Tese de doutorado - Biblioteca Digital de Teses e Dissertações - UFF

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ainda que as canções não lhe fossem mais que uma parca reminiscência da infância.
A mediação entre o escritor e o anelo perdido da pureza popular é realizada então
pelas crianças, signo do ingênuo e incontaminado, e principalmente pelos idosos,
entendidos como depositários da tradição. José de Alencar descreveu emp olgado seu
encontro com um senhor, “o velho Felipe”, apesar de lhe ter sido basicamente inútil, por
não recordar mais do que uma quadra da poesia que procurava: “Este velho é um livro
curioso. Aprendi mais com ele do que com uma biblioteca, onde não encontraria as
antigualhas que me contou”(ALENCAR, 1994, p. 34).
Alencar visa sanar essa dificuldade de angariar material através da proposição de
uma “metodologia” de coleta similar ao procedimento de “restauração de antigos painéis”,
como vimos, tornando legítimo a compilação de três ou quatro versões de um romance em
uma única.
A “missão do compilador” seria, pois, reescrever o texto, apagando através das
próprias corruptelas outras onde não coubesse o “traço primitivo e original” que buscava na
poesia popular, tendo o escritor a missão de resgatar tais tradições realizando uma
“ressurreição literária”, e as inscrevendo na tessitura da memória nacional, como símbolos
de representação do caráter e da natureza brasileiros; e também de inscrição no círculo das
nações consideradas paradigmaticamente como civilizadas: possuir uma memória nacional
era um dos requisitos primordiais para o reconhecimento de um país como civilizado.
Alencar lembra a questão ao se queixar do não reconhecimento da importância da poesia
popular sertaneja por alguns:
Haverá muito quem lamente o espaço tomado com estas
histórias de boi. É da ordem das cousas que as preocupações
do presente absorvam a atenção pública. Por desconto muitas
nações cultas se interessam pelos singelos carmes de sua
infância, e os conservam como tradições venerandas; que,