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Disciplina: Cálculo Diferencial e Integral II - UFPB Virtual

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<strong>Disciplina</strong>: <strong>Cálculo</strong> <strong>Diferencial</strong> e <strong>Integral</strong> <strong>II</strong><br />

Professor: Eduardo Gonçalves dos Santos<br />

Curso de Licenciatura em Matemática – <strong>UFPB</strong>VIRTUAL<br />

eduardo@mat.ufpb.br<br />

Ambiente <strong>Virtual</strong> de Aprendizagem: Moodle www.ead.ufpb.br<br />

Site da <strong>UFPB</strong>VIRTUAL www.virtual.ufpb.br<br />

Site do curso www.mat.ufpb.br/ead<br />

Telefone <strong>UFPB</strong>VIRTUAL (83) 3216 7257<br />

Carga horária: 60 horas Créditos: 04<br />

Ementa<br />

Descrição<br />

Derivadas e Integrais.<br />

Esta disciplina consiste de uma continuação do estudo das derivadas iniciado no curso de <strong>Cálculo</strong><br />

<strong>Diferencial</strong> e <strong>Integral</strong> I, bem como de uma apresentação ao conceito de integral. O programa da disciplina está<br />

dividido em cinco unidades. Na primeira ampliaremos o nosso leque de regras de derivação, através de um<br />

aprofundamento no estudo da regra da cadeia que possibilitará a derivação de funções compostas, bem como de<br />

funções dadas na forma implícita e de funções inversas. A segunda unidade aborda algumas aplicações da<br />

derivada, destacando-se aí aquelas relativas ao estudo do comportamento de uma função no que se refere a<br />

máximos, mínimos, crescimento, decrescimento e concavidades. A terceira unidade introduz os conceitos de<br />

integral definida e primitiva, relacionando-os através do chamado Teorema Fundamental do <strong>Cálculo</strong>. A quarta<br />

unidade faz um estudo sobre algumas técnicas para a determinação de primitivas. Na quinta unidade serão dadas<br />

algumas aplicações geométricas da integral definida, como o cálculo de áreas, volumes e comprimentos de arcos.<br />

Também durante a quarta unidade será feito um rápido estudo sobre o sistema de coordenadas polares.<br />

As idéias presentes neste curso são bastante antigas e sobre elas vários homens de ciência dedicaram boa<br />

parte de suas carreiras nos mais variados períodos da história da humanidade. Dentre eles, podemos citar<br />

Arquimedes de Siracusa, Isaac Newton, Gottfried Leibniz, Pierre Fermat, Augustin Cauchy, Joseph-Louis<br />

Lagrange, Julius Dedekind, Bernhard Riemann e Karl Weierstrass.<br />

Esse ramo da Matemática, conhecido em um contexto mais avançado como Análise Matemática,<br />

despertou paixões, causou crises e, logicamente, promoveu o avanço do conhecimento humano. O seu estudo,<br />

além de enriquecedor no sentido da aquisição pura e simples do conhecimento, é útil e importante na formação<br />

do futuro professor uma vez que proporciona uma forte ligação entre conceitos de aspectos puramente teóricos a<br />

situações das mais variadas naturezas.<br />

Objetivos<br />

Ao final do curso, espera-se que o aluno esteja habilitado a:<br />

Compreender o funcionamento da regra da cadeia e utilizá-la no cálculo de derivadas de funções<br />

dadas tanto na forma explícita quanto na forma implícita.<br />

Compreender a interpretação dada à derivada de uma função como sendo uma velocidade e utilizá-la<br />

na resolução de diversos problemas.<br />

Estudar o comportamento de uma função no que diz respeito a pontos extremos, concavidade e<br />

comportamento no infinito.<br />

Esboçar com rigor o gráfico das principais funções.<br />

Compreender o significado da integral definida e relacioná-lo com o conceito de primitiva.<br />

65


Utilizar a integral definida para calcular áreas, volumes e comprimentos de arco em alguns casos.<br />

Ler, interpretar e comunicar idéias matemáticas.<br />

Unidades Temáticas Integradas<br />

Unidade I Regras de Derivação<br />

• Derivada da função composta<br />

• Derivada de funções dadas na forma implícita<br />

• Derivada da função inversa<br />

• Derivadas de algumas funções inversas<br />

Unidade <strong>II</strong> Interpretando e Utilizando a Derivada<br />

• Taxas de variação<br />

• Crescimento e decrescimento<br />

• Máximos e mínimos locais<br />

• Máximos e mínimos globais<br />

• Concavidade e pontos de inflexão<br />

• Esboço de gráficos<br />

• O Teorema do valor médio<br />

Unidade <strong>II</strong>I <strong>Integral</strong> Definida e Primitivas<br />

• Motivação inicial: o problema da área<br />

• <strong>Integral</strong> definida: definição e propriedades<br />

• Primitivas<br />

• O teorema fundamental do cálculo<br />

Unidade IV Algumas Técnicas para se Encontrar Primitivas<br />

• Integração por substituição<br />

• Integração por partes<br />

• Substituições trigonométricas<br />

• O método das frações parciais<br />

Unidade V Aplicações Geométricas da <strong>Integral</strong> Definida<br />

• <strong>Cálculo</strong> de áreas<br />

• O sistema de coordenadas polares<br />

• Comprimentos de arcos<br />

• Volumes de sólidos de revolução<br />

66


Unidade I: Regras de Derivação<br />

1. - Situando a Temática<br />

No curso de <strong>Cálculo</strong> <strong>Diferencial</strong> e <strong>Integral</strong> I tivemos a oportunidade de definir e interpretar<br />

geometricamente um objeto bastante importante na matemática que é a derivada de uma função. Vimos que para<br />

obtê-la existem algumas regras que evitam o uso da definição e tornam seu cálculo bastante simplificado. Nesta<br />

unidade ampliaremos o estudo da Regra da Cadeia o que nos permitirá derivar uma quantidade considerável de<br />

funções.<br />

Além disso, utilizaremos a referida regra para obter a derivada de funções dadas na forma implícita e a<br />

derivada da inversa de algumas funções.<br />

2. - Problematizando a Temática<br />

As primeiras regras de derivação que foram estudadas em <strong>Cálculo</strong> <strong>Diferencial</strong> e <strong>Integral</strong> I não eram<br />

suficientes para derivar uma quantidade importante de funções como determinados tipos de funções compostas.<br />

Para tratar desse problema, tornou-se necessária a introdução de uma nova regra, conhecida como Regra da<br />

Cadeia. Aqui vamos explorar este tema de uma forma mais profunda.<br />

3. - Conhecendo a Temática<br />

3.1. - Derivada da Função Composta<br />

No curso de Matemática para o Ensino Básico <strong>II</strong> tomamos contato com uma situação que permitia obter<br />

uma nova função a partir de duas outras. Mais especificamente, dadas f : A→Be g : B→ C funções,<br />

definimos a função h: A C<br />

h x = g f x . A função h é chamada de função composta de<br />

( )<br />

→ pela fórmula ( ) ( )<br />

g e f e denotada por g f.<br />

Estamos interessados aqui em obter uma fórmula que forneça a derivada da função<br />

h a partir das derivadas de f e g . Com esse objetivo em mente vamos analisar o seguinte exemplo:<br />

h x = 2x+ 3 e vamos tentar obter sua derivada. O nosso impulso<br />

inicial é desenvolver o quadrado do binômio. Fazendo isso ficamos com:<br />

Exemplo 3.1.1. Considere a função ( ) ( ) 2<br />

( )<br />

h x = x + x+<br />

Agora usamos a regra de derivação de polinômios e vemos que:<br />

( )<br />

2<br />

4 12 9.<br />

h'x = 8x+ 12.<br />

Aqui há algo que simplificou bastante essa tarefa: o expoente do binômio é pequeno, o que permitiu que nós o<br />

desenvolvêssemos. Se o expoente fosse, por exemplo, 20, tal desenvolvimento, apesar de possível, seria bastante<br />

laborioso e o cálculo da derivada tornar-se-ia bastante penoso. Imagine o caso em que o expoente é 100.<br />

A situação discutida no Exemplo 3.1.1. nos mostra ser necessário o conhecimento de uma nova regra de<br />

derivação que permita derivar funções como aquela que lá foi discutida. Essa nova regra será chamada Regra da<br />

Cadeia pelo fato de que as derivadas serão executadas como num processo em cadeia, em seqüência. Vamos<br />

revisitar o Exemplo 3.1.1. a fim de que possamos ter uma pista acerca do funcionamento da dita regra.<br />

Exemplo 3.1.1 (Revisitado). Em primeiro lugar vamos encarar h como uma função composta. De fato, se<br />

2<br />

fizermos g ( x) = x e f ( x) = 2x+ 3 então vemos que h( x) = g( f ( x)<br />

). Agora perceba que:<br />

( ) ( )<br />

h' x = 8x+ 12= 2× 2x+ 3 ×<br />

2.<br />

67


( ) ( )<br />

Mas veja que g '( x) = 2x,<br />

f '( x ) = 2 e g' f ( x) = 2× 2x+ 3 . Portanto olhando para a expressão de<br />

h'( x ) obtida antes vemos que:<br />

h'( x) = g'( f ( x) ) × f ' ( x)<br />

.<br />

A conclusão obtida na nova visita que fizemos ao Exemplo 3.1.1. nos dá uma pista sobre o aspecto da Regra da<br />

Cadeia. Ela sugere que a derivada da função composta é obtida multiplicando as derivadas das funções<br />

envolvidas, mas com uma ressalva: nesse produto a derivada da função g está calculada no ponto f ( x ) . Em<br />

termos mais precisos podemos enunciá-la assim.<br />

( )<br />

Regra da Cadeia: Se h( x) g f ( x)<br />

= e f e g são funções deriváveis então<br />

( ) ( )<br />

( ) ( )<br />

h' x = g' f x × f ' x .<br />

A demonstração da Regra da Cadeia ficará postergada para o curso de Introdução à Análise. Aqui vamos<br />

explorar o seu poder para derivar funções mais complexas. Veremos agora diversos exemplos.<br />

Exemplo 3.1.2. Calcule a derivada das seguintes funções:<br />

a. ( ) ( ) 2008<br />

h x = 2x+ 3 b. h( x)<br />

2 ⎛3x+ 4x⎞<br />

= ⎜ 2 ⎟<br />

⎝ 2x+ 1 ⎠<br />

5<br />

( ),<br />

c. h( x)<br />

68<br />

⎛ 2x+ 1⎞<br />

= ⎜ ⎟<br />

⎝5x+ 3⎠<br />

−2<br />

h x = 3x + 5x + 6x<br />

d. ( ) 3 2<br />

2008<br />

Vejamos a letra (a). Temos que h( x) = g f ( x)<br />

onde f ( x) = 2x+ 3 e g( x) = x . Como ( )<br />

2007<br />

g'( x) = 2008 x , segue pela regra da cadeia que:<br />

2007 2007<br />

h'( x) = 2008( 2x+ 3) × 2 = 4016( 2x+ 3 ) .<br />

f ' x = 2e<br />

Vejamos a letra (b). Aqui vamos precisar lembrar a regra de derivação do quociente. Em primeiro lugar temos<br />

2<br />

3x+ 4x<br />

h( x) = g( f ( x)<br />

), onde f ( x)<br />

= 2<br />

2x1 g x = x . Note que:<br />

g ' x = 5 x .<br />

e que ( ) 4<br />

( )<br />

f ' x<br />

Assim, pela regra da cadeia, podemos dizer que:<br />

+ e ( ) 5<br />

( 2 + 1)( 6 + 4) − ( 3 + 4 )( 4 ) 6 + 4−8 2 ( 2x + 1) 2 ( 2x + 1)<br />

x x x x x x x<br />

= =<br />

2 2 2<br />

( )<br />

2 2<br />

( x +<br />

4<br />

x) ( x+ − x )<br />

( )<br />

⎛3x + 4x⎞ 6x+ 4−8x 53 4 6 4 8<br />

h'( x)<br />

= 5⎜<br />

⎟<br />

=<br />

⎝ ⎠ + +<br />

2<br />

4<br />

2<br />

2 2<br />

2<br />

2 6<br />

2x+ 1 2 2<br />

2x 1 2x 1<br />

Passemos à letra (c). Temos que h( x) = g f ( x)<br />

onde f ( x)<br />

( )<br />

f ' x<br />

( x+ ) − ( x+<br />

)<br />

( 5x+ 3) ( 5x+ 3)<br />

25 3 52 1 1<br />

= =<br />

2 2<br />

( ),<br />

2x+ 1<br />

=<br />

5x3 g'x −2<br />

= . Portanto<br />

x<br />

e que ( ) 3<br />

+ e ( ) −2<br />

g x x .<br />

.<br />

= Agora note que


Finalmente, vejamos a letra (d). Note que ( ) ( )<br />

Como g'( x)<br />

=<br />

1<br />

e f '( x) 2<br />

9x 10x 6<br />

69<br />

25 ( x + 3)<br />

( )<br />

2 1<br />

h'( x)<br />

=− × =−<br />

3 2<br />

⎛ 2x+ 1⎞ ( 5x+ 3) ⎜ ⎟<br />

⎝5x+ 3⎠<br />

3<br />

2x+ 1<br />

.<br />

h x = g( f x ), onde g ( x) =<br />

3 2<br />

xe<br />

f ( x) = 3x + 5x + 6x.<br />

= + + , temos que<br />

2 x<br />

2<br />

1 2<br />

9x + 10x+ 6<br />

h'( x) = × ( 9x + 10x+ 6)<br />

=<br />

.<br />

2 2 2 2<br />

2 3x+ 5x + 6x 2 3x + 5x + 6x<br />

Exemplo 3.1.3. Na tabela abaixo, são dadas informações sobre as funções f e g :<br />

x f ( x )<br />

f '(<br />

x )<br />

g ( x )<br />

g '(<br />

x )<br />

-1 2 3 2 -3<br />

2 0 4 1 -5<br />

( )<br />

= . Observe que, pela regra da cadeia, temos que<br />

Vamos determinar o valor de h '( − 1)<br />

, onde h( x) f g( x)<br />

h'( x) = f '( g( x) ) × g' ( x)<br />

, ou seja, quando fizermos 1,<br />

h'( 1) f '( g( 1) ) g'( 1) f '( 2) g'(<br />

1) 4 ( 3) 12<br />

e'( − 1)<br />

, onde e( x) = g( f ( x)<br />

). Com efeito, pela regra da cadeia, temos que ( ) ( )<br />

seja, e'( − 1) = g' f ( − 1) × f ' − 1 = − 5 × 3=− 15.<br />

x = − vamos obter<br />

− = − × − = × − = × − =− . De forma análoga, podemos calcular<br />

( ) ( ) ( )<br />

Exemplo 3.1.4. Calcule a derivada das seguintes funções:<br />

2<br />

= ( ( ) ) b. g( x) = cos ln ( x + 1)<br />

a. f ( x) sen cos tg( x)<br />

( )<br />

( ) ( )<br />

e' x = g' f x × f ' x , ou<br />

Observe que nesses dois exemplos há uma composição de mais de duas funções. Nesse caso, como em outros<br />

desse tipo, usamos uma interpretação muito útil e que simplifica bastante o uso da Regra da Cadeia. Se<br />

observarmos, em todos os exemplos até agora vistos, a regra da cadeia funciona assim:<br />

Começamos derivando a função mais externa, sem mexer naquela que está “dentro” dela e multiplicamos essa<br />

derivada pela derivada daquela que está “dentro”. Enquanto houver funções “dentro”, continuamos derivando,<br />

até chegarmos à variável independente.<br />

Vamos ver como funciona isso nesse caso. A função mais externa é o seno, em seguida vem o co-seno e por<br />

último vem a tangente. Seguindo a interpretação dada, primeiro derivamos o seno, sem mexer no que está dentro<br />

dele. Fazendo isso, obtemos cos( cos( tg ( x ) ) ) . Em seguida, multiplicamos essa derivada pela derivada da<br />

próxima função, sem derivar quem está dentro dela. Fazendo isso, obtemos<br />

cos cos tg x × − sen tg x . Finalmente, derivamos a última função e obtemos:<br />

( ( ( ) ) ) ( )<br />

( ( ) )<br />

2 2<br />

( ( ) ) ( ( ( ) ) ) ( ) ( ( ( ) ) ) ( ( ) ) ( )<br />

( ) ( )<br />

f ' x = cos cos tg x × − sen tg x × sec x =− cos cos tg x sen tg x sec x .<br />

Vejamos agora a letra (b). A função mais externa é o co-seno, seguida do logaritmo e por último a função<br />

quadrática. Repetindo o argumento anterior, ficamos com:


70<br />

2 ( ( ) )<br />

2 1 − 2xsen ln x + 1<br />

g'( x) =− sen( ln( x + 1) ) × × 2 x=<br />

.<br />

2 2<br />

x + 1 x + 1<br />

Ampliando o seu Conhecimento<br />

Leia com atenção os exemplos acima. Não deixe de compreender nenhuma passagem. Na plataforma<br />

MOODLE vamos disponibilizar mais exemplos resolvidos para que você fique bastante familiarizado<br />

com a regra da cadeia. Não deixe de visitar o nosso ambiente virtual.<br />

3.2. - Derivadas de funções dadas na forma implícita<br />

Na linguagem quotidiana a palavra implícita diz respeito a algo que não está dito de modo claro,<br />

evidente. Em matemática o significado é bastante semelhante. Para entendermos isso basta olharmos para as<br />

funções com as quais temos lidado até agora. Quando dizemos seja y = f ( x)<br />

uma função de x, fica claro,<br />

explícito a maneira de associar um único y para cada x atribuído. Entretanto, nem sempre as coisas acontecem<br />

assim. Em determinados contextos, nos é dada uma expressão envolvendo x e y e pergunta-se: em que condições<br />

essa expressão nos permite explicitar y como função de x, ou o contrário? A resposta não é simples e não<br />

trataremos desta questão aqui. O nosso principal interesse é o seguinte: Dada uma expressão envolvendo x e y, e<br />

supondo que essa expressão nos permita explicitar y como função de x, como fazer para encontrar a derivada de<br />

y com relação a x? Antes de prosseguirmos, convém adotarmos uma notação. Nesta seção a derivada de y com<br />

relação a x será denotada por y’. Vejamos através de alguns exemplos, como proceder para atingirmos nosso<br />

objetivo.<br />

Exemplo 3.2.1. Vamos olhar para a expressão xy = 1 cujo<br />

gráfico no plano cartesiano é uma curva chamada hipérbole que<br />

está desenhada ao lado. Observe que, neste caso, a expressão<br />

tanto fornece y como função de x como o contrário. Se<br />

quiséssemos encontrar y’ poderíamos proceder de duas maneiras.<br />

A primeira é expressar diretamente y como função de x usando a<br />

equação, o que resulta em:<br />

1<br />

y = ,<br />

x<br />

que, quando derivada, nos fornece<br />

1<br />

y ' =− .<br />

2<br />

x<br />

A segunda será aquela que nós utilizaremos com mais freqüência. Derivamos diretamente a expressão, sempre<br />

lembrando que é possível explicitar y como função de x. Fazendo isso, teremos:<br />

( ) '<br />

xy = 0 ,<br />

uma vez que a derivada da função constante é zero. Usando a regra do produto, ficaremos com:<br />

x'y+ xy'=<br />

0.<br />

como a derivada de x com relação a x é 1, temos que essa última igualdade toma o seguinte aspecto:<br />

y+ xy'=<br />

0,<br />

ou ainda,<br />

' .<br />

y −<br />

y =<br />

x


Notemos que se substituirmos y por 1 ,<br />

x obteremos nessa última expressão 2<br />

x<br />

71<br />

1<br />

y ' = − , ou seja, o mesmo que<br />

encontramos anteriormente. Agora um comentário sobre este exemplo: ele é muito especial, pois a expressão nos<br />

permite tirar y como função de x e o contrário. Agora vamos ver um exemplo onde não podemos fazer isso.<br />

4 3<br />

Exemplo 3.2.2. Supondo que a expressão xy− 3xy= 60defina<br />

implicitamente y como função de x, vamos<br />

encontrar y’. Usando a regra do produto e a regra da cadeia para derivar ambos os membros da igualdade com<br />

relação a x, ficaremos com:<br />

Agora isolando y’ ficamos com<br />

( )<br />

3 3 2 4<br />

4xy 3yyx ' 3 y xy'<br />

0<br />

+ − + = .<br />

3 3<br />

3y−4xy y ' =<br />

.<br />

2 4<br />

3yx − 3x<br />

Perceba uma diferença entre este exemplo e o anterior. No primeiro, y’ ficou apenas em função de x, enquanto<br />

que no segundo, y’ ficou em função tanto de y como de x. Isso aconteceu porque no primeiro exemplo pudemos<br />

explicitar y como função de x, enquanto que no segundo isso não foi possível.<br />

Lembre que, no curso de <strong>Cálculo</strong> <strong>Diferencial</strong> e <strong>Integral</strong> I, foi visto que a derivada de uma função f no ponto<br />

( a, f ( a ) ) é o coeficiente angular da reta tangente ao gráfico daquela função naquele ponto. Portanto, quando<br />

calculamos a derivada y’ de uma função definida implicitamente por uma expressão envolvendo x e y o que<br />

estamos encontrando é o coeficiente angular da reta tangente àquela curva - já que no plano cartesiano a<br />

expressão é representada por uma curva - num dado ponto. Vamos ver dois exemplos sobre isso.<br />

Exemplo 3.2.3. Usando a técnica da derivação implícita, vamos<br />

encontrar a equação da reta tangente ao gráfico da curva<br />

3 3<br />

x y 6xy<br />

3,3 . Ao lado está mostrado o esboço<br />

+ = no ponto ( )<br />

de um pedaço dessa curva, conhecida como Fólium de Descartes.<br />

Observe que para encontrarmos a equação da reta pedida,<br />

devemos primeiro encontrar o seu coeficiente angular que será<br />

dado por y’, calculado em ( 3,3 ) . Derivando a equação da curva<br />

com respeito a x, ficamos com:<br />

2 2<br />

3x+ 3y y'= 6 y+ xy'<br />

.<br />

Isolando o termo y’, ficaremos com:<br />

( )<br />

2 2<br />

6y−3x2y−x y ' = = ,<br />

2 2<br />

3y−6xy−2x Agora fazendo x=3 e y=3, encontraremos y '= −1. Portanto, a equação da reta tangente ao Fólium de Descartes<br />

no ponto ( 3,3 ) será dada por:<br />

y − 3<br />

= −1,<br />

x − 3<br />

ou seja, y − 3= 3 −x, ou ainda, x+ y = 6. Veja que na figura acima a reta possui coeficiente angular negativo, o<br />

que se confirma no coeficiente por nós encontrado.


2 2<br />

Exemplo 3.2.4. Vamos determinar os pontos da curva x − xy+ y = 3, onde a reta tangente é horizontal. A<br />

curva dada representa uma elipse com eixos não paralelos aos eixos cartesianos. Para encontrarmos os pontos<br />

pedidos, devemos derivar a equação implicitamente com relação a x e encontrarmos os pontos onde y '= 0.<br />

Fazendo isso, obtemos:<br />

Isolando y ', ficamos com:<br />

3.3. - Derivada da função inversa<br />

( )<br />

2x− y + xy ' + 2yy '= 0.<br />

y−2x y ' =<br />

2y−<br />

x<br />

.<br />

Nos pontos que queremos determinar vale y '= 0.<br />

Portanto,<br />

y = 2x.<br />

Substituindo na equação da curva, teremos:<br />

Ampliando o seu Conhecimento<br />

A regra da cadeia vista anteriormente nos serve para encontrar a derivada da inversa de uma função.<br />

Vamos recordar a seguinte definição<br />

Uma função f : A→Bé dita invertível se existir uma outra função g : B A<br />

para todo x A<br />

( ) ,<br />

f g x = x para todo x ∈ B.<br />

∈ e ( )<br />

72<br />

( ) = ,<br />

→ de modo que ( )<br />

g f x x<br />

Em termos mais concretos, a função f é invertível, se existir uma outra função g que desfaça o que ela<br />

faz. Perceba que se f é invertível então a g que desfaz o que ela faz também é invertível, pois f desfaz o que g<br />

faz! Chamamos a função g de inversa da função f. Pela discussão precedente, a função f será chamada de inversa<br />

da função g.<br />

Exemplo 3.3.1. A função f : R R<br />

( ( ) ) ,<br />

g f x = x para todo x R<br />

x<br />

2<br />

2 ( 2x)<br />

+ ( 2 ) = 3,<br />

− x x<br />

ou seja, 3 3<br />

2 2<br />

x = o que nos fornece x = 1 e, portanto, x = 1 ou<br />

x = −1.<br />

Assim, substituindo em y = 2x,<br />

ficaremos com dois<br />

valores, y = 2 ou y = −2<br />

e daí os pontos serão ( 1 , 2)<br />

e ( − 1, −2)<br />

.<br />

Veja a figura ao lado.<br />

Existe um critério bastante interessante que nos permite dizer se uma dada expressão da forma<br />

F( x, y ) = 0 define y como função de x ou o contrário. Esse resultado é conhecido como Teorema<br />

da Função Implícita e é um dos principais resultados da disciplina chamada Análise Matemática.<br />

→<br />

3<br />

dada por f ( x) = x é invertível, pois a função ( )<br />

∈ e f g( x) = x para todo x ∈ R .<br />

( ) ,<br />

1<br />

3<br />

g x = x satisfaz


Nosso interesse agora é obter uma fórmula para o cálculo da derivada da função inversa. Seja então<br />

f : A→ B uma função invertível, onde A e B são subconjuntos de R..Derivando a igualdade<br />

( ( ) ) ,<br />

f g x = x ficaremos com<br />

( f ( g( x ) ) ) ' = 1,<br />

Usando a Regra da Cadeia, esta igualdade transforma-se em:<br />

ou seja, g ( x)<br />

fato:<br />

( ( ) )<br />

( ( ) ) ( )<br />

f ' g x × g' x = 1,<br />

1<br />

' = . para todo x onde essa fração fizer sentido. Podemos então enunciar o seguinte<br />

f ' g x<br />

Fórmula para a derivada da função inversa:<br />

Se f : A→ B é uma função invertível, onde A e B são subconjuntos de R e g : B→ A é a sua inversa, então<br />

1<br />

g' ( x)<br />

= .<br />

f ' g x<br />

onde essa fração fizer sentido<br />

Vamos discutir alguns exemplos.<br />

73<br />

( ( ) )<br />

f x = 2x + 5x+ 3.<br />

Podemos mostrar que f é invertível. Não faremos isso<br />

Exemplo 3.3.2. Considere a função ( ) 3<br />

aqui. Vamos explorar outro aspecto. Chamando a inversa de f de g, podemos calcular g '3. ( ) Usando a fórmula<br />

para a derivada da função inversa, temos que:<br />

g '3 ( ) = .<br />

f '( g(<br />

3)<br />

)<br />

2<br />

Sabemos que f '( x) = 6x + 5, mas não conhecemos o valor de g ( 3. ) Mas veja que se fizermos g ( 3)<br />

= a e<br />

levarmos em conta que g é a inversa de f, teremos que f ( a ) = 3. Como o único número cujo f é 3 é 0, segue que<br />

a=0. Portanto, usando a fórmula anterior, temos<br />

g '3 ( ) =<br />

f '<br />

1<br />

g 3<br />

=<br />

1<br />

f '0<br />

1 1<br />

= = .<br />

6× 0+ 5 5<br />

( ( ) ) ( ) 2<br />

3 3<br />

Exemplo 3.3.3. Considere a função f ( x) = x + 2 . Observe que a função inversa de f é g( x) = x−<br />

2 .<br />

Vamos calcular g '10 ( ) de duas maneiras: primeiro derivando g diretamente e segundo utilizando a fórmula<br />

para a derivada da função inversa. Derivando g, obtemos:<br />

( ) ( ) 2 − 1<br />

g' x = x−<br />

2 3 .<br />

3<br />

Portanto, ( ) ( ) 2 − 1 1<br />

g '10= 8 3 = . Agora vamos obter esse mesmo resultado usando a fórmula para a derivada<br />

3 12<br />

da função inversa. A dita fórmula nos diz que<br />

1<br />

g '10 ( ) = .<br />

f ' g 10<br />

2<br />

Observe que f '( x) = 3x<br />

e g ( 10) = 2 , portanto g ( )<br />

1<br />

( ( ) )<br />

1 1 1<br />

'10 = = = . 2<br />

f '2 3× 2 12<br />

( )


3.4. - Derivadas de algumas funções inversas<br />

Vamos utilizar os conhecimentos adquiridos nos parágrafos anteriores para obtermos a derivada de<br />

algumas funções inversas muito importantes.<br />

3.4.1. - Função Logarítmica<br />

x<br />

A função logarítmica é a inversa da função exponencial. Mais precisamente, seja f ( x) = e a função<br />

exponencial de base e. A inversa de f é a função g ( x) = ln ( x)<br />

. Sabemos do curso de <strong>Cálculo</strong> I que a derivada<br />

x<br />

de f é dada por f '(<br />

x) = e . Usando a fórmula para a derivada da inversa temos que<br />

( )<br />

g'x 1 1 1<br />

= = = , ou seja,<br />

f ' g x e x<br />

( ( x)<br />

)<br />

ln(<br />

x)<br />

( ( ) )<br />

' 1<br />

ln = , para todo x > 0.<br />

x<br />

Exemplo 3.4.1.1. Calcule a derivada das seguintes funções:<br />

2<br />

x<br />

= + b. f ( x) = ln ( 1+<br />

e )<br />

2<br />

a. f ( x) ln ( x 1)<br />

( ),<br />

2<br />

Observe que, na letra (a), f ( x) = m n( x)<br />

onde m( x) = ln ( x)<br />

e n( x) x 1.<br />

Cadeia, ficaremos com:<br />

( ) ( )<br />

No caso da letra (b), a função mais externa é ln ( ) .<br />

74<br />

= + Assim, usando a Regra da<br />

f ' x<br />

1 2x<br />

= m'( n x ) × n'( x) = × 2x=<br />

2 2<br />

x + 1 x + 1<br />

.<br />

x Vamos derivá-la, sem mexer no que está dentro dela, que no<br />

2<br />

x<br />

1<br />

nosso caso é 1+<br />

e . Feito isso obtemos . Em seguida, multiplicamos esse resultado pela derivada da<br />

2<br />

x<br />

1+<br />

e<br />

função que estava dentro. Só que essa também possui uma dentro de si. Assim, repetimos o mesmo processo de<br />

1<br />

2<br />

x<br />

antes. Quando fizermos esse produto ficaremos com e 2<br />

x<br />

1 e × . Agora multiplicamos esse resultado pela<br />

+<br />

x<br />

2<br />

derivada da função que estava dentro de 1+<br />

e que era x . Feito isso ficaremos com:<br />

2<br />

x<br />

1 2<br />

x 2xe<br />

f '( x) = × e × 2 x=<br />

.<br />

2 2<br />

x x<br />

1+ e 1+<br />

e<br />

3.4.2. - Função arco seno<br />

A função f ( x) = sen( x)<br />

possui como domínio o conjunto dos números reais, conforme aprendemos<br />

no curso de Matemática para o ensino básico <strong>II</strong>, e imagem o intervalo fechado [ − 1,1 ] . Entretanto ela não é<br />

invertível pelo fato de não ser injetora. Esse impedimento será contornado agora a fim de possibilitar que esta<br />

função, bem como as outras funções trigonométricas, possua<br />

inversa. O nosso procedimento aqui parecerá arbitrário e até<br />

mesmo artificial numa primeira olhada, mas, em alguns<br />

casos, os fins justificam os meios. A nossa estratégia será<br />

diminuir o domínio da função f a fim de que, neste novo<br />

domínio, ela passe a ser invertível. Observe o gráfico ao lado:


⎡ π π ⎤<br />

Vamos tomar a função seno definida apenas no intervalo fechado<br />

⎢<br />

− ,<br />

2 2⎥<br />

⎡ π π ⎤<br />

Agora definiremos uma função g : [ −1,1 ] →<br />

⎢<br />

− ,<br />

⎣ 2 2⎥<br />

da seguinte maneira:<br />

⎦<br />

Dado x ∈− [ 1,1 ] , ( )<br />

⎡ π π ⎤<br />

g x é definido como o único y ∈<br />

⎢<br />

− ,<br />

⎣ 2 2⎥<br />

⎦<br />

75<br />

⎣ ⎦ e tomando valores em [ 1,1]<br />

sen y x<br />

tal que ( ) . =<br />

− .<br />

Perceba algo de muito interessante com a função g: a sua definição foi construída de propósito, para que<br />

ela fosse a inversa de f. A função g definida acima será chamada de função arco seno e representada assim<br />

g ( x) = arcsen( x).<br />

Antes de passarmos para o cálculo da derivada da função arco seno, vamos ver um<br />

exemplo.<br />

⎡ π π ⎤<br />

arcsen . Quem é ele? É o único y ∈<br />

⎢<br />

− ,<br />

⎣ 2 2⎥<br />

⎦<br />

⎡ π π ⎤<br />

arcsen 1. Ele é o único y ∈<br />

⎢<br />

− ,<br />

⎣ 2 2⎥<br />

tal que<br />

⎦<br />

sen( y ) = 1. Mas sen 1.<br />

2<br />

π ⎛ ⎞ π<br />

⎜ ⎟=<br />

Logo arcsen()<br />

1 = .<br />

⎝ ⎠<br />

2<br />

Passaremos agora ao cálculo da derivada de g ( x) = arcsen( x).<br />

Se fizermos arcsen( x) = y,<br />

então teremos<br />

Exemplo 3.4.2.1. Vamos calcular ( 0)<br />

y é justamente 0. Portanto, arcsen ( 0) = 0. Calculemos agora ( )<br />

tal que sen( y ) = 0. Esse<br />

2 2<br />

2<br />

sen( y) = x e, como conseqüência da identidade sen ( y) + cos ( y)<br />

= 1, teremos cos( y) 1 x<br />

= − que é<br />

⎡ π π ⎤<br />

positivo, pois y ∈<br />

⎢<br />

− ,<br />

⎣ 2 2⎥<br />

. Utilizando a fórmula para a derivada da função inversa com f ( x) = sen( x)<br />

e<br />

⎦<br />

g x = arcsen x bem como o fato de que a derivada da função seno é a função co-seno, teremos que<br />

( ) ( )<br />

( arcsen( x)<br />

)<br />

Como essa expressão só faz sentido se ( )<br />

1 1 1<br />

' = = =<br />

cos 1<br />

( arcsen( x 2<br />

) ) cos y − x<br />

x ∈ − 1,1 , segue que a derivada da função arco seno só existe nesse<br />

intervalo. Resumindo nossa discussão, destacamos:<br />

( ( ) ) '<br />

arcsen x<br />

=<br />

1<br />

1−<br />

x<br />

Exemplo 3.4.2.2. Calcule a derivada das seguintes funções:<br />

2<br />

a. f ( x) = arcsen( 3x)<br />

b. m( x) = arcsen ( 2x)<br />

2<br />

( )<br />

, com x ∈( − 1,1 ) ,<br />

Comecemos pela letra (a). Observe que f ( x) = g h( x)<br />

, onde g ( x) = arcsen( x)<br />

e h( x) 3. x<br />

pela Regra da Cadeia temos que:<br />

f '( x) = g'( h( x) ) × h'( x)<br />

=<br />

1<br />

1−3 × 3=<br />

3<br />

1−9x ( x)<br />

2 2<br />

.<br />

= Portanto,<br />

2<br />

x sem mexermos na<br />

Vejamos agora a letra (b). Em primeiro lugar derivamos a função mais de externa, que é<br />

2 arcsen 2x<br />

. Em seguida multiplicamos esse resultado pela derivada<br />

( )<br />

que está dentro. Feito isso obteremos ( )


da próxima função, que no caso é arcsen( x ) , mas sem mexer no que está dentro dela. Assim procedendo<br />

obteremos ( ( ) )<br />

( ) 2<br />

1<br />

2 arcsen 2 x<br />

. Para finalizar, multiplicamos esse resultado pela derivada da próxima<br />

1−2x função que é 2x e obteremos:<br />

Portanto:<br />

3.4.3. - Função arco tangente<br />

f '( x) = 2( arcsen( 2x) ) ×<br />

1<br />

× 2<br />

1−2 76<br />

( )<br />

4arcsen 2x<br />

f ' ( x)<br />

=<br />

.<br />

2<br />

1−4x A função f ( x) = tg( x)<br />

possui como domínio o<br />

π 3π<br />

conjunto dos números reais diferentes de , , bem<br />

2 2<br />

como de seus múltiplos e imagem o conjunto dos números<br />

reais. Ela, assim como a função seno, não é invertível. A<br />

nossa missão aqui é a mesma do item anterior, ou seja,<br />

reduzir convenientemente o seu domínio a fim de que ela<br />

passe a ter inversa e, depois, encontrar a derivada dessa<br />

inversa. Observe o gráfico mostrado ao lado:<br />

( ) 2<br />

x<br />

⎛ π π ⎞<br />

Se tomarmos f ( x) = tg( x)<br />

definida apenas no intervalo ⎜−, ⎟ tomando valores em R, podemos definir a<br />

⎝ 2 2 ⎠<br />

⎛ π π ⎞<br />

função g: R→⎜−<br />

, ⎟ da seguinte maneira:<br />

⎝ 2 2 ⎠<br />

Dado x ∈ R , ( )<br />

⎛ π π ⎞<br />

g x é definido como o único y ∈⎜− , ⎟<br />

⎝ 2 2 ⎠<br />

tal que tg ( y) x.<br />

=<br />

Essa função, pela sua própria construção, é a inversa de f. Ela será chamada de função arco tangente e será<br />

representada por g ( x) = arctg ( x).<br />

Vamos ver um exemplo.<br />

arctg<br />

⎛ π π ⎞<br />

. Ele é o único y ∈⎜− , ⎟<br />

⎝ 2 2 ⎠<br />

π<br />

Trigonometria nos ensina que esse y é . Portanto arctg ( 3<br />

π<br />

3 ) = .<br />

3<br />

Vamos agora efetuar o cálculo da derivada de g ( x) arctg( x).<br />

Exemplo 3.4.3.1. Vamos calcular ( 3)<br />

tg ( y) = x e, conseqüentemente, ( )<br />

tal que tg ( y ) = 3 . A<br />

= Se fizermos y arctg( x)<br />

= , teremos<br />

2<br />

sec y<br />

2<br />

= 1 + x . Utilizando agora a fórmula da derivada da função inversa e<br />

lembrando que a derivada da tangente é a secante ao quadrado, teremos<br />

( arctg ( x)<br />

)<br />

1 1 1<br />

' = = = .<br />

2<br />

2 2<br />

sec<br />

sec y 1+<br />

x<br />

( arctg ( x)<br />

) ( )


Como essa expressão faz sentido para qualquer x ∈ R,<br />

segue que a função arco tangente é derivável em todo o<br />

conjunto dos números reais. Assim, podemos destacar:<br />

( arctg ( x)<br />

) 2<br />

Exemplo 3.4.3.2. Calcule a derivada das seguintes funções:<br />

2<br />

a. f ( x) arctg( 1 x )<br />

2<br />

= − b. g ( x) = x arctg cos(<br />

x)<br />

1<br />

' = , para todo x ∈ R.<br />

1+<br />

x<br />

( )<br />

Comecemos pela letra (a). Derivando a função mais externa, sem mexer naquela que está dentro, obtemos<br />

1 1<br />

= . Agora multiplicamos esse resultado pela derivada da que está dentro. Fazendo<br />

2<br />

2<br />

2 4<br />

1+ ( 1−x) 2− 2x+<br />

x<br />

isso, ficamos com:<br />

1 −2x<br />

f '( x) = × 2 4 ( − 2x)<br />

= 2 4<br />

2− 2x+ x 2− 2x<br />

+ x<br />

Vejamos agora a letra (b). Aqui primeiro vamos usar a regra do produto. Fazendo isso, obtemos:<br />

( ) ( )<br />

Falta agora calcular cos( ) '.<br />

( ( ) )<br />

2<br />

( ) ( ( ( ) ) )<br />

g' x = 2xarctg cos x + x arctg cos x '<br />

arctg x Agora é que entra em ação a regra da cadeia. Derivando a função mais<br />

1<br />

externa, obtemos<br />

. Agora multiplicamos esse resultado pela derivada da função que está dentro.<br />

2<br />

1+ cos ( x)<br />

Fazendo isso, ficamos com:<br />

2 2 1<br />

g '( x) = 2xarctg ( cos( x) ) + x ( arctg ( cos( x) ) ) ' = 2xarctg ( cos ( x) ) + x 2<br />

1+ cos x<br />

( −sen(<br />

x)<br />

) .<br />

3.4.4. - Função arco secante<br />

= possui o mesmo domínio<br />

da função tangente e sua imagem é o conjunto dos números<br />

reais cujo módulo é maior que ou igual a um. Como as duas<br />

funções precedentes ela também não é invertível. Observe o<br />

seu gráfico mostrado ao lado.<br />

A função f ( x) sec(<br />

x)<br />

Observe que, a despeito de terem o mesmo domínio, não usaremos o mesmo intervalo que o da tangente<br />

para inverter a função secante. Isso porque, no intervalo onde invertemos a tangente, a função secante não é<br />

⎡ π ⎞ ⎛π⎤ injetora, não podendo ser, portanto, invertível. A solução é considerar a união dos intervalos<br />

⎢<br />

0, ⎟ e ⎜ , π .<br />

⎣ 2 ⎠ ⎝ 2 ⎦<br />

⎥<br />

f x = sec x definida apenas nessa união, podemos definir a função<br />

Se considerarmos ( ) ( )<br />

⎡ π ⎞ ⎛π ⎤<br />

g: { x∈R| x ≥1} →<br />

⎢<br />

0, ⎟∪⎜ , π<br />

⎣ 2 ⎠ ⎝ 2 ⎦<br />

⎥<br />

da seguinte maneira:<br />

⎡ π ⎞ ⎛π ⎤<br />

∈ ∈ | ≥ 1 , g ( x ) é definido como o único y ∈<br />

⎢<br />

0, ⎟∪⎜ , π<br />

⎣ 2 ⎠ ⎝ 2 ⎦<br />

⎥<br />

Dado x { x R x }<br />

77<br />

( )<br />

sec y x.<br />

=<br />

tal que ( )


A função g, pela sua própria construção é a inversa de f, será chamada de função arco secante e será representada<br />

por g ( x) = arcsec ( x)<br />

. Vejamos um exemplo.<br />

⎡ π ⎞ ⎛π ⎤<br />

Exemplo 3.4.4.1. Vamos calcular arc sec() 1 . Ele é o único y ∈<br />

⎢<br />

0, ⎟∪⎜ , π<br />

⎣ 2 ⎠ ⎝ 2 ⎦<br />

⎥<br />

tal que sec( y ) = 1. Como<br />

1<br />

⎡ π ⎞ ⎛π ⎤<br />

sec ( y)<br />

= , para que sec( y ) = 1, devemos ter cos( y ) = 1. Mas em 0, , π<br />

cos(<br />

y)<br />

⎢ ⎟∪⎜ ⎣ 2 ⎠ ⎝ 2 ⎦<br />

⎥<br />

o único y que<br />

possui essa característica é 0,<br />

arc sec 1 = 0.<br />

y = o que nos mostra que ( )<br />

Vamos agora calcular a derivada de g ( x) = arcsec ( x)<br />

. Se fizermos y arc ( x)<br />

= sec , teremos que<br />

cos<br />

1<br />

= . Usando<br />

x<br />

a identidade<br />

2 2<br />

sen ( y) + cos ( y)<br />

= 1, obtemos<br />

sen( y)<br />

=<br />

2<br />

x −1<br />

. Agora utilizando a fórmula para a derivada da função inversa e o fato de que<br />

2<br />

x<br />

sen( y)<br />

( sec( y)<br />

) ' = , vamos ficar com:<br />

2<br />

cos y<br />

sec( y) = x e, portanto, ( y)<br />

( arc ( x)<br />

)<br />

( )<br />

sec<br />

2<br />

1 1 cos ( y) ' = = = =<br />

' '<br />

( sec ( arcsec( x) ) ) ( sec ( y)<br />

) sen( y)<br />

1<br />

2<br />

x =<br />

2 2<br />

x −1 x<br />

x<br />

x<br />

=<br />

2<br />

x −1 x<br />

1<br />

.<br />

2<br />

x − 1<br />

Como a expressão acima só faz sentido se x > 1, segue que a função arco secante só é derivável no conjunto<br />

{ x R x }<br />

∈ | > 1 . Assim podemos destacar<br />

1<br />

sec ' ,<br />

x x −1<br />

( arc ( x)<br />

) =<br />

2<br />

Veremos agora alguns exemplos sobre as derivadas vistas acima.<br />

Exemplo 3.4.4.2. Calcule a derivada das funções abaixo:<br />

( )<br />

a. f ( x) = arcsec ln ( x)<br />

b. ( )<br />

g x = e<br />

xarcsec( x)<br />

Comecemos pela letra (a). Usando a regra da cadeia temos<br />

( ) ( )<br />

Agora a letra (b). Usando a regra da cadeia temos<br />

para todo x∈{ x∈R x ≥ }<br />

78<br />

| 1 ,<br />

1 1 1<br />

f ' ( x)<br />

= × =<br />

.<br />

2 2<br />

ln x ln x −1 x ln x ln x −1<br />

x<br />

( ) ( ) ( ( ) )<br />

⎛ 2<br />

sec( )<br />

1 ⎞ ⎛<br />

xarc x xarcsec( x) x x − 1arcsec x + x⎞<br />

g'( x) = e ⎜arcsec( x) + x⋅ ⎟=<br />

e ⎜ ⎟.<br />

⎜ 2 2<br />

x x −1⎟ ⎜ x x −1<br />

⎟<br />

⎝ ⎠ ⎝ ⎠<br />

( )


Observação: Podemos demonstrar fórmulas análogas para a derivada de outras funções trigonométricas<br />

inversas.<br />

4. Avaliando o que foi construído<br />

Dialogando e Construindo Conhecimento<br />

Reúna-se com os colegas para discutir os temas abordados. Procure os Tutores para esclarecer as dúvidas<br />

sobre algum tema que não tenha sido bem assimilado. Comunique-se! Nós estamos sempre dispostos a<br />

orientá-lo e ajudá-lo em caso de dificuldade no estudo da disciplina. Acredite em seu potencial e conte<br />

conosco.<br />

Nesta unidade você ampliou seus conhecimentos acerca da regra da cadeia e pode perceber a sua potência<br />

tanto para derivar funções dadas na forma explícita, quanto funções dadas na forma implícita, bem como no<br />

cálculo da derivada de algumas inversas. O que vimos aqui é muito importante para a próxima unidade.<br />

No Moodle...<br />

Visite o espaço reservado à disciplina <strong>Cálculo</strong> <strong>Diferencial</strong> <strong>II</strong> na plataforma MOODLE, onde você terá a<br />

oportunidade de revisar, testar e enriquecer seus conhecimentos. Lembre-se de que somos parceiros nos<br />

estudos e, portanto, devemos caminhar juntos no curso. Aguardo você no MOODLE!<br />

79


Unidade <strong>II</strong>: Interpretando e Utilizando a Derivada<br />

1. - Situando a Temática<br />

O que faz da derivada um objeto tão importante na Matemática é, dentre outras coisas, a possibilidade de<br />

que, através dela, podemos obter informações muito valiosas acerca do comportamento de uma dada função. O<br />

conhecimento da derivada de uma função nos permite descobrir seus pontos de máximo e mínimo locais, em<br />

alguns casos até os globais, aspectos ligados à sua concavidade, dentre outros. Por outro lado, graças à sua<br />

interpretação como velocidade, podemos ter idéia de como grandezas que se relacionam entre si de forma<br />

explícita e, até mesmo de forma implícita, se comportam uma em relação à outra.<br />

2. - Problematizando a Temática<br />

Os problemas de máximo e mínimo estão entre os mais belos e antigos da Matemática. Determinar os<br />

pontos de máximo e mínimo de uma função com a ajuda das suas derivadas é uma tarefa que envolve um<br />

raciocínio simples, elegante e, acima de tudo, útil. Traçar o gráfico de uma função com rigor é uma tarefa que,<br />

para nós, até então, só está perfeitamente justificada para o caso das funções do primeiro grau. Como justificar,<br />

por exemplo, que a parábola tem aquela aparência ou porque outros gráficos têm este ou aquele jeito? Com o<br />

auxílio da derivada poderemos responder a estas e a outras interessantes questões acerca do comportamento de<br />

uma função de uma maneira bastante satisfatória.<br />

3. - Conhecendo a Temática<br />

3.1. - Taxas de variação<br />

Uma das interpretações mais importantes da derivada diz respeito a como uma grandeza varia em função<br />

de uma outra. Sendo mais específicos, poderíamos perguntar: se y é função de x podemos dizer o que ocorre com<br />

y quando x aumenta ou diminui? com que rapidez y cresce ou decresce quando x cresce ou decresce? Essas<br />

perguntas nos enviam a uma das mais importantes interpretações que a derivada possui que é a de Velocidade. A<br />

princípio associamos velocidade quando estamos diante do movimento de um carro, um avião, ou outro tipo de<br />

veículo. Vamos ver agora que o conceito de velocidade se expande um pouco mais. Começaremos com um<br />

exemplo: imagine que um veículo desloca-se por uma estrada e sua posição em um determinado instante é dada<br />

2<br />

pela seguinte função S() t = 2+ 4t+ 8 t , onde t é dado em segundos e S é dado em metros. Um conceito que<br />

surge, particularmente na Física, é o de Velocidade Média. Dados dois tempos t 1 e t 2 , com t1 t2<br />

velocidade média do móvel entre t 1 e t 2 , como sendo:<br />

S t − S t<br />

Vm<br />

=<br />

t − t<br />

( ) ( )<br />

2 1<br />

80<br />

2 1<br />

.<br />

< , definimos a<br />

Essa nova grandeza nos diz de que forma a posição do móvel variou entre t 1 e t 2 . Se, por exemplo,<br />

t 1 = 2 e t 2 = 4 , então:<br />

S( t2) −S( t1) S( 4) −S( 2) 146 − 42<br />

Vm= = . = = 52 m/ s.<br />

t −t 4−2 2<br />

2 1<br />

O que nos diz esse número? Ele diz que nesse intervalo de tempo, o móvel percorreu, em média, 52 metros a<br />

cada segundo. Entretanto, ele não nos diz, por exemplo, se o móvel parou em algum instante ou se deu marcha ré<br />

em algum instante, dentre outras possibilidades. Portanto, é um conceito que não oferece muito em termos de<br />

informação quantitativa do movimento do veículo. Para termos um conceito que nos informe um pouco mais<br />

sobre o movimento do veículo, precisamos de um conceito mais fino, que é o de Velocidade Instantânea.<br />

Imagine que queiramos saber quanto vale a velocidade do móvel no instante t = 2. Primeiro vamos tentar


construir o que significa a expressão velocidade num determinado instante. Imaginemos que o instante t = 2<br />

está fixo. A velocidade média entre t = 2 e um instante t > 2 é dada por:<br />

V<br />

m<br />

() ( ) 2 2<br />

S t − S 2 2+ 4t+ 8t − 42 8t + 4t−40 = = =<br />

.<br />

t−2 t−2 t−2<br />

Se fizermos esse instante t se aproximar cada vez mais de 2, essa velocidade média será calculada em um<br />

intervalo de tempo cada vez menor, [ 2,t ] . Em virtude disso, é razoável definirmos a Velocidade Instantânea em<br />

t = 2 como sendo:<br />

( 8t+ 20)( t−2)<br />

( )<br />

2<br />

8t + 4t−40 t→2 t→2 t→2<br />

81<br />

( )<br />

limVm= lim = lim = lim 8t+ 20 = 36 .<br />

t→2<br />

t−2 t−2<br />

O que nos diz esse número? Ele diz que se de repente o móvel passasse a se mover exatamente como está em<br />

t = 2 ele percorreria 2 metros a cada segundo. Outro fato importante nessa forma de pensar a velocidade<br />

S t calculada no instante t = 2.<br />

De fato, veja que<br />

instantânea é que ela é dada pela derivada da função ( )<br />

S'() t = 16t+ 4 e daí S '2 ( ) = 16× 2+ 4= 36.<br />

Na discussão acima, as grandezas S e t tiveram um papel apenas ilustrativo. Na realidade se uma<br />

grandeza y é função de uma outra x, podemos definir a Velocidade Média ou, como é mais comum, a Taxa de<br />

variação média de y com relação a x, quando x varia de x 1 até x 2 como sendo:<br />

y( x2) − y( x1)<br />

y =<br />

.<br />

x − x<br />

2 1<br />

Também podemos definir a Velocidade instantânea ou, como é mais comum, a Taxa de variação<br />

instantânea de y com relação a x, quando x = x1<br />

, como sendo y' ( x 1)<br />

. Portanto, quando calculamos uma<br />

derivada, podemos interpretá-la como uma velocidade. Vamos ver alguns exemplos dessa situação.<br />

Exemplo 3.1.1. Suponhamos que um petroleiro esteja com um vazamento de óleo no mar e que a mancha de<br />

óleo formada tenha um formato circular. Com o passar do tempo tanto a área A da mancha, bem como o seu raio<br />

r, muda com relação ao tempo. Vamos avaliar como variam. Digamos que a velocidade de crescimento da área A<br />

2<br />

seja constante e igual a 10000 m / hora. Queremos determinar a velocidade de crescimento do raio r quando<br />

2<br />

ele for igual a 20 m. Observe que a área A e o raio r relacionam-se através da fórmula: A = π r . Sabemos que<br />

dA<br />

2<br />

tanto A como r são funções do tempo t. O dado que temos é que = 10000 m / hora e r=20 m. Derivando a<br />

dt<br />

fórmula que dá a área em função do raio, levando em conta que, tanto A como r são funções implícitas de t,<br />

teremos:<br />

dA dr<br />

= 2 π r ,<br />

dt dt<br />

donde concluímos, substituindo os valores de dA<br />

dt<br />

e r ,que<br />

dr 10000<br />

= ≈ 79,61 m/hora.<br />

dt 40π<br />

Exemplo 3.1.2. Uma cidade é atingida por uma moléstia epidêmica. Os setores de saúde calculam que o número<br />

de pessoas atingidas pela referida moléstia depois de um tempo t (medido em dias a partir do primeiro dia da<br />

3<br />

t<br />

dn<br />

2<br />

epidemia) é dado, aproximadamente, por nt () = 64 t−<br />

. Observe que = 64 − t . Como a derivada de n<br />

3<br />

dt<br />

com relação a t mede a velocidade do número de casos em relação ao tempo, temos que se essa derivada for


positiva, o referido número de casos está aumentando, ao passo que se ela for negativa, então esse número de<br />

dn<br />

casos está diminuindo. Como t ≥ 0, temos que ≥ 0 apenas quando 0 8,<br />

dt t ≤ ≤ ou seja, até o oitavo dia a<br />

dn<br />

epidemia cresceu. Do oitavo dia em diante a epidemia arrefeceu, pois, a partir desse dia, 0.<br />

dt <<br />

Exemplo 3.1.3. Um tanque de água em forma de um cone circular reto invertido está sendo esvaziado a uma<br />

3<br />

taxa de 2 m / h . O raio da base do cone é 5 m e a sua altura é 14 m. Determine:<br />

a) A taxa de variação da altura da água, quando a mesma for 6 m.<br />

b) A taxa de variação do raio do topo da água quando a altura da mesma for 6 m.<br />

Vejamos a letra (a). Sabemos que o volume de um cone circular reto<br />

é dado por:<br />

1 2<br />

V = π r h,<br />

3<br />

onde r é o raio de sua base e h é a sua altura. Queremos encontrar<br />

dh<br />

quando h = 6 m. Na fórmula que dá o volume em função de r e<br />

dt<br />

h, precisaremos explicitar r em função de h. Para isso, vamos usar<br />

semelhança de triângulos. Veja a figura ao lado. Dela podemos<br />

concluir que 5 14 5h<br />

= , ou seja, r = .<br />

r h<br />

14<br />

Dela podemos concluir que 5 14 5h<br />

= , ou seja, r = . Portanto, substituindo esse valor de r na fórmula de V,<br />

r h<br />

14<br />

ficaremos com:<br />

2 3<br />

1 2 1 ⎛5h⎞ 25πh<br />

V = πr h= π⎜ ⎟ h=<br />

.<br />

3 3 ⎝14⎠ 588<br />

Derivando essa última igualdade com relação a t, ficaremos com:<br />

Substituindo os valores dados, obtemos:<br />

donde concluímos que:<br />

π<br />

= × .<br />

dt 588 dt<br />

2<br />

dV 75 h dh<br />

5400π<br />

dh<br />

− 2 = × ,<br />

588 dt<br />

dh 1176<br />

≈− ≈− 0,07 m/ h.<br />

dt 16956<br />

Note que o valor que encontramos é negativo, o que corrobora com o fato de que a altura está diminuindo com<br />

relação ao tempo. Agora vamos à letra (b). O que queremos encontrar é dr<br />

dt<br />

82<br />

quando h = 6 m. O procedimento


aqui é semelhante ao que foi feito na letra (a). A mesma semelhança de triângulos obtida na letra (a) nos permite<br />

14 r<br />

30<br />

dizer que h = . Quando h = 6 , temos que r = . Substituindo o valor de h na fórmula de V vamos obter:<br />

5<br />

14<br />

3<br />

1 2 1 2⎛14r⎞<br />

14πr<br />

V = πr h= πr<br />

⎜ ⎟=<br />

.<br />

3 3 ⎝ 5 ⎠ 15<br />

Derivando essa igualdade com relação a t, obteremos:<br />

Substituindo os valores dados, obteremos:<br />

2<br />

dV 14π<br />

r dr<br />

= × .<br />

dt 5 dt<br />

3150π<br />

dr<br />

− 2 = ×<br />

245 dt<br />

dr<br />

ou seja, ≈− 0,05 m/ h.<br />

Observe que a taxa de variação do raio com respeito ao tempo é negativa pelo fato de<br />

dt<br />

que ele está diminuindo com o passar do tempo.<br />

Veremos agora alguns problemas envolvendo taxas de variação um pouco diferentes dos exemplos<br />

acima. Nos exemplos que seguem, não há uma forma explícita que nos permita obter uma variável em função da<br />

outra. Mas isso não será problema, pois basta usarmos a técnica da derivação implícita. Problemas desse tipo<br />

costumam ser chamados de problemas de Taxas Relacionadas.<br />

Exemplo 3.1.4. Sales e Joaquim estão fazendo um passeio aéreo usando um balão de ar quente. O balão sobe a<br />

uma taxa de 3 m/ s. Passados 15 segundos, Lenimar lembra-se de que eles não levaram um rádio para contato.<br />

Lenimar, que havia estacionado seu carro a 50m do ponto de partida, desloca-se em direção a este com uma<br />

velocidade de 2 m/ s . Vamos determinar a velocidade com que aumenta a distância entre o balão e o carro de<br />

Lenimar, quando o balão estiver a 30m do solo. Desenhar uma figura sempre ajuda. Façamos uma então.<br />

Na figura acima, y denota a altura do balão em relação<br />

ao ponto de partida, x denota a distância do ponto de<br />

partida até onde Lenimar estacionou seu carro e s a<br />

distância do carro Lenimar até o balão. Agora veja, essa<br />

figura vai começar a se transformar, pois as distâncias<br />

x,y e s estarão se modificando. Mas veja uma<br />

peculiaridade que esta figura vai manter: o fato desse<br />

triângulo ser retângulo. Portanto, pelo Teorema de<br />

Pitágoras teremos:<br />

Lembrando que queremos encontrar ds<br />

dt<br />

ou seja:<br />

2 2 2<br />

s = x +<br />

y .<br />

, derivamos a igualdade acima. Fazendo isso, obteremos:<br />

ds dx dy<br />

2s× = 2x× + 2 y×<br />

,<br />

dt dt dt<br />

ds dx dy<br />

s× = x× + y×<br />

.<br />

dt dt dt<br />

83


Agora note que no instante em que Lenimar partiu em direção ao balão, este já estava a 15m acima do solo.<br />

Portanto, quando o balão estiver a 30m do solo, significa que, para efeito da nossa análise, passaram-se 5s já<br />

que a velocidade do balão é 3 m/ s . Nesse período o carro avançou 10m , já que sua velocidade é<br />

2 m/ s. Portanto, os valores de x e y no triângulo acima são x = 30 e y = 40m,<br />

donde s = 50 m.<br />

Portanto,<br />

teremos:<br />

ds<br />

50× = 30× ( − 2) + 40× 3 ,<br />

dt<br />

ds<br />

ou seja, = 1, 2 m/ s.<br />

Na expressão acima usamos a velocidade com um sinal negativo pelo fato de que a<br />

dt<br />

distância x vai estar diminuindo.<br />

3.2. - Crescimento e decrescimento<br />

A interpretação da derivada como sendo o coeficiente angular da reta tangente ao gráfico de uma função agora<br />

vai se mostrar muito eficaz nesta seção. Com a ajuda dessa interpretação vamos poder estudar os intervalos onde<br />

a função cresce e onde ela decresce. Se nós refletirmos um pouco, esse problema só está respondido<br />

satisfatoriamente no caso das funções do primeiro grau. Recorde que se f ( x) = ax+ b,<br />

com a ≠ 0, a função f<br />

será crescente se a > 0 e decrescente se a < 0. Para funções do segundo grau também temos um critério, mas<br />

que aparece sem a devida justificativa. Vamos recordar algumas definições.<br />

• Uma função f definida num certo intervalo I do eixo-x é dita crescente nesse intervalo quando para<br />

todos x1x2∈ I , com x1 x2<br />

1 2 .<br />

f x f x <<br />

• Uma função f definida num certo intervalo I do eixo-x é dita decrescente nesse intervalo quando para<br />

todos x1x2I ∈ , com x1 x2<br />

< tivermos ( ) ( )<br />

< tivermos f ( x ) f ( x ) ><br />

1 2 .<br />

O aspecto do gráfico de uma função crescente é o de uma<br />

curva ascendente, enquanto que o de uma função decrescente<br />

é o de uma curva descendente. Nosso intuito é relacionar o<br />

crescimento e o decrescimento de uma função com a sua<br />

derivada. Para termos uma pista de tal relação, vamos<br />

observar atentamente o gráfico mostrado a seguir. Perceba<br />

que, para valores de x pertencentes ao intervalo ( −∞ ,4)<br />

, os<br />

coeficientes angulares das retas tangentes ao gráfico dessa<br />

x, f x são positivos. Note também<br />

( )<br />

função nos pontos ( )<br />

que, a função é crescente justamente no intervalo ( −∞ ,4)<br />

.<br />

Analogamente constatamos que, para valores de x pertencentes ao intervalo ( 4, +∞ ) , os coeficientes<br />

angulares das retas tangentes ao gráfico de f são negativos. Note também que a função é decrescente no<br />

intervalo ( 4, +∞ ) . Como o coeficiente angular ao gráfico de f no ponto ( x, f ( x ) ) é dado por f '(<br />

x )<br />

podemos arriscar um palpite: A função f será crescente onde a sua derivada for positiva e decrescente onde sua<br />

derivada é negativa. De fato, o nosso palpite está correto e o resultado que temos é o seguinte:<br />

• Se f 'é<br />

positiva num intervalo I do eixo-x então f será crescente em I .<br />

• Se f 'é<br />

negativa num intervalo I do eixo-x então f será decrescente em I .<br />

84


Essas observações podem ser provadas com o uso do conhecido Teorema do Valor Médio, mas não faremos isso<br />

agora. O que faremos é analisar o crescimento e o decrescimento de algumas funções conhecidas.<br />

Exemplo 3.2.1. Considere a função do primeiro grau f ( x) = ax+ b.<br />

Vamos obter o seu crescimento, que já é<br />

conhecido, através dos nossos novos conhecimentos. Observe que f ' ( x) = a.<br />

Portanto, se a > 0 então f será<br />

crescente em todo o eixo-x e se a < 0 , f será decrescente em todo o eixo-x.<br />

Exemplo 3.2.2. Considere a função<br />

3<br />

f ( x) = x + x.<br />

Observe que ( ) 2<br />

f ' x = 3x + 1é<br />

sempre positiva. Portanto,<br />

f é crescente em todo o seu domínio. Veja um esboço do<br />

gráfico desta funçãna figura ao lado.<br />

2<br />

Exemplo 3.2.3. Considere a função f ( x) = x − 1 . Temos que ( )<br />

concluímos que f é crescente quando x > 0. Por outro lado,<br />

f '( x ) < 0 apenas quando x < 0 , o que implica ser f decrescente<br />

apenas quando x < 0.<br />

Exemplo 3.2.4. Determine os intervalos onde<br />

3 2<br />

f ( x) = x − 6x + 9x+ 1 é crescente e os intervalos onde ela é<br />

decrescente. Inicialmente vamos encontrar a derivada de f . Temos<br />

2<br />

que f '( x) = 3x − 12x+ 9. As raízes da equação f '( x ) = 0irão<br />

nos indicar os intervalos pedidos. De fato, a equação<br />

2<br />

f '( x) = 3x − 12x+ 9= 0 possui duas raízes reais e diferentes, a<br />

saber, x = 1 e x = 3. Como f '(<br />

x ) é uma função do segundo grau,<br />

o estudo do seu sinal é simples e está resumido na tabela abaixo,<br />

onde também está mostrado o gráfico de f ao lado.<br />

85<br />

f ' x 2 x.<br />

Valores de x Sinal de f '(<br />

x ) Conclusão<br />

= Como ( )<br />

x < 1<br />

positivo f é crescente<br />

1≤ x ≤ 3 negativo f é decrescente<br />

x > 3<br />

positivo f é crescente<br />

Exemplo 3.2.5. Considere a função definida por<br />

2 ⎧x − 4<br />

f ( x)<br />

= ⎨<br />

⎩ 8−x se<br />

se<br />

x<<br />

3<br />

, cujo gráfico está mostrado ao lado.<br />

x≥3<br />

Vamos determinar os seus intervalos de crescimento e de<br />

decrescimento. Inicialmente vamos determinar quem é<br />

f ' x . Observe que para 3 f ' x = 2x<br />

e que para<br />

( )<br />

x < nós temos ( )<br />

x > 3nós<br />

temos f '( x ) =− 1. Resta-nos descobrir se existe '3 ( )<br />

f .<br />

f ' x > 0 quando x > 0,


Observe que a derivada à esquerda f ' ( 3) = 6 e que a derivada à direita ( )<br />

diferentes segue que f não é derivável em x = 3. Assim:<br />

⎧2x<br />

f '(<br />

x)<br />

= ⎨<br />

⎩−<br />

1<br />

se<br />

se<br />

x<<br />

3<br />

x > 3<br />

_<br />

86<br />

f '+ 3 = − 1.<br />

Como esses valores são<br />

Observe que o ponto x = 3 vai nos auxiliar na determinação dos intervalos pedidos. Veja que o estudo do sinal<br />

f ' x e as conclusões dele decorrentes estão listados na tabela abaixo:<br />

de ( )<br />

Valores de x Sinal de f '(<br />

x )<br />

Conclusão<br />

x < 0<br />

negativo f é decrescente<br />

0≤ x < 3<br />

positivo f é crescente<br />

x > 3<br />

negativo f é decrescente<br />

f x = 3x − 2x.<br />

f ' x 2x 2<br />

−<br />

= − . Vamos analisar o sinal<br />

f ' x da seguinte forma:<br />

Exemplo 3.2.6. Considere a função ( ) 2/3<br />

Observe que ( ) 1/3<br />

de f '(<br />

x ) . Podemos escrever ( )<br />

− − ⎛ 3 1−<br />

x ⎞<br />

3<br />

1/3 1/3<br />

( ) ( )<br />

f ' x = 2x − 2= 2 x − 1 = 2⎜<br />

⎟.<br />

⎜ x ⎟<br />

⎝ ⎠<br />

Inicialmente note que x = 1é<br />

a única solução da equação<br />

f '( x ) = 0. Por outro lado a função f ( x ) não é<br />

derivável em x = 0. O estudo do sinal de f '(<br />

x ) e as<br />

conclusões dele decorrentes estão reunidas na tabela<br />

abaixo:<br />

Valores de x Sinal de f '(<br />

x ) Conclusão<br />

x < 0 negativo f é decrescente<br />

0< x < 1 positivo f é crescente<br />

x > 1 negativo f é decrescente<br />

3.3. - Máximos e mínimos locais<br />

Com o auxílio da derivada podemos abordar interessantes questões acerca de máximos e mínimos de<br />

funções. Vamos dar algumas definições para, em seguida, abordarmos os problemas.<br />

• Sejam f uma função definida num intervalo I do eixo-x e x0 ∈ I .Diremos que c é um ponto de máximo<br />

local para f se existir um intervalo J ⊂ I com c J<br />

∈ de modo que f ( x) f ( c)<br />

≤ para todo x ∈ J .<br />

• Sejam f uma função definida num intervalo I do eixo-x e x0 ∈ I .Diremos que c é um ponto de mínimo<br />

local para f se existir um intervalo J ⊂ I com c J<br />

∈ de modo que f ( x) f ( c)<br />

≥ para todo x ∈ J .


Usando outros termos, o ponto c é um ponto de máximo local se, próximo dele, nenhum ponto tem o<br />

valor de f maior que f ( c ) . Da mesma forma, o ponto c é um ponto de mínimo local se, próximo dele,<br />

nenhum ponto tem o valor de f menor que f ( c ) .<br />

Vamos observar agora um fato importante que ficou implícito nos exemplos da seção anterior. Para<br />

descobrirmos os intervalos onde uma dada função era crescente e os intervalos onde ela era decrescente foi<br />

preciso fazer o estudo do sinal de f '.<br />

Em certos casos, para fazer este estudo, precisamos encontrar as raízes da<br />

equação f '( x ) = 0ou<br />

os pontos onde a função f não é derivável (veja os exemplos 3.2.3, 3.2.4 e 3.2.5 e 3.2.6).<br />

Esses pontos irão desempenhar um importante papel no estudo dos máximos e mínimos e, por isso, recebem o<br />

nome de Pontos críticos.<br />

Suponhamos que f seja contínua. Digamos que x = c seja um<br />

ponto crítico. Vamos supor que, para valores de x que estão antes de c, a<br />

derivada de f é negativa e que para valores de x que estão depois de c a<br />

derivada de f é positiva. Pelo fato da derivada de f ser negativa antes de c<br />

vemos que o seu gráfico tem um aspecto de estar descendo. Pelo fato da<br />

derivada de f ser positiva depois de c vemos que a função f é crescente, ou<br />

seja, seu gráfico tem um aspecto de estar subindo. Portanto, nessa<br />

situação temos que o ponto x = c é um ponto de mínimo local. Veja a<br />

figura ao lado.<br />

Façamos agora uma discussão semelhante para a situação<br />

contrária, ou seja, vamos supor que para valores de x que estão antes de c<br />

a derivada de f é positiva e que para valores de x que estão depois de c a<br />

derivada de f é negativa. Pelo fato da derivada de f ser positiva antes de c<br />

vemos que o seu gráfico tem um aspecto de estar subindo. Pelo fato da<br />

derivada de f ser negativa depois de c vemos que a função f é decrescente,<br />

ou seja, seu gráfico tem um aspecto de estar descendo. Portanto, nessa<br />

situação temos que o ponto x = c é um ponto de máximo local. Veja a<br />

figura ao lado.<br />

Assim, com essa análise podemos enunciar um critério bastante prático para a determinação de extremos<br />

locais, conhecido como Teste da derivada primeira:<br />

Teste da derivada primeira: Sejam f uma função contínua definida num intervalo I do eixo-x e c∈I um<br />

ponto crítico de f. Então:<br />

' 0<br />

f ' x > 0 para x à direita e próximo de c então c é<br />

• Se f ( x ) < para x à esquerda e próximo de c e Se ( )<br />

um ponto de mínimo local para f.<br />

' 0<br />

• Se f ( x ) > para x à esquerda e próximo de c e Se ( )<br />

um ponto de máximo local para f.<br />

Vamos ver agora alguns exemplos utilizando esse teste.<br />

87<br />

f ' x < 0 para x à direita e próximo de c então c é<br />

1<br />

= − . Observe<br />

5<br />

4 3<br />

Exemplo 3.3.1. Determine os pontos de máximo e de mínimo locais da função f ( x) ( x 4x<br />

)<br />

4 12<br />

que<br />

3 2<br />

f '(<br />

x) = x − x . Como f '(<br />

x ) existe para todo x<br />

5 5<br />

R<br />

equação f '( x ) = 0.<br />

Vamos encontrá-las. Fazendo f '( x ) = 0,<br />

ficamos com<br />

2<br />

4x ( x− 3) = 0 cujas raízes são x = 0 e x = 3 . Fazendo o estudo do sinal de '(<br />

)<br />

∈ , os únicos pontos críticos de f são as raízes da<br />

3 2<br />

4x 12x 0<br />

f x ficamos com:<br />

− = , ou seja,


Valores de x Sinal de f '(<br />

x )<br />

x < 0<br />

negativo<br />

0< x < 3<br />

negativo<br />

x > 3<br />

positivo<br />

Portanto, vemos que o ponto x = 3 é um ponto de mínimo local. Veja que o<br />

ponto x = 0 apesar de ser ponto crítico não é de máximo nem de mínimo local.<br />

Veja ao lado um esboço do gráfico desta função.<br />

Veja a cima um esboço do gráfico de f :<br />

Exemplo 3.3.2. Vamos determinar os pontos de máximo e de mínimo<br />

10x<br />

locais da função f ( x)<br />

= 2<br />

x + 1<br />

. Observe que Como ( ) ' f x existe<br />

para todo x ∈ R , os únicos pontos críticos de f são as raízes da<br />

equação f '( x ) = 0.<br />

Não é difícil verificar que essas raízes são x = 1 e<br />

x =− 1 . Fazendo o estudo do sinal de f '(<br />

x ) ficamos com:<br />

Valores de x Sinal de f '(<br />

x )<br />

x < − 1<br />

negativo<br />

− 1< x < 1<br />

positivo<br />

x > 1<br />

negativo<br />

Em determinados casos o estudo do sinal da derivada primeira de uma função antes e depois de um<br />

ponto crítico onde ela é derivável pode se tornar difícil. Nessa situação, quando a função for duas vezes<br />

derivável temos um critério mais efetivo para nos garantir quando este ponto crítico é de máximo ou de mínimo.<br />

Mas o que significa uma função ser duas vezes derivável? A resposta é simples: quando pudermos calcular a<br />

derivada de sua derivada. A derivada da derivada é chamada de derivada segunda. Nós vamos representar a<br />

2<br />

derivada segunda de uma função f por f '' . Por exemplo, se f ( x) x f ' x 2x<br />

f '' x = 2 .<br />

= , temos ( ) = e ( )<br />

Analogamente, se f ( x) = senx,<br />

temos que f '( x) = cosxe<br />

f ''(<br />

x) senx<br />

88<br />

=− . A derivada da derivada da<br />

derivada é chamada de derivada terceira, e assim sucessivamente. É claro que nem sempre podemos ir derivando<br />

assim. É preciso ter cuidado. Por exemplo, existem funções que só possuem a derivada primeira. Existem<br />

funções que não possuem sequer a derivada primeira. Agora podemos voltar ao critério para classificar pontos<br />

críticos. Esse critério é conhecido como teste da derivada segunda e é o seguinte:<br />

Teste da derivada segunda: Sejam f uma função definida num intervalo I do eixo-x e c∈I um ponto crítico<br />

de f. Suponha que f é derivável duas vezes em c . Então<br />

• Se f ''( c ) < 0 então c é um ponto de máximo local para f.<br />

• Se f ''( c ) > 0 então c é um ponto de mínimo local para f.<br />

• Se f ''( c ) = 0 então o teste não é conclusivo.<br />

Um interessante exercício que você pode fazer é utilizar o teste da derivada segunda para classificar os<br />

pontos críticos das funções dos exemplos anteriores. Mas veja bem, ele só serve para os pontos críticos onde a<br />

função é duas vezes derivável. Vamos utilizar o teste da derivada segunda para solucionarmos dois interessantes<br />

problemas


Exemplo 3.3.3. Qual o retângulo de perímetro 40 cm que possui a maior área? Vamos denotar por x e y os lados<br />

do retângulo. O seu perímetro é dado por p = 2x+ 2yo<br />

qual, pelo enunciado vale 40 cm, ou seja, temos<br />

2x+ 2y = 40, o que nos fornece x+ y = 20. A área do retângulo é dada por A = xy.<br />

Tirando o valor de y na<br />

expressão obtida a partir do perímetro temos que y = 20 − x que substituída na expressão da área nos dá<br />

2<br />

A = x× ( 20 − x) = 20 x−x . A função da qual queremos achar o máximo é A. Vamos achar os seus pontos<br />

críticos. Derivando a função A, encontramos A'= 20−2 x.<br />

O único ponto crítico de A é x = 10 .Derivando A<br />

novamente, encontramos A '' = − 2 , portanto o ponto x = 10 é um ponto de máximo local. Com esse valor de x<br />

tiramos y = 10 e, portanto, o retângulo pedido é um quadrado de lado 10 cm.<br />

Exemplo 3.3.4. Uma caixa aberta com base quadrada deve ser<br />

construída com 48 m 2 de papelão.Vamos enccontrar as<br />

dimensões da caixa de maior volume possível que pode ser<br />

feita. Vamos denotar por x o lado da base da caixa, que estamos<br />

supondo quadrada, e por y a altura da caixa. A área total da<br />

2<br />

caixa é dada por A = x + 4xy<br />

. Pela informação do enunciado<br />

2<br />

temos que x + 4xy = 48.<br />

O volume da caixa, que é a função<br />

que queremos maximizar, é dado por<br />

Tirando o valor de y da expressão que dá a área total, ficamos com<br />

dado por:<br />

2 ( 48 − )<br />

2<br />

2 48 − x x x 1 2 1<br />

3<br />

V = x × = = x( 48 − x ) = ( 48x−<br />

x ) .<br />

4x4 4 4<br />

89<br />

2<br />

48 − x<br />

y = , assim, o volume da caixa será<br />

4x<br />

1<br />

2<br />

Vamos encontrar os pontos críticos. Derivando V, obtemos V '= ( 48− 3x<br />

) , donde concluímos que os únicos<br />

4<br />

pontos críticos são x = 4 e x = − 4 , sendo que o primeiro é o único que nos interessa por ser positivo. Derivando<br />

6 3<br />

V novamente temos que V '' =− x=− x e que, portanto, x = 4 é um ponto de máximo pelo teste da<br />

4 2<br />

2<br />

48 − x<br />

derivada segunda. Portanto as dimensões da caixa pedida são x = 4 m e, substituindo x = 4 em y = ,<br />

4x<br />

encontramos y = 2 m.<br />

3.4. - Máximos e mínimos globais<br />

Os pontos de máximos e mínimos que apareceram na seção anterior, a princípio, só poderiam ser<br />

classificados como locais. O tipo de problema de máximos e mínimos que trataremos nesta seção são aqueles<br />

conhecidos como problemas de máximos e mínimos globais. Por um ponto de máximo global de uma função f<br />

definida em D, entendemos um ponto c tal que f ( x) ≤ f ( c)<br />

para todo x ∈ D . Analogamente definimos ponto<br />

de mínimo global. Para esse tipo de problema, o principal resultado que temos é devido ao matemático alemão<br />

Karl Weierstrass que diz o seguinte:<br />

Teorema de Weierstrass: Se f : [ ab , ] → Ré<br />

uma função contínua então f possui pontos de máximo e<br />

mínimo globais.<br />

2<br />

V = x y.


Agora atente bem. O Teorema de Weierstrass apenas diz que os pontos de máximo e mínimo globais existem,<br />

mas não diz como encontrá-los. Olhando para a figura abaixo<br />

vemos que existem os seguintes candidatos a extremos globais: os<br />

pontos críticos de f que pertencem ao interior do intervalo e os<br />

extremos do intervalo.<br />

Portanto, o roteiro a ser seguido para encontrarmos os extremos<br />

f : ab , → Rcontínua<br />

é o seguinte:<br />

globais de uma função [ ]<br />

1. Determinar os pontos críticos de f que pertencem a ( ab , ) e calcular o valor de f nestes pontos<br />

2. Calcular o valor de f nos extremos do intervalo [ ab , ] e<br />

3. Comparar os valores obtidos nos itens (1) e (2). O ponto que fornecer o maior valor para f será o ponto de<br />

máximo e o que fornecer o menor valor será o de mínimo.<br />

Observe que neste caso não é necessário fazer o estudo do sinal da derivada nem fazer o teste da derivada<br />

segunda. Vamos ver alguns exemplos:<br />

f x = 2x − 9x + 1.<br />

Vamos determinar os valores de<br />

Exemplo 3.4.1. Considere a função definida por ( ) 3 2<br />

máximo e de mínimo de f no intervalo [ − 1,1]<br />

. Observe que a função f é contínua, portanto o Teorema de<br />

Weierstrass nos garante que existem os pontos de máximo e mínimo global. Vamos localizá-los através do<br />

procedimento sugerido acima. Derivando f , obtemos ( ) 2<br />

f são x = 0 e x = 3 . Calculando o valor de f em ambos obtemos ( )<br />

o valor de f nos extremos. Feito isso, obtemos f ( − 1) =−10e ( )<br />

tabela ficamos com as seguintes informações:<br />

90<br />

f ' x = 6x − 18x<br />

. Portanto, os pontos críticos de<br />

f 0 = 1 e f ( 3) =− 26.<br />

Agora calculamos<br />

f 1 = − 6.<br />

Assim coletando os dados numa<br />

ponto Valor de f classificação<br />

x = 0<br />

f ( 0) = 1<br />

Máximo global<br />

3<br />

f 3 = − 26<br />

Mínimo global<br />

x = ( )<br />

x =− 1<br />

( )<br />

x = 1<br />

( )<br />

f − 1 =− 10<br />

nada<br />

f 1 = − 6<br />

nada<br />

Exemplo 3.4.2. Determine as dimensões do retângulo de maior área<br />

que pode ser inscrito na região fechada limitada pelo eixo-x, pelo eixo-y<br />

3<br />

e pelo gráfico de y = 8 − x . A região e um retângulo típico estão<br />

mostrados na figura ao lado. A área do retângulo é dada por A = xy .<br />

Vamos expressar y em função de x. Observe que como o ponto ( x, y )<br />

pertence ao gráfico da curva dada, temos que<br />

( )<br />

3<br />

= 8 − . Portanto,<br />

y x<br />

3 4<br />

= = × 8− = 8 − . De acordo com a figura, temos que<br />

A xy x x x x<br />

0≤ x ≤ 2,<br />

o que acarreta que desejamos encontrar o ponto de máximo<br />

0, 2 .<br />

global da função A no intervalo fechado [ ]<br />

Como A é uma função contínua, o Teorema de Weierstrass garante a existência do ponto de máximo. Vamos<br />

3<br />

encontrar os pontos críticos de A. Derivando, obtemos A'= 8− 4x,<br />

donde o único pontos crítico de A é


3 3<br />

x = 2 . Assim, calculando A em x= 0, x=<br />

2 e x = 2 verificamos que o ponto de máximo é<br />

3<br />

Portanto as dimensões do retângulo são x = 2 e y = 8− 2= 6.<br />

3.5. - Concavidade e Pontos de Inflexão<br />

91<br />

3<br />

x = 2 .<br />

A nossa próxima aplicação da derivada diz respeito a um aspecto muito importante de uma curva que é a<br />

concavidade. Vamos dar algumas definições.<br />

• Diremos que o gráfico de f tem a concavidade voltada para cima em um intervalo I do eixo-x se estiver<br />

acima de todas as retas tangentes a ele no intervalo I , exceto no ponto de tangência.<br />

• Diremos que o gráfico de f tem a concavidade voltada para baixo em I se estiver acima de todas as retas<br />

tangentes a ele neste intervalo, exceto no ponto de tangência.<br />

Observer as figuras abaixo. Na figura 1 o gráfico de f tem concavidade voltada para baixo, enquanto que na<br />

figura 2 o gráfico de f tem concavidade voltada para cima.<br />

O nosso intuito é procurar relacionar essa idéia geométrica de<br />

concavidade com as derivadas de uma função. Vamos fazer uma<br />

discussão bastante intuitiva. Observe a figura a seguir. Nela vemos<br />

que o gráfico da função no trecho considerado é côncavo para cima.<br />

Além disso, e este é o fato que devemos perceber bem, os<br />

coeficientes angulares das retas tangentes vão crescendo à medida<br />

que x aumenta. Isso quer dizer que a função que fornece esses<br />

coeficientes angulares é crescente. Mas esses coeficientes angulares<br />

são dados pela derivada da função f nos respectivos pontos. Portanto,<br />

no trecho considerado, a função f 'é<br />

crescente, ou seja, f '' > 0 .<br />

Através de uma discussão semelhante somos levados a concluir que,<br />

num intervalo onde o gráfico da função f é côncavo para baixo,<br />

temos f '' < 0 . Veja a figura ao lado:<br />

Assim resumimos o resultado de nossa discussão:<br />

Figura 1 Figura 2<br />

Seja f uma função real definida num intervalo I do eixo-x e que possui derivada segunda em seu domínio.<br />

• Se f '' > 0 em I então o gráfico de f tem a concavidade voltada para cima em I.<br />

• Se f '' < 0 em I então o gráfico de f tem a concavidade voltada para baixo em I.


A figura ao lado dá uma idéia acerca desse importante<br />

critério. Observe que antes do ponto P a função tem seu gráfico<br />

com a concavidade voltada para baixo. Após o ponto P há uma<br />

mudança da concavidade.<br />

Um ponto onde ocorre uma mudança na concavidade é<br />

conhecido como um ponto de inflexão. Para localizarmos esses<br />

pontos descobrimos as raízes da equação f ''( x ) = 0 e os pontos<br />

onde f '' não existe e, em seguida, fazemos o estudo do sinal de<br />

f ''. Veremos agora alguns exemplos.<br />

2<br />

Exemplo 3.5.1. Seja f ( x) = ax + bx+ c,<br />

com a ≠ 0 . Vamos estudar a concavidade de f . A derivada de f é<br />

dada por f '( x) = 2ax+<br />

be<br />

sua derivada segunda por f ''( x) = 2 a.<br />

Portanto, se a > 0 o gráfico de f tem a<br />

concavidade voltada para cima e se a < 0 , terá a concavidade voltada para baixo. Isso nós conhecíamos desde o<br />

9º. Ano do ensino fundamental. Só não tínhamos uma justificativa mais precisa.<br />

Exemplo 3.5.2. Seja<br />

3 2<br />

f ( x) = 2x − 12x + 18x− 2.<br />

Vamos investigar a concavidade do gráfico de f . Observe<br />

que<br />

2<br />

f '( x) = 6x − 24x+ 18<br />

e<br />

f '' x = 12x− 24 = 12 x−<br />

2 . Vemos que x = 2 é a<br />

( ) ( )<br />

única raiz de f ''( x ) = 0 . Pela análise do sinal de f ''<br />

vemos que para valores de x menores que 2 o gráfico de f<br />

tem concavidade voltada para baixo e para valores de x<br />

maiores que 2 tem concavidade voltada para cima. Veja um<br />

esboço do gráfico de f na figura ao lado.<br />

3.6. - Esboço de gráficos<br />

Exemplo 3.5.3. Nem sempre um ponto que é raiz da equação<br />

f '' x = 0 fornece pontos de inflexão. Tomemos a função<br />

( )<br />

( ) =<br />

4<br />

. Temos que<br />

3<br />

f '( x) = 4x<br />

e f ''( x) 2<br />

12x<br />

f x x<br />

= cuja<br />

única raiz é x = 0 . Entretanto o gráfico de f tem sempre a<br />

concavidade voltada para cima antes e depois do ponto em que<br />

x = 0. Ao lado está mostrado um esboço do gráfico de f .<br />

Chegamos à nossa última aplicação da derivada e, com certeza, uma das mais importantes: a construção do<br />

gráfico de algumas funções de uma variável. As ferramentas desenvolvidas nas seções anteriores serão de grande<br />

importância aqui. Daremos a seguir um pequeno roteiro para o traçado do gráfico de uma função f definida em<br />

algum subconjunto do eixo-x.<br />

92


a) Determinamos o seu domínio. Caso esse domínio contenha pontos de descontinuidade devemos analisar os<br />

limites laterais em cada um deles.<br />

b) Determinamos os pontos onde o gráfico da função corta os eixos coordenados. Esses pontos são chamados<br />

de interceptos. Em alguns casos pode ser difícil encontrar os interceptos do eixo-x. O intercepto do eixo-y é<br />

f 0 .<br />

( )<br />

c) Determinamos os intervalos onde f é crescente e os intervalos onde f é decrescente, através do estudo do<br />

sinal da derivada primeira antes e depois dos pontos críticos.<br />

d) Determinamos os intervalos onde o gráfico de f tem a concavidade voltada para cima e os intervalos onde o<br />

gráfico de f tem a concavidade voltada para baixo, através do estudo do sinal da derivada segunda antes<br />

dos pontos de inflexão.<br />

e) Determinamos o comportamento de f quando x →±∞.<br />

Vejamos alguns exemplos<br />

4 3<br />

Exemplo 3.6.1. Vamos fazer um esboço do gráfico de f ( x) = 3x + 4x<br />

. Inicialmente observamos que o seu<br />

domínio é o conjunto dos números reais. Vejamos os interceptos. Os pontos onde o gráfico de f corta o eixo-x<br />

4 3<br />

3 4<br />

são dados pelas raízes da equação f ( x) = 3x + 4x = 0,<br />

ou seja, x ( 3x+ 4) = 0 que são x = 0 e x = − . O<br />

3<br />

ponto onde o gráfico de f corta o eixo-y é f ( 0) = 0. Vamos agora determinar os pontos críticos de f. Temos que<br />

3 2<br />

f '( x) = 12x + 12 x . Os pontos críticos são x = 0 e x = −1. Agora vamos estudar o sinal de f '. Podemos<br />

3 2 2<br />

2<br />

reescrevê-la como f '( x) = 12x + 12x = 12x ( x+<br />

1)<br />

. Como o fator 12x é sempre ≥ 0 , o sinal de f 'é<br />

o<br />

mesmo de x + 1.<br />

As conclusões estão listadas na tabela a seguir<br />

Valores de x Sinal de f '(<br />

x )<br />

Conclusão<br />

x 0<br />

positivo f é crescente<br />

Da tabela acima vemos que o ponto x =− 1 é um ponto de mínimo local. Vamos agora determinar os pontos<br />

de inflexão de f. Temos que<br />

2<br />

f ''( x) = 36x + 24x.<br />

Vamos determinar agora os pontos de inflexão.<br />

Começamos localizando as raízes da equação f ''( x ) = 0, ou seja,<br />

93<br />

x + x=<br />

que são x = 0 e<br />

2<br />

36 24 0<br />

2<br />

x =− . Agora vamos estudar o sinal de f '' . Como se trata de uma função do segundo grau, reunimos na<br />

3<br />

tabela abaixo as nossas conclusões:<br />

Valores de x Sinal de f ''(<br />

x )<br />

Conclusão<br />

2<br />

x 0<br />

positivo f é côncava para cima<br />

2<br />

Do estudo acima concluímos que x =− e x = 0 são pontos de inflexão. Para finalizar determinamos<br />

3<br />

lim f x lim f x . Vamos determinar o primeiro. Observe que<br />

x→+∞<br />

( )<br />

e ( )<br />

x→−∞


⎛ ⎞<br />

lim f x = lim 3x + 4x = lim x ⎜3+ ⎟=+∞<br />

x→+∞ x→+∞ x→+∞<br />

⎝ x ⎠<br />

( ) 4 3 4 4<br />

lim<br />

x→−∞ f x = lim 3x x→−∞ + 4x = lim x<br />

x→−∞<br />

⎛ ⎞<br />

⎜3+ ⎟=+∞<br />

⎝ x ⎠<br />

Um esboço do gráfico de f está mostrado abaixo<br />

( ) 4 3 4 4<br />

Exemplo 3.6.2. Vamos fazer um esboço do gráfico de f ( x)<br />

94<br />

=<br />

9x<br />

( ) 2<br />

x + 1<br />

. Inicialmente notamos que o domínio<br />

de f é o conjunto os números reais diferentes de -1. Devemos, portanto, investigar o que ocorre com f próximo de<br />

x =− 1 . Observe que quando x está próximo de − 1 pela esquerda, o numerador está próximo de -9 e o<br />

lim f x =−∞. Por um<br />

denominador próximo de 0, e ambos possuem sinais contrários. Em virtude disso,<br />

−<br />

x→−1<br />

( )<br />

argumento semelhante temos que lim<br />

+<br />

x→−1<br />

f ( x)<br />

corta o eixo-y é f ( 0)<br />

que é igual a 0. Os pontos onde f corta o eixo-x são as raízes de ( ) 0<br />

= −∞ . Determinemos agora os interceptos de f. O ponto onde f<br />

f x = , ou seja, a raiz<br />

de 9x = 0 que é x = 0 . Veremos agora os intervalos onde f é crescente e aqueles onde f é decrescente. Temos<br />

que<br />

2<br />

9( x + 1) − 18x( x+ 1) 9( x+ 1)( 1−x) 9( 1−x)<br />

f '(<br />

x)<br />

= = = .<br />

4 4 3<br />

x+ 1 x+ 1 x+<br />

1<br />

( )<br />

( )<br />

( )<br />

Portanto, os pontos críticos de f são x =−1e x = 1.<br />

Observando a expressão da derivada, vemos que o estudo do<br />

seu sinal pode ser feito a partir do estudo do sinal do denominador uma vez que o denominador é sempre<br />

positivo. Assim sendo:<br />

Valores de x Sinal de f '(<br />

x )<br />

Conclusão<br />

x 1<br />

negativo f é decrescente<br />

Da tabela acima constatamos que x = 1 é um ponto de máximo local. Apesar de f ' ter sinal negativo antes de<br />

x =− 1 e positivo após, não podemos qualificá-lo como um ponto de mínimo local pois ele não pertence ao<br />

domínio de f. Vamos agora determinar os pontos de inflexão de f. Temos que


( )<br />

f '' x<br />

( ) ( )( )<br />

( )<br />

3 2<br />

95<br />

( )<br />

( )<br />

− 9 x + 1 −27 1− x1 x+ 1 −9 4−2x = =<br />

6 4<br />

x+ 1 x+<br />

1<br />

Os pontos onde f '' se anula ou não existe são x = −1 e x = 2 , respectivamente. O estudo do sinal de f '' está<br />

listado na tabela abaixo:<br />

Valores de x Sinal de f ''(<br />

x )<br />

Conclusão<br />

x 2<br />

positivo f é côncava para cima<br />

Deste estudo concluímos que x = 2 é o único<br />

ponto de inflexão de f . Para finalizarmos<br />

lim f x lim f x . Note<br />

devemos estudar ( )<br />

que:<br />

x→+∞<br />

e ( )<br />

x→−∞<br />

9 9<br />

9x30 f ( x)<br />

x x<br />

x→+∞ x→+∞ 2<br />

x→+∞ ( 1) 2 2 4 x→+∞<br />

x + ⎛ ⎞ 2 4<br />

1<br />

1<br />

x 1+<br />

+<br />

+ +<br />

2<br />

2<br />

lim = lim = lim = lim = = 0<br />

.<br />

⎜ ⎟<br />

⎝ x x ⎠<br />

Analogamente mostramos que f ( x)<br />

lim = 0 .<br />

x→−∞<br />

Um esboço do gráfico de f está mostrado ao lado:<br />

3.7. - O Teorema do valor médio<br />

Todos os resultados sobre crescimento, decrescimento e concavidade que obtivemos até o momento<br />

repousam essencialmente num dos teoremas mais importantes do <strong>Cálculo</strong> e que é conhecido como Teorema do<br />

valor médio. A primeira formulação feita desse teorema é devida ao matemático italiano Joseph-Louis Lagrange<br />

(1736-1813). O seu enunciado é o seguinte:<br />

Suponha que f seja uma função contínua no intervalo fechado [ ab , ] e derivável no intervalo aberto<br />

( ab , ) ,Então existe c∈ ( a, b)<br />

tal que<br />

( )<br />

f ' c<br />

ou equivalentemente, f ( b) − f ( a) = f ( c)( b− a)<br />

=<br />

' .<br />

x x<br />

( ) − ( )<br />

f b f a<br />

b−a Geometricamente ele significa existe um ponto c ( a, b)<br />

reta tangente ao gráfico de f no ponto ( , ( ) )<br />

passa pelos pontos a, f ( a ) e , ( )<br />

( )<br />

( )<br />

∈ tal que a<br />

c f c é paralela à reta que<br />

b f b , conforme nos mostra a<br />

figura ao lado. Não faremos a prova desse Teorema. Indicamos o<br />

livro de Serge Lang, citado na bibliografia como fonte de consulta.<br />

.


Veremos agora através de um exemplo como esse resultado funciona. Para isso, vamos ver a prova de<br />

um resultado sobre crescimento estabelecido anteriormente que é o seguinte:<br />

Seja f uma função definida num intervalo I do eixo-x. Se f 'é<br />

positiva em I então f será crescente em I .<br />

De fato, sejam a e b em I, com a b<br />

f a < f b . Pelo teorema do valor médio,<br />

existe c∈ ( a, b)<br />

tal que f ( b) − f ( a) = f ' ( c)( b−a) . Como ambos os fatores do lado direito dessa igualdade<br />

são positivos, pois f 'é<br />

positiva, então segue que f ( b) f ( a)<br />

0 f b > f a .<br />

4. - Avaliando o que foi construído<br />

< . Vamos provar que ( ) ( )<br />

− > , ou seja, ( ) ( )<br />

Ampliando o seu Conhecimento<br />

Imagine que um objeto move-se em linha reta com sua posição sendo dada por uma função s = s( t)<br />

com t∈ [ a, b]<br />

. Então de acordo com o Teorema do Valor Médio, existe um instante t = c∈ ( a, b)<br />

tal que a velocidade instantânea em c é igual à velocidade média do móvel entre t = a e t = b.<br />

Nesta unidade você teve a oportunidade de apreciar uma nova interpretação da derivada e viu como a<br />

derivada é útil no estudo do comportamento de uma função. Dentre os conhecimentos mais marcantes que vimos<br />

aqui podemos destacar a construção rigorosa do gráfico de uma função. Como dissemos anteriormente só as<br />

funções do primeiro grau possuíam um gráfico com construção totalmente justificada.<br />

No Moodle...<br />

Dialogando e Construindo Conhecimento<br />

Vá à plataforma MOODLE e dedique-se à leitura do material disponibilizado, discussões nos fóruns e<br />

resolução das tarefas relacionadas ao assunto desta unidade. Procure sempre sanar as suas dúvidas.<br />

Exponha seus pontos de vista sobre o assunto para que possamos crescer juntos no curso.<br />

Dialogando e Construindo Conhecimento<br />

Reúna-se com os colegas para discutir os temas abordados. Procure os Tutores para esclarecer as dúvidas<br />

sobre algum tema que não tenha sido bem assimilado. Comunique-se! Nós estamos sempre dispostos a<br />

orientá-lo e ajudá-lo em caso de dificuldade no estudo da disciplina. Acredite em seu potencial e conte<br />

conosco.<br />

96


Unidade <strong>II</strong>I: <strong>Integral</strong> Definida e Primitivas<br />

1. - Situando a Temática<br />

A partir de agora nós vamos conhecer dois novos objetos da Matemática. São a integral definida e a<br />

primitiva. A primeira vai ser definida a partir de uma situação concreta, a saber, a determinação de uma área.<br />

Como quase tudo o que é feito em Matemática, começa-se com uma situação concreta, esta motiva uma<br />

definição abstrata e esta última cria vida própria e desenvolve-se dando origem a novos resultados que podem<br />

incluir até mesmo outras situações concretas diversas daquela inicial. Durante este curso esta atitude já foi<br />

tomada com relação à derivada. Motivaremos a integral definida para uma situação particular e sempre<br />

voltaremos a essa interpretação. O outro objeto, a primitiva de uma função, será definida como um processo<br />

inverso ao da derivação, ou seja, dada uma função f, procura-se uma outra g tal que a derivada de g seja f. A<br />

função g será chamada uma primitiva para f . Apesar da aparente simplicidade, tal procura, em geral, pode ser<br />

bastante laboriosa. O mais impressionante será o relacionamento entre os dois novos objetos introduzidos: a<br />

integral definida e a primitiva de uma função relacionam-se harmoniosamente num resultado conhecido como<br />

Teorema fundamental do cálculo.<br />

2. - Problematizando a Temática<br />

Determinar a área de uma figura plana foi um problema bastante atacado pelos antigos cientistas e,<br />

muito satisfatoriamente, por um dos maiores gênios da antiguidade, Arquimedes de Siracusa. Aqui abordaremos<br />

alguns problemas semelhantes aos que ele abordou e os resolveremos de uma maneira moderna usando o<br />

chamado Teorema fundamental do <strong>Cálculo</strong>.<br />

3. - Conhecendo a Temática<br />

3.1 - Motivação inicial: o problema da área<br />

O cálculo das áreas de polígonos já era conhecido desde<br />

Euclides. Entretanto foi Arquimedes quem primeiro construiu<br />

uma idéia satisfatória no cálculo de áreas de figuras planas em<br />

geral. A sua idéia baseava-se na aproximação da região por<br />

polígonos, dos quais se sabia efetivamente calcular a área.<br />

Vejamos a seguinte situação. Tomemos a função<br />

2<br />

f ( x) = x + 1e<br />

o nosso problema é determinar a área da região<br />

S do plano limitada pelo gráfico de f , pelo eixo-x e pelas retas<br />

x = 0 e x = 2 , conforme a figura ao lado:<br />

Vamos dividir o intervalo [ 0, 2 ] em 4 intervalos iguais.<br />

Como são 4 intervalos, cada um terá comprimento<br />

2−0 2<br />

Δ x = = = 0,5 . Assim, teremos os intervalos<br />

4 4<br />

⎡ 1⎤ ⎡1 ⎤ ⎡ 3⎤<br />

⎢<br />

0, , ,1 , 1,<br />

⎣ 2⎥ ⎦<br />

⎢<br />

⎣2 ⎥<br />

⎦<br />

⎢<br />

⎣ 2⎥<br />

⎦ e 3 ⎡ ⎤<br />

⎢<br />

,2<br />

⎣ 2 ⎥<br />

. Em cada um desses intervalos<br />

⎦<br />

escolhemos um ponto qualquer. Vamos escolher o ponto extremo<br />

direito. Consideramos então os retângulos de base igual a cada<br />

intervalo e altura igual ao valor de f no ponto especificado.<br />

Calculamos a soma das áreas de cada um desses retângulos e obtemos um valor aproximado para a área<br />

desejada.<br />

Aqui temos um valor aproximado para essa área:<br />

97


1 ⎛1⎞ 1 1 ⎛3⎞ 1 1 5 1 1 13 1<br />

× f ⎜ ⎟+ × f () 1 + × f ⎜ ⎟+<br />

× f ( 2) = × + × 2+ × + × 5= 5.75.<br />

2 ⎝2⎠ 2 2 ⎝2⎠ 2 2 4 2 2 4 2<br />

Evidentemente a escolha do ponto extremo direito foi uma opção nossa. Poderíamos também ter escolhido o<br />

ponto extremo esquerdo, ou outro qualquer. Caso tivéssemos escolhido o extremo esquerdo e repetido o<br />

processo, um valor aproximado para a área pedida seria<br />

1 1 ⎛1⎞ 1 1 ⎛3⎞ 1 1 5 1 1 13<br />

× f ( 0) + × f ⎜ ⎟+ × f () 1 + × f ⎜ ⎟=<br />

× 1+ × + × 2+ × = 3.75<br />

2 2 ⎝2⎠ 2 2 ⎝2⎠ 2 2 4 2 2 4<br />

Uma figura neste caso está mostrada abaixo:<br />

Se tivéssemos tomado o ponto médio de cada intervalo, um valor aproximado para a área seria<br />

1 ⎛1⎞ 1 ⎛3⎞ 1 ⎛5⎞ 1 ⎛7⎞ 1 17 1 25 1 41 1 65<br />

× f ⎜ ⎟+ × f ⎜ ⎟+ × f ⎜ ⎟+ × f ⎜ ⎟=<br />

× + × + × + × = 4.625.<br />

2 ⎝4⎠ 2 ⎝4⎠ 2 ⎝4⎠ 2 ⎝4⎠ 2 16 2 16 2 16 2 16<br />

Uma figura representando essa situação está mostrada abaixo:<br />

Observe que o valor dessas aproximações vai melhorando cada vez mais quando fizermos a quantidade de<br />

intervalos aumentar. Se ao invés de 4 tivéssemos tomado 8, a aproximação seria 4,65625 usando como ponto<br />

escolhido o ponto médio de cada intervalo. Só para se ter uma idéia, o valor exato de tal área é 14<br />

4,666...<br />

3 =<br />

Vale a pena notar também que se dividirmos o intervalo [ 0, 2 ] em n subintervalos todos de igual comprimento<br />

2− 0 2<br />

= teremos os seguintes subintervalos:<br />

n n<br />

⎡ 2⎤ ⎡2 4⎤ ⎡4 6⎤<br />

⎡ 2( n − 2)<br />

⎤<br />

I1 =<br />

⎢<br />

0, , I2 , , I3 , ,..., In<br />

,2<br />

n⎥ =<br />

⎢<br />

= = ⎢ ⎥<br />

n n⎥ ⎢n n⎥ .<br />

⎣ ⎦ ⎣ ⎦ ⎣ ⎦ ⎣ n ⎦<br />

98


Se escolhermos um ponto qualquer em cada um deles, c1∈I1, c2∈I2,..., cn∈ In,<br />

o valor para a<br />

aproximação neste caso será:<br />

2 2 2 2 2 2 2 2 n<br />

2 2<br />

( c1 + 1) × + ( c2 + 1) × + ( c3 + 1 ) × + ... + ( cn + 1) × = ∑ ( ci<br />

+ 1)<br />

× ,<br />

n n n n i=<br />

1 n<br />

n<br />

2 2<br />

Onde o símbolo ∑ ( ci<br />

+ 1)<br />

× indica a soma das n parcelas que estão do lado esquerdo. Veja que todas<br />

i=<br />

1 n<br />

elas são semelhantes, só diferem no índice. Por isso mesmo vamos usar com freqüência esta notação que é<br />

muito mais econômica.<br />

3.2. - <strong>Integral</strong> definida: definição e propriedades<br />

A idéia surgida anteriormente para o cálculo de área agora será usada como motivação para definirmos um<br />

novo objeto matemático: a integral definida. Suponha que f seja uma função contínua definida num intervalo<br />

[ , ]<br />

ab em n subintervalos, I1, I2,..., I n<br />

b−a todos de mesmo comprimento Δ x = . Vamos escolher pontos c1∈I1, c2∈I2,..., cn∈Ine consideremos a<br />

n<br />

soma, conhecida como soma de Riemann:<br />

ab do eixo-x e n um número natural. Vamos dividir o intervalo [ , ]<br />

( ) ( ) ( ) ( )<br />

f c Δ x+ f c Δ x+ f c Δ x+ + f c Δ x<br />

1 2 3 ... n<br />

que pode ser reescrita numa forma mais compacta da seguinte maneira:<br />

( ) ( ) ( ) ... ( ) ( )<br />

f c Δ x+ f c Δ x+ f c Δ x+ + f c Δ x= ∑ f c Δx.<br />

1 2 3<br />

Definimos a integral definida de f em [ ab , ] com sendo:<br />

b<br />

n→+∞ i=<br />

1<br />

99<br />

( )<br />

lim n<br />

∑ f c Δx.<br />

i<br />

n i<br />

i=<br />

1<br />

Vamos representá-la pelo símbolo ∫ f ( x) dx.<br />

Devemos lê-lo como a integral de ( )<br />

b n<br />

∫ lim<br />

a<br />

n→+∞ i=<br />

1<br />

b .Portanto, ( ) ∑ ( )<br />

f x dx= f c Δx.<br />

i<br />

Caso a função f seja positiva no intervalo [ ab , ] a integral definida de<br />

f em [ ab , ] representa a área que está abaixo do gráfico de f acima do<br />

eixo-x e limitada pelas retas x = a e x = b , conforme a figura ao lado.<br />

a<br />

n<br />

f x entre a e


Agora devemos ter um cuidado: nem sempre a integral<br />

definida fornece a área entre o gráfico de f , o eixo-x e<br />

as retas x = a e x = b , conforme nos mostra a figura<br />

abaixo. Nela está mostrado o gráfico da função<br />

f ( x) = ( x+ 1)( x−1)( x−<br />

3)<br />

. Perceba que a área da<br />

região delimitada pelo gráfico de f , pelo eixo-x e as<br />

Veremos a seguir algumas propriedades da integral definida. Vamos adiar suas demonstrações para o curso de<br />

Introdução à Análise. Suponha que f e g sejam funções contínuas definidas no intervalo [ ab , ] . Então valem as<br />

seguintes propriedades:<br />

( ± ) = ( ) ± ( )<br />

b b b<br />

∫ f x g x dx ∫ f x dx ∫ g x dx,<br />

1. ( ) ( )<br />

a a a<br />

b c b<br />

2. Se c∈ ( a, b)<br />

então f ( x) dx= f ( x) dx+ f ( x) dx,<br />

∫ ∫ ∫ .<br />

a a c<br />

b b<br />

3. Se f ( x) ≤ g( x)<br />

para todo x ∈ [ ab , ] então ( ) ≤ ( )<br />

∫ f x dx ∫ g x dx.<br />

a a<br />

Faremos também as seguintes convenções:<br />

a<br />

1. f ( x) dx= 0<br />

a<br />

∫ f<br />

b<br />

x dx=−∫ f x dx<br />

∫ 2. ( ) ( ) .<br />

a<br />

3.3. - Primitivas<br />

3<br />

x = NÃO é dada por ( )<br />

retas x =−1e 3<br />

∫ f x dx!<br />

Isso<br />

−1<br />

porque a função nesse trecho assume valores positivos e<br />

negativos. Portanto o que essa integral nos fornece na<br />

realidade é A1− A2,<br />

onde A 1 é a área da região abaixo do<br />

gráfico de f e acima do eixo-x entre x =− 1 e x = 1 e<br />

A2 é a área da região acima do gráfico de f e abaixo do<br />

eixo-x entre x = 1e<br />

x = 3.<br />

b a<br />

A partir de agora iremos a busca de calcular a integral definida de uma função contínua f definida em<br />

um intervalo [ ab , ] . Quem vai interceder de maneira decisiva nesse cálculo será o objeto que estudaremos nesta<br />

seção, a chamada primitiva ou integral indefinida de uma função. Sabemos do nosso estudo inicial de derivadas<br />

que a derivada de uma função constante é igual a zero. A pergunta que se nos põe é a seguinte: uma função que<br />

possua derivada igual nula é constante? Colocada assim de uma forma tão geral essa pergunta está longe de ter<br />

uma resposta afirmativa, como nos mostra o seguinte exemplo:<br />

Exemplo 3.3.1. Considere a função:<br />

( )<br />

f x<br />

⎧ 1 se x > 0<br />

= ⎨<br />

⎩−<br />

1 se x < 0<br />

Observe que essa função tem derivada nula em todos os pontos do seu domínio, mas ela não é uma função<br />

constante.<br />

100


Para responder à pergunta formulada anteriormente de forma satisfatória usaremos o Teorema do Valor Médio.<br />

A resposta definitiva é a seguinte:<br />

Fato 1: Suponha que f seja uma função contínua definida num intervalo aberto I do eixo-x e que para todo<br />

x ∈ I . Então f é constante em I .<br />

Esse fato nos permite ainda tirar uma conclusão bastante importante acerca de funções que possuem a mesma<br />

derivada:<br />

Fato 2: Suponha que f e g são funções contínuas definidas no mesmo intervalo aberto I do eixo-x e que<br />

( ) ( )<br />

f ' x = g' x para todo x I<br />

Passamos agora a definir o principal objeto dessa seção:<br />

∈ . Então existe uma constante k tal que ( ) ( )<br />

101<br />

f x = g x + k,<br />

para todo x ∈ I .<br />

Seja f uma função definida num intervalo aberto I do eixo-x. Uma primitiva ou integral indefinida para f é<br />

uma função F definida em I tal que F'( x) f ( x)<br />

= para todo x ∈ I .<br />

2<br />

Exemplo 3.3.2. A função F( x) = x é uma primitiva para a função f ( x) 2x<br />

2 2<br />

de f as funções F( x) = x + 1,<br />

F( x) = x − 1 e, mais geralmente, ( ) 2<br />

= em R . Também são primitivas<br />

F x = x + k , onde k∈Ré qualquer<br />

constante. Uma pergunta que poderíamos fazer nesse momento é a seguinte: Todas as primitivas de f são dessa<br />

2<br />

forma, ou seja, se F é uma primitiva de f então F( x) = x + k ? A resposta é sim. De fato, Se F e G são<br />

primitivas de f no intervalo aberto I , então, em I , temos F'( x) = G'( x)<br />

. Logo, pelo fato 2 acima, concluímos<br />

que deve existir uma constante k tal que G( x) = F( x) + k , para todo x ∈ I .<br />

O que o exemplo 3.3.2. acima nos conta é que se encontrarmos uma primitiva F de uma função f então todas as<br />

outras são obtidas a partir de F adicionando constantes (que podem ser negativas ou positivas). Portanto, nosso<br />

esforço estará concentrado na determinação de uma primitiva.<br />

Usaremos a notação abaixo para indicar que todas as primitivas de uma função f são iguais a F adicionada a<br />

constantes:<br />

f ( x) dx= F( x) + k,<br />

k uma constante.<br />

Observe que os símbolos ∫ f ( x) dxe<br />

∫ ( )<br />

∫<br />

A seguir exibiremos algumas propriedades da primitiva de uma função.<br />

b<br />

a<br />

f x dxindicam<br />

objetos distintos apesar da semelhança entre eles.<br />

Se f e g são funções definidas em um intervalo I , então valem as seguintes propriedades:<br />

1. ∫⎡⎣f( x) ± g ( x) ⎤⎦<br />

dx= ∫ f ( x) dx± ∫g(<br />

x) dx,<br />

2. ∫cf( x) dx= c∫ f ( x) dx,<br />

onde c é uma constante real.<br />

Agora atente bem porque não valem propriedades semelhantes para divisão e produto. Logo mais veremos<br />

como relacionar a idéia de primitiva com o cálculo de integrais definidas. Antes vejamos alguns exemplos que<br />

ilustram a importância das primitivas.<br />

Exemplo 3.3.3. Vamos determinar a função f que satisfaz às seguintes condições:<br />

( )<br />

( )<br />

2<br />

⎧ ⎪ f ' x = 3x<br />

⎨<br />

.<br />

⎪⎩ f 0 = 2


f 0 = 2,<br />

temos que 2,<br />

= + . Um problema como esse é conhecido como problema de valor inicial,<br />

uma vez que além da informação sobre a derivada da função f também possuímos uma informação sobre o valor<br />

de f em um ponto.<br />

Como<br />

2<br />

3<br />

f '( x) = 3x<br />

temos, por inspeção, que f ( x) = x + k , onde k é uma constante. Como ( )<br />

k = donde f ( x) 3<br />

x 2<br />

Exemplo 3.3.4. Uma partícula desloca-se sobre o eixo-x. Sabe-se que no instante t, t>0, a sua velocidade é<br />

v() t = 2t+ 1.<br />

Sabe-se, ainda, que no instante t = 0 , a partícula encontra-se na posição x = 1. Determine a<br />

posição da partícula em um instante de tempo t > 0 qualquer.<br />

Sabemos que a velocidade v() t da partícula é dada pela derivada de sua posição x() t . Portanto,<br />

x ' t = 2t+ 1.<br />

Por inspeção, verificamos que<br />

2<br />

x( t) = t + t+ k , onde k é uma constante. Como<br />

()<br />

2<br />

x ( 0) = 1, devemos ter k = 1 o que acarreta ( )<br />

x t = t + t+<br />

1.<br />

Veremos agora um quadro resumido com algumas primitivas chamadas imediatas. O adjetivo refere-se ao<br />

fato de que são obtidas pelo processo inverso de derivação:<br />

•<br />

k + 1<br />

k x<br />

∫ x dx = + C,<br />

se k ≠ − 1<br />

k + 1<br />

•<br />

1<br />

−1<br />

∫ dx = ∫ x dx = ln x + C<br />

x<br />

•<br />

x x<br />

∫ edx= e + C<br />

• ∫ senxdx =− cos x + C<br />

• ∫ cos xdx = senx + C<br />

•<br />

2<br />

∫ sec xdx = tgx+ C<br />

• ∫<br />

1<br />

2<br />

1−<br />

x<br />

dx = arcsenx + C<br />

•<br />

1<br />

∫ dx = arctgx+ C<br />

2<br />

1+<br />

x<br />

2<br />

− x<br />

2<br />

As funções e ,cos ( x ) , sen( x)<br />

3.4. - O Teorema fundamental do <strong>Cálculo</strong><br />

Ampliando o seu Conhecimento<br />

Chegamos a um dos resultados mais importantes do nosso curso. Aquele que nos permitirá relacionar as<br />

noções de derivada e integral de uma forma bastante surpreendente e, como resultado, nos mostra um caminho<br />

prático para calcularmos integrais definidas evitando o tortuoso caminho da definição. O resultado é o seguinte:<br />

Teorema Fundamental do <strong>Cálculo</strong>:<br />

,<br />

Se f for contínua em [ ab ] e se F for uma primitiva de f em [<br />

b<br />

f ( x) dx= F( b) −F(<br />

a).<br />

, ]<br />

∫<br />

a<br />

e muitas outras não possuem primitivas que possam ser<br />

expressas em termos das funções que conhecemos. Esse fato foi provado pelo matemático francês<br />

Liouville.<br />

102<br />

ab , então:


Vamos ver uma demonstração deste fato. Ela é simples e bonita o suficiente para apreciarmos. Supondo que<br />

ab , . Então:<br />

f seja contínua em [ ]<br />

b n<br />

∫ lim<br />

a<br />

n→+∞ i=<br />

1<br />

( ) ∑ ( )<br />

f x dx= f c Δx<br />

existe independentemente da escolha dos ci's. O que faremos aqui é fazer uma escolha particular dos ci's e<br />

que fornecerá o resultado desejado. Como F é contínua em cada intervalo [ 1 ] , Ii = xi−xi e derivável no intervalo<br />

x x<br />

∗<br />

c ∈ x x tal que:<br />

aberto ( − ) , existe, pelo Teorema do Valor Médio, um ponto ( )<br />

1 , i i<br />

1 ,<br />

i i−i i i−1 '<br />

∗<br />

i i i−1 ∗<br />

i i i−1<br />

( ) ( ) ( )( ) ( )( )<br />

F x − F x = F c x − x = f c x − x .<br />

Agora vamos somar todas as parcelas do tipo acima. Mais especificamente:<br />

( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )<br />

F x F x F x F x F x F x F x F x F x F x<br />

1 − 0 + 2 − 1 + 3 − 2 + ... + n−1 − n−2 + n − n−1<br />

=<br />

∗<br />

f c1 x1− x0 +<br />

∗<br />

f c2 x2 − x1 +<br />

∗<br />

f c3 x3 − x2 + ... +<br />

∗<br />

f cn−1 xn−1− xn−2 +<br />

∗<br />

f cn xn − xn−1<br />

( )( ) ( )( ) ( )( ) ( )( ) ( )( )<br />

O lado esquerdo dessa igualdade reduz-se a F( x ) F( x ) F( b) F( a)<br />

escrita numa forma mais compacta como:<br />

Agora fazendo n →+∞ nós obtemos:<br />

donde:<br />

como queríamos demonstrar.<br />

n<br />

i=<br />

1<br />

n→+∞ i=<br />

1<br />

n<br />

103<br />

0<br />

i<br />

− = − . Portanto a igualdade pode ser<br />

∗ ( i )( i − i−1)<br />

= ( ) − ( )<br />

∑ f c x x F b F a .<br />

∗ b<br />

( i ) Δ = ( ) = a<br />

( ) − ( )<br />

lim n<br />

∑ f c x ∫ f x dx F b F a ,<br />

b<br />

a<br />

∫<br />

( ) = ( ) − ( )<br />

f x dx F b F a<br />

Vamos calcular algumas integrais definidas usando o Teorema Fundamental.<br />

2<br />

3 2<br />

Exemplo 3.4.1. Calcule ∫ ( + )<br />

3 2<br />

f ( x) x x .<br />

1<br />

x x dx.<br />

Em primeiro lugar vamos determinar uma primitiva para<br />

= + Usando a lista de primitivas vista no final da seção anterior, temos que uma primitiva para f é<br />

4 3<br />

x x<br />

F( x ) = + . Portanto, pelo Teorema Fundamental do <strong>Cálculo</strong>, temos que:<br />

4 3<br />

2 4 3 4 3<br />

3 2<br />

∫ ( x x ) dx F( 2) F(<br />

1)<br />

1<br />

⎛2 2 ⎞ ⎛1 1 ⎞ 15 7 45−28 17<br />

+ = − = ⎜ + ⎟− ⎜ + ⎟=<br />

+ = =<br />

⎝ 4 3 ⎠ ⎝ 4 3 ⎠ 4 3 12 12<br />

2<br />

Exemplo 3.4.2. Calcule a área limitada pelo gráfico de f ( x) = x + 1,<br />

as retas x = 0 , x = 2 e o eixo-x. Esse<br />

foi o problema com o qual iniciamos nosso estudo da integral definida. Pelo que já vimos a área pedida é igual a<br />

2<br />

3<br />

2<br />

2 x<br />

∫ ( x + 1)<br />

dx . Uma primitiva para f ( x) = x + 1 é F( x) = + x.<br />

Portanto:<br />

0<br />

3<br />

,


2 3 3<br />

2<br />

∫ ( x ) dx F( ) F(<br />

)<br />

0<br />

⎛2 ⎞ ⎛0 ⎞ 8 14<br />

+ 1 = 2 − 0 = ⎜ + 2⎟− ⎜ + 0⎟= + 2=<br />

.<br />

⎝ 3 ⎠ ⎝ 3 ⎠ 3 3<br />

Exemplo 3.4.3. Calcule a área da região limitada pelo gráfico de f ( x) ( x 1)( x 1)( x 3)<br />

104<br />

= + − − entre os pontos<br />

x =− 1 e x = 3 . Revendo a discussão sobre áreas e integrais a área pedida será dada por<br />

1 3<br />

( ) − ( )<br />

∫ f x dx∫ f x dx,<br />

ou seja, a área pedida é dada por:<br />

−1<br />

1<br />

1 3 1 3<br />

3 2 3 2<br />

∫ ( ) ∫ ( ) ∫( 3 3) ∫ ( 3 3)<br />

f x dx− f x dx= x − x − x+ dx− x − x − x+ dx=<br />

−1 1 −1<br />

1<br />

3 2<br />

Uma primitiva para f ( x) = x −3x − x+<br />

3é<br />

( )<br />

32<br />

igual a F() 1 −F( −1) −( F( 3) − F()<br />

1 ) = .<br />

4<br />

4. - Avaliando o que foi construído<br />

4 2<br />

x 3 x<br />

F x = −x − + 3x.<br />

Portanto, a área pedida será<br />

4 2<br />

Nesta unidade tivemos a oportunidade de conhecer dois objetos novos da matemática: a integral definida e a<br />

primitiva de uma função. Vimos que ambas resolvem problemas concretos e que relacionam-se através do<br />

conhecido Teorema Fundamental do <strong>Cálculo</strong>.<br />

No Moodle...<br />

Na plataforma MOODLE, no espaço reservado à disciplina <strong>Cálculo</strong> <strong>Diferencial</strong> e <strong>Integral</strong> <strong>II</strong>, você<br />

poderá testar seus conhecimentos a respeito do tema dessa unidade. Dedique-se à leitura do material<br />

complementar e à resolução das tarefas relacionadas a este assunto. Vamos nos encontrar no MOODLE. Até<br />

lá!<br />

Dialogando e Construindo Conhecimento<br />

Reúna-se com os colegas para discutir os temas abordados. Visite constantemente a plataforma<br />

MOODLE, faça as tarefas nela propostas. Procure os Tutores para esclarecer as dúvidas sobre<br />

algum tema que não tenha sido bem assimilado. Comunique-se! Nós estamos sempre dispostos a<br />

orientá-lo e ajudá-lo em caso de dificuldade no estudo da disciplina. Participe! Acredite em seu<br />

potencial e conte conosco.


Unidade IV: Algumas Técnicas para se Encontrar Primitivas<br />

1. - Situando a Temática<br />

Na unidade anterior tivemos a oportunidade de conhecer o Teorema fundamental do cálculo que fornece<br />

uma maneira mais rápida para se calcular a integral definida de uma função f em termos de alguma de suas<br />

primitivas. O que faremos nesta unidade será apresentar algumas técnicas para a determinação de primitivas que<br />

também são conhecidas por técnicas de integração.<br />

2. - Problematizando a Temática<br />

As primitivas imediatas vistas na unidade anterior são obtidas diretamente por um processo inverso de<br />

derivação. Em geral isso pode ser feito, mas por procedimentos um pouco mais delicados. Portanto o principal<br />

problema abordado aqui será o de determinar primitivas de funções.<br />

3. - Conhecendo a Temática<br />

3.1. - Integração por substituição<br />

Duas das técnicas de integração que estudaremos funcionam ao contrário de duas regras de derivação. A<br />

primeira é a integração por substituição que funciona ao contrário da Regra da Cadeia. Começaremos com um<br />

exemplo.<br />

2<br />

Exemplo 3.1.1. Vamos determinar uma primitiva para a função ( )<br />

105<br />

2xcos x , o que é equivalente a calcular<br />

2<br />

2 du<br />

∫ 2xcos ( x ) dx.<br />

Observe que se fizermos u = x , e derivarmos com relação a x ficaremos com = 2 x,<br />

de<br />

dx<br />

modo que du = 2 xdx.<br />

Essa última passagem é justificável, mas não faremos isso aqui. Agora fazemos a<br />

substituição:<br />

2 2 2<br />

( ) ( ) ( )<br />

∫2xcos x dx = ∫cos x 2xdx = ∫ cosudu<br />

= senu + C = sen x + C .<br />

Perceba bem: o segredo aqui foi fazer uma escolha acertada da substituição, ou seja, uma escolha acertada de u.<br />

Vejamos outro exemplo:<br />

x<br />

Exemplo 3.1.2. Calcule ∫ dx.<br />

Vamos fazer de duas formas para que fique claro que às vezes um mesmo<br />

2<br />

1+<br />

x<br />

2<br />

problema pode ser resolvido de duas ou mais maneiras diferentes. Vamos ao primeiro modo. Se fizermos u = x<br />

du<br />

e derivarmos com relação a x, ficaremos com = 2 x,<br />

ou seja, du = 2 xdx.<br />

Mas veja que isso fornece<br />

dx<br />

du<br />

xdx = . Por que fizemos isso ? Porque no integrando temos xdx e não 2xdx ! Agora substituímos e<br />

2<br />

obtemos:<br />

x 1 1 du 1 1<br />

∫ dx = .<br />

2 ∫ xdx = 2 ∫ = ∫ du<br />

1+ x 1+ x 1+ u 2 2 1+<br />

u<br />

Aparentemente a nossa escolha de u não foi boa, porque nos conduziu a uma integral que também não é da<br />

categoria das imediatas. Mas veja que podemos fazer uma nova substituição. Faremos v= 1 + u.<br />

Derivando v<br />

dv<br />

com relação a u, teremos = 1, ou seja, dv = du.<br />

Agora substituindo, teremos:<br />

du


Portanto:<br />

1 1<br />

∫ du = ∫ dv = ln v + C = ln 1 + u + C.<br />

1+<br />

u v<br />

x 1 1 1 1 1<br />

∫ = ∫ = + = + + = + +<br />

106<br />

( )<br />

2 2<br />

dx du ln u C ln 1 x C ln 1 x C.<br />

2<br />

1+ x 2 1+ u 2 2 2<br />

2<br />

Vejamos agora uma substituição que é mais rápida. Façamos u = 1 + x . Derivando com relação a x, teremos<br />

du<br />

du<br />

= 2 x,<br />

ou seja, du = 2 xdx.<br />

Essa última nos leva a xdx = . Agora substituindo, teremos:<br />

dx 2<br />

x 1 du 1 1 1 1<br />

2<br />

∫ dx = ln ln 2 ∫ = ∫ du = u + C = ( 1 + x ) + C.<br />

1+ x u 2 2 u 2 2<br />

Em resumo, a regra funciona assim:<br />

( ) ( )<br />

Regra da Substituição: Se quisermos calcular ∫ f<br />

du = g ' ( x) dx.<br />

Assim:<br />

g( x) × g ' x dx,<br />

podemos fazer u g ( x)<br />

∫ f ( g( x) ) × g ' ( x) dx= ∫ f ( u) du.<br />

Portanto, se soubermos calcular esta última e, digamos, que ela seja F( x ), a primeira será F g ( x )<br />

= e daí,<br />

( ).<br />

Vejamos mais dois exemplos:<br />

x<br />

Exemplo 3.1.3. Calcule ∫ dx . Observe que este caso é um pouco diferente dos demais. Gostaríamos muito<br />

x −1<br />

x −1<br />

que o integrando fosse o inverso do que realmente é, ou seja, se fosse algo como ∫ dx seria fácil calcular<br />

x<br />

(será mesmo? Tente). Bom, mas esse impulso inicial é válido e vamos nos apegar a ele. Façamos<br />

u = x−1.<br />

Derivando com relação a x, obtemos du = dx.<br />

Mas o que fazer com o x que está no numerador já que<br />

ele não aparece na expressão de du ? Fazemos o seguinte, lembre que u = x−1,<br />

portanto, x= u+<br />

1. Agora<br />

substituímos:<br />

x u+ 1 u 1 1<br />

∫ dx = ∫ du = ∫ du + ∫ du = ∫1du + ∫ du = u + ln u + C = ( x − 1) + ln x − 1 + C.<br />

x−1u u u u<br />

Exemplo 3.1.4. Calcule ∫<br />

x<br />

dx.<br />

Observe que não está clara aqui nenhuma substituição. Vamos tentar<br />

2x+ 3<br />

du<br />

u = 2x+ 3. Veja que = 2, ou seja, du = 2 dx.<br />

A mesma idéia que usamos antes, ou seja, tirar o valor de x em<br />

dx<br />

u − 3<br />

função de u nos leva a x = . Portanto substituindo ficaremos com:<br />

2<br />

u − 3<br />

∫<br />

x<br />

dx = ∫<br />

2x+ 3<br />

2<br />

u<br />

du 1 u−3 1⎧ = ∫ du = ⎨∫ 2 4 u 4⎩ u<br />

du − ∫<br />

u<br />

3 ⎫ 1 1/2 −1/2<br />

du⎬= { ∫udu − 3∫udu}<br />

=<br />

u ⎭ 4<br />

Há outra possibilidade que é tentar u = 2x+ 3. Faça como exercício.<br />

( ) 3/2<br />

x +<br />

3/2 1/2 3/2<br />

1 ⎧u u ⎫ u<br />

1/2 2 3<br />

= ⎨ − 3 ⎬=<br />

− 6u + C = − 6 2x+ 3 + C.<br />

4⎩3/2 1/2⎭ 6 6


3.2. - Integração por partes<br />

A regra do produto para funções deriváveis afirma que se u e v são funções deriváveis então o produto das duas<br />

também é derivável e sua derivada será dada por:<br />

uv ' x = u' x v x + u x v' x .<br />

( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )<br />

A técnica de integração por partes irá reverter esse processo. Isso será descrito a seguir. A primeira coisa para<br />

que devemos atentar é que a fórmula da derivada do produto nos diz que u( x) v( x) é uma primitiva<br />

de u'( x) v( x) + u( x) v'( x)<br />

, ou seja,<br />

u'( x) v( x) + v( x) u'( x) dx= u x v x<br />

∫<br />

( ) ( ) ( )<br />

A segunda é que, supondo que u'( x) v( x) possua uma primitiva imediata, podemos escrever:<br />

∫u( x) v'( x) dx= u( x) v( x) −∫<br />

v( x) u'( x) dx<br />

Se fizermos u '(<br />

x) dx = du e v '(<br />

x) dx = dv a fórmula acima fica:<br />

∫udv = uv − ∫ vdu,<br />

que é conhecida como fórmula da integração por partes. Vamos ver alguns exemplos.<br />

Exemplo 3.2.1. Calcule ∫ x cos xdx.<br />

Observe que não há substituição que possa ser útil para calcular essa<br />

du<br />

integral. Vamos fazer u = x e dv = cos xdx.<br />

Com essas escolhas, temos que = 1, ou seja, du = dx e<br />

dx<br />

dv<br />

= cos x , ou seja, v= senx.<br />

Assim, usando a fórmula acima, temos que:<br />

dx<br />

∫xcos xdx = ∫udv= uv − ∫vdu = xsenx − ∫ senxdx = xsenx + cos x + C .<br />

Observe que as escolhas para u e dv foram muito importantes. Se tivéssemos feito outras escolhas as coisas<br />

poderiam ter ficado mais complicadas. De fato, vamos ver o que ocorreria se tivéssemos escolhido u = cos x e<br />

2<br />

du<br />

dv<br />

x<br />

dv = xdx.<br />

Nesse caso teremos =−senx, ou seja, du = − senxdx e = x,<br />

o que implica v = . Assim,<br />

dx dx 2<br />

substituindo na fórmula da integração por partes, ficamos com<br />

2<br />

x 1 2<br />

∫xcos xdx = ∫udv= uv − ∫vdu = cos x + ∫ x senxdx .<br />

2 2<br />

Note que a última integral é mais difícil de calcular que a primeira. Essa dificuldade maior surgiu em virtude da<br />

nossa escolha infeliz de u e de dv .<br />

Ficou evidenciado no exemplo acima que o sucesso do método da integração por partes reside na escolha certa<br />

de u e de dv . Assim, algumas recomendações são úteis. Escolha u e dv de modo que v e vdu possuam<br />

primitivas fáceis de encontrar. Não precisam ser imediatas, apenas fáceis. Vamos ver mais alguns exemplos.<br />

Exemplo 3.2.2. Calcule ∫ x ln xdx.<br />

A melhor escolha para u e dv é u = ln x e dv = xdx.<br />

Com essa escolha,<br />

2<br />

1 x<br />

temos du = dx e v = . Assim, usando a fórmula da integral por partes ficamos com:<br />

x 2<br />

2 2<br />

x 1 2 1 x 1 2<br />

∫xln xdx = ∫udv = uv − ∫vdu = ln x − ∫<br />

x dx = ln x − x + C.<br />

2 2 x 2 4<br />

107


2 x<br />

2<br />

x<br />

Exemplo 3.2.3. Calcule ∫ x edx.<br />

Vamos fazer u = x e dv = e dx.<br />

Com essas escolhas, teremos du = 2xdx<br />

e<br />

x<br />

v= e . Assim, usando a fórmula da integral por partes, ficaremos com:<br />

2 x 2 x x<br />

∫xedx= ∫udv = uv − ∫vdu= x e −2<br />

∫ xe dx.<br />

Em uma primeira olhada, podemos pensar que a escolha foi ruim. Mas veja que a última integral pode ser<br />

calculada usando novamente partes. Note que apesar de termos caído novamente numa integral por partes a<br />

escolha foi boa porque ela proporcionou uma diminuição no expoente de x que era 2 e passou a ser 1. A última<br />

x<br />

integral pode ser calculada usando novamente partes. Fazendo u = xe<br />

dv = e dx,<br />

obtemos du = dx e<br />

x<br />

v= e . Substituindo na fórmula da integral por partes, ficaremos com:<br />

∫xedx= ∫udv = uv − ∫vdu= xe − ∫ e dx = xe −e<br />

x x x x x<br />

Agora substituímos esse valor na penúltima integral e obtemos:<br />

2 x 2 x x 2 x x x<br />

∫xedx = ∫udv = uv − vdu = x e − 2∫ xe dx = x e − 2xe+ 2 e + C.<br />

3.3. - Substituições trigonométricas<br />

Existem algumas substituições que envolvem funções trigonométricas e que servem para tratar um grande<br />

número de integrais. Elas são as chamadas Substituições Trigonométricas e são três.<br />

Integrais envolvendo expressões do tipo<br />

2 2<br />

a − x , com a > 0.<br />

Para esse tipo de integral, usaremos a substituição x = asenθ , com<br />

dx = a cosθ<br />

dθ<br />

e<br />

( )<br />

2 2 2 2 2 2 2 2 2<br />

a − x = a − a sen = a − sen = a = a<br />

pela escolha do ângulo θ. Vamos a um exemplo:<br />

2<br />

9 − x<br />

dx 2<br />

108<br />

.<br />

π π<br />

− ≤θ≤ . Com essa substituição temos<br />

2 2<br />

θ 1 θ cos θ cos θ,<br />

Exemplo 3.3.1. Calcule ∫<br />

x<br />

. Neste caso a = 3 e, portanto, usaremos a substituição x = 3senθ<br />

.<br />

Utilizando as fórmulas descritas acima vamos fazer as substituições. Feito isso ficaremos com:<br />

2 2<br />

9−x3cosθ cos θ<br />

2 2<br />

∫ dx = 3cos cot 2 ∫ × θdθ = d g d 2 ∫ θ = 2 ∫ θ θ = ∫ ( cosec θ − 1)<br />

dθ<br />

=<br />

x 9sen<br />

θ sen θ<br />

2<br />

= ∫cos ec θdθ − ∫ dθ =−cot gθ − θ + C.<br />

Agora precisamos retornar à variável original que é x. A nossa única relação entre x e θ é a da substituição, ou<br />

x<br />

⎛ x ⎞<br />

seja, x = 3senθ<br />

. A primeira informação que tiramos é que senθ = , ou seja, θ = arcsen⎜<br />

⎟.<br />

Por outro lado,<br />

3<br />

⎝3⎠ x<br />

como senθ = , temos, que:<br />

3


2<br />

cosθ 1 sen θ 1<br />

109<br />

2 2<br />

⎛ x ⎞ 9 − x<br />

= − = − ⎜ ⎟ =<br />

⎝3⎠ 3<br />

cosθ donde, cot gθ<br />

= =<br />

senθ 2<br />

9 − x<br />

3<br />

x<br />

3<br />

=<br />

2<br />

9 − x<br />

e, portanto,<br />

x<br />

∫<br />

2<br />

9−x dx =−cot gθ − θ + C =− 2<br />

x<br />

2<br />

9−x<br />

⎛ x⎞<br />

− arcsen⎜ ⎟+<br />

C<br />

x<br />

⎝3⎠ Integrais envolvendo expressões do tipo<br />

2 2<br />

a + x , com a > 0.<br />

Para esse tipo de integral, usaremos a substituição x = atgθ , com<br />

2<br />

temos dx = sec θdθ e<br />

( )<br />

θ 1 θ sec θ sec θ,<br />

2 2 2 2 2 2 2 2 2<br />

a + x = a + a tg = a + tg = a = a<br />

pela escolha do ângulo θ . Vamos a um exemplo.<br />

,<br />

π π<br />

− ≤θ≤ . Com essa substituição<br />

2 2<br />

1<br />

Exemplo 3.3.2. Calcule<br />

2<br />

4 dx ∫<br />

. Usando a substituição acima, com a = 2 , isto é, x = 2 tgθ , essa integral<br />

x +<br />

vai tomar o seguinte aspecto:<br />

2<br />

1 2sec θ<br />

∫ dx = ∫ dθ = ∫sec<br />

θdθ. 2<br />

x + 4 2secθ<br />

A última integral requer um pequeno truque para o seu cálculo. Primeiro note que:<br />

2<br />

secθtgθ + sec θ<br />

sec θ =<br />

,<br />

secθ<br />

+ tgθ<br />

onde essa fração fizer sentido. Portanto:<br />

2<br />

secθtgθ + sec θ<br />

∫sec θdθ = ∫<br />

dθ.<br />

secθ<br />

+ tgθ<br />

Mas essa última integral pode ser calculada observando que a substituição u = secθ<br />

+ tgθé<br />

tal que<br />

2<br />

du = secθtgθ + sec θ dθ.<br />

Assim:<br />

Portanto:<br />

( )<br />

2<br />

secθtgθ + sec θ du<br />

∫secθdθ = ∫ dθ = ∫ = ln u + C = ln sec θ + tgθ + C.<br />

secθ<br />

+ tgθ u<br />

2<br />

1 2sec θ<br />

∫ dx = ∫ dθ = ∫secθdθ<br />

= ln sec θ + tgθ + C.<br />

2<br />

x +<br />

4 2secθ


Agora precisamos expressar secθ e tgθ em função de x. A relação entre x e θ que possuímos é x = 2 tgθ , o<br />

x<br />

que acarreta tgθ = . Agora lembre uma identidade muito importante da trigonometria, qual seja,<br />

2<br />

2 2<br />

sec θ = 1 + tg θ.<br />

Usando essa identidade, podemos concluir que:<br />

Portanto:<br />

110<br />

2 2 2<br />

2 ⎛ x⎞ 4+ x x + 4<br />

secθ = 1+ tg θ = 1 + ⎜ ⎟ = = .<br />

⎝2⎠ 4 2<br />

2 2<br />

1 2sec θ x + 4 x<br />

∫ dx = ∫ dθ = ∫secθdθ<br />

= ln secθ + tgθ + C = ln + + C.<br />

2<br />

x + 4 2secθ 2 2<br />

Integrais envolvendo expressões do tipo<br />

2 2<br />

x − a , com a > 0.<br />

Para esse tipo de integral, usaremos a substituição x= asec θ,<br />

com 0<br />

essa substituição temos dx = secθtgθdθ<br />

e:<br />

( )<br />

2 2<br />

x − a =<br />

2 2 2<br />

a sec θ − a =<br />

2<br />

a<br />

2<br />

sec θ − 1 =<br />

2 2<br />

a tg θ = atgθ,<br />

pela escolha do ângulo θ . Vamos a um exemplo.<br />

π<br />

3 π<br />

≤ θ < ou π ≤ θ < . Com<br />

2<br />

2<br />

1<br />

Exemplo 3.3.3. Calcule<br />

.<br />

2<br />

25 dx<br />

∫<br />

Usando a substituição acima com a = 5 , isto é, x = 5sec θ,<br />

a integral<br />

x −<br />

dada tomará o seguinte aspecto:<br />

1 5secθtgθ<br />

∫ dx = ∫ dθ = ∫secθdθ<br />

= ln sec θ + tgθ + C.<br />

2<br />

x − 25 5tgθ<br />

x<br />

Precisamos agora voltar para a variável x. Da relação x = 5sec θ,<br />

tiramos que sec θ = . Logo<br />

5<br />

Portanto<br />

2 2 2<br />

2 ⎛ x⎞ x −25 x −25<br />

tgθ = sec θ − 1 = ⎜ ⎟ − 1 = = .<br />

⎝5⎠ 25 5<br />

2<br />

1 x x − 25<br />

θ θ θ θ<br />

2<br />

∫ dx = ∫sec<br />

d = ln sec + tg + C = ln + + C.<br />

x − 25<br />

5 5<br />

3.4. - O método das frações parciais<br />

p x<br />

O nosso objetivo aqui será calcular integrais do tipo ∫ dx onde p e q são polinômios em uma<br />

q x<br />

p ( x)<br />

variável com coeficientes reais. Vamos considerar, durante a discussão que segue, somente frações<br />

q( x )<br />

onde<br />

o grau do numerador é menor que o do denominador e onde o coeficiente do termo de maior grau do<br />

denominador seja 1.O porquê disso ficará mais claro adiante. O principal fato usado nesse método é um<br />

resultado de Álgebra Abstrata que é o seguinte:<br />

( )<br />

( )


Todo polinômio com coeficientes reais pode ser escrito como um produto de polinômios de grau um e/ou de<br />

grau dois, todos com coeficientes reais, sendo que os polinômios de grau dois possuem discriminante negativo<br />

Vejamos alguns exemplos desse fato:<br />

3<br />

Exemplo 3.4.1. O polinômio p( x) x 1<br />

discriminante do polinômio de grau 2 é − 3.<br />

2<br />

= − pode ser escrito como p( x) ( x 1)( x x 1)<br />

111<br />

= − + + . Observe que o<br />

= − + .<br />

Observe que ele não possui fatores de grau 2.<br />

p ( x)<br />

O método das frações parciais consiste em decompor a fração em frações mais simples, chamadas<br />

q( x )<br />

frações parciais, que são mais fáceis de integrar. Essa decomposição será baseada nos fatores que aparecem na<br />

decomposição do denominador. Para facilitar o entendimento, dividiremos o estudo do método em quatro casos.<br />

3 2<br />

Exemplo 3.4.2. O polinômio p( x) = 2x + 3x − 2x<br />

pode ser escrito como p( x) x( 2x 1)( x 2)<br />

1º. Caso: Os fatores de q( x ) são todos de grau 1 e não há fatores repetidos.<br />

= − 1 − 2 ... − k , onde os números reais a1, a2,..., a k são todos distintos. Assim<br />

sendo a Álgebra Abstrata nos permite dizer que existem números reais A1, A2,..., Aktais que<br />

p( x) A1 A2<br />

Ak<br />

= + + ... + .<br />

q( x) ( x−a1) ( x−a2) ( x−ak) Vamos ver um exemplo<br />

Nesse caso q( x) ( x a )( x a ) ( x a )<br />

x −1<br />

Exemplo 3.4.3. Calcule ∫<br />

dx.<br />

Inicialmente note que:<br />

3 2<br />

x − x − 2x<br />

( ) ( )( )<br />

− − 2 = − − 2 = − 2 + 1 .<br />

3 2 2<br />

x x x x x x x x x<br />

Pela decomposição fornecida acima temos que existem 1, 2<br />

A A e A 3 tais que<br />

x −1<br />

A1 A2<br />

A3<br />

= + + .<br />

3 2<br />

x −x −2x x x− 2 x+<br />

1<br />

O que faremos agora é encontrar esses números. Desenvolvendo o lado esquerdo da igualdade acima, ficaremos<br />

com<br />

x −1<br />

A1( x− 2)( x+ 1) + A2x( x+ 1) + A3x( x−2)<br />

=<br />

3 2 3 2<br />

x −x −2x x −x −2x<br />

E nessa igualdade de frações algébricas, podemos multiplicar ambos os membros pelo denominador comum de<br />

ambas as frações e ficaremos com a seguinte igualdade de polinômios:<br />

( )( ) ( ) ( )<br />

x− 1= A1 x− 2 x+ 1 + A2x x+ 1 + A3x x−<br />

2 ,<br />

1 1 1<br />

que nos fornecerá, através de uma identidade de polinômios, A1 = , A2<br />

= e A 3 =− . Portanto chegamos à<br />

2 5 10<br />

seguinte decomposição:


1 1 1<br />

x −1<br />

= 2 + 5 − 10<br />

− −2 − 2 + 1<br />

.<br />

3 2<br />

x x x x x x<br />

Integrando essa última igualdade temos<br />

x −1<br />

1 1 1 1 1 1<br />

∫ dx = ,<br />

3 2 ∫ dx + ∫ dx − ∫ dx<br />

x −x −2x 2 x 5 x− 2 10 x+<br />

1<br />

Portanto<br />

x −1<br />

1 1 1<br />

∫<br />

dx= ln x + ln x−2− ln x+ 1 + C.<br />

3 2<br />

x −x −2x<br />

2 5 10<br />

Note que as duas últimas integrais logo acima foram obtidas por substituição. Tente fazer.<br />

2º. Caso: Os fatores de q( x ) são todos de grau 1, mas alguns são repetidos.<br />

Digamos que o fator ( x a j )<br />

− apareça com potência k, ou seja, ele repete-se k vezes na decomposição de<br />

q( x ) . A Álgebra Abstrata nos permite provar que esse fator vai originar k frações parciais do seguinte tipo:<br />

A1 A2<br />

+ + +<br />

( x−aj) ( x −aj) ( x−aj) 112<br />

A<br />

2 ... k<br />

Os demais fatores que não se repetem fornecem apenas uma fração parcial cada, conforme vimos no caso 1.<br />

Vamos ver um exemplo.<br />

Exemplo 3.4.4. Calcule<br />

parciais do integrando será:<br />

∫<br />

4x<br />

2<br />

( x− 1) ( x+<br />

1)<br />

4x<br />

k<br />

.<br />

dx.<br />

De acordo com o que dissemos acima, a decomposição em frações<br />

A A<br />

1 2<br />

= + +<br />

2 2<br />

( x− 1) ( x+ 1) ( x− 1) ( x−1)<br />

( x+<br />

1)<br />

onde as duas primeiras frações foram originadas pelo fator ( ) 2<br />

x − 1 e a última pelo fator ( )<br />

mesmo processo do exemplo precedente, obtemos a seguinte identidade de polinômios<br />

( )( ) ( ) ( ) 2<br />

4x= A x− 1 x+ 1 + A x+ 1 + A x−<br />

1 .<br />

1 2 3<br />

Após desenvolvermos obteremos A1 = 1, A2<br />

= 2 e A 3 = −1. Portanto a decomposição fica:<br />

4x 2<br />

x− 1 x+ 1<br />

=<br />

1<br />

x− 1<br />

+<br />

2<br />

2<br />

x−1<br />

+<br />

−1<br />

,<br />

x+<br />

1<br />

que quando integrada fica :<br />

Ou seja,<br />

( ) ( ) ( ) ( ) ( )<br />

4x1 2 1<br />

∫ dx = ∫ dx + ∫ dx −∫<br />

dx,<br />

2 2<br />

( x− 1) ( x+ 1) ( x− 1) ( x−1)<br />

( x+<br />

1)<br />

A<br />

3<br />

,<br />

x + 1. Repetindo o


∫<br />

4x2 dx = ln x − 1 + − ln x + 1 + C.<br />

x −1<br />

2<br />

( x− 1) ( x+<br />

1)<br />

3º. Caso: Alguns dos fatores de q( x ) são de grau dois mas não se repetem.<br />

Digamos que na decomposição de q( x ) apareça um fator do tipo<br />

negativo. A Álgebra Abstrata garante esse fator gera uma fração parcial do tipo:<br />

Ax+ B<br />

2<br />

ax + bx + c<br />

,<br />

onde A e B são números reais. Vamos ver um exemplo.<br />

113<br />

2<br />

ax + bx + c que possua discriminante<br />

2<br />

x + 2x+ 1<br />

3 2<br />

Exemplo 3.4.5. Calcule ∫ dx.<br />

Inicialmente observe que x + x= x 3<br />

( x + 1, ) sendo que o<br />

x + x<br />

discriminante desse último fator é negativo. Portanto, de acordo com o que vimos acima, a decomposição em<br />

frações parciais do integrando será:<br />

2<br />

x + 2x+ 1 A Bx+ C<br />

= + ,<br />

3 2<br />

x + x x x + 1<br />

onde A,B e C são números reais a serem determinados. Procedendo como nos exemplos anteriores, concluímos<br />

que os valores de A,B e C são, respectivamente, 1,2 e 2. Logo a decomposição toma a seguinte forma:<br />

2<br />

x + 2x+ 1 1 2x+ 2<br />

= +<br />

3 2<br />

x + x x x + 1<br />

.<br />

Portanto,<br />

2<br />

x + 2x+ 1 1 2x+ 2<br />

∫ dx = dx dx.<br />

3 ∫ + ∫ 2<br />

x + x x x + 1<br />

A primeira integral do lado direito da igualdade é imediata. Vamos ver a segunda. Observe que:<br />

2x+ 2 2x 2<br />

∫ dx = .<br />

2 ∫ dx + dx<br />

2 ∫ 2<br />

x + 1 x + 1 x + 1<br />

Agora note que a primeira integral do lado direito pode ser tratada usando a substituição<br />

que a segunda é imediata. Após os cálculos ficamos com:<br />

2<br />

x + 2x+ 1<br />

2<br />

∫ dx = ln x + ln 3<br />

( x + 1) + 2 arctg ( x) + C.<br />

x + x<br />

4 o . Caso: Alguns dos fatores de q( x) são de grau dois e se repetem.<br />

Digamos que na decomposição de q( x ) apareça um fator do tipo<br />

2<br />

u = x + 1 enquanto<br />

2<br />

ax + bx + c que possua discriminante<br />

negativo e se repita k vezes. A Álgebra Abstrata garante que esse fator gera k frações parciais do seguinte tipo:<br />

Ax 1 + B1 + 2<br />

ax + bx + c<br />

Ax 2 + B2<br />

2<br />

2<br />

ax + bx + c<br />

+ ... +<br />

Ax k + Bk<br />

k<br />

2<br />

ax + bx + c<br />

,<br />

onde os i A e os B j são números reais a serem determinados.<br />

( ) ( )


Exemplo 3.4.6. Calcule<br />

( ) 2<br />

1<br />

∫ dx.<br />

Procedendo como está acima descrito, a decomposição em frações<br />

2<br />

x x + 1<br />

parciais do integrando será:<br />

1 A Bx + C Dx + E<br />

= + + ,<br />

2 2<br />

2<br />

2 2<br />

x( x + 1) x ( x + 1)<br />

( x + 1)<br />

onde A, BCDe , , E são números reais a serem determinados. Procedendo como nos exemplos anteriores, os<br />

valores de A, BCDe , , E são respectivamente, 1,-1,0,-2 e 0. Assim a decomposição em frações parciais fica:<br />

1 1 x 2x<br />

= − − .<br />

2 2<br />

2<br />

2 1 2<br />

x x + 1 x x + x + 1<br />

( ) ( ) ( )<br />

Integrando ficamos com:<br />

1 1<br />

∫ dx = 2 ∫ dx −∫ 2<br />

x x + 1 x<br />

x<br />

2<br />

x + 1<br />

dx − ∫<br />

2x 1 2<br />

dx = ln x − ln 2<br />

( x + 1 ) +<br />

2<br />

x + 1<br />

2<br />

1<br />

2<br />

x + 1<br />

+ C.<br />

( ) ( ) ( )<br />

4. - Avaliando o que foi construído<br />

114<br />

( )<br />

As técnicas que aqui estudamos serão muito importantes no futuro pois, como vimos na seção anterior, o<br />

cálculo de uma integral definida resume-se, em alguns casos, a determinar uma primitiva de uma função.<br />

No Moodle...<br />

Na plataforma MOODLE, no espaço reservado à disciplina <strong>Cálculo</strong> <strong>Diferencial</strong> e <strong>Integral</strong> <strong>II</strong>, você<br />

poderá testar seus conhecimentos a respeito do tema desta unidade. Dedique-se ao estudo do material<br />

disponibilizado e à resolução das tarefas relacionadas a este assunto. Vamos nos encontrar no MOODLE.<br />

Até lá.<br />

Dialogando e Construindo Conhecimento<br />

Reúna-se com os colegas para discutir os temas abordados. Visite constantemente a plataforma<br />

MOODLE, faça as tarefas nela propostas Procure os Tutores para esclarecer as dúvidas sobre algum<br />

tema que não tenha sido bem assimilado. Comunique-se! Nós estamos sempre dispostos a orientá-lo e<br />

ajudá-lo em caso de dificuldade no estudo da disciplina. Participe! Acredite em seu potencial e conte<br />

conosco.


Unidade V: Aplicações Geométricas da <strong>Integral</strong> Definida<br />

1. - Situando a Temática<br />

Dentre as várias aplicações da integral definida vamos ver algumas de caráter geométrico. Além disso,<br />

conheceremos um novo sistema de coordenadas, o sistema de coordenadas polares que, além de nos mostrar uma<br />

nova forma de localizar pontos no plano, vai nos permitir abordar algumas aplicações da integral definida de<br />

forma mais ampla.<br />

2. - Problematizando a Temática<br />

Determinaremos aqui algumas áreas de figuras planas conhecidas, comprimentos de algumas curvas e<br />

volumes de alguns sólidos.<br />

3. - Conhecendo a Temática<br />

3.1. - <strong>Cálculo</strong> de áreas<br />

A motivação que usamos para introduzir o conceito de integral definida foi o problema de determinar a<br />

área de uma região plana. Aqui exploraremos mais essa motivação. Sabemos da unidade <strong>II</strong>I que se f é uma<br />

função contínua definida em [ ab , ] e positiva nesse intervalo então a área abaixo do gráfico de f , acima do<br />

eixo-x e entre x = a e x b<br />

b<br />

= é dada por ( )<br />

∫ f x dx.<br />

Demos alguns exemplos dessa situação logo após o Teorema<br />

a<br />

fundamental do cálculo. Veremos aqui um caso interessante e que pode ser resolvido usando esse mesmo<br />

raciocínio.<br />

A situação é a seguinte: sejam f e g funções contínuas em<br />

[ ab , ] tais que f ≥ gnesse<br />

intervalo. Um exemplo dessa<br />

situação está ilustrado na figura ao lado. O que gostaríamos<br />

de determinar é o valor da área limitada pelos gráficos de<br />

f e de g entre x = a e x = b . Se repetirmos a mesma<br />

argumentação vista na unidade <strong>II</strong>I, constataremos que a<br />

área pedida é dada por:<br />

b<br />

∫ ⎡⎣f( x) − g( x) ⎤⎦<br />

dx.<br />

Vejamos alguns exemplos.<br />

a<br />

Exemplo 3.1.1. Determine a área entre os gráficos das<br />

g x = x . Os gráficos estão<br />

2<br />

funções f ( x) = x e ( )<br />

ilustrados na figura ao lado. Na figura estão mostradas as<br />

2<br />

curvas y = x que representa o gráfico de f e y = x que<br />

representa o gráfico de g. O ponto de interseção entre elas é<br />

obtido igualando as duas equações das curvas, ou seja,<br />

2<br />

resolvendo a equação x = x . As soluções dessa equação<br />

são x = 0 e x = 1.Portanto,<br />

pelo que vimos a área é dada<br />

.<br />

por:<br />

1<br />

1 1 3<br />

2 ⎡ 2 3⎤<br />

∫⎡⎣fxgx⎤⎦dx ∫ x x dx<br />

⎢<br />

x x<br />

0 0 ⎣<br />

⎥<br />

⎦0<br />

2 1 1<br />

− = − = − = .<br />

3 3 3<br />

( ) ( ) ( )<br />

115


Exemplo 3.1.2. Determine a área limitada pelos gráficos de<br />

2<br />

f ( x) = 2x + 10e<br />

g( x) = 4x+ 16. Inicialmente vamos<br />

determinar os pontos de interseção entre as curvas<br />

2<br />

y = 2x + 10e<br />

y = 4x+ 16que<br />

representam,<br />

respectivamente, os gráficos de f e de g. Igualando as duas<br />

2<br />

equações, ficamos com 2x + 10= 4x+ 16,<br />

cujas raízes<br />

são x =− 1 e x = 3 . Veja a figura ao lado. Portanto, pelo<br />

que vimos a área pedida é dada por:<br />

3 3 3<br />

2 2 ⎡ 2 3 2 ⎤ 64<br />

∫ ⎡⎣g( x) − f ( x) ⎤⎦dx<br />

= ∫[ 4x+ 16] − ⎡<br />

⎣2x+ 10⎤ ⎦dx = ∫ ( 4x− 2x+ 6) dx =<br />

⎢<br />

− x + 2x+ 6x<br />

=<br />

−1 −1 −1 ⎣ 3 ⎥<br />

⎦−13<br />

Exemplo 3.1.3. Calcule a área entre os gráficos de f e g das funções<br />

do exemplo anterior entre x = − 2 e x = 5.<br />

Na figura abaixo estão<br />

representados os gráficos de f e de g, no trecho considerado. Observe<br />

que nesse trecho não há uma função que seja superior à outra<br />

inteiramente. Sendo mais específicos, de x =−2a x = −1 a função f<br />

é maior que a função g. De x =− 1 até x = 3 a função g é superior a<br />

f e, de x = 3 até x = 5 novamente f passa a ser superior a g.A<br />

estratégia será usar a idéia anterior para dividirmos a área pedida em<br />

três: uma que vai de x =−2a x =− 1 , outra que vai de x = − 1 até<br />

x = 3 e a última que vai de x = 3até<br />

x = 5.<br />

Assim sendo, a área<br />

pedida será igual a:<br />

−1<br />

3 5 1 5<br />

2 64 2<br />

142<br />

∫ ( f ( x) − g ( x) ) dx + ∫ ( g ( x) − f ( x) ) dx + ∫ f ( x) − g ( x) dx = ∫ ( 2x+ 10−4x− 16) dx + + ∫(<br />

2x+ 10−4x− 16)<br />

dx =<br />

−2 −1 3 −2<br />

3 3<br />

3<br />

3.2. - O sistema de coordenadas polares<br />

Faremos agora uma pequena mudança no nosso estudo para introduzirmos um novo sistema de<br />

coordenadas no plano chamado sistema de coordenadas polares.<br />

No sistema de coordenadas cartesianas, que tem sido o mais usado por<br />

nós até aqui, a localização de um ponto P baseia-se na sua distância a duas<br />

retas concorrentes: uma horizontal, chamada eixo concorrência das retas<br />

chama-se a origem do sistema de coordenadas. A distância orientada do ponto<br />

P até a reta vertical chama-se abscissa, em geral representada pela letra x e<br />

sua distância orientada até a reta horizontal chama-se ordenada, geralmente<br />

representada pela letra y. Veja a figura ao lado.<br />

Um outro modo de localizar um ponto é baseado em duas outras entidades<br />

associadas ao ponto P no plano. Essas entidades são: a sua distância orientada até a<br />

<br />

origem, que será denotada por r e o ângulo orientado que o vetor OP forma com o<br />

semi-eixo-x positivo, que será denotado por θ . Assim diremos que os números r e θ<br />

são coordenadas polares para P. Veja a figura ao lado.<br />

Coordenadas polares do ponto P são representadas como um par ordenado ( r, θ ) . O<br />

plano onde encaramos os pontos com suas coordenadas polares não possui o eixo-y,<br />

nem a parte negativa do eixo-x. Ele será chamado de plano polar. O ponto O será<br />

chamado de pólo e o eixo-x positivo passa a se chamar eixo polar.<br />

116<br />

3


Antes de passarmos aos exemplos, cumpre fazermos um ligeiro comentário acerca do adjetivo<br />

orientado(a) que apareceu no texto anteriormente. Para nós, ele terá um significado associado ao sinal. Tanto<br />

ângulos como distâncias poderão estar acrescidas de um sinal. No caso de ângulos o sinal será positivo se os<br />

medirmos no sentido anti-horário e negativo caso a medida seja efetuada no sentido horário. Para as distâncias<br />

faremos o comentário logo após os exemplos.<br />

Exemplo 3.2.1. Localize no plano polar o ponto cujas coordenadas<br />

⎛ 3π<br />

⎞<br />

3π<br />

polares são ⎜2, ⎟.<br />

Para isso, efetuamos uma rotação de radianos<br />

⎝ 4 ⎠ 4<br />

no sentido anti-horário e marcamos desde o pólo uma distância de 2<br />

⎛ 11π<br />

⎞<br />

unidades. A representação está mostrada ao lado. Observe que esse mesmo ponto possui ⎜2, ⎟ como um par<br />

⎝ 4 ⎠<br />

11π 3π<br />

de coordenadas polares. Se você notou que = + 2π<br />

não terá dificuldade em perceber que se<br />

4 4<br />

adicionarmos 2π ao ângulo, encontraremos um novo par de coordenadas polares para o ponto dado. Isso quer<br />

dizer que um mesmo ponto tem infinitos pares de coordenadas<br />

polares!<br />

Queremos agora dar um sentido para coordenadas polares<br />

onde r possa assumir valores negativos. Vamos supor que<br />

⎛ π ⎞<br />

queiramos marcar no plano polar o ponto ⎜−2, ⎟.<br />

A forma de<br />

⎝ 6 ⎠<br />

marcá-lo e que será conveniente quando formos traçar curvas no<br />

plano polar é a seguinte: primeiro marcamos o ponto com r > 0 , ou<br />

⎛ π ⎞<br />

seja, ⎜2, ⎟.<br />

Em seguida, tomamos seu simétrico com relação ao<br />

⎝ 6 ⎠<br />

pólo. Esse simétrico será a representação no plano polar de<br />

⎛ π ⎞<br />

⎜−2, ⎟ .Veja a figura ao lado.<br />

⎝ 6 ⎠<br />

Agora temos uma grande liberdade de interpretar as coordenadas polares com vários sinais. Vejamos<br />

mais um exemplo:<br />

⎛ π ⎞<br />

Exemplo 3.2.2. Determine pares de coordenadas polares para o ponto ⎜5, ⎟ que satisfaçam:<br />

⎝ 3 ⎠<br />

a) r > 0 e θ < 0 b) r < 0 e θ > 0 c) r < 0 e<br />

θ < 0<br />

⎛ π ⎞ ⎛ 5π<br />

⎞<br />

Na letra (a), podemos tomar ⎜5, − 2π ⎟= ⎜5, − ⎟.<br />

Para a<br />

⎝ 3 ⎠ ⎝ 3 ⎠<br />

letra (b), observamos que o ponto dado tem que ser o simétrico<br />

de um outro. O ângulo positivo que devemos girar para<br />

π 4π<br />

marcarmos o ponto pedido deve ser π + = , portanto,<br />

3 3<br />

⎛ 4π<br />

⎞<br />

nesse caso, um par de coordenadas polares é ⎜−5, ⎟<br />

⎝ 3 ⎠ .<br />

Vejamos a letra (c). Novamente, o ponto dado tem que ser<br />

simétrico de um outro. Portanto, o ângulo negativo que devemos<br />

117


π 2π<br />

⎛ 2π<br />

⎞<br />

girar deve ser − π =− . Assim, um par de coordenadas polares nesse caso é ⎜−5, − ⎟.<br />

Veja a figura a<br />

3 3<br />

⎝ 3 ⎠<br />

cima:<br />

Uma pergunta que surge naturalmente é a seguinte: como relacionar um par de<br />

coordenadas polares de um ponto com as coordenadas cartesianas de um ponto<br />

P ?. Para respondê-la, vamos observar a figura ao lado. Da figura ainda,<br />

y<br />

podemos concluir que: senθ<br />

= , ou seja, y = rsenθ , bem como<br />

r<br />

x<br />

que cosθ<br />

= , ou seja, x= rcosθ . Assim, conhecidas coordenadas polares<br />

r<br />

para um ponto P então suas coordenadas cartesianas ficam automaticamente conhecidas através das expressões<br />

anteriores. Agora, vamos ao problema contrário. Suponhamos dadas as coordenadas cartesianas ( x, y ) de P e<br />

vamos encontrar um par de coordenadas polares para ele. Comecemos com o caso onde x = 0. Nesse caso, o um<br />

par de coordenadas polares para o ponto P é y, 2<br />

π ⎛ ⎞<br />

⎜ ⎟.<br />

Suponhamos agora que x ≠ 0 . Então o triângulo da figura<br />

⎝ ⎠<br />

anterior nos fornece:<br />

y<br />

⎛ y ⎞<br />

tgθ<br />

= , ou seja, θ = arctg ⎜ ⎟<br />

x<br />

⎝ x ⎠ .<br />

O mesmo triângulo, através do Teorema de Pitágoras, nos fornece:<br />

2 2<br />

r = x + y .<br />

Para usarmos as fórmulas acima devemos tomar apenas um cuidado: o quadrante onde o ponto está não é, em<br />

geral, fornecido por elas. Portanto, devemos tomar cuidado quando formos utilizá-las. Vejamos alguns exemplos<br />

desse tipo de situação.<br />

⎛ π ⎞<br />

Exemplo 3.2.3. Suponha um par de coordenadas polares para o ponto P seja ⎜5, ⎟.<br />

Vamos determinar as suas<br />

⎝ 3 ⎠<br />

coordenadas cartesianas. Sabemos que:<br />

π 1 5<br />

x= rcosθ<br />

= 5cos = 5×<br />

=<br />

3 2 2<br />

3 5 3<br />

y rsen 5sen 5 .<br />

3 2 2<br />

π<br />

= θ = = × =<br />

⎛5 5 3⎞<br />

Logo as coordenadas cartesianas de P são ⎜ , ⎟.<br />

Veja a figura do exemplo 3.2.2.<br />

⎜2 2 ⎟<br />

⎝ ⎠<br />

Exemplo 3.2.4. Vamos determinar um par de coordenadas polares para o ponto P cujas coordenadas cartesianas<br />

são ( −1, − 1)<br />

. Inicialmente notamos que ( ) ( )<br />

118<br />

2 2<br />

r = − 1 + − 1 = 2 . Por outro lado,<br />

⎛−1⎞ π<br />

θ = arctg ⎜ ⎟=<br />

artcg () 1 = . Como o ponto P pertence ao quarto quadrante este certamente não é um θ<br />

⎝−1⎠ 4<br />

para o ponto P, em virtude de nossa escolha para o sinal de r. Se observarmos bem, o ângulo correto é 3π<br />

−<br />

4<br />

que também possui tangente igual a 1, mas é “esquecido” pela função arco-tangente, já que não pertence ao<br />

domínio usual de inversão da função tangente.


Passamos agora a uma situação que naturalmente surge nas coordenadas polares. Vamos introduzir algumas<br />

curvas e tentar desenhá-las. Uma curva em coordenadas polares é uma expressão do tipo r = f ( θ ) . Vamos ver<br />

alguns exemplos e tentar desenhá-las. Você pode usar um software apropriado como o winplot ou o geogebra<br />

para fazer desenhos bem curiosos.<br />

π<br />

Exemplo 3.2.5. Vejamos o que representa no plano polar a equação θ = . Como ela<br />

4<br />

não envolve r nós vemos que a única condição para que um ponto pertença a essa<br />

π<br />

curva é que o seu θ seja igual a . Portanto essa curva representa uma reta de<br />

4<br />

coeficiente angular 1. Veja a figura ao lado.<br />

Exemplo 3.2.6. Vamos ver o que representa<br />

no plano polar a equação r = 7 . Vamos abordar a questão de uma<br />

forma mais dialogada. O que significa r = 7 em coordenadas<br />

polares? Significa que todos os pontos dessa curva estão a uma<br />

distância 7 do pólo. Muito bem. E pontos que estão a uma mesma<br />

distância de um ponto formam algo conhecido? Sim. Muito bem. E o<br />

que esses pontos formam? Uma circunferência, com centro no pólo e<br />

raio 7. Ótimo. Sem o diálogo, poderíamos converter essa equação em<br />

uma equação cartesiana que é a que conhecemos melhor. Como<br />

2 2<br />

r = x + y , temos que a equação da nossa curva, agora em<br />

2 2<br />

2 2<br />

coordenadas cartesianas, é x + y = 7 , ou seja, x + y = 49, o que de fato coincide com o resultado obtido<br />

no nosso diálogo, ou seja, nossa curva é mesmo uma circunferência de centro no pólo (ou na origem) com raio 7.<br />

Uma figura dela está mostrada acima.<br />

Exemplo 3.2.7. Vejamos agora o que representa r = 4cosθ<br />

. Aqui um<br />

diálogo fica mais complicado pois a curva em questão não possui seu r<br />

constante como no exemplo anterior. Agora a curva reveste-se de um<br />

caráter dinâmico. No que segue faremos θ variar de 0 até 2π e<br />

acompanharemos o que sucede com r. Inicialmente note que se θ varia de<br />

π<br />

0 até , r varia de 4 até 0. Portanto, enquanto giramos no sentido anti-<br />

2<br />

π<br />

horário saindo de 0 e nos aproximando de , r deverá sair de 4 e<br />

2<br />

colapsar até 0 . Veja na figura abaixo o primeiro trecho do gráfico<br />

4<br />

3<br />

2<br />

1<br />

−4 −3 −2 −1 1 2 3 4 5<br />

−1<br />

−2<br />

−3<br />

y<br />

x<br />

π<br />

Agora faremos θ variar de até π . Quando fizermos isso, r variará entre<br />

2<br />

0 e -4. Aqui um cuidado: como r < 0 vamos marcar pontos simétricos.<br />

Dizendo de outra forma, enquanto θ fizer seu passeio no segundo<br />

quadrante, nós estaremos marcando os pontos no quarto! Assim, o gráfico<br />

da figura anterior fica completo:<br />

119<br />

4<br />

3<br />

2<br />

1<br />

−4 −3 −2 −1 1 2 3 4 5<br />

−1<br />

−2<br />

−3<br />

−4<br />

5<br />

y<br />

x


= − . A<br />

idéia é fazer θ variar em intervalos onde possamos acompanhar bem o que se<br />

π<br />

passa com r. Primeiro vamos fazer θ variar de 0 até . Com isso, r varia de<br />

2<br />

2 até 0. O trecho do gráfico correspondente a essa variação está mostrado na<br />

figura ao lado.<br />

Exemplo 3.2.8. Vamos fazer agora um esboço da curva r 21 ( senθ)<br />

−4 −3 −2 −1 1 2 3 4 5<br />

Fazendo agora θ variar de π até 3π<br />

, vemos que r varia de 2 até 4,<br />

2<br />

conforme mostra a figura ao lado:<br />

4<br />

3<br />

2<br />

1<br />

4<br />

3<br />

2<br />

1<br />

−1<br />

−2<br />

−3<br />

−4<br />

5<br />

−4 −3 −2 −1 1 2 3 4 5<br />

−1<br />

−2<br />

−3<br />

−4<br />

5<br />

y<br />

y<br />

x<br />

x<br />

5<br />

π<br />

Agora faremos θ variar de até<br />

2<br />

π . Fazendo isso, r variará de 0 até 2. Ao lado vemos mais um trecho<br />

do gráfico.<br />

Finalmente, faremos θ variar de 3π<br />

até 2π o que acarreta uma<br />

2<br />

variação de r desde 4 até 2, completando o gráfico como nos mostra a<br />

figura ao lado. Essa curva chama-se cardióide, por ter um formato de<br />

coração.<br />

Nosso intuito agora é calcular a área de uma região no plano polar limitada por<br />

duas retas, θ = α e θ = β e pela curva r = f ( θ ) , conforme a figura ao lado.<br />

Podemos provar que a área pedida é dada por:<br />

β 1 2<br />

A = ∫ f ( θ ) dθ.<br />

2 α<br />

Consulte o livro de Serge Lang citado na bibliografia para ver a demonstração.<br />

Vejamos alguns exemplos:<br />

120<br />

4<br />

3<br />

2<br />

1<br />

−4 −3 −2 −1 1 2 3 4 5<br />

−1<br />

4<br />

3<br />

2<br />

1<br />

−4 −3 −2 −1 1 2 3 4 5<br />

−1<br />

−2<br />

−3<br />

−4<br />

5<br />

y<br />

−2<br />

−3<br />

−4<br />

y<br />

x<br />

x


Exemplo 3.2.9. Vamos calcular a área de um círculo de raio a > 0 . A equação de uma circunferência de raio a<br />

e, digamos, com centro no pólo é dada por r = a.<br />

A área limitada por esta circunferência é justamente a área<br />

pedida. Lembrando que, para cobrirmos a circunferência precisamos variar θ de 0 até 2π , a fórmula acima nos<br />

diz que:<br />

β 1 2<br />

2 1 π<br />

2 1 2 2<br />

A = ∫ f ( θ ) dθ = ∫ a dθ = a 2π<br />

= πa<br />

,<br />

2 α 2 0 2<br />

que é a fórmula conhecida por todos nós.<br />

Exemplo 3.2.10. Vamos calcular a área limitada pela cardióide r = 1− cosθ.<br />

A<br />

curva tem o aspecto mostrado na figura ao lado. Pela fórmula que vimos acima, a<br />

área é dada por:<br />

β 1 2 2 2<br />

2 1 π<br />

2 1 π<br />

2 1 π<br />

2<br />

A= ∫ f ( θ ) dθ = ∫ ( 1− cosθ) dθ = ∫ ( 1− 2cosθ + cos θ) dθ = π + ∫ cos θdθ =<br />

2 α 2 0 2 0 2 0<br />

3.3. - Comprimento de Arco<br />

1 2π<br />

⎡1 1 ⎤ 3π<br />

∫ cos 2 d<br />

2 ⎢<br />

0 2 2 ⎥ 2<br />

= π + + θ θ =<br />

⎣ ⎦<br />

Uma outra aplicação interessante da integral definida é a possibilidade de calcularmos o comprimento de<br />

uma curva. Vamos considerar três casos desta situação.<br />

3.3.1 - Gráficos de funções<br />

A nossa primeira situação ocorre quando a curva que desejamos calcular o comprimento é um pedaço do gráfico<br />

de uma função. Suponhamos então que f seja uma função definida<br />

num intervalo [ ab , ] e que queremos calcular o comprimento do<br />

gráfico de f entre x = a e x = b . Para esse fim devemos fazer<br />

algumas hipóteses sobre a função f. As hipóteses mais convenientes<br />

são a de que f é derivável e que sua derivada f’ é contínua. Uma<br />

função que satisfaz a essa condição é conhecida como uma função de<br />

1<br />

classe C .No que segue obteremos uma fórmula para o cálculo do<br />

comprimento desejado. A idéia que permeará o nosso raciocínio será<br />

a de aproximar o comprimento pedido pelo comprimento de uma<br />

poligonal, conforme a figura acima: Escolhemos alguns pontos sobre<br />

, b, f b sejam o primeiro e o último,<br />

( )<br />

a curva - na figura escolhemos 9 - de modo que a f ( a ) e ( )<br />

respectivamente. Digamos que as coordenadas cartesianas de cada ponto escolhido sejam , ( )<br />

121<br />

( )<br />

( i i )<br />

x f x , com<br />

i = 0,..., n.<br />

Agora ligamos os pontos consecutivos e formamos uma poligonal como ilustra a figura acima. O<br />

comprimento de cada lado dessa poligonal será dado pela distância entre os vértices sucessivos, ou seja, a<br />

distância entre i P e P i+<br />

1 . Sabemos, pela Geometria Analítica, que essa distância é dada por:<br />

( ) 2<br />

( ) ( ) ( ) ( )<br />

2<br />

d Pi, Pi+ 1 = xi+ 1− xi + f xi+ 1 − f xi<br />

.<br />

Agora usamos o Teorema do valor médio para a função f em cada intervalo [ xi, x i+<br />

1]<br />

para obtermos um<br />

ponto ∈ [ , ] tal que f ( x ) − f ( x ) = f '(<br />

c )( x − x ) . Graças a isso, a expressão de ( , )<br />

ci xi x i+<br />

1<br />

toma o seguinte aspecto:<br />

i+ 1 i i i+ 1 i<br />

( ) ( ) ( ) ( )<br />

2<br />

( ) ( ) ( ) ( )<br />

2 2 2 2<br />

i, i+ 1 i+ 1 i i+ 1 i i+ 1 i ' i i+ 1 i<br />

d P P = x − x + f x − f x = x − x + f c x − x =<br />

2<br />

1<br />

−2 −1 1 2<br />

−1<br />

−2<br />

d P P +<br />

i i 1


que, por sua vez, ainda pode ser simplificada e tornar-se<br />

( ) ( ) ( )<br />

( ) ( ) ( )<br />

2 2 2<br />

i, i+ 1 i+ 1 i 1 ' i i+ 1 i 1 ' i<br />

d P P = x − x + f c = x − x + f c .<br />

O comprimento da poligonal será o igual à soma dos segmentos que a compõem. Assim, se denotarmos<br />

o seu comprimento por L n teremos que:<br />

( 0, 1) ( 1, 2) ... ( − 1, )<br />

n−1 i= 0<br />

( , + 1) n−1<br />

i=<br />

0<br />

1 '(<br />

2<br />

) ( + 1 )<br />

P P P podem ser escolhidos de forma que os intervalos [ , ]<br />

L = d P P + d P P + + d P P = ∑d P P = ∑ + f c x −x<br />

.<br />

n n n i i i i i<br />

Os pontos 0, 1,...,<br />

n<br />

comprimento que denotaremos por Δ x . Assim:<br />

n<br />

n 1 ' i<br />

i=<br />

0<br />

122<br />

( ) 2<br />

L = ∑ + f c Δx.<br />

x x + tenham o mesmo<br />

i i 1<br />

A aproximação acima será cada vez melhor desde que tomemos a quantidade de pontos cada vez maior.<br />

Como f’ é contínua, se fizermos n →+∞, na expressão de L n o limite existirá e será igual ao comprimento da<br />

curva em questão. Portanto:<br />

n<br />

2<br />

b<br />

2<br />

L = lim L = lim ∑ 1+ f ' c Δ x= ∫ 1+ f ' x dx,<br />

Ou seja, podemos enunciar que:<br />

Se f : [ ab , ] → Ré<br />

uma função de classe<br />

x = a até x = b é dado por:<br />

Vejamos agora alguns exemplos.<br />

( ) ( )<br />

n i<br />

n→+∞ n→+∞ i= 0<br />

a<br />

1<br />

C então o comprimento do gráfico de f no trecho variando de<br />

b<br />

( ) 2<br />

L = ∫ 1+ f ' x dx<br />

Exemplo 3.3.1.1. Vamos calcular o comprimento do gráfico da função f ( x)<br />

Começamos calculando a derivada de f que é dada por f '(<br />

x)<br />

Logo:<br />

a<br />

2<br />

3x1 2<br />

=<br />

2<br />

−<br />

6x<br />

. Agora note que:<br />

2<br />

2<br />

4<br />

2 ⎛3x 1 ⎞ 9x 1 1<br />

1+ f '( x)<br />

= 1+ ⎜ − 1 2 ⎟ = + − + 4<br />

⎝ 2 6x⎠ 4 2 36x 2<br />

2<br />

⎛3x 1 ⎞<br />

= ⎜ + ⎟ .<br />

⎝ 2 6x⎠<br />

2<br />

2<br />

3 3 3 2<br />

2<br />

⎛3x 1 ⎞ ⎛3x 1 ⎞ 1<br />

L= ∫ 1+ f '( x) dx= ∫ ⎜ + ⎟ dx= ∫⎜<br />

+ ⎟dx=<br />

13+ ln3.<br />

1 1 ⎝ 2 6x⎠ 1⎝<br />

2 6x⎠ 6<br />

3.3.2 - Curvas na forma paramétrica<br />

3<br />

x 1<br />

= + , com 1≤x≤ 3.<br />

2 6x<br />

Vamos supor agora que queiramos calcular o comprimento de um pedaço de uma curva no plano e que<br />

esta curva esteja dada na forma paramétrica, ou seja, os pontos dessa curva são expressos através de funções de<br />

uma outra variável. Esse ponto de vista é particularmente interessante em física, quando estudamos o movimento<br />

de um projétil no plano e as variáveis x e y que descrevem o movimento do projétil são funções do tempo.<br />

Temos aqui uma fórmula análoga à do caso anterior e cuja demonstração também segue os mesmos passos.<br />

Vamos apenas enunciá-la. Aqueles que quiserem ver a demonstração podem consultar o livro de Serge Lang<br />

citado na bibliografia.


Suponha que C seja uma curva no plano dada na forma paramétrica pelas equações<br />

⎧ ⎪x<br />

= xt ( ) ,<br />

⎨ com t∈ [ t0, t1]<br />

,<br />

⎪⎩ y = y() t .<br />

onde as funções x = xt () e y y() t<br />

comprimento do arco de C entre os pontos t0 e t 1 é dado por<br />

= são tais que suas derivadas são contínuas em [ , ]<br />

t1<br />

t0<br />

( '() ) '()<br />

123<br />

( )<br />

2 2<br />

L = ∫ x t + y t dt<br />

t t . Então o<br />

Vejamos dois exemplos.<br />

3 ⎧ x = 2sen<br />

t<br />

Exemplo 3.3.2.1. Vamos calcular o comprimento da curva C dada por ⎨ , com t ∈ ⎡0, π ⎤ .<br />

3<br />

⎩y<br />

= 2cos t ⎣ 2⎦<br />

2<br />

2<br />

Observe que x '() t = 6sen tcost e y'() t =− 6cos tsent.<br />

Assim sendo, temos que o comprimento pedido é<br />

dado por:<br />

π π<br />

2 2 2 2<br />

4 2 4 2<br />

() ()<br />

L = ∫ x ' t + y ' t dt = ∫ 36sen t cos t + 36cos tsen tdt =<br />

0 0<br />

π π<br />

2 π 2<br />

2<br />

π<br />

2 2 2 2 2 2 2 2<br />

∫ sen t t ( sen t t) dt ∫ sen t tdt ∫ sent tdt ⎡<br />

⎣ sen t⎤<br />

⎦0<br />

0 0 0<br />

36 cos + cos = 36 cos = 6 cos = 3 = 3<br />

Exemplo 3.3.2.2. Vamos calcular o comprimento de uma circunferência de<br />

raio a. A idéia é obter uma forma paramétrica para a circunferência.<br />

Observe a figura ao lado. Seja P um ponto da circunferência. Se denotarmos<br />

por t o ângulo que OP faz com o eixo-x, então o triângulo OPA nos<br />

fornece x = OA = a cost<br />

e y = OB = asent , com o ângulo t pertencendo<br />

ao intervalo [ 0 , 2π<br />

] . Portanto temos a parametrização da circunferência<br />

como sendo:<br />

⎧x()<br />

t = a cos t<br />

⎨<br />

⎩ y()<br />

t = asent<br />

com ∈[<br />

0,<br />

2π<br />

]<br />

t . Daí x' () t = −asent<br />

e y' () t = a cost<br />

.<br />

2 2 2 2 2 2 2 2<br />

x ' t + y' t = − asent + acost = a sen t+ cos t = a . Daí, o comprimento pedido será<br />

donde () () ( ) ( ) ( )<br />

( () ) ()<br />

( )<br />

2π 2 2 2π 2π<br />

2<br />

L = ∫ x ' t + y ' t dt = ∫ a dt = a ∫ dt = 2πa,<br />

0 0 0<br />

que é um fato conhecido por nós, mas, até então, sem a devida justificativa.<br />

3.3.3 - Curvas na forma polar<br />

Suponhamos que seja dada uma curva no plano polar cuja equação seja r = f ( θ ) , com θ [ αβ , ]<br />

f sendo uma função de classe<br />

1<br />

C em [ , ]<br />

0 1<br />

∈ , com<br />

α β . Podemos encontrar uma expressão para o cálculo do<br />

comprimento dessa curva no trecho considerado usando a expressão anterior. Basta ver que essa curva admite<br />

uma parametrização bastante curiosa que é aquela que converte coordenadas polares para cartesianas. Assim<br />

sendo, temos a seguinte parametrização para a curva:


Agora, derivando as funções x e y nós ficamos com:<br />

( θ ) cosθ ( θ) cos(<br />

θ)<br />

( θ ) = θ = ( θ) ( θ)<br />

⎪⎧<br />

x = r = f<br />

⎨<br />

⎪⎩ y rsen f sen<br />

( ) ( ) ( )<br />

( ) = ( ) + ( )<br />

⎧ ⎪x<br />

' θ = f ' θ cosθ<br />

− f θ senθ<br />

⎨<br />

⎪⎩ y' θ f ' θ senθ f θ cosθ<br />

Agora utilizamos a fórmula da seção anterior com essa parametrização e obtemos:<br />

Vejamos agora alguns exemplos.<br />

( ( ) ) ( )<br />

( ) ( ( ) ) ( ( ) )<br />

β 2 2 β<br />

2 2<br />

L = ∫ x' θ + y' θ dθ = ∫ f ' θ + f θ dθ<br />

α α<br />

Exemplo 3.3.3.1. Vamos calcular o comprimento de uma circunferência de raio a > 0 . Relembramos que não<br />

há problemas em considerá-la centrada na origem e que sua equação em coordenadas polares é dada por r = a.<br />

f a<br />

f ' θ = 0.<br />

Portanto, usando a fórmula anterior temos que:<br />

Assim, ( θ ) = e, consequentemente, ( )<br />

( ( ) ) ( )<br />

( )<br />

2π 2 2 2π 2π<br />

2 2<br />

L = ∫ f ' θ + f θ dθ = ∫ a + 0 dθ = ∫ adθ = 2πa,<br />

0 0 0<br />

o que é uma nova forma de provarmos um resultado já conhecido.<br />

Exemplo 3.3.3.2. Vamos calcular o comprimento da cardióide do exemplo 3.3.2. A equação da cardióide é<br />

r = 1− cosθ.<br />

Note que nesse caso f ( θ ) 1 cosθ<br />

f ' θ = senθ<br />

. Logo:<br />

( ( ) ) ( )<br />

= − e, portanto, ( )<br />

( ) ( )<br />

π 2 2 π π<br />

L= 2∫ f ' θ + f θ dθ = 2∫ 2 1− cosθ dθ = 2 2∫ 1− cosθdθ<br />

=<br />

0 0 0<br />

π 2<br />

1−cos θ π senθ<br />

π<br />

= 2 2∫ dθ = 2 2∫ dθ<br />

=− 4 2⎡ 1+ cosθ ⎤ = 8.<br />

0 1+ cosθ 0 1+ cosθ<br />

⎣ ⎦0<br />

3.3.4 - Volumes de sólidos de revolução<br />

Nesta seção vamos usar a integral definida para calcular o volume de um sólido de revolução, ou seja, um sólido<br />

que é obtido pela rotação de uma região do plano cartesiano em torno de uma reta dada, conhecida como eixo de<br />

rotação. A situação que se apresenta é a seguinte: seja f : [ ab , ] → Ruma<br />

função contínua. Consideremos a<br />

região do plano delimitada pelo gráfico de f, pelas retas x = a , x = b e pelo eixo-x, conforme nos mostra a<br />

figura (1) abaixo. Suponhamos que essa região sofra uma rotação em torno do eixo-x dando origem a um sólido<br />

mostrado na figura (2) abaixo<br />

124


Gostaríamos de encontrar uma expressão que nos permita calcular o<br />

volume de tal sólido. Usaremos o chamado método das seções<br />

planas. Para isso, vamos dividir o intervalo [ ab , ] em n<br />

b−a subintervalos de comprimento Δ x = e escolhamos em cada<br />

n<br />

*<br />

um desses subintervalos um ponto c i . Considere em cada<br />

*<br />

subintervalo o cilindro de altura x f c .<br />

Δ e raio ( i )<br />

O volume de cada um desses cilindros é ( ) 2<br />

*<br />

volume do sólido dado, ou seja,<br />

π f c Δ x e a soma desses volumes dá um valor aproximado para o<br />

i<br />

n<br />

* * * * *<br />

( 1) ( 2) ( 3)<br />

... ( n) ∑ ( i )<br />

2 2 2 2 2<br />

V ≈π f c Δ x+ π f c Δ x+ π f c Δ x+ + π f c Δ x= π f c Δx<br />

Essa aproximação será cada vez melhor na medida em que escolhermos mais e mais pontos. Assim, fazendo<br />

n →∞e levando em conta que f é contínua, temos:<br />

n<br />

b<br />

* ( i ) ( )<br />

125<br />

2 2<br />

V = lim ∑π f c Δ x= ∫ π f x dx.<br />

n→∞ i= 1<br />

a<br />

Portanto temos podemos enunciar o seguinte resultado:<br />

Seja f : [ ab , ] → Ruma<br />

função contínua. Suponha que a região do plano delimitada pelo gráfico de f, pelas<br />

retas x = a , x = b e pelo eixo-x, sofre uma rotação em torno do eixo-x. O volume do sólido obtido é dado por:<br />

( ) 2<br />

b<br />

V = ∫ π f x dx<br />

Vamos ver alguns exemplos<br />

a<br />

Exemplo 3.3.4.1. Vamos calcular o volume do sólido obtido pela rotação da região delimitada pelo gráfico da<br />

2<br />

função f ( x) = x − 4x+ 5,<br />

as retas x = 1,<br />

x = 4 e o eixo-x, em torno desse último. Veja as figuras abaixo:<br />

Nesse caso temos uma aplicação direta da fórmula anterior, ou seja,<br />

4 2 4<br />

2 4 3 2<br />

78π<br />

V = ∫π ( x − 4x+ 5) dx= ∫ π ( x − 8x + 26x − 40x+ 25)<br />

dx=<br />

.<br />

1 1<br />

15<br />

i=<br />

1


Exemplo 3.3.4.2. Vamos calcular o volume de um cone de altura h e raio<br />

da base r. Esse cone é obtido pela rotação, em torno do eixo-x, da região<br />

r<br />

delimitada pelo gráfico de f ( x) = x,<br />

pela reta x = h e pelo eixo-x. Veja<br />

h<br />

a figura ao lado.<br />

Nesse caso usamos diretamente a fórmula acima e obtemos<br />

que é outra fórmula que já conhecíamos.<br />

2 2 2 3<br />

h<br />

h h<br />

⎛ r ⎞ r 2 r ⎡x ⎤ 1 2<br />

∫π⎜ ⎟ π 2 ∫ π π<br />

2 ⎢ ⎥<br />

0 ⎝h ⎠ h 0 h ⎣ 3 ⎦ 3 0<br />

V = x dx= x dx= = r h,<br />

Exemplo 3.3.4.3. Vamos calcular o volume de uma esfera de raio r. Metade da esfera é obtida pela rotação em<br />

2 2 2<br />

torno do eixo-x da região delimitada pela circunferência x + y = r , pelo eixo-y e pelo eixo-x. Veja as figuras<br />

abaixo:<br />

2 2<br />

A parte de cima da circunferência corresponde à função f ( x) = r − x , obtida tirando o valor de y na<br />

equação da circunferência. Portanto, o volume da metade da esfera será dado por:<br />

2<br />

( ) ( )<br />

r<br />

r r<br />

2 2 2 2 ⎡ 2 1 3⎤ 3 1 3 2 3<br />

V = ∫πr − x dx= ∫π r − x dx= ⎢πr x− πx = πr − πr = πr<br />

3 ⎥<br />

,<br />

⎣ ⎦ 3 3<br />

0 0 0<br />

4 3<br />

donde concluímos que o volume da esfera é dado por 2V<br />

= π r .<br />

3<br />

4. - Avaliando o que foi construído<br />

Ampliando o seu Conhecimento<br />

Em alguns casos é possível calcularmos áreas de figuras infinitas usando o Teorema fundamental do<br />

<strong>Cálculo</strong> e as idéias de limite no infinito. Por exemplo, a área limitada pelo gráfico da função<br />

1<br />

f ( x)<br />

= , pela reta x = 1 e pelo eixo-x possui um valor numérico associado que é 1. Esse tipo de<br />

2<br />

x<br />

situação motiva o estudo de um interessante tema que são as integrais impróprias.<br />

Nesta unidade tivemos a oportunidade de ver como a integral definida pode ser útil no cálculo de<br />

comprimentos, áreas e volumes. Obtivemos a justificativa de algumas fórmulas que já eram conhecidas nossas.<br />

126


5. Referências<br />

No Moodle...<br />

Na plataforma MOODLE, no espaço reservado à disciplina <strong>Cálculo</strong> <strong>Diferencial</strong> e <strong>Integral</strong> <strong>II</strong>, você<br />

poderá testar seus conhecimentos a respeito do tema Derivadas. Dedique-se à resolução das tarefas<br />

relacionadas a este assunto. Encontrar-nos-emos no MOODLE. Até lá!<br />

Dialogando e Construindo Conhecimento<br />

Reúna-se com os colegas para discutir os temas abordados. Visite constantemente a plataforma<br />

MOODLE, faça as tarefas nela propostas Procure os Tutores para esclarecer as dúvidas sobre algum<br />

tema que não tenha sido bem assimilado. Comunique-se! Nós estamos sempre dispostos a orientá-lo e<br />

ajudá-lo em caso de dificuldade no estudo da disciplina. Participe! Acredite em seu potencial e conte<br />

conosco.<br />

1. Ávila, G.,CÁLCULO I: FUNÇÕES DE UMA VARIÁVEL, Editora LTC, 7 a Edição 2003.<br />

2. Lang, Serge., CÁLCULO , Volume 1, Editora LTC, 1975.<br />

3. Simmons, George, CÁLCULO COM GEOMETRIA ANALÍTICA, Volume 1, McGraw-Hill,1985.<br />

4. Stewart, James, CÁLCULO, Volume 1, Editora Pioneira, 4ª. Edição, 2003.<br />

127

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