A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA ... - Blog do Levy

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A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL III. 2 - Apropriacionismo e Substitucionismo Industrial Os determinantes das transformações de base técnica, para GOODMAN et alli (1990), se encontram na apropriação e substituição industriais do processo de produção rural. Quando o processo de desenvolvimento tecnológico vai para a indústria, é ele que impõe o ritmo de incorporação de inovações, e a indústria por sua vez passa a ser uma determinadora do ritmo e intensidade de inovações tecnológicas na agricultura. É a indústria que fez o melhoramento genético do frango de corte 55 , desenvolveu remédios, vacinas, a nutrição e alimentação, e os equipamentos e sua progressiva automação. Além de desenvolver a tecnologia, a indústria determina o frango que quer comprar e a tecnologia que vai ser empregada no mesmo, de maneira que o criador de frango de corte não desenvolve a tecnologia e nem tem autonomia de utilizar esta ou aquela tecnologia. Isto ocorria antes do apropriacionismo ocorrer. O certo é que a tecnologia não deixa margens de escolha sobre que parte utilizar ou não, pelo contrário, se deixa, diz claramente onde está a autonomia, na verdade é um pacote fechado ou semifechado, mas quem fecha, quem dá o “caminho” são as indústrias do setor. Para SORJ et alli (1982: 32) esse processo apresenta dupla dinâmica “o capital industrial passa a se apropriar de atividades que anteriormente eram realizadas no interior da empresa rural, e, com base nessa apropriação, passa a impor aos produtores rurais os padrões e ritmos de transformação do processo produtivo. Os produtores rurais, ou seja, aqueles cuja atividade ainda dependem em boa medida dos determinantes naturais no processo produtivo – em particular do uso extensivo da terra – ingressam, assim, num processo em que suas condições de reprodução estão superditadas e subordinadas à dinâmica do complexo avícola industrial”. 55 As inovações biológicas colocam a natureza a serviço do capital, possibilitando a transformação das atividades agrícolas em verdadeiros ramos da indústria (GRAZIANO DA SILVA, 1981). Levy Rei de França 74

DETERMINANTES DAS TRANSFORMAÇÕES DA BASE TÉCNICA A tese central do trabalho de GOODMAN et alli (1990) é a incapacidade histórica do capital industrial em transformar o sistema agroalimentício, da produção agrícola até o consumo final do alimento, como um todo unificado. A indústria se apropriou de frações parciais do processo produtivo rural, no caso do frango de corte, a parte que sobrou para o campo foi a criação. Se a criação não fosse mais necessária na fazenda, a indústria teria completado seu processo de apropriação. Desta forma ele cita que os capitais industriais têm-se restringido a apropriações parciais da atividade rural, conduzindo em diferentes conjunturas históricas à mecanização da agricultura e ao desenvolvimento de inovações químicas e genéticas. SHIKI (1996: 34) também concorda que, apesar dos avanços tecnológicos, o domínio sobre o trabalho pelo capital agroindustrial é ainda parcial e discreto devido aos constrangimentos naturais da produção agroalimentar. Cita ainda que “... no caso brasileiro, criou-se um espaço de reprodução da agricultura familiar e um sistema de produção altamente competitivo. A agricultura familiar tem se mostrado como estrutura organizativa da produção que melhor se adapta aos requerimentos tecnológicos e às condições de risco de produção e de mercado. No caso da avicultura, o domínio das técnicas de manejo é a chave do sucesso e é possível somente para aqueles que têm um mínimo de capacidade de investimento e absorção do conhecimento”. A apropriação industrial 56 , por exemplo, pode ser percebida quando constatamos que a produção de galinhas não ocorre mais na fazenda. No caso do frango de corte, ele vai para a fazenda quando nasce e volta para a indústria cerca de um pouco mais de 40 dias depois, quando então é abatido e processado. Para tornar-se parte de uma sofisticada indústria de reprodução, no nível comercial, as galinhas foram as primeiras a serem exploradas comercialmente pela aplicação de técnicas de hibridação, tal como se fez antes com o milho, assim como pelos métodos de aperfeiçoamento seletivo usando os princípios da genética quantitativa (NORDSKOG citado por GOODMAN et alli,1990). 56 Para se ter uma noção mais concreta da apropriação das atividades produtivas pelo complexo agroindustrial, SORJ et alli (1982) cita que, no preço final do frango, em 1976, o custo da mão-de-obra numa granja de 12 mil frangos representava apenas 1,5% (3,85% se incluir a previdência social). Levy Rei de França 75

DETERMINANTES <strong>DA</strong>S TRANSFORMAÇÕES <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong><br />

A tese central <strong>do</strong> trabalho de GOODMAN et alli (1990) é a incapacidade histórica<br />

<strong>do</strong> capital industrial em transformar o sistema agroalimentício, da produção agrícola até o<br />

consumo final <strong>do</strong> alimento, como um to<strong>do</strong> unifica<strong>do</strong>. A indústria se apropriou de frações<br />

parciais <strong>do</strong> processo produtivo rural, no caso <strong>do</strong> frango de corte, a parte que sobrou para o<br />

campo foi a criação. Se a criação não fosse mais necessária na fazenda, a indústria teria<br />

completa<strong>do</strong> seu processo de apropriação. Desta forma ele cita que os capitais industriais<br />

têm-se restringi<strong>do</strong> a apropriações parciais da atividade rural, conduzin<strong>do</strong> em diferentes<br />

conjunturas históricas à mecanização da agricultura e ao desenvolvimento de inovações<br />

químicas e genéticas. SHIKI (1996: 34) também concorda que, apesar <strong>do</strong>s avanços<br />

tecnológicos, o <strong>do</strong>mínio sobre o trabalho pelo capital agroindustrial é ainda parcial e<br />

discreto devi<strong>do</strong> aos constrangimentos naturais da produção agroalimentar. Cita ainda que<br />

“... no caso brasileiro, criou-se um espaço de reprodução da agricultura familiar e um<br />

sistema de produção altamente competitivo. A agricultura familiar tem se mostra<strong>do</strong> como<br />

estrutura organizativa da produção que melhor se adapta aos requerimentos tecnológicos e<br />

às condições de risco de produção e de merca<strong>do</strong>. No caso da avicultura, o <strong>do</strong>mínio das<br />

técnicas de manejo é a chave <strong>do</strong> sucesso e é possível somente para aqueles que têm um<br />

mínimo de capacidade de investimento e absorção <strong>do</strong> conhecimento”.<br />

A apropriação industrial 56 , por exemplo, pode ser percebida quan<strong>do</strong> constatamos<br />

que a produção de galinhas não ocorre mais na fazenda. No caso <strong>do</strong> frango de corte, ele vai<br />

para a fazenda quan<strong>do</strong> nasce e volta para a indústria cerca de um pouco mais de 40 dias<br />

depois, quan<strong>do</strong> então é abati<strong>do</strong> e processa<strong>do</strong>. Para tornar-se parte de uma sofisticada<br />

indústria de reprodução, no nível comercial, as galinhas foram as primeiras a serem<br />

exploradas comercialmente pela aplicação de técnicas de hibridação, tal como se fez antes<br />

com o milho, assim como pelos méto<strong>do</strong>s de aperfeiçoamento seletivo usan<strong>do</strong> os princípios<br />

da genética quantitativa (NORDSKOG cita<strong>do</strong> por GOODMAN et alli,1990).<br />

56 Para se ter uma noção mais concreta da apropriação das atividades produtivas pelo complexo agroindustrial,<br />

SORJ et alli (1982) cita que, no preço final <strong>do</strong> frango, em 1976, o custo da mão-de-obra numa granja de 12<br />

mil frangos representava apenas 1,5% (3,85% se incluir a previdência social).<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

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