Tese de doutorado - Biblioteca Digital de Teses e Dissertações - UFF
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Dentro <strong>de</strong>ste quadro, imagem, imaginação e memória dialogam em torno da<br />
escritura ficcional. A narrativa <strong>de</strong> Alencar propõe o artesanato da memória via ficção,<br />
tarefa em que se lança justamente em um momento no qual a memória espontânea<br />
apresenta-se <strong>de</strong> forma precária. Po<strong>de</strong>mos perceber este discurso como um lugar <strong>de</strong><br />
memória não só por ser construção artificial, mas por sua condição livre, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong><br />
referentes da realida<strong>de</strong>, como toda ficção:<br />
Diferentemente <strong>de</strong> todos os objetos da história, os<br />
lugares <strong>de</strong> memória não tem referentes na<br />
realida<strong>de</strong>...Não que não tenham conteúdo, presença<br />
física ou história, ao contrário. Mas o que os fazem<br />
lugares <strong>de</strong> memória é aquilo pelo que exatamente<br />
escapam da História...Os lugares <strong>de</strong> memória nascem<br />
e vivem do sentimento <strong>de</strong> que não há memória<br />
espontânea, que é preciso criar arquivos...Há locais<br />
<strong>de</strong> memória porque não há mais meios <strong>de</strong> memória.<br />
(NORA, 1993, pp.6 – 28)<br />
A literatura <strong>de</strong> Alencar faz-se lugar <strong>de</strong> memória ao apresentar personagens<br />
receptáculos <strong>de</strong> memória – como o índio, mas também o sertanejo e até mesmo, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong><br />
uma perspectiva mais subjetiva, a personagem urbana - e ao se construir também como tal,<br />
na medida em que seus textos simulam dialogar com um passado reatualizado no cotidiano,<br />
Ao se tornar público discurso da memória, o texto ganha a chance <strong>de</strong> ser divulgado:<br />
a literatura é uma via <strong>de</strong> espargimento <strong>de</strong> discursos, silenciados por uma memória oficial e<br />
passíveis <strong>de</strong> serem ficcionalmente reor<strong>de</strong>nados. Esta divulgação po<strong>de</strong> garantir a<br />
sobrevivência da palavra escrita ou, ao menos, a promessa <strong>de</strong> disseminação das imagens<br />
circulantes no texto, que po<strong>de</strong>rão atuar na geração e expansão <strong>de</strong> outras imagens, em outros<br />
textos.<br />
Nos textos <strong>de</strong> Alencar circularam imagens que se converteram em sinais instigantes<br />
para se pensar os labirintos do país. A alusão ao topos do manuscrito, por exemplo,