Tese de doutorado - Biblioteca Digital de Teses e Dissertações - UFF

1 6
Tal jogo organiza-se em torno do que apontamos como uma poética da restauração
na narrativa de José de Alencar, conceito construído em nossa dissertação de mestrado,
intitulada O tempo e o palimpsesto: mito, memória, ficção e história em José de Alencar e
aprofundado por nós neste trabalho; aprofundamento derivado de sua articulação com o que
reconhecemos como a criação de metáforas para o nacional na obra alencarina, produzidas
em torno da analogia com o jogo pictórico do claro-escuro.
As imagens e termos relacionados ao pictórico, empregados por Alencar em seus
textos são elementos de reflexão sobre o artesanato literário; uma relação pouco explorada
pela crítica, mas que, contudo, constrói-se como o catalisador de novas questões e
problematizações sobre a literatura romântica brasileira.
O objetivo principal desta pesquisa é, pois, problematizar e refletir sobre as relações
entre memória, imagem e literatura na ficção romântica do oitocentos brasileiros, a partir da
escritura de José de Alencar, apontando as tensões e diálogos presentes nas relações entre a
literatura e a pintura.
Buscamos, a partir deste objetivo principal, o desenvolvimento de uma pesquisa que
alimentasse as nossas reflexões sobre as especificidades das narrativas verbais e visuais, as
possíveis convergências estruturais e a visão acerca deste diálogo no século dezenove.
Coube à literatura romântica o destaque e a recuperação criativa das especificidades
do Brasil: raciais, lingüísticas, dos costumes e das instituições. Neste contexto era
perfeitamente cabível o perfil ideológico do Romantismo, que apostava na valorização do
particular, do irregular e do perene, no senso de História e no resgate do passado.
Desta maneira, o romance romântico no Brasil serviu como um aliado decisivo ao
nacionalismo emergente, semeado a partir da independência, e incitou o desejo de
expressão do orgulho da pátria, contribuindo para a criação de uma literatura independente