Tese de doutorado - Biblioteca Digital de Teses e Dissertações - UFF
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Alencar tece nos próprios romances a sua discussão, como nesta passagem<br />
intertextual <strong>de</strong> Senhora, que prossegue na compra do livro pela personagem Aurélia e no<br />
seu diálogo com o crítico que sentencia a sua inverossimilhança, questionada pela<br />
protagonista e pela voz narrativa, que se assume como mediador ao afirmar ter conhecido a<br />
heroína, que lhe contou a história agora narrada por ele. Também vale a pena indicar a<br />
<strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> Senhora feita por uma certa “Elisa do Vale”, segundo Cavalcanti Proença em<br />
uma alusão a Le lys dans le vale.<br />
Em nenhum texto o escritor usa a palavra intelectual (até porque ela surgirá<br />
posteriormente). Mas será que po<strong>de</strong>ríamos assim consi<strong>de</strong>rá-lo?<br />
Se nos valermos das reflexões <strong>de</strong> Jean-Paul Sartre, em Em <strong>de</strong>fesa dos intelectuais,<br />
obra compiladora das palestras realizadas pelo filósofo em Tóquio, o intelectual é<br />
sobretudo um sujeito envolvido com o que não lhe diz respeito, extrapolando o seu campo<br />
técnico <strong>de</strong> atuação e agindo ao mesmo tempo com liberda<strong>de</strong> e comprometimento. Assim,<br />
um físico comprometido somente com o seu trabalho é um técnico; um físico que se propõe<br />
a <strong>de</strong>nunciar e a discutir as implicações da política <strong>de</strong> armamento nuclear é um intelectual.<br />
Segundo Sartre, o termo intelectual surgiu no término do século <strong>de</strong>zenove (1894),<br />
com a atuação <strong>de</strong> Émile Zola e outros intelectuais no caso Dreyfus, na <strong>de</strong>fesa do oficial<br />
pelo escritor no conhecido e virulento artigo “J`accuse!”. Ao <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r Alfred Dreyfus, Zola<br />
foi alcunhado pejorativamente <strong>de</strong> intelectual, por estar atuando em uma questão militar que<br />
não lhe diria respeito, assumindo assim o papel do artista como elemento capaz <strong>de</strong><br />
problematizar e interferir nas discussões coletivas.<br />
Ao situar como marco da função intelectual a atuação <strong>de</strong> Zola (e <strong>de</strong> outros<br />
intelectuais) no caso Dreyfus, Sartre estabelece uma distinção entre os intelectuais e os