15.04.2013 Views

Tese de doutorado - Biblioteca Digital de Teses e Dissertações - UFF

Tese de doutorado - Biblioteca Digital de Teses e Dissertações - UFF

Tese de doutorado - Biblioteca Digital de Teses e Dissertações - UFF

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

1 45<br />

CAPÍTULO 2: A POÉTICA DA RESTAURAÇÃO - IMAGEM E MEMÓRIA EM<br />

ALENCAR<br />

Ao relembrar o caminho percorrido na infância em dias <strong>de</strong> sol, pela rua dos<br />

Perchamps, a voz narrativa <strong>de</strong> Em busca do tempo perdido revela o seu <strong>de</strong>sconcerto frente à<br />

sua extinção: “em vão buscaríamos na Combray <strong>de</strong> hoje porque no lugar <strong>de</strong> seu antigo<br />

traçado se ergue a escola” (PROUST, 1992, p.157) .<br />

A possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> resconstituição dos quadros <strong>de</strong> sua infância resi<strong>de</strong> em percorrer<br />

os caminhos da memória, vias labirínticas a se constituirem em um jogo dialético entre o<br />

resgate e a recriação. A tessitura da teia da memória, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do aspecto involuntário<br />

para se erguer, será comparada pela voz narrativa ao trabalho artístico dos restauradores:<br />

Porém, meu <strong>de</strong>vaneio (semelhante a esses arquitetos que<br />

seguiram a escola <strong>de</strong> Viollet –Le- Duc, que, julgando<br />

encontrar sob um púlpito renascentista e um altar do século<br />

XVII os traços <strong>de</strong> um coro romano, repõem todo o prédio no<br />

estado que <strong>de</strong>via estar no século XII) não <strong>de</strong>ixa uma só pedra<br />

da nova construção <strong>de</strong> pé, e torna a abrir e “restitui” a rua<br />

dos Perchamps. Aliás, para essas reconstituições ela dispõe<br />

<strong>de</strong> dados mais precisos do que geralmente têm os<br />

restauradores: algumas imagens conservadas na minha<br />

memória, as últimas que talvez existam hoje, e votadas a<br />

<strong>de</strong>saparecer em breve, do que era Combray na minha<br />

infância; e como foi a própria cida<strong>de</strong> que as <strong>de</strong>lineou em mim<br />

antes <strong>de</strong> <strong>de</strong>saparecer, têm toda a emoção – se é que se po<strong>de</strong><br />

comparar um obscuro retrato às efígies gloriosas cuja<br />

reprodução minha avó tanto gostava <strong>de</strong> me dar – das<br />

gravuras antigas da Ceia ou <strong>de</strong>sse quadro <strong>de</strong> Gentile Bellini<br />

nos quais se vêem, num estado que já não possuem hoje, a<br />

obra prima <strong>de</strong> Da Vinci e o pórtico <strong>de</strong> São Marcos.<br />

(PROUST, 1992, p.157).<br />

O <strong>de</strong>vaneio permite ao narrador reconstituir a rua dos Perchamps, e garante a sua<br />

sobrevivência simbólica. Esta reconstituição é comparada não gratuitamente ao processo <strong>de</strong>

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!