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Tese de doutorado - Biblioteca Digital de Teses e Dissertações - UFF

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encontrar apenas vestígios das canções, ainda assim perdidos e “<strong>de</strong>formados” pela<br />

transmissão oral.<br />

Frente à impossibilida<strong>de</strong> da essência e à tentativa <strong>de</strong> reconstruir as tradições do<br />

povo, o escritor criou um método <strong>de</strong> trabalho, que o capacitaria a enfrentar as ruínas <strong>de</strong> uma<br />

cultura reelaborada na transmissão oral e perdida no esquecimento:<br />

Este método comparava o trabalho do pesquisador da<br />

tradição popular ao do restaurador <strong>de</strong> quadros e sugeria a<br />

interferência direta do primeiro, retocando o material<br />

coletado, inventando e complementando-o, visando com isto<br />

restabelecer o (seu) traço primitivo (ALENCAR, 1966, p.<br />

972).<br />

Como o restaurador, a “interferência” do artista na reconstrução da tradição seria<br />

legítima. A analogia traz em si a interseção entre memória e imaginação: a sobrevivência<br />

das imagens do passado só é possível pela recriação. A interdição <strong>de</strong> um resgate absoluto<br />

instaura-se junto à aporia <strong>de</strong> uma tradição que precisa ser reinventada 11 .<br />

A necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reinventar tradições, como visto no primeiro capítulo, liga-se a um<br />

momento em que a memória coletiva se esvanece. A perplexida<strong>de</strong> frente à escassez <strong>de</strong><br />

material (<strong>de</strong> uma certa forma, reflexo <strong>de</strong>ste esvanecimento) revela os limites <strong>de</strong> um escritor<br />

que assumiu a tarefa <strong>de</strong> mapear e tentar reconstruir a memória <strong>de</strong> seu país – que tem na<br />

tradição oral uma <strong>de</strong> suas peças <strong>de</strong> resistência.<br />

No quebra-cabeça do passado, Alencar conta com poucas peças: os relatos dos<br />

cronistas e viajantes, os documentos/monumentos oficiais, os ruídos <strong>de</strong> uma memória<br />

11 Segundo o psicólogo e pesquisador holandês Douwe Draaisma, historicamente, a linguagem<br />

relacionada à memória vale-se <strong>de</strong> mol<strong>de</strong>s metafóricos, principalmente a cotidiana, que po<strong>de</strong>m remeter a<br />

espaços <strong>de</strong> armazenagem (a<strong>de</strong>gas, pombais – esta na clássica referência platônica, bibliotecas, cofres...), a<br />

prédios (palácios, teatros, etc.) e à paisagem, especialmente em referência à condição oculta da memória<br />

(grutas, minas, as profun<strong>de</strong>zas do mar). Desta forma, a metáfora projeta pela palavra imagens po<strong>de</strong>rosas para<br />

se pensar o nacional , se consi<strong>de</strong>rarmos a imagem como potência relacionada aos processos da memória.<br />

(DRAAISMA, 2005).

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