Dia Mundial da<br />

Criança<br />

Em 1 <strong>de</strong> Junho, sábado, o <strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong> foi invadido, <strong>no</strong><br />

melhor sentido, por centenas <strong>de</strong> meni<strong>no</strong>s e meninas. Ao<br />

todo foram 1445 visitantes!<br />

Nesse dia foi assinado, da parte da manhã, um protocolo<br />

<strong>de</strong> colaboração entre o <strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong> <strong>de</strong> <strong>Gaia</strong> e a<br />

Associação Ilha Mágica, que animou gran<strong>de</strong> parte das<br />

activida<strong>de</strong>s do dia, com <strong>de</strong>staque para o teatro «O rei vai<br />

nu», representado por crianças.<br />

O dia contou ainda ateliers <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> ninhos, pintura,<br />

origami, contadores <strong>de</strong> histórias junto à Árvore dos<br />

Sonhos <strong>no</strong> percurso <strong>de</strong> <strong>de</strong>scoberta do <strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong>,<br />

construção <strong>de</strong> vira-ventos e <strong>de</strong> papagaios-<strong>de</strong>-papel. A<br />

música <strong>de</strong> realejo animou a entrada do <strong>Parque</strong>.<br />

Dia Mundial do<br />

Ambiente<br />

O <strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong> <strong>de</strong> <strong>Gaia</strong>, nas suas instalações, fez <strong>no</strong><br />

passado dia 5 <strong>de</strong> Junho o que faz todos os dias, a favor do<br />

ambiente, com quem o visita, mas especialmente com as<br />

escolas. O seu quotidia<strong>no</strong> <strong>de</strong>corre <strong>no</strong> universo da educação<br />

ambiental.<br />

Na Expo<strong>no</strong>r, o <strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong> foi representado pelo seu<br />

d i r e c t o r - a d m i n i s t r a d , o Nu<strong>no</strong> r Oliveira, que fez ali <strong>uma</strong><br />

palestra sobre o que é e o que faz esta empresa municipal.<br />

Dia Mundial contra<br />

a Desertificação<br />

No passado dia 17 <strong>de</strong> Junho comemorou-se o Dia Mundial<br />

Contra a Desertificação. Um terço <strong>de</strong> Portugal apresenta<br />

sérios problemas <strong>de</strong> <strong>de</strong>sertificação, com duas componentes<br />

importantes: a utilização ina<strong>de</strong>quada do solo e o abando<strong>no</strong><br />

do interior por parte das populações.


Arboricultura Mo<strong>de</strong>rna<br />

No passado dia 6 <strong>de</strong> Abril a Socieda<strong>de</strong> Portuguesa <strong>de</strong><br />

Arboricultura apresentou o seu livro «Arboricultura<br />

Mo<strong>de</strong>rna» <strong>no</strong> <strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong> <strong>de</strong> <strong>Gaia</strong>, n<strong>uma</strong> cerimónia<br />

que <strong>de</strong>correu a partir das 17h30.<br />

Noites cheias<br />

<strong>de</strong> vaga-lumes<br />

As <strong><strong>no</strong>ite</strong>s já <strong>de</strong> si são mágicas. Mais ainda se o pio dos<br />

mochos e as luminescências dos pirilampos as surpreen<strong>de</strong>m.<br />

Houve ameaças <strong>de</strong> chuva, mas mesmo assim, para<br />

aproveitar isso e muito mais, <strong>no</strong>s passados dias 6, 7 e<br />

8 <strong>de</strong> Junho, cerca <strong>de</strong> 500 crianças e adultos reuniram-<br />

-se <strong>no</strong> <strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong> <strong>de</strong> <strong>Gaia</strong> para visitarem o<br />

<strong>Parque</strong> nessa atmosfera especial.<br />

No primeiro dia, <strong>uma</strong> quinta-feira em que houve<br />

me<strong>no</strong>s procura, os vaga-lumes resolveram aparecer em<br />

maior quantida<strong>de</strong>. No dia seguinte, apesar da <strong><strong>no</strong>ite</strong> ter<br />

estado mais fria, também não se intimidaram. Mas na<br />

<strong><strong>no</strong>ite</strong> <strong>de</strong> sábado, quando afluiu a maior quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

observadores, bem... fizeram greve, vendo-se poucos.<br />

Coisas da natureza, que não controlamos!<br />

Revista «<strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong>»<br />

na internet<br />

Fruto da colaboração <strong>de</strong> Arcanjo Araújo e <strong>de</strong> Alípio<br />

Cabral, a revista PARQUE BIOLÓGICO dá cartas na re<strong>de</strong><br />

mundial <strong>de</strong> computadores. Apesar <strong>de</strong> recente — está<br />

on line apenas há cerca <strong>de</strong> um trimestre — já conta<br />

com muitos visitantes.<br />

Na prática é mais <strong>uma</strong> extensão <strong>de</strong> educação ambiental<br />

e <strong>de</strong> conservação da natureza, algo <strong>de</strong> que muito<br />

carece este planeta em que vivemos.<br />

É só ligar: http://www.revista<strong>parque</strong>biologico.com<br />

Verão 2002 <strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong> 41


Jornadas<br />

a favor<br />

da árvore<br />

Entre 15 e 17 <strong>de</strong> Maio, <strong>de</strong>correram <strong>no</strong> <strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>Gaia</strong> as «Jornadas <strong>de</strong> Arboricultura 2002», organizadas<br />

pela empresa Planeta das Árvores.<br />

«Todos os dias as árvores são vítimas<br />

<strong>de</strong> agressões, vandalismo, aci<strong>de</strong>ntes,<br />

que <strong>de</strong>terminam a sua <strong>de</strong>struição parcial<br />

ou total, sem que alguém in<strong>de</strong>mnize<br />

quem quer que seja», afirmaram<br />

elementos da organização. «Este é um<br />

dos motivos, entre muitos outros, que<br />

junta especialistas europeus neste certame».<br />

O prof. Pierre Raimbault, prestigiado<br />

técnico francês, fez a abertura do programa,<br />

dia 15 <strong>de</strong> Maio, e abordou a<br />

problemática do diagnóstico morfofisiológico<br />

na avaliação das árvores.<br />

Um outro ponto forte do programa <strong>de</strong><br />

três dias foi o seminário técnico sobre<br />

<strong>de</strong>terminação do valor monetário das<br />

árvores ornamentais.<br />

Os temas «Quanto vale <strong>uma</strong> árvore<br />

ornamental para efeitos <strong>de</strong> in<strong>de</strong>mnização<br />

ou expropriação?», «Determinação<br />

do valor monetário <strong>de</strong> <strong>uma</strong> árvore<br />

segundo a Norma Granada», «A experiência<br />

das Câmaras Municipais <strong>de</strong><br />

Lisboa, Barcelona, Valencia e Terrasa»<br />

reuniram «quatro dos maiores especialistas<br />

ibéricos na matéria».<br />

Entre aulas práticas, seminário e<br />

outros itens, questões <strong>de</strong> arquitectura<br />

arbórea, estádios <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

das árvores, seus elementos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

e crescimento foram explicados<br />

e <strong>de</strong>batidos, convergindo em<br />

tor<strong>no</strong> da importância das árvores que,<br />

sendo ver<strong>de</strong>s, são um dos maiores<br />

patrimónios <strong>de</strong>ste planeta azul que é a<br />

Terra.<br />

42 <strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong> Verão 2002<br />

e s p i g u e i r o


Eco-escolas<br />

Nos passados dias 14, 15 e 16 <strong>de</strong> Junho <strong>de</strong>correu a Eco-escolas 2001/2002, organizada<br />

pela Energaia e pelo <strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong> <strong>de</strong> <strong>Gaia</strong><br />

Pelo 2.º a<strong>no</strong> consecutivo, num ambiente <strong>de</strong> confraternização,<br />

as 9 escolas candidatas ao galardão Eco-<br />

-escola apresentaram os seus trabalhos, trocaram<br />

experiências e passaram um dia aprazível <strong>no</strong> <strong>Parque</strong><br />

<strong>Biológico</strong>.<br />

O programa iniciou <strong>no</strong> auditório do <strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>Gaia</strong> pelas 9h30 <strong>de</strong> 14 <strong>de</strong> Junho, com palavras do<br />

director do <strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong>, Nu<strong>no</strong> Gomes Oliveira, do<br />

administrador da Energaia, Nu<strong>no</strong> Sousa, e <strong>de</strong> Paula<br />

Costa, também da Energaia.<br />

Os alu<strong>no</strong>s das escolas <strong>de</strong> Alquebre, Ban<strong>de</strong>ira, Cedro,<br />

Devesas, Joaquim N. Almeida, Marmoiral, Pe d r a s ,<br />

Quinta dos Castelos e Teixeira Lopes apresentaram<br />

inúmeras activida<strong>de</strong>s. Ouviu-se, na voz especial dos<br />

meni<strong>no</strong>s e meninas dos sete aos 12 a<strong>no</strong>s <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>,<br />

conselhos práticos sobre condutas que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m o<br />

ambiente. Simples e directas: «Plante <strong>uma</strong> árvore»,<br />

«Não <strong>de</strong>ite lixo <strong>no</strong> chão», «Prefira andar mais a pé do<br />

que <strong>de</strong> carro», etc.<br />

Alguns dos muitos mo<strong>de</strong>los que <strong>de</strong>sfilaram <strong>no</strong> auditório<br />

Conselhos mais ou me<strong>no</strong>s conhecidos, <strong>de</strong>certo me<strong>no</strong>s<br />

praticados pela maioria, mas com certeza revistos e<br />

mais profundamente entendidos através daquelas<br />

vozes.<br />

Fazendo, apren<strong>de</strong>-se melhor. Parabéns aos alu<strong>no</strong>s e<br />

professores!<br />

Houve ainda um almoço <strong>no</strong> <strong>Parque</strong> <strong>de</strong> Merendas e, <strong>de</strong><br />

tar<strong>de</strong>, todos visitaram a Exposição Eco-escolas e o percurso<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>scoberta do <strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong> <strong>de</strong> <strong>Gaia</strong>.<br />

Parte da exposição<br />

Fotos: JG / Arquivo PBG<br />

Verão 2002 <strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong> 43


As plantas aromáticas são <strong>no</strong>vamente o tema <strong>de</strong>ste<br />

artigo e, porque muito há a dizer sobre elas, antes <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>screver as técnicas <strong>de</strong> cultura <strong>de</strong> mais três espécies,<br />

farei alg<strong>uma</strong>s consi<strong>de</strong>rações gerais: em terre<strong>no</strong>s<br />

<strong>de</strong>masiado ricos, pesados e húmidos, as plantas aromáticas<br />

per<strong>de</strong>m bastante do seu perfume; salvo alg<strong>uma</strong>s<br />

excepções, a colheita <strong>de</strong>ve fazer-se antes da floração,<br />

que é o momento em que têm mais aroma; os<br />

rebentos mais macios, que ainda não lenhificaram<br />

(aumento <strong>de</strong> consistência), contêm maior quantida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> substâncias odoríferas; excepção feita ao manjerico,<br />

as ervas aromáticas <strong>de</strong>vem secar-se à sombra, em<br />

feixes pendurados num cor<strong>de</strong>l com um nó corrediço,<br />

<strong>de</strong> modo a po<strong>de</strong>r-se aumentar o aperto à medida que<br />

o vegetal seca.<br />

Com as ervas aromáticas <strong>de</strong>vidamente doseadas, secas<br />

e reduzidas a pó, obtém-se, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> peneiradas, um<br />

pó perf<strong>uma</strong>do bastante apreciado na preparação <strong>de</strong><br />

diversos molhos. A mistura é feita ao gosto pessoal e,<br />

se for bem conseguida, po<strong>de</strong> dar um cunho próprio aos<br />

cozinhados.<br />

Embora à data <strong>de</strong> publicação <strong>de</strong>ste número se esteja<br />

um pouco fora da época i<strong>de</strong>al das sementeiras <strong>de</strong>stas<br />

espécies, a seguir daremos as indicações <strong>de</strong> como cultivar<br />

o Manjerico, a Manjerona e o Tomilho. Po<strong>de</strong>-se<br />

sempre tentar <strong>no</strong> próximo a<strong>no</strong>...<br />

Manjerico (Ocinum basilicum) - Exige terra muito rica<br />

e um sítio quente.<br />

O manjerico po<strong>de</strong> semear-se em caixotes ou em vasos<br />

<strong>de</strong> flores (a manter em casa) em Fevereiro-Março e ser<br />

colocado em local <strong>de</strong>finitivo em Abril-Maio. Depois <strong>de</strong><br />

a planta iniciar <strong>no</strong>vamente o seu <strong>de</strong>senvolvimento<br />

<strong>de</strong>ve-se fertilizar e regar bastante, pois o manjerico é<br />

bastante exigente em água. Outra operação muito<br />

j a r d i m<br />

Aromáticas: quer um cheirinho?<br />

Tal como previsto <strong>no</strong> último número da revista do <strong>Parque</strong>, voltamos a encontrar-<br />

-<strong>no</strong>s, trazendo mais informações que julgamos serem úteis e agradáveis para todos<br />

os leitores, especialmente para os que são sócios da Associação dos Amigos do<br />

<strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong> <strong>de</strong> <strong>Gaia</strong><br />

importante são as sachas (limpezas do canteiro). As<br />

folhas colhem-se à medida das necessida<strong>de</strong>s, se forem<br />

para uso em culinária, enquanto para lhes extrair a<br />

essência <strong>de</strong>ixa-se passar a floração e <strong>de</strong>pois corta-se a<br />

planta pelo pé. A secagem das folhas faz-se ao sol,<br />

pois assim conservam melhor o seu perfume.<br />

Manjerona (Origanum maiorana) - Exige <strong>uma</strong> terra<br />

humosa, solta e bem provida <strong>de</strong> fósforo.<br />

Deve semear-se em Abril, em local bem quente,<br />

cobrindo e compactando um pouco as sementes.<br />

A proporção <strong>de</strong> sementes <strong>de</strong>ve ser <strong>de</strong> meia grama por<br />

metro quadrado; <strong>de</strong>ve-se misturar as sementes, <strong>uma</strong><br />

vez que estas são muito finas, com um pouco <strong>de</strong> areia<br />

o que facilita bastante o trabalho. Depois da colocação<br />

em local <strong>de</strong>finitivo <strong>de</strong>ve-se regar bastante.<br />

A colheita, salvo a <strong>de</strong> carácter ocasional para necessida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> cozinha, <strong>de</strong>ve fazer-se imediatamente antes<br />

da floração, cortando os caules 3 cm acima da terra.<br />

No Outo<strong>no</strong> arrancam-se as plantas. A secagem é feita<br />

à sombra, em local seco.<br />

Tomilho (Thymus vulgaris) – O Tomilho, planta vivaz,<br />

requer terre<strong>no</strong>s leves, calcários, pedregosos e não<br />

<strong>de</strong>masiado ricos, <strong>de</strong> outro modo per<strong>de</strong> bastante o seu<br />

perfume. A sementeira <strong>de</strong>ve ser feita em Março-Abril,<br />

mantendo-se a terra sempre húmida até à germinação<br />

e transplanta-se em Julho. A reprodução também po<strong>de</strong><br />

fazer-se na Primavera, por estacas ou divisão <strong>de</strong><br />

rebentos. Colhe-se, imediatamente antes da floração,<br />

cortando a planta pelo pé. Po<strong>de</strong>m-se obter as sementes<br />

para o a<strong>no</strong> seguinte <strong>de</strong>ixando a planta na terra até<br />

verificar que as cápsulas que contêm as sementes<br />

ficam acastanhadas.<br />

Bons cozinhados!<br />

Manjerona Tomilho


Sugestões <strong>de</strong> leitura<br />

Ao assistirmos em <strong>no</strong>me do progresso à <strong>de</strong>struição <strong>de</strong> jardins cheios <strong>de</strong> história, quando um pouco por todo o país<br />

se proce<strong>de</strong> à <strong>de</strong>smatação <strong>de</strong> muitos hectares da <strong>no</strong>ssa floresta tradicional em <strong>no</strong>me do <strong>de</strong>senvolvimento, quando<br />

vemos uns quantos - em <strong>no</strong>me não se sabe bem <strong>de</strong> quê - privar da mais elementar dignida<strong>de</strong> as árvores das <strong>no</strong>ssas<br />

cida<strong>de</strong>s com bárbaras podas, que mais parecem um ritual <strong>de</strong> massacre, sentimos o quanto estão actuais as prosas <strong>de</strong><br />

Eça <strong>de</strong> Queiroz, Ramalho Ortigão ou mesmo Júlio Dinis.<br />

Joaquim Guilherme Gomes Coelho, <strong>de</strong> pseudónimo Júlio Dinis, foca em «A Morgadinha dos Canaviais» (1868) temas<br />

como a corrupção dos costumes políticos, através <strong>de</strong> <strong>uma</strong> eleição <strong>de</strong> <strong>de</strong>putado, ou os reflexos sociais e mentais da<br />

mo<strong>de</strong>rnização técnica, através da construção <strong>de</strong> um troço da via-férrea, como aqui <strong>de</strong>monstramos com este peque<strong>no</strong><br />

texto:<br />

"E caíam, <strong>uma</strong> após outra, todas as árvores do quintal, os limoeiros, as <strong>no</strong>gueiras, os salgueiros e toda a família vegetal<br />

do velho Vicente, que sentia ir-se-lhe com ela a alma. Memórias <strong>de</strong> infância, sonhos <strong>de</strong> juventu<strong>de</strong>, e reminiscências<br />

<strong>de</strong> velho, como aves invisíveis, ocultas nas copas daquelas árvores, surgiam agora espavoridas e <strong>de</strong>s<strong>no</strong>rteadas, a<br />

procurar o refúgio, que não encontravam fora dali. (...)<br />

A <strong>de</strong>molição prosseguia com ardor e activida<strong>de</strong>. Em pouco tempo, só restavam da casa os muros, meio <strong>de</strong>rrocados;<br />

e, <strong>no</strong> quintal a serra e o machado principiavam a exercer <strong>no</strong> tronco da última árvore a sua obra <strong>de</strong>struidora. Era o<br />

castanheiro da entrada, gigante <strong>de</strong> outro século, que <strong>de</strong>safiara os raios <strong>de</strong> muitos inver<strong>no</strong>s, sucessivos".<br />

in " A Morgadinha dos Canaviais", Júlio Dinis<br />

p a r á g r a f o<br />

"As Rosas <strong>de</strong> Atacama", <strong>de</strong> Luís Sepúlveda, Edições Asa<br />

Luís Sepúlveda é um viajante e acima <strong>de</strong> tudo um contador<br />

<strong>de</strong> histórias, on<strong>de</strong> os valores ecológicos, a dignida<strong>de</strong><br />

h<strong>uma</strong>na e a liberda<strong>de</strong> são pedra angular da sua<br />

narrativa.<br />

Em "As Rosas <strong>de</strong> Atacama" ou "Histórias Marginais"<br />

(título da edição espanhola), Sepúlveda guia-<strong>no</strong>s por<br />

lugares e apresenta-<strong>no</strong>s a "homens e mulheres que, <strong>no</strong><br />

a<strong>no</strong>nimato, ajudaram, ajudam e ajudarão a construir o<br />

verda<strong>de</strong>iro rosto da História".<br />

"Terra <strong>de</strong> Lobos", <strong>de</strong> Nicholas Evans, Círculo <strong>de</strong> Leitores<br />

A chacina <strong>de</strong> lobos <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ada pelos conquistadores<br />

do Oeste america<strong>no</strong> ainda permanecia viva na<br />

memória daquela pequena cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Montana. O<br />

impiedoso rancheiro que a dominava alimentava o<br />

ódio dos habitantes para com aqueles animais. A bióloga<br />

Helen Ross chega à cida<strong>de</strong> empenhada em <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r<br />

aquela espécie agora em vias <strong>de</strong> extinção. Para isso<br />

vai ter <strong>de</strong> enfrentar <strong>uma</strong> população revoltada e assustada.<br />

Um romance acerca do inquietante confronto<br />

entre o homem e a natureza.<br />

Verão 2002 <strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong> 45


Hoje abri um livro que tinha na<br />

capa um meni<strong>no</strong> com cabelos <strong>de</strong><br />

ouro e olhos coloridos como o<br />

arco-íris.<br />

Pensei que talvez os olhos <strong>de</strong>le<br />

fossem assim por causa da<br />

bonda<strong>de</strong> que lhe corria <strong>no</strong> interior<br />

e, também, porque amava o sol, a<br />

terra, a água e o ar, a floresta e os<br />

animais, as flores e os pássaros. E,<br />

como os tinha observado<br />

inúmeras vezes, as cores tinham-<br />

-se fixado <strong>no</strong> seu olhar.<br />

Imaginei que este meni<strong>no</strong> viajava<br />

em cima <strong>de</strong> <strong>uma</strong> estrela ca<strong>de</strong>nte<br />

e, por isso, conhecia tantos sítios<br />

diferentes.<br />

Ele gostava do pôr-do-sol, dos<br />

animais, das plantas e sabia,<br />

exactamente, do que cada um<br />

precisava.<br />

Admirava-se com os adultos. Não<br />

percebia as suas obsessões pelos<br />

números e pelo po<strong>de</strong>r. Achava-os<br />

mesmo estranhos!<br />

No seu peque<strong>no</strong> planeta, que ele<br />

cuidava com atenção e carinho,<br />

existia <strong>uma</strong> flor muito<br />

especial, muito vaidosa,<br />

mas muito bonita! Aos<br />

poucos ele foi<br />

conhecendo essa flor:<br />

os seus espinhos, o seu<br />

medo das correntes <strong>de</strong><br />

ar, o seu gosto pelo pôr-do-<br />

46 <strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong> Verão 2002<br />

infância<br />

Se alguém ama <strong>uma</strong> flor<br />

-sol.<br />

N<strong>uma</strong> das suas<br />

últimas viagens ficou<br />

muito preocupado por a<br />

<strong>de</strong>ixar sozinha sem os seus<br />

cuidados, mas percebeu que<br />

tinha que inspirar bem fundo a<br />

coragem e seguir o seu<br />

caminho.<br />

Foi então que <strong>no</strong> planeta terra,<br />

<strong>no</strong> <strong>de</strong>serto, conheceu um<br />

homem. Era um homem adulto e<br />

muito preocupado com a avaria<br />

do seu avião.<br />

A certa altura o meni<strong>no</strong>,<br />

preocupado, perguntou-lhe para<br />

que serviam os espinhos das<br />

flores.<br />

O homem, envolvido <strong>no</strong> arranjo<br />

do seu avião, respon<strong>de</strong>u-lhe que<br />

os espinhos eram a malda<strong>de</strong> das<br />

flores.<br />

O meni<strong>no</strong> nem queria acreditar <strong>no</strong><br />

que tinha acabado <strong>de</strong> ouvir. Não<br />

era possível que aquela flor<br />

bonita, cheia <strong>de</strong> cor, tivesse <strong>uma</strong><br />

pontinha <strong>de</strong> malda<strong>de</strong>.<br />

Ficou furioso e disse-lhe:<br />

"— E julgas tu, que as flores...<br />

— Não! Não! Não julgo<br />

nada. Respondi à toa. Eu<br />

ocupo-me <strong>de</strong> coisas<br />

sérias!"<br />

A perplexida<strong>de</strong> envolveu o <strong>no</strong>sso


peque<strong>no</strong> <strong>de</strong> olhos <strong>de</strong> arco-íris. Era<br />

impossível que aquele homem<br />

estivesse a falar a sério!...<br />

Como po<strong>de</strong>ria alguém pensar que<br />

<strong>uma</strong> flor não é um assunto sério?!<br />

Lembrou-se <strong>de</strong> um homem <strong>de</strong><br />

rosto avermelhado que nunca<br />

tinha cheirado <strong>uma</strong> flor, nunca<br />

tinha olhado <strong>uma</strong> estrela, nunca<br />

tinha gostado <strong>de</strong> ninguém e, <strong>de</strong><br />

certeza, nem para si tinha olhado.<br />

Foi então que, cheio <strong>de</strong> raiva, lhe<br />

disse que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sempre as flores<br />

tinham espinhos e que, por isso<br />

mesmo, era importante perceber<br />

porque os produziam.<br />

Não seria isso mais importante do<br />

que consertar um avião?<br />

E, continuou o meni<strong>no</strong>:<br />

"— Se alguém ama <strong>uma</strong> flor <strong>de</strong> que<br />

História inspirada e retirada do livro «O Principezinho» <strong>de</strong> Antoine <strong>de</strong> Saint-Exupéry<br />

8<br />

Com a palavra RESPEITO como base<br />

encontra com a ajuda do texto as palavras<br />

que faltam<br />

5<br />

2<br />

6<br />

2<br />

1<br />

3<br />

4<br />

7<br />

R<br />

E<br />

S<br />

P<br />

E<br />

I<br />

T<br />

O<br />

1<br />

apenas existe<br />

um exemplar em<br />

milhões e<br />

milhões <strong>de</strong><br />

planetas isso é<br />

o suficiente<br />

para po<strong>de</strong>r<br />

observá-la e<br />

sentir-se feliz<br />

por cuidar<br />

<strong>de</strong>la. Mas,<br />

se ao<br />

contrário, essa flor é<br />

completamente extinta, isso não<br />

é importante?"<br />

O homem adulto coberto da sua<br />

vergonha não foi capaz <strong>de</strong> dizer<br />

nada. Aproximou-se <strong>de</strong>le,<br />

abraçou-o e embalou-o <strong>no</strong>s seus<br />

braços enquanto ele soluçava<br />

repetidamente.<br />

Horizontais<br />

1. Quando o céu tem 7 cores<br />

2. O <strong>no</strong>sso sistema solar tem 9 ...<br />

3. O sol é <strong>uma</strong> ...<br />

4. O 3.º planeta a contar do sol é a ...<br />

5. Eles po<strong>de</strong>m ser carnívoros, herbívoros, omnívoros,...Po<strong>de</strong>m<br />

ter asas, quatro patas, barbatanas...Na<br />

terra, na água ou <strong>no</strong> ar po<strong>de</strong>s encontrá-<br />

-los. São os ...<br />

6. Um conjunto <strong>de</strong> árvores como carvalhos,<br />

pinheiros, macieiras, ... formam <strong>uma</strong> ....<br />

7. Um dos seres mais abundantes na Terra e que<br />

o meni<strong>no</strong> da história não compreendia muito<br />

bem<br />

8. Um dos quatro elementos formado por apenas<br />

2 letras<br />

Verticais<br />

1. Os peixes nadam na...<br />

2. Qual era a gran<strong>de</strong> preocupação do <strong>no</strong>sso<br />

meni<strong>no</strong>?<br />

Verão 2002 <strong>Parque</strong> <strong>Biológico</strong> 47


Poema seleccionado por<br />

Alberto Andra<strong>de</strong><br />

DA POESIA QUE POSSO<br />

Há <strong>uma</strong> certa maré nas coisas h<strong>uma</strong>nas<br />

Espero pelo verão como por outra vida<br />

<strong>no</strong> inver<strong>no</strong> é que o verão existe verda<strong>de</strong>iramente<br />

É o dia em que segundo alguns jornais<br />

john hoare e david johnstone iniciam<br />

a travessia do atlântico num barco a remos<br />

É o dia das gran<strong>de</strong>s travessias<br />

o mar a vida isso que importa?<br />

Dios qué bue<strong>no</strong> es el gozo por aquesta mañana<br />

aqui na orla da praia mudo e contente do mar<br />

Ao chegar aos cinquenta sessenta a<strong>no</strong>s<br />

Quando os fizer talvez pense nisso<br />

e não agora a tanto tempo <strong>de</strong> distância<br />

Agora sou do cúmulo da tar<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sta tar<strong>de</strong> <strong>no</strong> início do outo<strong>no</strong><br />

ou do início <strong>de</strong>sta tar<strong>de</strong> <strong>de</strong> outo<strong>no</strong><br />

Só <strong>de</strong>pois é que pergunto que fazer <strong>de</strong> tudo isto<br />

que torna o cid meu contemporâneo<br />

Dios qué bue<strong>no</strong> es el gozo por aquesta mañana<br />

<strong>de</strong> um dia em que me achei mais pachorrento<br />

Manhã ou tar<strong>de</strong>? primavera ou outo<strong>no</strong>?<br />

Não sei pouco me importa<br />

Pouco me importa o quê? Não sei<br />

(o resto vem <strong>no</strong> pessoa<br />

Pessoa é o poeta vivo que me interessa mais)<br />

Basta a cada dia a sua própria alegria<br />

e é gran<strong>de</strong> a alegria quando iguala o dia<br />

Poema <strong>de</strong> Ruy Belo, in «Obra Poética», Vol. 1

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!