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Tese de doutorado - Biblioteca Digital de Teses e Dissertações - UFF

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antes <strong>de</strong> morrer, ou que não o encontremos jamais.<br />

(PROUST, 1992, p. 55).<br />

Benjamin propõe uma instigante leitura em “A imagem <strong>de</strong> Proust” (1997), ao<br />

indicar o manto tecido por Penélope como imagem mo<strong>de</strong>lar da obra proustiana,<br />

percebendo-a na tecedura entre a lembrança e o esquecimento, apontado como positivo,<br />

como elemento criador.<br />

Ao aludir à possibilida<strong>de</strong> da experiência humana ser construída pela memória<br />

atemporal, percebida <strong>de</strong> forma caleidoscópica, Proust eleva a arte à condição <strong>de</strong> espaço<br />

privilegiado do cruza mento tempo-espacial, percebendo-a como único núcleo possível <strong>de</strong><br />

representação da síntese operada entre instante e duração.<br />

Os discursos produzidos no oitocentos sobre o caráter criador da memória, situando-<br />

a assim fora da compreensão da possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um resgate tranqüilo, reaparecem nos<br />

discursos da historiografia e da filosofia do novecentos. A partir <strong>de</strong>ste esteio, a memória é<br />

percebida como peça fundamental na construção <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s e impensável fora da<br />

relação entre o individual e o coletivo. Do mesmo modo, é reconhecido o seu po<strong>de</strong>r <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>linear a ipseida<strong>de</strong> a um grupo <strong>de</strong> indivíduos que compartilhem <strong>de</strong>terminadas crenças e<br />

aparatos simbólicos, fazendo com que se reconheçam como membros <strong>de</strong> um grupo.<br />

Jacques Le Goff apresenta a memória em sua condição dúbia: fruto do testemunho e<br />

da ficção. A memória conjugaria em um jogo áporo a lembrança e o esquecimento, que<br />

necessariamente a compõem. Le Goff a indica como elemento crucial, como cruzamento <strong>de</strong><br />

temporalida<strong>de</strong>s e olhares; e, ao percebê-la assim, sinaliza para a sua multiplicida<strong>de</strong>.<br />

Deveríamos, então, falar em memórias, consi<strong>de</strong>rando a condição <strong>de</strong> teia do discurso<br />

memorialístico, a perpassar as relações entre os modos possíveis <strong>de</strong> leitura e expressão <strong>de</strong>

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