Tese de doutorado - Biblioteca Digital de Teses e Dissertações - UFF
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Foi no século XIX que se inaugurou, junto à ascensão burguesa, uma nova<br />
percepção temporal, acelerada e responsável por minar a memória espontânea e coletiva.<br />
Tal ritmo tornaria necessária a construção do que Nora chama <strong>de</strong> “lugares <strong>de</strong> memória”:<br />
lugares simbólicos passíveis <strong>de</strong> alocar objetos <strong>de</strong> inscrição da memória nacional - como<br />
festas, monumentos, hinos, capazes <strong>de</strong> fixar a idéia <strong>de</strong> nação.<br />
Conceber a literatura como um lugar <strong>de</strong> memória, isto é, como potência criadora <strong>de</strong><br />
imagens capazes <strong>de</strong> modular <strong>de</strong>terminados aspectos da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> coletiva, não significa<br />
reduzi-la à condição <strong>de</strong> mero documento histórico portador <strong>de</strong>sta memória, tampouco a<strong>de</strong>rir<br />
à criação <strong>de</strong> um microcosmos ficcional a leitura mecanicista <strong>de</strong> recortes da realida<strong>de</strong>.<br />
Este posicionamento clarifica-se na percepção da memória e da História como<br />
instâncias separadas:<br />
Memória, história: longe <strong>de</strong> serem sinônimos, tomamos<br />
consciência que tudo opõe uma à outra. A memória é vida,<br />
sempre carregada por grupos vivos e, nesse sentido, ela está<br />
em permanente evolução, aberta à dialética da lembrança e<br />
do esquecimento, inconsciente <strong>de</strong> suas <strong>de</strong>formações<br />
sucessivas, vulnerável a todos os usos e manipulações,<br />
susceptível <strong>de</strong> longas latências e <strong>de</strong> repentinas revitalizações.<br />
A história é a reconstrução sempre problemática e<br />
incompleta do que não existe mais. A memória é um<br />
fenômeno sempre atual, um elo vivido no eterno presente; a<br />
história uma representação do passado (NORA, 1993, p. 10)<br />
Separação reiterada pelo olhar <strong>de</strong> Halbwachs, para quem também a memória<br />
coletiva opor-se-ia ao discurso histórico, oposição fundada no fim da tradição:<br />
geralmente a história começa somente no ponto on<strong>de</strong> acaba a<br />
tradição, momento em que se apaga ou se <strong>de</strong>compõe a<br />
memória social....a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> escrever a história <strong>de</strong> um<br />
período, <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong>, e mesmo <strong>de</strong> uma pessoa <strong>de</strong>sperta<br />
somente quando eles já estão muito distantes no passado,<br />
para que se tivesse a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> encontrar por muito