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Tese de doutorado - Biblioteca Digital de Teses e Dissertações - UFF

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1 32<br />

conceituação <strong>de</strong> Proust dialoga com um momento histórico no qual o indivíduo assiste ao<br />

esfacelamento da experiência coletiva, tornando-se cada vez mais isolado 3<br />

On<strong>de</strong> há experiência no estrito do termo, entram em<br />

conjunção na memória, certos conteúdos do passado<br />

individual com outros do passado coletivo. Os cultos com<br />

seus cerimoniais, suas festas (que, possivelmente, em parte<br />

alguma da obra <strong>de</strong> Proust foram mencionados), produziam<br />

reiteradamente a fusão <strong>de</strong>stes dois elementos da memória.<br />

Provocavam a rememoração em <strong>de</strong>terminados momentos e<br />

davam -lhe pretexto <strong>de</strong> se reproduzir por toda a vida. As<br />

recordações voluntárias e involuntárias per<strong>de</strong>m, assim, sua<br />

exclusivida<strong>de</strong> recíproca (BENJAMIN, 1997, p. 107).<br />

Em torno da análise acima, Benjamin distinguirá duas formas <strong>de</strong> experiência: a<br />

experiência (erfahrung), contínua, inconsciente e involuntária, e a vivência (erlebnis)-<br />

individual, imediata, consciente e voluntária. A exper iência é possibilitada pela vivência<br />

comunitária, prolongada; a vivência não teria este <strong>de</strong>sdobramento, mas apenas a<br />

assimilação imediata.<br />

O século XIX po<strong>de</strong> ser percebido como o limiar da perda da erfahrung. A remissão<br />

oitocentista a um passado nostálgico foi menos um refúgio do que uma forma <strong>de</strong> <strong>de</strong>stacar a<br />

angústia <strong>de</strong>sta perda e a sensação <strong>de</strong> <strong>de</strong>slocamento.<br />

Como vimos, a imagem do poeta como adivinho do passado e profeta do futuro está<br />

presente na concepção clássica <strong>de</strong> memória, mergulhada no que passou, no que é, e no que<br />

que virá a ser. José <strong>de</strong> Alencar dialoga com esta percepção em seus estudos críticos, como<br />

por exemplo na Carta sobre “A Confe<strong>de</strong>ração dos Tamoios”, ao apontar o poeta como<br />

vate, como aquele que é “ao mesmo tempo historiador do passado e profeta do futuro ”.<br />

(ALENCAR, 1963, p. 891).<br />

3 De modo igual, evi<strong>de</strong>ntemente, Benjamin percebe também em Bau<strong>de</strong>laire a impossibilida<strong>de</strong> da experiência<br />

coletiva na mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>.

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