Tese de doutorado - Biblioteca Digital de Teses e Dissertações - UFF

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indígena arrancada a seu camucim e ali esquecida.
(ALENCAR, 1966, p.1101 e p. 1102).
A figuração de Jó não como uma múmia qualquer, mas indígena, indica a ruína do
pensador como um elo para a ruína da cultura indígena: ambos massacrados e
desterritorializados em uma sociedade que os despreza em nome da aparência e da
imitação, figuradas pelo licenciado Manuel da Silva de Ourém: a oposição entre o pensador
maduro e marginal e o poeta atrapalhado e superficial é reapresentada em O Sertanejo,
através de Jó e de Ourém.
Primo do vilão Marcos Fragoso, Ourém mantém o olhar afastado dos
acontecimentos que comenta, chegando a subir ao alto da colina para observar a caça ao boi
Dourado.
Como uma espécie de narrador épico com dicção vazia, Ourém mimetiza a épica
portuguesa em um conhecimento reprodutor e enviesado, que, por sua vez, é confrontado às
canções populares sertanejas, para destacar as últimas em sua capacidade maior de traduzir
o universo do interior brasileiro, pois “original”, já que tecidas pela tradição oral 75 .
Incapaz de enxergar o traço épico fora do decalque camoniano, por ele
incessantemente repetido, Ourém não consegue conceber o universo sertanejo fora do
classicismo:
-Mas em suma, senhores, atalhou o Ourém curioso; quem é
esse famoso Dourado, do qual já que o nosso Camões não
teve dele notícias, farei eu
Que se espalhe e se cante no universo,
Se tão sublime preço cabe em verso (...)
-O Dourado é um boi...ia começando o padre Teles.
-Um boi? atalhou o Ourém desconcertado. (...)
75 O que vai ao encontro da discussão tecida nos capítulos anteriores sobre os laivos do épico na produção
romanesca alencarina.