Tese de doutorado - Biblioteca Digital de Teses e Dissertações - UFF
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po<strong>de</strong> ser percebida na proposta romântica <strong>de</strong> um modo geral, já que esta conceberia o<br />
estudo da mitologia popular como material primordial para a compreensão das tradições do<br />
povo, o que por sua vez franquearia o acesso à sua “alma”. Her<strong>de</strong>r, neste sentido, proporá a<br />
<strong>de</strong>finição da mitologia como:<br />
tanto colecção e sistema dos mitos <strong>de</strong> um povo, como a<br />
ciência que se ocupa do seu significado...tornou-se<br />
freqüentemente como estágio necessário ao <strong>de</strong>senvolvimento<br />
da história da humanida<strong>de</strong>, uma “ida<strong>de</strong> mítica” assinalada<br />
por uma “consciência mítica” especial. (APUD BURKERT,<br />
s.d., p.15-16).<br />
Ao confrontarmos a visão her<strong>de</strong>riana à proposta alencarina po<strong>de</strong>mos perceber,<br />
mesmo que Alencar jamais o tivesse lido, como ponto <strong>de</strong> interseção a articulação entre o<br />
nacionalismo, o saber popular e a presença <strong>de</strong> uma ida<strong>de</strong> mítica, comum a todos os grupos<br />
da humanida<strong>de</strong>; em Alencar, estes elementos serão organizados no processo <strong>de</strong><br />
reelaboração <strong>de</strong> imagens nacionais, a partir das ruínas presentes no imaginário.<br />
As ruínas não estão presentes só no que concerne à releitura da cultura ameríndia,<br />
mas se articulam à construção <strong>de</strong> outros textos, alu<strong>de</strong>m às ruínas dos centros urbanos -<br />
catrizes a servirem <strong>de</strong> gatilho para a restauração <strong>de</strong> imagens do passado pelo discurso<br />
literário, ou às ruínas das relações humanas, em um tempo em que o capitalismo fragiliza<br />
os laços interpessoais.<br />
No primeiro volume <strong>de</strong> Guerra dos Mascates, por exemplo, o narrador<br />
ironicamente anuncia no prólogo uma advertência, “indispensável contra enre<strong>de</strong>iros e<br />
maldizentes”, para “evitar certos comentos”, pois “não faltariam malignos que julgassem<br />
ter sido esta crônica inventada à feição e sabor dos tempos <strong>de</strong> agora” no “tocante às cousas<br />
da governança” (ALENCAR, 1966, p. 33).