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Tese de doutorado - Biblioteca Digital de Teses e Dissertações - UFF

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Enquanto a metáfora da placa <strong>de</strong> cera em Platão é apenas uma imagem alusiva,<br />

lúdica, Aristóteles, em De memoria et reminiscentia, perceberá literalmente as impressões<br />

da memória como materialida<strong>de</strong>, como algo que realmente ficaria registrado no corpo.<br />

Seria através dos sentidos que a memória produziria imagens; segundo Draaisma:<br />

Na época <strong>de</strong> Aristóteles, a alma (pneuma) era o principal<br />

conceito da física, e a ciência aristotélica do substrato físico<br />

dos vestígios da memória se encaixa nesse conceito: a<br />

memória é o movimento que se enfraquece gradualmente, por<br />

meio da qual a pneuma transporta pelo corpo as impressões<br />

dos sentidos. O <strong>de</strong>stino provisório <strong>de</strong>sse transporte é o<br />

coração, se<strong>de</strong> das emoções. O que é preciso “saber <strong>de</strong> cor”<br />

fica armazenado no centro do sistema cardiovascular. Depois<br />

<strong>de</strong> armazenadas no coração, as impressões superiores – as da<br />

visão, da audição e do olfato – são transportadas pelo<br />

pneuma até o cérebro. (DRAAISMA, 2005, p.52).<br />

A visão aristotélica da ligação sensual entre a memória e o coração legou<br />

etimologicamente o verbo latino recordari e a expressão “<strong>de</strong> cor”, referindo às informações<br />

gravadas pela memória. Aristóteles estabeleceu ainda a distinção entre a mnemê – a<br />

memória pensada em sua potência <strong>de</strong> conservação do passado, e a mamnesi – o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong><br />

recuperar <strong>de</strong> forma voluntária este passado: a memória está “agora incluída no tempo, mas<br />

num tempo que permanece, também para Aristóteles, rebel<strong>de</strong> à inteligibilida<strong>de</strong>”. (LE<br />

GOFF, 1997, p. 22)<br />

Em Platão e Aristóteles, a memória é percebida como um elemento da alma, mas<br />

como manifestação sensível e não intelectual. A imagem platônica do bloco <strong>de</strong> cera já<br />

manifestaria a perda da aura mítica na memória, mas ainda não procuraria “fazer do<br />

passado um conhecimento: quer subtrair-se à experiência temporal” (LE GOFF, 1997, p.<br />

22).

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