Tese de doutorado - Biblioteca Digital de Teses e Dissertações - UFF
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1 73<br />
Ubirajara, s.d., p.64)<br />
( ALENCAR,<br />
O argumento histórico presentes não só nas narrativas acimas como em O Guarani<br />
situa historicamente a narrativa, mas não prova a existência das personagens e tampouco<br />
confere à ficção o estatuto <strong>de</strong> veracida<strong>de</strong>. A especificida<strong>de</strong> ficcional não é estrangulada pela<br />
exigência <strong>de</strong> criação <strong>de</strong> um microcosmos literário capaz <strong>de</strong> espelhar, no sentido estrito, um<br />
macrocosmos social.<br />
A proposta, anunciada em seus textos críticos, da liberação da poiese nos espaços<br />
em que o discurso historiográfico não penetrara, presentifica-se na preocupação <strong>de</strong><br />
esclarecer <strong>de</strong>terminados pontos da narrativa à luz da documentação histórica, como avisa o<br />
autor em Iracema, preocupado com uma possível censura <strong>de</strong> ter sido “infiel à verda<strong>de</strong><br />
histórica” ( ALENCAR,1980, p.13).<br />
Iracema e Ubirajara são, portanto, narrativas dotadas <strong>de</strong> temporalida<strong>de</strong> histórica,<br />
inclusive a segunda, inauguradora <strong>de</strong> uma temporalida<strong>de</strong> inexistente nos livros <strong>de</strong> História<br />
da época: o período pré-cabralino que, mergulhado na penumbra, só po<strong>de</strong> sobreviver na luz<br />
lançada pela ficção em um tempo suspenso entre os suportes mítico e histórico; nele, a<br />
libertação das correntes simbólicas impostas pela colonização ainda recente po<strong>de</strong>riam ser<br />
quebradas.<br />
Ubirajara <strong>de</strong>sconstruirá o paradigma histórico instaurador da origem nacional em<br />
1500 27 , data seminal, traduzida na legitimação i<strong>de</strong>ológica do domínio metropolitano<br />
português e no <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> naturalizar uma unida<strong>de</strong> política e territorial árdua e<br />
violentamente conquistada.<br />
27 Nos manuais históricos da época, como o <strong>de</strong> Varnhagen e Joaquim Manuel <strong>de</strong> Macedo, o marco original do<br />
Brasil situa-se no ano da chegada dos portugueses; quando há, no discurso histórico da época, referência a<br />
uma temporalida<strong>de</strong> anterior não há a vinculação <strong>de</strong>ste tempo a um tempo nacional.