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Tese de doutorado - Biblioteca Digital de Teses e Dissertações - UFF

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français doit avoir oublié la Saint-Barthélemy, les massacres<br />

du Midi au XIII e siècle. (RENAN, 1882)<br />

A partilha do silêncio revela em seu anverso o pacto entre os patriotas: “esquecer”,<br />

rejeitar episódios vergonhosos, traumáticos e catastróficos como a Noite <strong>de</strong> São<br />

Bartolomeu na seleção das lembranças em comum (lábeis e construídas na longa duração,<br />

sabemos) torna-se necessário na assunção da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> coletiva.<br />

A percepção do esquecimento como construtor da memória expõe-se também na<br />

pintura <strong>de</strong> Pedro Américo ao questionar os limites impostos pelas profundas relações entre<br />

a pintura brasileira e o projeto político do Segundo Império, como explicita em seu<br />

comentário a “O grito do Ipiranga”, escrito em 1888, no qual revela os impasses vividos<br />

frente a tentativa <strong>de</strong> ser “sincero reprodutor das faces essenciais do fato, sem esquecer<br />

totalmente as difíceis e severas lições da ciência do belo”. A opção entre a veracida<strong>de</strong><br />

factual e a estética, revela ainda a consciência da arte como instância produtora <strong>de</strong> memória<br />

e a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> manipular o esquecimento como forma <strong>de</strong> manter o traço épico. Desta<br />

forma, compara esta manipulação à presente na construção historiográfica:<br />

Se o historiador afasta dos seus quadros todos os inci<strong>de</strong>ntes<br />

perturbadores da clareza das suas lições e da magnitu<strong>de</strong> dos<br />

seus fins, com muito mais razão o faz o artista, que proce<strong>de</strong><br />

dominado pela idéia da impressão estética que <strong>de</strong>verá<br />

produzir no espectador a sua obra.(...)<br />

A realida<strong>de</strong> inspira, não escraviza o pintor.<br />

Assim, por exemplo, dizendo-nos os companheiros <strong>de</strong> Dom<br />

Pedro que sua alteza, no momento mais solene daquela tar<strong>de</strong><br />

memorável, montava um cavalo zaino tocado a escuro,<br />

afirmando certa tradição ppopular que ele cavalgava então<br />

um asno baio (...) não há dúvida <strong>de</strong> que o pintor, no interesse<br />

moral e artístico do seu trabalho, <strong>de</strong>verá preferir a primeira<br />

afirmativa, ainda mesmo quando as mais justas<br />

consi<strong>de</strong>rações, baseadas na importância do cavaleiro e na

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