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Tese de doutorado - Biblioteca Digital de Teses e Dissertações - UFF

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O movimento <strong>de</strong> migração <strong>de</strong> uma memória reconhecida como coletiva e ligada à<br />

espontaneida<strong>de</strong> – chamada por Nora <strong>de</strong> memória <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>, até a percepção emergente <strong>de</strong><br />

uma memória fabricada em torno da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> subjetiva tem as suas sementes na Europa,<br />

em fins do setecentos.<br />

Esta nova percepção encontra e abre caminho nos discursos posteriormente<br />

elaborados pelas Ciências Humanas – nas teses freudianas sobre a personalida<strong>de</strong> psíquica,<br />

na concepção <strong>de</strong> durée proposta por Henri Bérgson e na literatura <strong>de</strong> Marcel Proust.<br />

Mutadis mutandis, em todos estes discursos po<strong>de</strong>ríamos perceber o processo da<br />

memória como a tentativa <strong>de</strong> recompor imagens passadas: tentativa impossibilitada <strong>de</strong><br />

resgatar o traço primeiro, a origem, <strong>de</strong> preencher o vazio. O seu processo <strong>de</strong> recomposição<br />

articular-se-ia ao <strong>de</strong>svanecimento das imagens, instaurando, <strong>de</strong> forma dialética, a perda<br />

junto ao trabalho <strong>de</strong> construção.<br />

Para Freud, o processo <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> memória seria percebido fora da<br />

linearida<strong>de</strong>; ele a concebeu como produção que não se reduz à busca das imagens vividas,<br />

mas elaborada também como criação subjetiva. Em seu artigo “Construções em análise”,<br />

ele traçou a analogia entre o processo <strong>de</strong> análise e a imagem da memória como uma<br />

escavação arqueológica. Percebida <strong>de</strong>sta forma, a memória seria construída a partir <strong>de</strong><br />

fragmentos; como o arqueólogo que, frente aos vestígios e ruínas <strong>de</strong> uma civilização, é<br />

capaz <strong>de</strong> criar (e não simplesmente recriar) a imagem do todo perdido, o psicanalista<br />

mediaria o esforço do paciente em reconstruir as imagens da memória, em um exercício <strong>de</strong><br />

enfrentamento <strong>de</strong> lapsos e silêncios jamais resgatáveis. Na inevitabilida<strong>de</strong> da ausência,<br />

funda-se a manipulação <strong>de</strong> textos criados, capazes <strong>de</strong> alinhavar as lacunas <strong>de</strong>ste processo.<br />

Henri Bergson construiu o conceito <strong>de</strong> durée (duração), percebendo-o como a<br />

retomada incessante do fluxo contínuo temporal, como “continuida<strong>de</strong> realmente vivida,

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