Tese de doutorado - Biblioteca Digital de Teses e Dissertações - UFF
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que fissura a idéia do intelectual como revolucionário e questionador, posicionando-o fora<br />
da impossível tradição, como revela em Como e porque sou romancista:<br />
Deixe arrotarem os poetas mendicantes. O Magnus Apollo da<br />
poesia mo<strong>de</strong>rna, o <strong>de</strong>us da inspiração e pai das musas <strong>de</strong>ste<br />
século, é essa entida<strong>de</strong> que se chama editor, eo seu Parnaso<br />
uma livraria. Se outrora houvesse Homeros, Sófocles,<br />
Virgílios, Horácios e Dantes, sem tipografia, nem impressor,<br />
é porque então escrevia-se nessa página imortal que se<br />
chama a tradição. (ALENCAR, 2006, p. 154).<br />
Entretanto, para Sartre a contradição entre o universal e o particular, é inerente ao<br />
intelectual, concebido como o homem-contradição, na aporia entre o questionamento e o<br />
serviço à hegemonia. Mesmo neste sentido, os questionamentos <strong>de</strong> Alencar não apontam<br />
uma revisão radical do projeto <strong>de</strong> unificação política, mas antes caminhos para a sua<br />
consolidação. A consciência da contradição, positivada na leitura sartriana, porém, existe<br />
mais frágil no Alencar político e mais forte em seus textos literários, embora nas<br />
entrelinhas.<br />
Sartre acredita ser escritor é um intelectual, crê que é possível aliar a sua solidão ao<br />
engajamento, nascido da dialética entre a arte e as condições históricas. O engajamento <strong>de</strong><br />
Alencar é para a classe hegemônica, da qual participa. Os posicionamentos contrários<br />
reivindicados por ele são dis sensões entre os membros <strong>de</strong> uma mesma classe, cuja<br />
consolidação se <strong>de</strong>seja.<br />
Para Sartre, o intelectual é aquele que se rebela; a gran<strong>de</strong> rebeldia <strong>de</strong> Alencar é a<br />
melancolia, o ruminar romântico <strong>de</strong> suas <strong>de</strong>cepções frente à ari<strong>de</strong>z intelectual e o silêncio<br />
ou rejeição à sua produção romanesca e teatral.<br />
Todavia, <strong>de</strong>ntro da proposta gramsciana para a compreensão do conceito <strong>de</strong><br />
intelectual, talvez Alencar pu<strong>de</strong>sse ser assim consi<strong>de</strong>rado. Gramsci percebe o intelectual