Tese de doutorado - Biblioteca Digital de Teses e Dissertações - UFF
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liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> reinventar o real, a fotografia inaugurava um compromisso do imagético com a<br />
<strong>de</strong>scrição objetiva da realida<strong>de</strong>. A fotografia coadunava-se a uma vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>,<br />
presente na historiografia historicista. Este, em sua procura <strong>de</strong> reconstrução absoluta do<br />
passado, reafirma a supremacia do documento escrito como fonte da interpretação objetiva.<br />
Tal postura reflete a autorida<strong>de</strong> conferida ao ofício do historiador, ao mesmo tempo<br />
em que indica uma tendência que assume seu ápice no século XIX: o <strong>de</strong>sejo do efeito do<br />
real pela socieda<strong>de</strong> oitocentista. Roland Barthes aponta este <strong>de</strong>sejo como o responsável pela<br />
voga do romance realista, do diário íntimo, da literatura documental, dos museus históricos,<br />
das exposições <strong>de</strong> antiguida<strong>de</strong>, que tanto ganham força naquela época. Entre estes<br />
instrumentos que po<strong>de</strong>riam servir <strong>de</strong> pontes para o alcance da realida<strong>de</strong>, a fotografia ocupa<br />
um lugar especial.<br />
Com olhos inscritos no século XX, Roland Barthes anunciou o impacto exercido<br />
pela fotografia, ainda em nossos dias, ao <strong>de</strong>screver a sua reação ao ver o retrato do irmão <strong>de</strong><br />
Napoleão Bonaparte: “Eu me disse então com um espanto que jamais pu<strong>de</strong> reduzir: ‘Vejo<br />
os olhos que viram o Imperador’” (BARTHES, 1984a, p. 11). As fotografias revelam “os<br />
olhos que viram”, já que vemos através do olhar do outro a cena, nunca imortalizada, em<br />
sua condição <strong>de</strong> suporte para novas leituras sentidos. O olhar-visão testemunha e<br />
testemunhou ao mesmo tempo a sua época, pois “uma foto não po<strong>de</strong> ser transformada (dita)<br />
filosoficamente, ela está inteiramente lastreada com a contingência <strong>de</strong> que ela é o<br />
envoltório transparente e leve.” (BARTHES, 1984, p. 14).<br />
A fotografia seria necessariamente real; a pintura facultativamente. Enquanto é<br />
franqueado à pintura simular uma realida<strong>de</strong>, mesmo que não tenha sido vista, a fotografia<br />
(em que pese a manipulação e as estratégias <strong>de</strong> edição <strong>de</strong> cena) tem como referente não a