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Proposta de Purificação dos Resultados em Comunicações de Marketing Aplicada ao<br />

Cálculo do Retorno Sobre os seus Investimentos<br />

Resumo<br />

Autoria: Leandro Angotti Guissoni, <strong>Marcos</strong> <strong>Fava</strong> <strong>Neves</strong><br />

As atividades de marketing assumem, cada vez mais, um papel de destaque como<br />

direcionadoras do crescimento empresarial, isso em um ambiente como o atual que é<br />

turbulento, global, de concorrência crescentemente intensificada na maioria dos mercados e<br />

dinâmico. Diante desse contexto, os seus profissionais têm sido questionados pela ausência ou<br />

dificuldades em justificar os gastos crescentes na área, o que se torna alvo de muita exigência<br />

pela alta administração. Nesse cenário e, especificamente para o composto de comunicação de<br />

marketing, a utilização das métricas em comunicações contribui com a melhor utilização do<br />

orçamento da área. Dentre essas métricas, encontra-se o indicador de ROI (return on<br />

investments), que representa o quanto da verba investida em comunicação de marketing<br />

retornou à empresa em termos de vendas incrementais. No entanto, a variação das vendas de<br />

uma empresa não pode ser atribuída exclusivamente às ações de comunicações realizadas,<br />

pois há outras variáveis tanto externas como internas às empresas que impactam suas vendas.<br />

Também, devido a esse fator, a aplicação do ROI em comunicação de marketing é<br />

considerada complexa por profissionais das mais diversas empresas. A partir disso, o objetivo<br />

neste artigo é o de elaborar, revisar, validar e testar um conjunto de templates que permitam<br />

obter a variação da receita da empresa que é atribuível somente aos resultados do plano de<br />

comunicação de marketing, denominado de processo de purificação de resultados, cujo<br />

resultado deverá ser utilizado no cálculo do ROI, ou seja, expurgando-se outros<br />

acontecimentos que impactaram o resultado de vendas das empresas. A partir de uma<br />

proposta inicial para a purificação de resultados, considerando o embasamento da literatura<br />

revisada sobre métricas em marketing, a pesquisa de campo, exploratória, ocorreu envolvendo<br />

entrevistas em profundidade que permitiram validar e incrementar o estudo junto a alguns<br />

especialistas da área de marketing, finanças e planejamento estratégico. A pesquisa de campo<br />

também envolveu a elaboração de um estudo de caso para ilustrar a aplicação do processo de<br />

purificação de resultados e cálculo do ROI de comunicação de marketing. Após as entrevistas,<br />

a proposta inicial foi revisada e ajustada, culminando na proposta final, para a qual foi<br />

desenvolvido um exemplo de aplicação no formato de estudo de caso. Como resultado, foi<br />

atestado que a proposta contribui para a consistência e aplicabilidade da métrica de ROI em<br />

comunicação de marketing nas empresas para a análise de criação de valor dos investimentos<br />

nessas ações. A partir do exemplo de aplicação observou-se que, caso não houvesse a<br />

purificação de resultados e fosse seguida a metodologia tradicional de cálculo do ROI, o<br />

resultado que seria apresentado à empresa do estudo de caso seria de 156%. No entanto, após<br />

filtrar (ou purificar) os resultados de vendas que foram atribuídos somente aos investimentos<br />

em comunicações, o ROI foi de 74%. Portanto, apesar do menor resultado do ROI após a<br />

purificação dos resultados, as análises e aplicabilidade relacionadas a esse indicador<br />

tornaram-se mais consistentes e coerentes às suas premissas de apuração.<br />

1


1- Introdução<br />

[...] Se você não consegue medir, não consegue administrar. (KAPLAN,<br />

NORTON, 1997).<br />

As chamadas variáveis controláveis de marketing, envolvendo o portfólio de produtos,<br />

preços, canais de distribuição, comunicações e força de vendas, podem ter o desempenho<br />

avaliado por meio da utilização de diversos indicadores atribuíveis a cada uma delas,<br />

estabelecendo-se uma relação entre os seus resultados com ativos de marketing, como valor<br />

de cliente e brand equity, posição de mercado, posição financeira e valor da empresa<br />

(QUEIROZ, 2008; CLANCY; KRIEG, 2008).<br />

Sob a perspectiva da criação de valor financeiro às organizações com o programa de<br />

marketing, destaca-se o conceito de value-based marketing, introduzido no European<br />

Management Journal (DOYLE 2000, p. 233), o qual promove a relação entre os conceitos de<br />

marketing com os conceitos de gestão baseada em valor (value-based management)<br />

(RAPPAPORT, 1998; STEWART III, 2005; de YOUNG, O’ BYRNE, 2003). De acordo com<br />

o conceito, é afirmado que o objetivo das atividades de marketing no contexto empresarial é o<br />

de desenvolver e operacionalizar estratégias orientadas ao mercado que criem valor aos<br />

acionistas e, para isso, deverá haver o retorno sobre os investimentos em todas as atividades<br />

de seu composto.<br />

Quanto ao desenvolvimento do programa de comunicação, que é uma das atividades<br />

do composto de marketing, a atuação de seus profissionais é desafiadora em termos de<br />

demonstrar a coerência e justificar o orçamento necessário para realizarem suas ações e, a<br />

partir dos investimentos nessas ações, conseguirem proporcionar bons resultados em vendas,<br />

participação de mercado e, sobretudo, geração de valor para as empresas onde trabalham<br />

(GUISSONI, 2009).<br />

Uma das maneiras de se relacionar os resultados provenientes do programa de<br />

marketing e de comunicação à criação de valor é por meio do cálculo do retorno sobre<br />

investimentos, ou ROI (return on investments) como é tradicionalmente conhecido o<br />

indicador (MOEELER; LANDRY 2008, p. 86). Contudo, há nitidamente um viés entre a<br />

teoria sobre o cálculo do ROI em marketing e sua aplicação na prática empresarial, como foi<br />

confirmado no levantamento foi pela TNS Research International (2009), tendo identificado<br />

que 62% das empresas de sua amostra de pesquisa não apuram o ROI das atividades de<br />

marketing devido à complexidade de seu cálculo.<br />

Dentre outras razões, isso ocorre devido a uma das variáveis envolvidas em sua<br />

apuração, a qual está relacionada ao resultado do incremento de receita atribuível ao programa<br />

de marketing e de comunicação, como é apresentado posteriormente no presente artigo.<br />

Porém, há pouca discussão prática sobre como obter a variação da receita da empresa que é<br />

atribuível somente aos resultados do plano de comunicação de marketing e que deverá ser<br />

utilizado no cálculo do ROI (CLANCY; KRIEG 2008), expurgando-se outros acontecimentos<br />

que impactaram as vendas das empresas e restando o resultado nas vendas que somente as<br />

ações de comunicações proporcionaram.<br />

Em um cenário que considera-se a importância de justificar a coerência dos<br />

investimentos em comunicação, a determinação do retorno desses valores investidos (ROI)<br />

tem sido recentemente colocada como um dos principais assuntos que as empresas<br />

anunciantes enfrentam atualmente e, como oportunidade relacionada com a realização deste<br />

estudo, na comunicação “não há concordância total em como medir o ROI, ou até mesmo<br />

sobre o que deve ser medido” (BELCH; BELCH, 2008, p. 192). Ou seja, apesar de avanços<br />

significativos nas propostas de métricas de marketing (BONOMA; CLARK, 1988; AMBLER,<br />

2000; AMBLER, 2001; BARWISE; FARLEY, 2004; FARRIS et al., 2006; QUEIROZ, 2008;<br />

2


GUISSONI et al, 2008), há oportunidades na área e, especificamente relacionado ao presente<br />

estudo, para a avaliação do retorno proveniente somente das ações de comunicações.<br />

Assim, considerando a relevância do tema de métricas em marketing aplicada ao<br />

desafio de se calcular o ROI da área de comunicação, a questão central deste artigo envolve a<br />

pesquisa sobre como é possível apurar o resultado em vendas atribuível somente aos<br />

investimentos no programa de comunicações integradas de marketing para utilizá-lo na<br />

apuração do ROI?<br />

Essa é a questão central sobre a qual o presente artigo versa e apresenta possíveis<br />

soluções para que essa variável seja utilizada com mais consistência no cálculo do ROI em<br />

comunicações de marketing, obtendo o retorno sobre os investimentos considerando o<br />

resultado de vendas das empresas atribuível somente ao programa de comunicação.<br />

2- Objetivos e Metodologia<br />

O objetivo principal neste artigo é a apresentação e validação na realidade empresarial<br />

de uma metodologia e de um conjunto de ferramentas (templates) que estejam consistentes e<br />

permitam às empresas obterem o ROI em comunicação de marketing de maneira<br />

fundamentada e coerente com as premissas envolvidas em seu cálculo, principalmente no<br />

tocante ao incremento de receita atribuível aos investimentos em comunicações. Essa<br />

metodologia é denominada, neste artigo, de purificação dos resultados em comunicações.<br />

Quanto aos objetivos secundários, é proposto: (i) contribuir e demonstrar a<br />

importância de pesquisas sobre métricas em marketing e comunicações; (ii) fortalecer o<br />

conceito de value-based marketing, com aplicação ao programa de comunicação de marketing<br />

e, mais especificamente, ao cálculo do ROI de suas ações; (iii) demonstrar a importância da<br />

integração da área de marketing com outros departamentos, como o de planejamento<br />

estratégico e o de finanças para a criação de valor às empresas.<br />

Os procedimentos metodológicos escolhidos para o desenvolvimento desta pesquisa<br />

estão divididos em quatro etapas para buscar responder às questões definidas nos objetivos<br />

propostos para este trabalho, envolvendo: (i) revisão da literatura de comunicações integradas<br />

de marketing, métricas e análise de desempenho em marketing e comunicações; (ii) proposta<br />

inicial do método e das ferramentas (templates) para a purificação e cálculo do retorno sobre<br />

os investimentos em comunicação; (iii) realização de entrevistas, a partir de um roteiro semiestruturado,<br />

com especialistas da área de comunicação e de finanças para o levantamento de<br />

pontos relevantes sobre o método e os templates inicialmente propostos; (iv) realização de<br />

ajustes na proposta inicial de purificação dos resultados e elaboração do exemplo de aplicação<br />

em uma das empresas entrevistas, representando um estudo de caso.<br />

Portanto, a pesquisa proposta neste artigo é do tipo exploratória e de natureza<br />

qualitativa (SELLTIZ et al., 1967; GUMMESSON, 2005; MATTAR, 2005). Também, possui<br />

embasamento na metodologia de grounded theory que, em essência, é um método de pesquisa<br />

qualitativo para pesquisas exploratórias que surgiu nos EUA na década de 60, tendo como<br />

proponentes Barney Glaser e Anselm Strauss e representa um método indutivo que tem como<br />

objetivo desenvolver teorias à medida que o trabalho de campo avança e, para tal, o<br />

pesquisador não deve ir a campo com um modelo teórico acabado (GLASER; STRAUSS,<br />

1967). Na etapa da pesquisa de campo, a metodologia do trabalho é explicada com mais<br />

detalhes.<br />

3- Revisão de Literatura<br />

3.1- Comunicações Integradas de Marketing<br />

A literatura relacionada com o desenvolvimento da pesquisa deste artigo explora,<br />

inicialmente, o conceito de comunicações integradas de marketing e, posteriormente,<br />

3


apresenta a literatura sobre métricas em marketing e comunicações. Essas teorias são<br />

utilizadas para o desenvolvimento da pesquisa de campo, conforme é apresentado<br />

posteriormente no artigo.<br />

A existência de produtos e serviços que atendem as necessidades e desejos de um<br />

grupo específico de consumidores é necessariamente a primeira etapa para o sucesso de uma<br />

organização, mas os gestores devem também encontrar alternativas de relacionar essas<br />

necessidades dos consumidores-alvo com a disponibilização de informações sobre estes<br />

produtos e serviços (ENGEL et al., 2000, p. 4).<br />

Ou seja, além das decisões acerca de produtos e embalagens, posicionamento de preço<br />

e dos canais de distribuição de determinado produto, é necessário desenvolver o planejamento<br />

das decisões de comunicações. O composto de comunicação do marketing é conhecido como<br />

promoção e “presta o importante papel de informar aos consumidores-alvo a existência de um<br />

produto desejado, com determinado preço, disponível em determinado lugar (NEVES, 2006,<br />

p. 111)”. Ainda segundo o mesmo autor, a exploração das formas de comunicação de<br />

marketing faz com que as ofertas das empresas sejam promovidas para atingir seus objetivos<br />

financeiros e não financeiros, pois “uma empresa pode gastar grandes somas em propaganda<br />

ou promoção de vendas, mas há poucas chances de obter sucesso se o produto for de baixa<br />

qualidade, se tiver um preço inadequado ou se não tiver uma distribuição adequada aos<br />

consumidores” (BELCH; BELCH 2008, p. 9).<br />

A abordagem da comunicação integrada de marketing (CIM) é essencial para este<br />

artigo. Seu conceito evoluiu intensamente após a década de 80, quando as empresas<br />

assumiram uma perspectiva mais ampla sobre a comunicação de marketing, tendo causado<br />

movimentações no setor, envolvendo principalmente as agências de propaganda, de relações<br />

públicas, de promoção e de marketing direto. Dada esta intensa movimentação, a American<br />

Association of Advertising Agencies (4As), define a CIM e, a partir disso chegou-se a uma<br />

visão contemporânea citada a seguir:<br />

“As comunicações integradas de marketing são um processo estratégico de negócios utilizado<br />

para planejar, desenvolver, executar e avaliar programas persuasivos de comunicação de marca<br />

coordenados e mensuráveis ao longo do tempo voltados aos consumidores, clientes e clientes em<br />

potencial, empregados e parceiros, e outros públicos-alvo relevantes, externos e internos. A meta é<br />

gerar tanto retorno financeiro no curto prazo quanto construir uma marca de longo prazo e valor ao<br />

stakeholder” (Don Schultz , apud Belch; Belch 2008, p. 11).<br />

A definição apresentada por Don Schultz é considerada atual, pois, além de reconhecer<br />

a importância da CIM como um processo estratégico, também reconhece que há vários<br />

públicos relevantes que constituem partes importantes do processo, tais quais: clientes atuais,<br />

clientes em potenciais, fornecedores, grupos de interesse, acionistas e funcionários. Além<br />

disso, na citação destaca-se a pertinência de que seja factível a mensuração dos programas de<br />

comunicação de marca, condizente à importância da proposta deste trabalho.<br />

Porém, apesar dos avanços na literatura, ainda há vários pontos a serem desenvolvidos<br />

para inserir este conceito mais efetivamente às empresas, pois em muitas delas não há uma<br />

ampla compreensão dos profissionais de marketing acerca do conceito e da abordagem de<br />

CIM, que inclui a dificuldade de mensuração das atividades envolvidas em seu programa<br />

(SWAIN, 2004). Por outro lado, “os defensores da CIM argumentam que ela é um dos modos<br />

mais fáceis para que uma empresa maximize o retorno de seu investimento em marketing e<br />

promoção” (BELCH; BELCH 2008, p. 12).<br />

O programa de comunicação integrada de marketing, cada vez mais, tem obtido<br />

reconhecida relevância para as empresas anunciantes e os demais agentes envolvidos com o<br />

programa, como as agências e empresas de pesquisa em promoções e propaganda. Diversos<br />

avanços têm sido obtidos a partir de sua concepção como um campo formal de estudos ao<br />

final da década de 80 e, dentre esse avanços, pode ser destacado uma pesquisa que envolveu a<br />

revisão dos conceitos de CIM elaborado em um artigo publicado no International Journal of<br />

4


Advertising (KLIATCHKO, 2008), por meio do qual promoveu-se a integração de quatro<br />

pilares principais para conceituar o programa de CIM: (i) o primeiro pilar é de stakeholders,<br />

envolvendo todo o público relevante e o mercado com quem a empresa interage ou busca<br />

interagir; (ii) o segundo pilar é denominado de conteúdo, relacionado às várias mensagens que<br />

atingem o mercado em diferentes mídias, as quais devem ser criativas, persuasivas,<br />

consistentes e coerentes umas com as outras com o objetivo de que o público entenda a<br />

mesma mensagem independentemente do elemento de comunicação ou mídia utilizada; (iii) o<br />

terceiro pilar é o canal, referente à busca de investimentos das empresas anunciantes em<br />

canais que tenham credibilidade, relevância e preferência reconhecidas no mercado; (iv) por<br />

fim, o quarto pilar é de resultados, relacionado à mensuração e busca de otimização dos<br />

resultados operacionais e financeiros por meio do programa de comunicação.<br />

Ainda, relacionado a esses pilares, deve-se considerar as diversas mudanças ocorridas<br />

tanto nos meios de comunicação como também no planejamento estratégico das empresas,<br />

principalmente vislumbrando a adaptação ao ambiente competitivo. Essas mudanças têm<br />

causado impactos a todos os pilares do programa de CIM, fato que têm demandado<br />

criatividade e consistência na utilização dos recursos pelos profissionais de marketing e de<br />

comunicação, os quais devem proporcionar criação de valor sob a perspectiva das empresas<br />

anunciantes, utilizando-se de mensagens persuasivas em canais relevantes direcionadas ao<br />

público-alvo.<br />

Além disso, deve-se destacar a importância da avaliação consistente dos resultados<br />

provenientes dos investimentos em comunicações em termos de prover informações de<br />

desempenho, como aquelas que podem ser fornecidas com a utilização do indicador ROI,<br />

atuando assim como direcionadoras da elaboração dos próximos planos das empresas.<br />

3.2- Métricas em Marketing e Comunicações<br />

“Sei que metade da minha propaganda é inútil, mas não sei qual metade” (John<br />

Wanamaker apud Kotler, 2006, p. 550). Essa citação relaciona-se com um dos principais<br />

desafios de pesquisa e de aplicação para a área de comunicações de marketing envolvendo as<br />

empresas anunciantes.<br />

Assim, o primeiro desafio de vários gestores de marketing em empresas dos mais<br />

diversos setores é o de encontrar e, principalmente, selecionar métodos que lhes permitam<br />

orientar os investimentos em comunicações a partir da análise de desempenho em marketing<br />

(PETTERSEN et al, 2009). Uma possível solução para isso é de que os estudos acadêmicos e<br />

a prática empresarial tenham cada vez mais uma aproximação para conceber avanços quanto<br />

ao tema de métricas em marketing. Essa foi uma das premissas e motivações para o<br />

desenvolvimento da presente pesquisa.<br />

O segundo desafio envolve a aceitação do gestor de marketing em ter seu desempenho<br />

mensurado, principalmente após a divulgação de alguns resultados não-favoráveis à essa<br />

prática, por exemplo, quando Clancy e Krieg (2008, p. 14) divulgaram, a partir da análise de<br />

mais de quinhentos programas de marketing para produtos e serviços de consumo e businessto-business,<br />

que 84% desses programas não apresentaram um retorno positivo sobre o<br />

investimento e, posteriormente, os autores trabalharam em conjunto com a Marketing<br />

Management Analytics (MMA), tendo apresentado a conclusão de que a propaganda para<br />

bens de consumo não duráveis já estabelecidos no mercado tem um retorno de apenas<br />

US$0,54 para cada US$1 investido. Ou seja, é um resultado que deixa muitos gestores de<br />

marketing com receio de terem o desempenho de suas atividades avaliado, causando uma<br />

barreira na aceitação das métricas em seus departamentos. Uma das soluções, para isso, é de<br />

que a diretoria ou a área de planejamento estratégico exija a análises dos investimentos em<br />

comunicação e que esses sejam elaborados com consistência para não causar um viés na<br />

análise da empresa e, até mesmo, do departamento de marketing. Essa possível solução<br />

5


também foi utilizada como premissa e motivação durante o desenvolvimento da presente<br />

pesquisa.<br />

Corroborando a isso, as justificativas dos gestores de marketing em não mensurar o<br />

retorno de suas ações estão se acabando. Com o avanço do marketing baseado em dados, do<br />

customer relationship management (CRM) e dos sistemas de informações de marketing nas<br />

empresas, aumentou-se a capacidade de medir o desempenho das atividades mercadológicas,<br />

pois há diversas tecnologias, pessoas e processos que permitem coletar, classificar e analisar<br />

as mais diversas informações de mercado e de clientes. Segundo Clancy e Krieg (2008, p. 14)<br />

“depois de anos de alegações justificáveis de ser difícil ou impossível mensurar a eficácia do<br />

marketing, hoje em dia novas fontes de dados, tecnologias e ferramentas possibilitaram<br />

relacionar os investimentos de marketing diretamente com o market-share, as vendas e os<br />

lucros”.<br />

Assim, "há oportunidades para pesquisas sobre o impacto e o potencial das<br />

comunicações de marketing a partir da apresentação de métricas para os acionistas e outros<br />

públicos de interesse da empresa" (BARWISE; FARLEY, 2004, p. 261), estando assim<br />

relacionada com a justificativa para o desenvolvimento desta pesquisa. Em seu artigo<br />

publicado no ano de 2004 no European Management Journal (BARWISE; FARLEY, 2004),<br />

foi pesquisada uma amostra relevante de executivos de cinco países com o objetivo de se<br />

identificar as métricas de marketing mais comuns reportadas aos diretores e donos das<br />

empresas. As seis métricas apresentadas no estudo foram (1) participação de mercado; (2)<br />

qualidade percebida dos produtos e serviços; (3) fidelização de clientes; (4) lucratividade dos<br />

segmentos de clientes; (5) preço médio; (6) atual e o potencial customer lifetime value (CLV).<br />

A partir desses resultados, os autores concluíram o artigo apresentando uma série de<br />

recomendações de avaliações que não são realizadas pelos executivos, de acordo com a<br />

pesquisa, mas que deveriam. Dentre essas recomendações, foram verificadas algumas<br />

relacionadas ao tema de métricas em comunicações e ao cálculo do indicador de retorno sobre<br />

os investimentos, muitas vezes não utilizadas pelas empresas justamente por dificuldades em<br />

sua apuração ou, até mesmo, por receio das críticas comuns da diretoria quando são<br />

apresentados os resultados desse indicador.<br />

Essas críticas ocorrem, principalmente, por considerarem no cálculo do ROI o<br />

resultado total em vendas da organização e não apenas o que foi atribuível ao programa de<br />

marketing e de comunicação. Naturalmente, as vendas de uma empresa não variam somente<br />

devido ao programa de comunicação, havendo outras variáveis externas (política, econômica,<br />

social, tecnológicas, concorrentes) e internas (ações em produtos, preços, canais, mudanças<br />

nas estratégias da empresa) que impactam as vendas. Assim, a relevância deste artigo é de<br />

propor a purificação de resultados de comunicações como suporte ao cálculo do ROI.<br />

É importante conceituar que uma métrica de marketing é um sistema de mensuração<br />

que quantifica uma dinâmica a partir da aplicação de recursos nas variáveis de marketing no<br />

mercado-alvo das empresas (FARRIS et al., 2004). A existência de métricas nos planos de<br />

comunicações permite, aos gestores de marketing, justificarem seus elevados orçamentos e<br />

direcionar investimentos para melhor utilização da verba que lhes é atribuída.<br />

A operacionalização das atividades do programa de comunicação demanda elevadas<br />

verbas das empresas anunciantes, envolvendo também a contratação de agências de<br />

propaganda e promoção. É importante notar que a organização de métricas em marketing<br />

permite questionar a comissão das agências de propaganda, que ainda estão muito orientadas<br />

às métricas tradicionais, como participação de mercado, respostas dos consumidores-alvo aos<br />

anúncios feitos, incremento de vendas, entre outras (SWAIN, 2004).<br />

Assim, o tema de métricas em marketing quando bem aplicado torna possível melhor<br />

utilizar o orçamento de comunicação da empresa anunciante e, inclusive, os valores gastos<br />

com agências. Diversos são os indicadores possíveis de serem utilizados por uma organização<br />

6


que deseja avaliar seus resultados em marketing. A figura a seguir ilustra os grupos de<br />

indicadores:<br />

Figura 1: Grupos de métricas de marketing<br />

Fonte: Elaborado pelo autor a partir de FARRIS et al 2007, p. 19.<br />

Conforme é ilustrado na figura 1, é possível relacionar que a presente pesquisa está<br />

inserida no escopo do grupo de métricas de marketing e finanças. A metodologia para cálculo<br />

do ROI, que é proposta pelo autor em diversos artigos e livros (FARRIS, et al, 2007) está<br />

apresentada na próxima seção.<br />

3.2.1- Cálculo do ROI<br />

Diversos avanços propostos foram feitos para analisar o retorno de investimento de<br />

muitas das atividades empresariais que são avaliadas. Em marketing e, especificamente em<br />

comunicações, a premissa é de que gerencialmente os gastos em comunicações sejam<br />

considerados como investimentos, conforme abordado na revisão de literatura deste estudo,<br />

uma vez que “os profissionais de marketing acreditam que muitas de suas atividades geram<br />

resultados duradouros e, portanto, devem ser consideradas como investimentos no futuro do<br />

negócio” (FARRIS et al., 2007, p. 334).<br />

A métrica ROI representa o retorno obtido em relação aos investimentos realizados<br />

por uma empresa, neste caso. Porém, contabilmente a empresa considera como investimentos<br />

aqueles que constam em sua lista de ativos. Esses sim devem apresentar um retorno maior do<br />

que o custo médio ponderado de capital (WACC), pois em sua fórmula (EVA=ROI-<br />

WACCxInvestimento) demonstra qual foi a taxa incremental de retorno que a empresa teve se<br />

considerado o custo de oportunidade de capital da empresa multiplicado pelos seus<br />

investimentos (R$), ou seja, o que ela tem investido e que é de sua propriedade.<br />

Já para o marketing e para as comunicações de marketing é diferente. Apesar da idéia<br />

de que a verba utilizada para realizar as ações de comunicações deve ser considerada<br />

investimento, o que foi gasto não está aplicado (como ocorre no que é contabilmente um<br />

investimento da empresa), pois já foi pago às agências, funcionários, materiais de<br />

comunicação, etc.<br />

Portanto, o ROI de marketing (comunicação) satisfatório para a empresa deverá ser de<br />

no mínimo 100% do que foi utilizado (pago) para a realização de suas atividades, somado ao<br />

custo de oportunidade da empresa. Se o custo de oportunidade da empresa, uma informação<br />

dada pelo departamento financeiro, for de 12%, então o ideal é que a área de marketing e de<br />

comunicação apresente retornos de no mínimo 112% sobre o que foi investido.<br />

Há várias propostas que abordam o ROI de marketing. Desde metodologias mais<br />

simples, aplicando a divisão entre as vendas incrementais geradas (R$) pelo investimento em<br />

marketing (R$), até metodologias mais complexas e que filtram ainda mais o percentual que<br />

um determinado investimento em marketing contribuiu à empresa, conforme é considerado<br />

nesta etapa do estudo e foi proposta por Farris et al (2007, p. 334), denominada de retorno<br />

sobre investimento em marketing (RSIM), conforme figura a seguir:<br />

7


ROI de<br />

Comunicação =<br />

Figura 2: Metodologia de cálculo do Retorno sobre os Investimentos em Marketing (RSIM) aplicada em<br />

comunicação<br />

Fonte: Elaborado pelos autores a partir de FARRIS, ET.AL (2007, p. 334).<br />

Contudo, como é demonstrado na própria fórmula, deve-se ter conhecimento sobre o<br />

incremento de receita atribuível somente ao programa de comunicação para cálculo do ROI,<br />

porém, como obtê-la? Vislumbrando isso, a etapa de purificação de resultados proporciona<br />

esse resultado e, portanto, deve ser considerada no cálculo do ROI em comunicação.<br />

4- Pesquisa de Campo<br />

(Incremento de Receita Atribuível ao Programa de<br />

Comunicação (R$) x Contribuição % - Investimento em<br />

Comunicação<br />

Investimento em Comunicação<br />

Conforme os objetivos estabelecidos no início da pesquisa, optou-se por concentrar a<br />

descrição detalhada somente acerca da proposta final para realizar a purificação de resultados<br />

e cálculo do ROI, já revisadas e validadas após as entrevistas. Devido a isso, não é<br />

apresentado o método inicial que foi levado aos entrevistados. Contudo, os avanços realizados<br />

a partir das entrevistas são comentados nesta seção, condizente com as premissas da grounded<br />

theory. Além disso, o exemplo de aplicação do método foi desenvolvido juntamente com um<br />

dos entrevistados no formato de estudo de caso referente à empresa onde atua reforça a<br />

aplicabilidade do método.<br />

4.1 Entrevistas em <strong>Prof</strong>undidade para a Validação do Método Inicial<br />

Segundo Bryman (2005), esta etapa pode ser classificada como uma pesquisa<br />

qualitativa baseada em entrevistas em profundidade com entrevistados escolhidos por terem<br />

algum conhecimento especializado no objeto deste artigo (HAIR JR. et al., 2005). A<br />

entrevista é realizada a partir de um roteiro semi-estruturado (roteiro de tópicos) como método<br />

de coleta de dados. Para realização das entrevistas em profundidade, houve preparação do<br />

pesquisador em relação ao roteiro proposto por Voss, Tsikriktsis e Frohlich (2002),<br />

envolvendo: (i) definição do roteiro semi-estruturado de pesquisa; (ii) identificação dos<br />

respondentes e das empresas envolvidas; (iii) agendamento e realização das entrevistas; (iv)<br />

consolidação e análise dos dados; (v) elaboração do relatório de conclusão da entrevista. O<br />

objetivo das entrevistas foi de se ter a análise crítica dos entrevistados quanto ao método, para<br />

então aprimorá-lo e validá-lo, conforme está apresentado na próxima etapa da pesquisa.<br />

A grounded theory, conforme já elucidado na primeira seção do presente artigo, é<br />

utilizado como suporte à metodologia deste trabalho, tendo como benchmarking o estudo de<br />

Ashill e Frederikson (2003) que procuram integrar a grounded theory com o método do<br />

estudo de caso, realizando entrevistas em profundidade com gerentes de marketing para obter<br />

dados, permitindo em um processo cíclico de revisão da literatura e realização de casos<br />

múltiplos, a proposição de um método para planejamento de marketing. No Brasil, os<br />

exemplos de estudos que possuem metodologia similar ao desenvolvido neste artigo podem<br />

ser encontrados em Rossi (2008), que propôs um método e uma série de templates validados<br />

em entrevistas em profundidade para a análise interna das organizações e em <strong>Neves</strong> e<br />

Conejero (2008).<br />

As entrevistas realizadas, conforme metodologia de trabalho para atingir os objetivos<br />

gerais e específicos, marcaram um importante momento de contribuições ao objeto estudado<br />

para este artigo, pois foram momentos que envolveram análises, apresentações e sugestões de<br />

melhorias por parte de especialistas em marketing, comunicação, finanças e planejamento<br />

estratégico de indústrias e empresas facilitadoras envolvidas no setor de alimentação,<br />

8


vislumbrando contribuir com as conclusões do autor quanto à viabilidade do método e<br />

aplicação às indústrias de um setor específico, apesar da possibilidade de expandir a aplicação<br />

do método para a aplicação em empresas de outros setores.<br />

Para a seleção dos entrevistados, foram considerados os seguintes requisitos: (i) cargo<br />

e função desempenhada pelo entrevistado em determinada organização; (ii) atuação e<br />

experiência do entrevistado em atividades relacionadas ao setor de alimentação; (iii) potencial<br />

de contribuição do entrevistado em relação às diversas etapas do método, ou seja, coerência<br />

entre o cargo e a experiência profissional e acadêmica do entrevistado com o tema e objetivos<br />

desta pesquisa; (iv) disponibilidade e interesse do entrevistado quanto à entrevista; (v)<br />

conveniência, em termos de localização, para realização das entrevistas.<br />

A partir dos requisitos necessários, foi obtido acesso a diversos contatos de potenciais<br />

entrevistados, os quais foram qualificados de acordo com os cinco requisitos discorridos no<br />

parágrafo anterior. Os contatos qualificados nesse processo foram convidados a constituir a<br />

amostra de pesquisa. Todos os profissionais convidados aceitaram conceder as entrevistas.<br />

Foram, ao total, 12 entrevistados atuantes em cinco empresas diferentes, todas do setor de<br />

alimentação. Desses, 66% atuam em indústrias e os demais, 34%, em empresas de serviços,<br />

como agências de propaganda, marketing promocional, pesquisa no ponto de venda e<br />

consultoria, consideradas como agentes facilitares de acordo com a teoria de rede das<br />

organizações (NEVES, 2006).<br />

Quanto ao cargo dos entrevistados, nota-se uma amostra híbrida composta por<br />

profissionais das áreas de marketing, comunicação, comercial, finanças e planejamento<br />

estratégico, coerente com a abordagem integrada proposta no método e ao enfoque atribuído<br />

em gestão baseada em valor. É importante destacar que todos os entrevistados atenderam aos<br />

cinco requisitos para qualificação do entrevistado para a pesquisa. A figura 3 abaixo apresenta<br />

a amostra entrevistada, de acordo com os requisitos discorridos:<br />

Entrevistado<br />

Área / Departamento de<br />

Atuação do Entrevistado<br />

1 Marketing Gerente de Comunicações Integradas de Marketing<br />

2 Propaganda Gerente de Mídia<br />

3 Finanças Corporativas Gerente de Commercial-Finance<br />

4 Comercial Gerente de Marca / Key Accounts<br />

5 Marketing Coordenadora de Propaganda e Trade Marketing<br />

6 Planejamento Estratégico<br />

Coordenador Planejamento Estratégico e Balanced<br />

Scorecard<br />

7 Planejamento Estratégico Analista de Projetos Estratégicos<br />

8 Marketing Analista Sistemas de Informação de Marketing<br />

9 Diretoria Sócia e Diretora de Planejamento de Campanhas<br />

10 Diretoria Sócia e Diretora de Marketing Promocional e Eventos<br />

11 Comercial Gerente de Atendimento<br />

12 Diretoria Sócio e Diretor de projetos em Trade Marketing<br />

Figura 3: Amostra de Entrevistados<br />

Fonte: Elaborado pelo autor<br />

Cargo do Entrevistado Setor de Atuação da Empresa<br />

Empresa 1: Indústria de Alimentação<br />

Empresa 2: Indústria de Alimentação<br />

Empresa 3: Serviços de Planejamento de ações em<br />

Propaganda, Relações Públicas, Eventos, Promoções e<br />

Comunicação Ponto-de-Venda para Empresas de Alimentos<br />

Empresa 4: Serviços de Marketing Promocional, Cultural e<br />

Pesquisa Ponto-de-Venda para Empresas de Alimentos<br />

Empresa 5: Serviços de Consultoria Internacional em<br />

Marketing e Comunicação para Empresas de Alimentos<br />

As entrevistas ocorreram entre os meses de agosto e outubro de 2009 e o tempo médio<br />

por entrevista foi de 1h20. Na etapa seguinte está apresentada a análise dos resultados das<br />

entrevistas, bem como a proposta de purificação de resultados e cálculo do ROI validada e<br />

revisada após essas entrevistas, também considerando o estudo de caso na empresa de um dos<br />

entrevistados, do setor de bebidas.<br />

5- Análise de Resultados<br />

Os resultados das entrevistas e as alterações realizadas na proposta inicial estão<br />

apresentados, de maneira consolidada, na figura a seguir. É importante comentar que as<br />

9


observações ficarão mais evidentes ao leitor à medida que prosseguir na leitura da proposta de<br />

purificação de resultados e cálculo do ROI final já ajustada e do estudo de caso desenvolvido.<br />

Entrevistados Comentários e Sugestões<br />

1 (Gerente de Comunicações Integradas de<br />

Marketing) e 2 (Gerente de Mídia)<br />

3 (Gerente de Commercial-Finances)<br />

(i) Considerado adequado. Porém, deve-se tentar, ainda, minimizar a subjetividade da<br />

apuração do template desta etapa e dar exemplos de como as notas seriam propostas para cada<br />

variável que impactou vendas.<br />

(ii) O histórico de 2 a 3 anos aplicando esta etapa pode ser uma alternativa para aplicar<br />

modelos econométricos e diminuir a subjetividade.<br />

(iii) Estão muito bem colocadas as variáveis que impactam as vendas de uma empresa de bens<br />

de consumo, além da comunicação de marketing.<br />

(i) Considerado adequado. Sugestão de comentar que a análise, apesar de qualitativa no<br />

primeiro momento de aplicação do método, pode se tornar quantitativa, com modelos<br />

econométricos, estabelecendo correlação entre as notas dadas pelos gestores da organização<br />

para cada variável, com a variação das vendas.<br />

(ii) As escalas de notas em função da variação das vendas estão coerentes.<br />

5 (Coordenadora de Propaganda e Trade Marketing),<br />

(i) Considerado adequado.<br />

6 (Coordenador de Planejamento Estratégico), 7 (ii) Algumas empresas não estão preparadas para realizar a purificação de resultados,<br />

(Analista de Projetos Estratégicos), 8 (Analista de principalmente por não terem bem estruturado os seus departamentos de planejamento<br />

Sistemas de Informações de Marketing) estratégico.<br />

9 (Sócia e Diretora de Planejamento de Campanhas)<br />

10 (Sócia e Diretora de Marketing Promocional e de<br />

Eventos), 11 (Gerente de Atendimento)<br />

(i) Considerado adequado.<br />

(ii) Muito boa como tentativa de se justificar à diretoria das empresas o que foi atribuível<br />

somente às comunicações e aplicar ao cálculo do ROI. Porém, deve-se estruturar um estudo de<br />

caso como exemplo de aplicação.<br />

(i) Considerado adequado.<br />

(ii) Quando o departamento de marketing apresenta os resultados proporcionados por suas<br />

ações em termos de vendas para a empresa, é muito questionado. Essa etapa permite diminuir<br />

esse questionamento e fortalecer os profissionais de marketing nas organizações. Além disso,<br />

ficará mais fácil para a agência de comunicação trabalhar em conjunto com a empresa<br />

anunciante e fortalecer as ações que apresentam maior retorno sobre os investimentos e,<br />

também, tentar ajustar as ações que não apresentam ROI satisfatório, ou seja, as agências<br />

terão também que se profissionalizarem ainda mais caso as empresas utilizem essa<br />

metodologia.<br />

(i) Considerado adequado.<br />

12 (Sócio e Diretor de Projetos em Trade Marketing)<br />

(ii) Poucos departamentos de marketing fazem a purificação de resultados, apesar de que<br />

deveriam fazê-la para combater críticas e demonstrar precisão na análise de métricas em<br />

marketing, como o cálculo do ROI.<br />

Figura 4: Resultados das Entrevistas e Alterações na Proposta Inicial<br />

Fonte: Elaborado pelo autor<br />

Ajustes realizados na proposta inicial a partir da análise das<br />

entrevistas<br />

(i) Vislumbrando minimizar a subjetividade na análise, foi proposta a<br />

atribuição de notas, de acordo com o desempenho de vendas da empresa.<br />

Quando a empresa estrutura um histórico dessas notas, é possível evoluir<br />

para um modelo econométrico, conforme consta no método apresentado na<br />

etapa de preparação para a purificação dos resultados, que também<br />

considera a curva de aprendizagem decorrente da aplicação do método.<br />

(ii) Foi melhor descrito o que representa a etapa de purificação de<br />

resultados para o cálculo do ROI.<br />

(iii) Foi desenvolvido um estudo de caso para exemplo da aplicação das<br />

ferramentas desenvolvidas no artigo, para torná-lo mais consistente e<br />

atendendo as sugestões dos entrevistados.<br />

Dessa maneira foram atendidos os requisitos em termos de metodologia para<br />

desenvolvimento desta pesquisa, pois a proposta inicial de purificação de resultados foi levada<br />

à campo, validada e revisada após entrevistas, contemplando também o desenvolvimento de<br />

um estudo de caso ilustrado a seguir para exemplificar sua aplicação, estando assim coerente<br />

também com a perspectiva do grounded theory.<br />

5.1 Descrição do Conceito de Purificação de Resultados<br />

A purificação de resultados deverá ocorrer antes do cálculo das métricas em marketing<br />

que necessitem da variável de vendas atribuíveis somente aos investimentos na área, por<br />

exemplo, o indicador de ROI. A razão para isso é de que, dessa maneira, o índice de impacto<br />

das atividades de comunicação sobre as vendas poderá ser considerado no momento da<br />

apuração da métrica, já expurgando as demais variáveis e estratégias da empresa que<br />

impactaram suas vendas.<br />

Portanto, a purificação dos resultados é a denominação da etapa que representa a<br />

apuração do resultado das vendas atribuível somente aos investimentos em comunicações,<br />

excluindo as vendas geradas (ou perdidas) pelas demais ações realizadas pela empresa e<br />

quanto às mudanças em seu ambiente competitivo que também causaram impacto nas suas<br />

vendas e quanto às mudanças em outras estratégias da empresa.<br />

O objetivo desta etapa é o de superar a principal objeção imposta quando se tem a<br />

tentativa de cálculo e demonstração do impacto das ações de comunicações sobre as vendas,<br />

representada pela seguinte afirmação que normalmente a alta administração coloca: na<br />

empresa não se pode afirmar que o resultado obtido nas vendas foi somente devido às ações<br />

de comunicações, pois há muitas outras variáveis internas e externas (incontroláveis) que<br />

afetam as vendas (CLANCY; KRIEG, 2008).<br />

Essa afirmação é coerente e, geralmente, é a limitação dos estudos que propõe<br />

métricas de comunicações relacionadas às vendas ou aos resultados financeiros das empresas,<br />

conforme o estudo de Guissoni et al (2008) apresentado no encontro de marketing da anpad.<br />

10


Para se obter o retorno sobre os investimentos (ROI) de comunicação, uma das<br />

variáveis que deve ser considerada para seu cálculo é a de incremento de receita atribuível ao<br />

programa de comunicação. Contudo, como a empresa poderá obter o resultado dessa variável?<br />

Com a proposta de purificação dos resultados, que é feita neste estudo, torna-se possível<br />

filtrar (ou purificar) o incremento de receitas da empresa, deixando somente o valor atribuível<br />

às ações de comunicações.<br />

5.2 Preparação para a purificação dos resultados<br />

A proposta de preparação para a purificação dos resultados surgiu em decorrência das<br />

observações feitas em entrevistas de validação da pesquisa. O grande desafio envolvido nessa<br />

etapa é o de se coletar e classificar os dados dos eventos (ou acontecimentos) que impactaram<br />

as vendas da empresa para que seja possível realizar tal avaliação. Sob esse aspecto, é<br />

importante que haja, na empresa, a auditoria de desempenho de marketing, conforme proposto<br />

por Clancy e Krieg (2008, p. 46), “a auditoria de desempenho de marketing está para o<br />

departamento de marketing da mesma forma que a auditoria financeira está para o<br />

departamento de contabilidade”. Ainda, segundo os autores, esta auditoria envolve uma<br />

análise abrangente do ambiente de marketing de uma empresa, seus objetivos, estratégias e<br />

atividades, identificando pontos fortes e fraquezas operacionais na área.<br />

Assim, conforme o desafio imposto a essa etapa, de tornar tangível a aplicação da<br />

purificação de resultados, na figura a seguir é demonstrado o processo que permite às<br />

empresas prepararem (organizarem) informações para a purificação de resultados:<br />

Organização dos<br />

Eventos que<br />

Impactaram<br />

Vendas<br />

• Seleção dos eventos<br />

externos que impactaram<br />

as vendas da empresa<br />

• Seleção dos eventos<br />

internos que impactaram<br />

as vendas da empresa<br />

Avaliação dos<br />

Eventos que<br />

Impactaram<br />

Vendas<br />

• Seleção do comitê para<br />

atribuir notas aos eventos<br />

• Atribuição de notas aos<br />

eventos que impactaram<br />

as vendas<br />

Figura 5: Preparação para a purificação de resultados<br />

Fonte: Elaborado pelo autor.<br />

Curva de<br />

aprendizagem da<br />

avaliação dos<br />

eventos e análises<br />

quantitativas<br />

• Organizar o histórico das<br />

avaliações dos eventos<br />

• Análise de correlação<br />

entre os eventos<br />

• Proposta de correlação<br />

entre os eventos e o<br />

impacto em vendas<br />

De acordo com a figura 5 entende-se que, primeiramente, deverá ocorrer a organização<br />

dos eventos que impactaram as vendas, tanto externos (políticos, econômicos, sociais,<br />

tecnológicos, concorrentes) como internos (mudança de estratégia da empresa, ações em<br />

produtos, preços, canais de distribuição). Em seguida, deverá ser eleito um comitê da alta<br />

administração da empresa e de especialistas do setor que sejam externos à empresa,<br />

principalmente para avaliar acontecimentos nas variáveis incontroláveis à empresa, tais como<br />

consultores, economistas e outras fontes qualificadas, por exemplo. Assim esse comitê<br />

realizará a avaliação dos eventos e o nível de impacto sobre as vendas em um determinado<br />

período. Após essa avaliação, deve-se ocorrer o acompanhamento por mais dois ou três anos<br />

nesse formato para poder estabelecer análises quantitativas, envolvendo a econometria. Por<br />

exemplo, identificar a correlação histórica dos eventos avaliados nos últimos três anos com as<br />

11


vendas da empresa, de acordo com a nota atribuída a cada um dos eventos. Ou seja, envolve<br />

um processo de aprendizagem, o que torna o método mais qualitativo e subjetivo no início,<br />

porém com o passar do tempo de sua aplicação, é possível diluir essa subjetividade e torná-lo<br />

quantitativo, conforme algumas das observações dos entrevistados.<br />

A integração com o departamento de planejamento estratégico é essencial para a<br />

preparação da purificação dos resultados, no sentido de identificar os eventos que impactaram<br />

as vendas com uma maior precisão. Dentre as possibilidades de se organizar os eventos que<br />

impactaram as vendas, neste artigo optou-se por explorar mais essa interface de marketing<br />

com a área de planejamento estratégico das organizações. Para tal, no fechamento de um<br />

determinado período desejado pela empresa para apurar seus resultados, normalmente anual,<br />

pode ser realizada em conjunto a análise de fatores internos e externos, tradicionalmente<br />

conhecida como análise SWOT (Strengths; Weaknesses; Opportunities; Threats), a qual está<br />

entre as formas mais populares de análise no processo de planejamento estratégico<br />

(WEIHRICH, 1982; DAVID, 1989; RUOCCO e PROCTOR, 1994; FAHY, 1999; WRIGHT,<br />

KROLL e PARNELL, 2000; BARNEY, 2001; GRANT, 2002; SCHRAEDER, 2002;<br />

NOVICEVIC et al., 2004).<br />

Essa análise relaciona os aspectos controláveis, de acordo com a classificação de<br />

determinado acontecimento interno em pontos fortes e pontos fracos. Já os acontecimentos<br />

externos, proveniente de variáveis incontroláveis, a classificação do evento deverá ser como<br />

oportunidade ou ameaça. Para melhor ilustrar essa análise, tem-se a representação na figura a<br />

seguir:<br />

Visão Descritiva dos Fatores<br />

Competitivos<br />

Figura 6: Representação da análise SWOT<br />

Fonte: Novicevic et al. (2004, p. 87) apud Rossi (2008).<br />

Controlável Incontrolável<br />

Visão Analítica dos Fatores Competitivos<br />

(Competitive Intelligence-<strong>Dr</strong>iven)<br />

Desejável Indesejável<br />

Oportunidades<br />

(O)<br />

Pontos Fortes<br />

(S)<br />

Ameaças<br />

(T)<br />

Pontos Fracos<br />

(W)<br />

Evidentemente, em um processo de planejamento estratégico a referida análise é<br />

elaborada para toda a empresa. No entanto, especificamente para a preparação de resultados,<br />

essa análise deverá ser direcionada ao departamento de marketing. A figura a seguir relaciona<br />

a análise SWOT e sua aplicabilidade nessa etapa do método e, em seguida, é ilustrada a escala<br />

de notas que deverão ser atribuídas relacionadas à evolução das vendas da empresa. O<br />

objetivo de se colocar essas escalas é o de uniformizar a avaliação qualitativa que há nesta<br />

etapa de análise, possibilitando minimizar o caráter subjetivo dessa análise, solucionando uma<br />

das objeções colocadas durante as entrevistas referentes à proposta inicial.<br />

12


Ambiente Externo<br />

Aspectos Interno<br />

Variável<br />

Político<br />

Econômica<br />

Social<br />

Tecnológica<br />

Concorrentes<br />

Variável<br />

Mudanças na<br />

Estratégia da empresa<br />

Produtos<br />

Preços<br />

Canais e Vendas<br />

Outro Fatores<br />

(Descrever)<br />

Eventos ocorridos no<br />

período analisado que<br />

causaram impacto às<br />

vendas<br />

Eventos ocorridos no<br />

período analisado que<br />

causaram impacto às<br />

vendas<br />

Classificação do<br />

Evento:<br />

Oportunidade ou<br />

Ameaça<br />

Classificação do<br />

Evento: Ponto<br />

forte ou Fraco<br />

Nota do<br />

Avaliador 1<br />

para cada<br />

evento<br />

Nota do<br />

Avaliador 1<br />

para cada<br />

evento<br />

Justificativas<br />

das Notas do<br />

Avaliador 1<br />

Justificativas<br />

das Notas do<br />

Avaliador 1<br />

Figura 7: Template de preparação para purificação de resultados<br />

Fonte: Elaborado pelo autor.<br />

Nota do<br />

Avaliador 2<br />

para cada<br />

evento<br />

Nota do<br />

Avaliador 2<br />

para cada<br />

evento<br />

Justificativas<br />

das Notas do<br />

Avaliador 2<br />

Justificativas<br />

das Notas do<br />

Avaliador 2<br />

Impcato do<br />

Evento sobre as<br />

Vendas (Nota<br />

média dos avaliadores<br />

para o evento)<br />

Impcato do<br />

Evento sobre as<br />

Vendas (Nota<br />

média dos avaliadores<br />

para o evento)<br />

Em cada grupo de acontecimentos externos e internos deve ser atribuída uma nota que<br />

representa o grau de influência sobre as vendas, de 1 a 10, conforme escalas detalhadas a<br />

seguir, as quais foram ajustadas e validadas durante as entrevistas:<br />

Escala de avaliação dos acontecimentos que contribuíram com as<br />

vendas<br />

Acontecimentos<br />

que contribuíram<br />

com as vendas<br />

Classificação do<br />

Nível do Impacto<br />

Acontecimentos<br />

que prejudicaram<br />

vendas<br />

Nota Variação das vendas Nota Variação das vendas<br />

Baixo 1 a 3 De 0,01% a 2,9% 1 a 3 De -0,01% a -2,9%<br />

Médio 4 a 7 De 3,0% a 9,9% 4 a 7 De -3,0% a -9,9%<br />

Alto 8 a 10 Acima de 10% 8 a 10 Menor de -10%<br />

Figura 8: Escala de avaliação dos eventos sobre as vendas<br />

Fonte: Elaborados pelo autor.<br />

Escala de avaliação dos acontecimentos que<br />

contribuíram com as vendas<br />

Porém, mesmo depois de validadas, considera-se que cada empresa deverá customizar<br />

a nota atribuída ao evento de acordo com a variação das vendas que sua alta administração<br />

considera baixa, média ou alta. Após a realização dessa preparação e de seu acompanhamento<br />

ao longo dos anos, com o objetivo de torná-la mais consistente e também quantitativa, os<br />

resultados devem ser finalmente purificados.<br />

5.3 Apuração do Índice de Purificação de Resultados<br />

De posse das notas médias por eventos (ou acontecimentos), internos e externos que<br />

impactaram as vendas, bem como a quantidade desses acontecimentos, é possível realizar os<br />

cálculos necessários para a purificação de resultados, o que resulta no percentual de impacto<br />

das atividades de comunicações sobre as vendas, expurgando-se as outras variáveis que<br />

também impactaram as vendas.<br />

A concepção da proposta do cálculo da purificação de resultados contempla<br />

primeiramente um quadro com informações obtidas de acordo com a escala de notas<br />

atribuídas a cada evento (acontecimento que impactou as vendas da empresa), que está<br />

relacionada com a variação das vendas da empresa no período analisado, conforme a figura<br />

seguinte. As informações desenvolvidas pela empresa na figura 7 deverão ser utilizadas para<br />

consolidar a quantidade de eventos avaliados que impactaram as vendas em cada variável<br />

interna e externa analisada.<br />

13


Assim, é possível se gerar a nota média por variável interna e externa avaliadas, de<br />

acordo com as notas atribuídas que foram colocadas pelos avaliadores na figura 7. Em<br />

seguida, com o cruzamento dessas informações, de acordo com a proposta de metodologia<br />

apresentada na figura abaixo, chega-se no grau de influência das ações de comunicações sobre<br />

as vendas para cada linha de produto, pois cada linha apresenta especificidades quanto aos<br />

impactos das outras variáveis sobre as vendas. A proposta já revisada e validada em<br />

entrevistas e no estudo de caso desse cálculo está apresentada na figura a seguir:<br />

Externo<br />

Interno<br />

Variável<br />

Linha de Produto:<br />

Premissas para cálculo da purificação de resultados<br />

Variação das vendas da empresa no período analidado<br />

Grau de Influência dos eventos sobre as vendas<br />

Nota mínima para cada evento nesta análise<br />

Nota máxima para cada evento nesta análise<br />

Quantidade de<br />

Eventos que<br />

Contribuíram com<br />

as vendas<br />

Nota Média do<br />

impacto dos<br />

eventos sobre<br />

as vendas<br />

Pontuação<br />

(Quantidade de<br />

eventos x Grau de<br />

Influência)<br />

3,50%<br />

Médio<br />

4<br />

7<br />

Quantidade de<br />

eventos que<br />

Prejudicaram as<br />

vendas<br />

Nota Média do<br />

impacto dos<br />

eventos sobre<br />

as vendas<br />

Pontuação<br />

(Quantidade de<br />

eventos x Grau de<br />

Influência)<br />

Político 1 6 6 1 5 5<br />

Econômica 1 7 7 0 0 0<br />

Social 1 5 5 1 4 4<br />

Tecnológica 2 6 12 1 7 7<br />

Concorrentes 2 4 8 1 5 5<br />

Mudanças na Estratégia<br />

da empresa<br />

0 0 0 0 0 0<br />

Produtos 1 5 5 0 0 0<br />

Preços 0 0 0 1 4 4<br />

Canais e Vendas 0 0 0 0 0 0<br />

Outro Fatores<br />

(Descrever)<br />

0 0 0 0 0 0<br />

Pontuação Total 43 25<br />

Pontuação total dos eventos que contribuíram com as<br />

a 43<br />

vendas<br />

b Pontuação total dos eventos que prejudicaram as vendas 25<br />

Pontuação dos eventos que impactaram as vendas<br />

c = a-b 18<br />

(líquida)<br />

d Número de Acontecimentos que contribuíram com as vendas 8<br />

e Nota máxima por evento<br />

7<br />

f = d.e Pontuação máxima que pode ser obtida na análise<br />

56<br />

g = c/f Grau de Influência dos Eventos sobre as Vendas<br />

32,14%<br />

Grau de Influência das Ações de Comunicações sobre as<br />

h = 1-g 67,86%<br />

Vendas<br />

Figura 9: Template para a Purificação de Resultados e Exemplo de preenchimento<br />

Fonte: Elaborado pelos autores.<br />

Dessa maneira, no caso é possível inferir que o grau de influência dos eventos internos<br />

e externos (com exceção das atividades de comunicação), que repercutiram no período<br />

analisado na empresa do estudo de caso é de 32,14%. Portanto, a diferença para que se chegue<br />

aos 100% será atribuída ao impacto que as ações de comunicações realizadas no período<br />

ocasionaram às vendas, expurgando-se as demais variáveis. Assim, 67,86% das vendas no<br />

período analisado foram impactadas pelas ações de comunicações realizadas. Assim, deve-se<br />

relacionar o grau de influência das ações de comunicações sobre as vendas com os<br />

indicadores que serão calculados na etapa seguinte e que necessitam que haja a entrada da<br />

informação das vendas atribuíveis somente ao programa de comunicação.<br />

5.4 Apuração do ROI em Comunicação com a utilização da Purificação dos Resultados<br />

A partir disso, o ROI em comunicação representa o retorno dos investimentos em<br />

ações de comunicações, em termos de vendas incrementais atribuíveis ao programa de<br />

comunicação deduzido dos custos variáveis da empresa e da despesa de comunicação,<br />

conforme adaptação da metodologia de cálculo proposta por Farris, et al (2007):<br />

14


ROI de<br />

Comunicação =<br />

(Incremento de Receita (R$) x<br />

Purificação de Resultados % x Contribuição %) -<br />

Investimento em Comunicação<br />

Investimento em Comunicação<br />

Figura 10: ROI de comunicação de marketing e purificação de resultados<br />

Fonte: Elaborado pelos autores.<br />

Metodologia de<br />

Apuração dos<br />

Resultados<br />

a<br />

b<br />

c = a.b<br />

d<br />

e<br />

A figura a seguir ilustra o cálculo do ROI total em comunicação no caso estudado:<br />

Variável Valores<br />

Incremento da Receita no<br />

Período<br />

Percentual de purificação<br />

de resultados<br />

Incremento da Receita no<br />

Período Atribuível ao<br />

Programa de Comunicação<br />

Margem de Contribuição<br />

da empresa no período<br />

analisado<br />

Investimento total em<br />

comunicação (R$)<br />

R$ 9.500.000<br />

67,86%<br />

R$ 6.446.429<br />

12%<br />

R$ 445.000<br />

f = (c.d) - e) / e ROI de Comunicação 74%<br />

Figura 11: Cálculo do ROI em comunicação de marketing após purificados os resultados<br />

Fonte: Elaborado pelo autor.<br />

Interpreta-se que 74% do que foi investido em comunicação retornou em termos de<br />

margens incrementais à empresa atribuídas somente às ações de comunicações, já deduzido<br />

do investimento em comunicação, havendo, portanto, a criação de valor já que o retorno<br />

excedeu 74% da verba investida, estando acima do custo de oportunidade de capital, que neste<br />

caso é de 13%, conforme já explicado no artigo.<br />

Interessante é notar que se não houvesse a purificação de resultados, ou seja, a busca<br />

do retorno que realmente foi atribuível somente aos esforços de comunicação, existiriam<br />

distorções na análise e o ROI teria sido mais positivo ainda. Por exemplo, se não fosse feita a<br />

purificação de resultados, o ROI para a situação apresentada seria de 156%, corroborando ao<br />

que foi explicado, considerando que o incremento de receita no item “c” seria de R$9.500.000<br />

ao invés de R$6.446.429. Ou seja, após a purificação de resultados foi demonstrado que o<br />

ROI não foi satisfatório, pois não superou 100% do investimento, conforme premissas<br />

abordadas no presente artigo e, também, o custo de oportunidade de capital da empresa.<br />

6- Conclusões, Limitações e Sugestões de Estudos Futuros<br />

Por meio de uma pesquisa exploratória e aplicada, interdisciplinar e com abordagem<br />

qualitativa, envolvendo entrevistas em profundidade e estudo de caso, foi atendido o objetivo<br />

geral, bem como os objetivos específicos propostos no presente artigo, a fim de solucionar o<br />

problema de pesquisa definido que foi o de “como é possível apurar o resultado em vendas<br />

atribuível somente aos investimentos no programa de comunicações integradas de marketing<br />

para utilizá-lo na apuração do ROI?”.<br />

Dado esse problema de pesquisa, houve o desafio de se elaborar a proposta teórica e<br />

aplicação em estudo de caso de um método e do respectivo conjunto de templates para<br />

realizar a purificação de resultados de comunicações, de maneira a utilizá-lo no cálculo do<br />

ROI das ações de comunicações de marketing de uma empresa. A partir dessas premissas, foi<br />

demonstrado na pesquisa que é possível, aos gestores de marketing, realizar a apuração do<br />

resultado em vendas das empresas atribuível somente aos investimentos em ações de<br />

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comunicações realizadas, isso por meio da aplicação dos templates validados e revisados em<br />

entrevistas em profundidade com especialistas das áreas de marketing, finanças e<br />

planejamento estratégico de empresas do setor de alimentação e, também, de agências de<br />

propaganda e marketing promocional.<br />

O resultado, portanto, é a obtenção do índice de purificação de resultados, ou seja, o<br />

percentual de impacto somente das ações de comunicações sobre as vendas da empresa em<br />

um determinado período, expurgando-se outras variáveis internas e externas que afetaram o<br />

resultado de vendas da empresa. Esse percentual é aplicado para os indicadores que utilizam a<br />

variável de vendas da empresa, como o ROI de comunicação, que demanda cálculo do<br />

incremento de receita atribuível somente ao programa de comunicação como uma das<br />

variáveis de sua metodologia de cálculo.<br />

Assim, essa metodologia para cálculo do ROI em comunicação oferece ao profissional<br />

de marketing mais consistência ao argumentar acerca de seu resultado. Caso não houvesse a<br />

purificação de resultados e fosse seguida a metodologia tradicional de ROI, o resultado que<br />

seria apresentado à empresa do estudo de caso seria de 156%, conforme já citado. Certamente<br />

a diretoria da empresa, ao observar esse resultado, o questionaria com o argumento de não se<br />

poder inferir que 156% do que foi investido em comunicação retornou à empresa somente<br />

devido a esses esforços (investimentos) em comunicações, pois diversos outros eventos<br />

(acontecimentos) internos e externos à empresa impactaram nas suas vendas. Agora, quando é<br />

apresentado o resultado de 74%, segundo o exemplo, considerando a purificação de<br />

resultados, as justificativas tornam-se mais consistentes e, portanto, as análises decorrentes<br />

também.<br />

Dentre as limitações inerentes a toda pesquisa acadêmica, deve-se considerar que as<br />

variáveis propostas não foram testadas estatisticamente e não foi elaborado um modelo<br />

econométrico a partir do estudo de caso, pois conforme já abordado, deverá ocorrer após no<br />

mínimo dois anos após sua aplicação na empresa, o que gera a oportunidade de estudos<br />

futuros na área. Além disso, como o estudo sobre o ROI de marketing ainda necessita de<br />

avanços, principalmente por ser uma abordagem recente na área, foi optado por uma<br />

abordagem qualitativa de pesquisa neste artigo, para aproximar o meio acadêmico do<br />

empresarial quanto à aplicação do ROI, apresentando limitações inerentes aos estudos com<br />

essa abordagem. Porém, a pesquisa representa um avanço para em estudo sobre o tema e<br />

apuração do retorno sobre os investimentos em comunicações de marketing, principalmente<br />

ao buscar ao máximo demonstrar como cada etapa do método deve ser cumprida, com<br />

embasamento de uma ampla e relevante revisão teórica sobre métricas em marketing e das<br />

entrevistas e estudo de caso realizado para a presente pesquisa,<br />

Dentre os possíveis estudos futuros, recomenda-se que sejam realizados outros testes<br />

de aplicações desse conjunto de templates para incrementá-lo e, também, acompanhar sua<br />

aplicação nas empresas para a proposta de um modelo econométrico que tornará ainda mais<br />

consistente a apuração do percentual de purificação dos resultados e cálculo do ROI.<br />

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