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Tese de doutorado - Biblioteca Digital de Teses e Dissertações - UFF

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bajulação. Na distinção entre olhar e ver, ao intelectual é dado ler as contradições, no<br />

quadro chiaroscuro do mundo:<br />

- Nisi quis it facere, insidias nescit metuere.<br />

-Que queres dizer com isto? tornou Vital.<br />

-Que vês a imagem alheia no espelho <strong>de</strong> tua alma; mas eu,<br />

que a vejo à luz da experiência, <strong>de</strong>scubri sombras que te<br />

escapam (...)<br />

- Que me aconselhas então?<br />

- Nada. Segue teu caminho; serás iludido por tua vez e<br />

apren<strong>de</strong>rás a tua custa.<br />

(ALENCAR, 1966).<br />

A solidão <strong>de</strong> Enéia não é física, é emocional, existencial, metáfora para a própria<br />

solidão do escritor no Brasil que, quase monasticamente, vive “retirado numa casinha <strong>de</strong><br />

campo” e é “o verda<strong>de</strong>iro tipo <strong>de</strong> anacoreta do século <strong>de</strong>zenove, que lê o jornal pela manhã,<br />

e à noite joga o seu voltarete” (ALENCAR, 1966, p. 868), como Alencar escreve em uma<br />

crônica.<br />

A <strong>de</strong>dicação à reflexão submete-se ao lugar comum do isolamento como pré-<br />

condição para o exercício intelectual. Entretanto, nas entrelinhas da ironia, o pensador<br />

brasileiro é representado como imerso na velocida<strong>de</strong> da informação <strong>de</strong>scartável, significada<br />

na leitura matinal do texto jornalístico e, na ausência <strong>de</strong> diálogo, pois à noite o que lhe resta<br />

é a diversão vazia.<br />

Em um país <strong>de</strong> poucos leitores e difícil acesso à leitura, a natureza dá-se como livro,<br />

e o intelectual culturaliza o espaço selvagem, percebido como possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> criação <strong>de</strong><br />

pensamentos capazes <strong>de</strong> indicar novas veredas para o nacional: “O resto do tempo leio; mas<br />

não leio no livro dos homens, e sim no livro da natureza, on<strong>de</strong> todos os dias encontro um<br />

novo pensamento, uma nova criação ” (ALENCAR, 1966, p. 868).<br />

Em uma nova aboradagem, a figura do pensador emerge em O Sertanejo, na<br />

personagem enigmática <strong>de</strong> Jó, pouco trabalhada na narrativa. Como ocorre a outras

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