Tese de doutorado - Biblioteca Digital de Teses e Dissertações - UFF
Tese de doutorado - Biblioteca Digital de Teses e Dissertações - UFF
Tese de doutorado - Biblioteca Digital de Teses e Dissertações - UFF
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
1 184<br />
philosophes, os pensadores ilustrados: especialistas do saber prático que foram os primeiros<br />
a exce<strong>de</strong>rem as reflexões sobre o seu próprio campo <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>.<br />
Como pensar Alencar em meio a estas duas categorias, escritor em um país fora do<br />
processo <strong>de</strong> ilustração (reverberada como eco na produção árca<strong>de</strong>), artista que produz nas<br />
folgas <strong>de</strong> seu trabalho como político, sua principal ocupação?<br />
Respon<strong>de</strong>r a esta pergunta pressupõe a reflexão sobre os limites e as possibilida<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> diálogo entre a produção política e literária <strong>de</strong> Alencar que sofreu em vida diversos<br />
ataques na política por sua condição <strong>de</strong> escritor, bem como recebeu críticas ou a indiferença<br />
em relação às suas obras, por sua atuação como político.<br />
Perceber a autonomia da obra literária não eli<strong>de</strong> a compreensão da sua condição<br />
dialógica; entretanto a postura politicamente conservadora <strong>de</strong> Alencar, não se espelhava <strong>de</strong><br />
maneira tranqüila em seus textos reveladores da tensão entre o público e o privado no<br />
Brasil, como analisado por Helena.<br />
Por outro lado, temas exaustivamente discutidos por Alencar politicamente, como a<br />
questão da escravidão, são silenciados na narrativa romanesca ou representados nos textos<br />
teatrais – caso <strong>de</strong> Mãe e O <strong>de</strong>mônio familiar, como questões familiares, fora <strong>de</strong> uma<br />
complexida<strong>de</strong> capaz <strong>de</strong> ampliar a discussão.<br />
A condição do escritor brasileiro, escrevendo a toque <strong>de</strong> caixa nas horas vagas 72 ,<br />
convertendo a sua arte em mercadoria (ou, como lê Bau<strong>de</strong>laire, ven<strong>de</strong>ndo-a, como a<br />
prostituta ao seu corpo), solitário e <strong>de</strong>slocado não só como opção <strong>de</strong> vida, mas como<br />
condição sine qua non frente ao quadro nacional, torna-se <strong>de</strong> certa maneira a literatura<br />
como a ativida<strong>de</strong> outra, o campo em que o político “não foi chamado”, em uma inversão<br />
72 Surge <strong>de</strong>ste processo as anedotas sobre Joaquim Manuel <strong>de</strong> Macedo, que escreveria seus romances nas<br />
aulas do Colégio Dom Pedro II. De fato, José <strong>de</strong> Alencar, por exemplo, escreveu em vinte e três anos nada<br />
menos do que vinte romances e seis peças <strong>de</strong> teatro, sem contar sua produção crítica e política.