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Tese de doutorado - Biblioteca Digital de Teses e Dissertações - UFF

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Houve uma ocasião em que o mancebo quis representar em<br />

sua lembrança a imagem da moça (...) Como era ela?(...) A<br />

nenhuma <strong>de</strong>stas interrogações satisfez a memória; porque<br />

não recebera a impressão particular <strong>de</strong> cada um dos traços<br />

da moça. Não obstante, a aparição encantadora ressurgia<br />

<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> sua alma; ele a revia tal como se <strong>de</strong>senhara a seus<br />

olhos algumas horas antes. Era a imagem diáfana <strong>de</strong> um<br />

sonho que tomara vultos graciosos <strong>de</strong> mulher.<br />

-(...) Não po<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>screvê-la, como um poeta...Mas que<br />

importa? Pois que eu a sinto em mim; pois que eu a possuo<br />

em meu coração. (ALENCAR, 1995, p. 22).<br />

E, ligada às sensações, a memória, segundo Alencar, citando a mesma obra, estaria<br />

sujeita a perda do controle, ao involuntário:<br />

A memória apresenta às vezes um fenômeno curioso;<br />

conserva por muito tempo oculta e sopitada uma impressão<br />

<strong>de</strong> que não temos a menor consciência. De repente, porém,<br />

uma circunstância qualquer evoca essa reminiscência<br />

apagada; e ela ressurge com vigor e fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong>. (ALENCAR,<br />

1995, p. 37).<br />

Na trama ficcional <strong>de</strong> Lucíola, a dimensão involuntária da memória é novamente<br />

representada, sendo percebida como uma “extravagância”, capaz <strong>de</strong> mergulhar o homem<br />

em sua estrutura labiríntica:<br />

Enquanto acompanhava com os olhos a cortesã <strong>de</strong>sprezível<br />

que se balançava lubricitante no seu novo carro, insultando<br />

com o luxo <strong>de</strong>smedido as senhoras honestas que passavam a<br />

pé, sabe <strong>de</strong> que me lembrei? Não foi da ceia em casa <strong>de</strong> Sá,<br />

nem do mês que acabava <strong>de</strong> passar; foi unicamente da suave<br />

aparição da Rua das Mangueiras no dia <strong>de</strong> minha chegada.<br />

São extravagâncias da memória. Quem conhece o fio<br />

misterioso que leva o pensamento através do labirinto do<br />

passado a uma lembrança remota? (ALENCAR, 1966, p.<br />

385).<br />

Ainda em Lucíola, Paulo, o narrador, mostra como a observação confun<strong>de</strong>; seriam a<br />

vivência e a experiência o que permitiriam a sobrevivência da memória, capaz <strong>de</strong> ser

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