Tese de doutorado - Biblioteca Digital de Teses e Dissertações - UFF
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Assim, po<strong>de</strong>mos apontar elos entre a narrativa romanesca e a pictórica no Brasil<br />
presentes na vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> reconstruir o nacional e na consciência, pelo menos intuída na<br />
pintura <strong>de</strong> Pedro Américo, da falência da totalida<strong>de</strong> épica, sobrevivente apenas como ruína,<br />
a ser reinventada pelo artista. Há a tentativa do resgate do herói problemático, presente em<br />
uma aparência épica, mas que revela em suas entrelinhas os seus espaços limítrofes.<br />
Assim, não haveria uma ruptura completa entre os clássicos e os românticos na arte<br />
brasileira, mas a tentativa <strong>de</strong> dialogar com a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sobrevivência do épico em um<br />
momento em que seu domínio é impossível: questão já intuída por Alencar e mais tar<strong>de</strong><br />
aprofundada e sistematizada pelo jovem Lukács, em A Teoria do Romance.<br />
Frente à relativa ociosida<strong>de</strong> intelectual <strong>de</strong> seu tempo, Alencar propõe um projeto<br />
para além da racionalida<strong>de</strong>, calcado em uma percepção <strong>de</strong> mundo sustentada também pela<br />
subjetivida<strong>de</strong> e pela imaginação.<br />
Nela, a personagem do homem pensante, ruminador e melancólico, apóia-se<br />
paradoxalmente no fracasso – criado pelo <strong>de</strong>slocamento, e no sofrimento como meios <strong>de</strong><br />
sustentação da verda<strong>de</strong> e da moral, os únicos caminhos possíveis para a liberda<strong>de</strong>.<br />
Com olhos livres – embora o saibamos contaminados <strong>de</strong> forma in<strong>de</strong>lével pela<br />
cultura em que estão mergulhados, <strong>de</strong>ntro do truísmo que faz <strong>de</strong> Alencar “um homem <strong>de</strong><br />
seu tempo” – o belo natural é civilizado e tecido par e passo ao belo artístico por aqueles<br />
capazes <strong>de</strong>, no resíduo platônico, ver e não somente olhar, <strong>de</strong> mirar com “olhos <strong>de</strong> artista”,<br />
pois o belo seria antes <strong>de</strong> tudo um reflexo do espírito, na concepção romântica.<br />
Em torno dos jogos <strong>de</strong> sombra e luz, entre o que foi dito e silenciado, a História e a<br />
história, o pictórico e o literário, a lembrança e o esquecimento, os romances do escritor<br />
cearense (mas que se quer mais do que tudo brasileiro) são fios a alinhavar a unida<strong>de</strong> da