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Tese de doutorado - Biblioteca Digital de Teses e Dissertações - UFF

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Ao <strong>de</strong>stacar a <strong>de</strong>fesa contra a possível acusação <strong>de</strong> parodiar o universo político <strong>de</strong><br />

seu tempo no microcosmos fictício do tempo colonial, Alencar, <strong>de</strong> forma paradoxal (e <strong>de</strong><br />

propósito?) assume o engenho 32 .<br />

É nessa advertência que se dá o anúncio da <strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> uma caixa contendo<br />

três antigualhas, dignas <strong>de</strong> uma memória do Instituto<br />

Histórico. Eram: uma cabeleira <strong>de</strong> rabicho que naturalmente<br />

pertenceu ao último juiz do povo; uma liga <strong>de</strong> belbute com<br />

atacadores <strong>de</strong> prata em forma <strong>de</strong> corações, a<strong>de</strong>reço<br />

casquilho <strong>de</strong> alguma Egéria dos tempos coloniais; e<br />

finalmente um grosso rolo <strong>de</strong> escrita enleado com um<br />

cadarço do Lamego (ALENCAR, 1966, p.27).<br />

As ruínas do passado po<strong>de</strong>m ser manipuladas pelo escritor em uma leitura alegórica,<br />

no sentido benjaminiano, capaz <strong>de</strong> dotar <strong>de</strong> sentido os fragmentos que se apresentam como<br />

índice e enigma <strong>de</strong> um tempo outro.<br />

Como fetiches, os objetos da caixa são alvos <strong>de</strong> leituras confusas. A comicida<strong>de</strong><br />

vela a violenta crítica aos <strong>de</strong>smandos políticos e estabelece, via ironia, o elo entre o coevo e<br />

o passado, presente, aliás, na imagem do narrador como mediador <strong>de</strong> um documento em<br />

ruínas, como ocorre também em O Guarani.<br />

Os fragmentos da memória popular reelaborados nos romances alencarinos seriam<br />

recolhidos na tradição oral em quadrinhas, canções ou nas reminiscências dos mais velhos,<br />

<strong>de</strong>slocados em meio aos novos signos impostos pelo capitalismo.<br />

A maior dificulda<strong>de</strong> apontada por Alencar em sua pesquisa sobre o cancioneiro<br />

popular seria a tocante à coleta e à compilação do material poético, feita especialmente<br />

através da memória voluntária <strong>de</strong> pessoas das classes populares e <strong>de</strong> sua própria lembrança,<br />

32 Esta prevenção é relativizada no segundo volume do romance, com a dicção irônica peculiar a este<br />

romance: “Ora, o autor não preten<strong>de</strong> certamente <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r-se do pecado <strong>de</strong> uma ou outra alusão, que lhe corre<br />

às vezes sem querer dos bicos da pena. Mas essas <strong>de</strong>masias, não as têm sobre a política, que já é <strong>de</strong> si um<br />

longo e interminável epigrama ” (ALENCAR, 1966, p. 111).

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