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Tese de doutorado - Biblioteca Digital de Teses e Dissertações - UFF

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A percepção do poeta como vate, que per<strong>de</strong>u a sua força após o classicismo, foi<br />

retomada e reatualizada pelo Romantismo. A concepção da imagem do poeta como gênio<br />

dialoga com esta imagem e refere à missão do artista como um sacerdócio, revestido <strong>de</strong><br />

uma aura <strong>de</strong> divinda<strong>de</strong> (ainda que esta aura comece já então a corromper-se frente ao jogo<br />

do mercado), tecida nas ruínas da experiência religiosa.<br />

Da mesma forma, as profundas transformações em relação às concepções estéticas<br />

mo<strong>de</strong>rnas, instauradas pelos românticos, conferem ao poeta a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> criar<br />

ficcionalmente modulações em relação à construção da memória, inclusive da memória<br />

coletiva, em meio à fixação dos Estados-nação. 4 Como índices <strong>de</strong>sta construção aparecem<br />

principalmente os signos da paisagem, do labirinto, da caverna e do mar recuperando em<br />

sua polissemia várias possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> leitura da memória coletiva e individual.<br />

A sensibilida<strong>de</strong> romântica substitui o conceito mo<strong>de</strong>rno <strong>de</strong> imitatio pela livre<br />

expressão da subjetivida<strong>de</strong> 5 ; há a concepção <strong>de</strong> que a vida não mais se encaixa em um<br />

mo<strong>de</strong>lo universal, único e, logo, a verossimilhança passa a ligar-se aos modos plurais <strong>de</strong><br />

vivência e experimentação. Isto é, a própria vida passa a ser a matéria por excelência do<br />

intelectual romântico, tanto mais que a veracida<strong>de</strong> da obra coadunava-se ao potencial <strong>de</strong><br />

expressão da vivência, <strong>de</strong> forma autônoma a mo<strong>de</strong>los impostos e/ ou generalizados. Assim,<br />

a liberação romântica da imitatio abre espaço para a primazia da fantasia enquanto<br />

4 Destacamos aqui o conceito <strong>de</strong> Estado-Nação, coevo à emergência do movimento romântico, sublinhando a<br />

passagem dos governos monárquicos e centralistas para a hegemonia política da burguesia e a busca <strong>de</strong><br />

marcos que <strong>de</strong>lineassem – física e simbolicamente, a idéia <strong>de</strong> nação e a fomentação <strong>de</strong> uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> pátria,<br />

como a língua nacional e a própria literatura. No Brasil, este processo dá-se <strong>de</strong> modo sui generis, visto que<br />

historicamente difere-se das <strong>de</strong>mais colônias latino-americanas, implementando o seu processo <strong>de</strong><br />

in<strong>de</strong>pendência a partir da monarquia centralizadora <strong>de</strong> Dom Pedro I.<br />

5 Schlegel, por exemplo, em Conversa sobre a poesia (e outros fragmentos) apontava a falência do mo<strong>de</strong>lo<br />

da imitatio mo<strong>de</strong>rna, ao mesmo tempo em que propunha a revisitação aos paradigmas do classicismo.<br />

(SCHLEGEL, 1994).

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