Tese de doutorado - Biblioteca Digital de Teses e Dissertações - UFF
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da época. E, não obstante, é ela que efetivamente tem mais<br />
possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ficar pairando tanto acima do que é<br />
representado, como do autor da representação, livre <strong>de</strong><br />
qualquer interesse real e i<strong>de</strong>al, nas asas da reflexão poética,<br />
po<strong>de</strong>ndo potencializar esta reflexão e como que multiplicá-la<br />
numa série interminável <strong>de</strong> espelhos. (SCHLEGEL, APUD<br />
GOMES & VECCHI, 1992, p. 51).<br />
Ao apresentar a poesia romântica afastada da possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressar <strong>de</strong> modo<br />
transparente a subjetivida<strong>de</strong> do artista, Schlegel a metaforiza como um jogo <strong>de</strong> espelhos,<br />
que remete não só ao sujeito, mas também ao mundo que o cerca. Jogo múltiplo e infinito,<br />
pois a poesia surge do interior do poeta, “bastando que ele olhe e perscrute o mundo sem<br />
nenhum preconceito, livre <strong>de</strong> qualquer intenção que não seja a poética” (GOMES &<br />
VECCHI, 1992, p. 53).<br />
Os múltiplos reflexos <strong>de</strong>sfazem a percepção neoclássica da arte como o espelho:<br />
The use of painting to illuminate the essential character of<br />
poetry – ut pictura poesis – so wi<strong>de</strong>spread in the eigtheenth<br />
century, almost disappears in the major criticism of the<br />
romantic period; the comparisons between poetry and<br />
painting that survive are casual, or, as the instance of mirror,<br />
show the canvas reversed in or<strong>de</strong>r to image the inner<br />
substance of the poet.<br />
(ABRAMS, s.d., p. 50)<br />
À metáfora setecentista da arte como espelho (a refletir e or<strong>de</strong>nar as imagens<br />
recortadas do real), oriundo da concepção da mente como reflexo do mundo externo, os<br />
românticos contraporiam a metáfora da lâmpada; a percepção da mimese <strong>de</strong>sloca-se da pura<br />
imitação para a expressão, pois o processo criativo <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser visto como “a reassambly<br />
of “i<strong>de</strong>as” which were literally images or replicas of sensations” (ABRAMS, s.d., p. 69).<br />
O poeta apreen<strong>de</strong>r ia o mundo através da sua sensibilida<strong>de</strong> e humanizaria a natureza,<br />
como pensaram Hazlitt: