UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO ... - ICHS/UFOP
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A questão era delicada, uma vez que em oposição ao ultramontanismo dos<br />
padres, estava o Governante brasileiro, que apesar de seguidor da religião católica,<br />
era regalista, ou seja, defensor da subordinação da Igreja ao Estado. A oposição de<br />
ideologias entre Igreja e Estado gerou conflitos na década de 1870, na<br />
denominada Questão Religiosa.<br />
Até meados da década de 1840, a Igreja no Brasil dependia mais do Estado<br />
que de Roma. 351 Porém, a relação entre o Estado e a Igreja começou a se<br />
modificar durante o reinado do papa Pio IX (1846-1878), que exigiu a<br />
centralização da Igreja em questão de doutrina e de governo eclesiástico, visando<br />
dessa forma, que a instituição religiosa ficasse sob o domínio romano e não sob o<br />
domínio do Estado. Pio IX ficou conhecido por seu ultramontanismo declarado:<br />
“Em seus 32 anos de governo, ganhou a fama de ter sido o mais reacionário e<br />
ultramontano dos papas até então”. 352<br />
Em 1864, o papa publicou o Syllabus de Erros, uma listagem de 80 erros<br />
por ele condenados, tais como: a separação entre Igreja e Estado; a supremacia<br />
civil sobre o direito eclesiástico; a presença de maçons na religião católica e a<br />
ilegalidade do placet. Contudo, o Syllabus não teve vigência no Brasil, pois D.<br />
Pedro II usou seu direito de placet e não o aceitou.<br />
O impacto do Syllabus cresceu quando, em 1870, foi aprovada pelo<br />
Concílio de Trento, a infalibilidade papal, ou seja, a centralização institucional da<br />
Igreja Universal no papado. Alguns membros ultramontanos da hierarquia<br />
religiosa no Brasil, abraçaram a decisão, mesmo em desacordo com a Coroa.<br />
O Governante se viu então obrigado a agir em nome do poder do Estado:<br />
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para compensar a centralização do papado, as autoridades<br />
incrementaram mais o recurso à Coroa. “Uma espécie de<br />
nacionalismo exaltado incitava os estadistas do Império a<br />
defender intransigentemente a autoridade do Estado contra o<br />
que era acusado de ser fanatismo da Cúria Romana. 353<br />
Em 1868, o bispo do Rio de Janeiro, padre Pedro Maria de Lacerda,<br />
causou agitações na Corte. Adepto do Syllabus, o bispo procurou implantar em<br />
sua diocese as lições aprendidas com seu mestre, D. Antônio Viçoso, bispo de<br />
351<br />
CARVALHO. Op. cit. 2007. P. 150.<br />
352<br />
Idem. P. 151.<br />
353<br />
BRUNEAU, Thomas C. Catolicismo brasileiro em época de transição. São Paulo: Edições<br />
Loyola, 1974. P. 59.