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Baixos - Brasiliana USP

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O CONDE JOÃO MAURÍCIO DE NASSAU 193<br />

dade de filhos de Deus, ou para se atraírem, com esta nova e insólita<br />

forma de humanidade, as almas dos gentios, alheios do ensinamento<br />

evangélico.<br />

Com razão escreve Sêneca "que o nome de escravo nasceu de EPIST. 31.<br />

uma injustiça" Maior respeito, sem dúvida, tiveram ao decoro<br />

e à utilidade pública os antigos germanos : não abusaram cruelmente<br />

dos seus escravos, como costumavam os romanos, limitando-se<br />

a exigir deles, como de colonos, certa quantidade de trigo,<br />

de roupa ou de gado, e lhes permitiam terem o seu lar e os seus<br />

penates conforme quisessem. Podem-se observar vestígios claros<br />

desse regime servil na Suécia, Polônia e outros países. "E' raro TÁCITO<br />

açoitarem um escravo, porem-no a ferros ou forçarem-no a um tra- GERMANIA.<br />

balho. Soem matá-los, não por um espírito de disciplina ou de severidade,<br />

mas um ímpeto de ira, como se mata um inimigo, com a diferença<br />

de o fazerem impunemente" (267). Ainda hoje muitos gentios<br />

e cristãos costumam dar quasi o mesmo tratamento aos seus escravos.<br />

Sêneca recomenda clemência e moderação para com eles :<br />

"São escravos ? diz êle, mas também homens. São escravos ? mas<br />

também companheiros. São escravos? mas também humildes amigos.<br />

São escravos ? mas também escravos como nós próprios, se considerarmos<br />

que a fortuna tem sobre eles o mesmo poder que sobre<br />

nós. Pois tanto podes ver um escravo livre, como pode êle verte<br />

escravo. Já é cruel e deshumano abusarmos deles como de homens,<br />

quanto mais como de animais l Reflete que este a quem<br />

chamas de escravo nasceu da mesma semente que tu, goza do mesmo<br />

céu, respira como tu, vive como tu, morre como tu. Vive, pois, com<br />

o teu inferior da mesma forma que desejarias vivesse êle contigo,<br />

se fosse teu superior. Sempre que te vier à mente quanto te é<br />

permitido contra o teu escravo, lembra-te igualmente que outro<br />

tanto é dado contra ti ao teu senhor Vive com o teu coescravo<br />

clemente e afàvelmente" EPIST 47.<br />

Depois que a avidez do ganho medrou ainda mesmo entre os<br />

cristãos, que abraçaram fé mais pura e mudada para melhor (268)<br />

abrindo caminho com a guerra e com as armas, também os holandeses<br />

voltámos ao costume de comprar e vender um homem apesar<br />

de ser êle imagem de Deus, resgatado pelo sangue de Cristo e<br />

senhor do universo, escravo apenas por vício da natureza e do engenho.<br />

De sorte que nesta época na qual os cristãos dominam o<br />

Brasil, poderia um escravo qualquer lamentar-se, exclamando :<br />

"Que mísera sorte, ó Júpiter e Deuses, é ser escravo de um senhor<br />

louco" Em verdade, acontece não raro que um homem mais sá- jjq PLUTO. '

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