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Tese de doutorado - Biblioteca Digital de Teses e Dissertações - UFF

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urtigas. A possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> recuperação plena do passado é vedada; o reencontro com a<br />

memória perdida ocorre pela reelaboração ficcional <strong>de</strong> seus vestígios.<br />

O olhar <strong>de</strong> Estácio é o do colono, pobre, mas com ascendência nobre, neto <strong>de</strong> Diogo<br />

Álvares. A criação <strong>de</strong> uma genealogia imaginada imprime profundida<strong>de</strong> temporal à<br />

narrativa e estabelece laços históricos, formadores <strong>de</strong> uma continuida<strong>de</strong> histórica, <strong>de</strong> uma<br />

tradição inventada, presente também na construção da personagem Vaz Caminha, o mais<br />

sábio letrado da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Salvador (ALENCAR, 1977, p.13), que nos remete a Pero Vaz<br />

<strong>de</strong> Caminha, o autor do primeiro documento brasileiro.<br />

Desejoso <strong>de</strong> recuperar a sua história, Estácio é <strong>de</strong>senraizado não só por sua<br />

condição <strong>de</strong> colono, mas por não conhecer as suas origens. Órfão, entra em contato com a<br />

história <strong>de</strong> seu pai pela palavra do povo nas ruas, como o artista restaurador. Como em O<br />

Guarani, a catástrofe se instaura na narrativa: Caminha tem a sua obra consumida pelo<br />

incêndio que o mata e <strong>de</strong>strói a sua casa; Estácio, após a falência <strong>de</strong> seu projeto <strong>de</strong> vida, é<br />

dado como morto e assume uma outra i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, isolando-se com Inês do mundo.<br />

Po<strong>de</strong>mos então <strong>de</strong>rivar que a ficção converteu-se em ferramenta na missão tomada<br />

por Alencar <strong>de</strong> pensar caminhos para o <strong>de</strong>lineamento da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> pátria. A tradição oral é<br />

percebida como senda para a restauração <strong>de</strong> uma memória fragmentada, cabendo ao artista<br />

reorganizar junto ao processo criativo os cacos presentes nas lendas e mitos. Ao <strong>de</strong>senhar o<br />

mapa narrativo da missão civilizatória, através das lendas e da história, a questão da<br />

diferença cultural emerge e<br />

O sentido anterior é <strong>de</strong>sautorizado . Instala – se outra<br />

tradição <strong>de</strong> sentidos que produz outros sentidos nesse lugar .<br />

Instala – se uma nova filiação. Esse dizer irrompe no<br />

processo significativo <strong>de</strong> tal modo que pelo seu próprio surgir<br />

produz memória.<br />

(ORLANDI, 2003, p. 9).

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