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Tese de doutorado - Biblioteca Digital de Teses e Dissertações - UFF

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Em Iracema, Alencar escreve na carta a Dr. Jaguaribe 71 :<br />

Já estava eu meio <strong>de</strong>scrido das coisas, e mais dos homens; e<br />

por isso buscava na literatura diversão à tristeza que me<br />

infundia o estado da pátria entorpecida pela indiferença. (...)<br />

Se, porém, o livro for acomado <strong>de</strong> cediço e Iracema encontrar<br />

a usual indiferença, que vai acolhendo o bom e o mau com a<br />

mesma complacência, quando não é silêncio <strong>de</strong>s<strong>de</strong>nhoso e<br />

ingrato, nesse caso o autor se <strong>de</strong>senganará <strong>de</strong> mais esse<br />

gênero <strong>de</strong> literatura, como já se <strong>de</strong>senganou do teatro e os<br />

versos, como comédias, passarão para a gaveta dos papéis<br />

velhos, relíquias autobiográficas. (ALENCAR, 1966, p. 308).<br />

Além disso, os textos assinados por Sênio (ou S.) nem sempre são sérios, mas<br />

valem-se do riso como arma para <strong>de</strong>nunciar as fissuras da socieda<strong>de</strong>: como ocorre em A<br />

pata da gazela ou em Guerra dos Mascates. Mesmo em Sonhos d´Ouro, a visão crítica <strong>de</strong><br />

mundo <strong>de</strong> Ricardo é pontuada pela ironia romântica do narrador.<br />

O intelectual brasileiro construiria a sua imagem ambíguamente; entre a utopia e a<br />

<strong>de</strong>silusão, a sua tarefa <strong>de</strong> criar pela literatura a face da nação era apenas promessa, a ser<br />

perseguida no experimento <strong>de</strong> criar a literatura brasileira na dialética entre o local e o<br />

universal.<br />

Ao mesmo tempo, Alencar alu<strong>de</strong> ao <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> escapar da transitorieda<strong>de</strong> e dar a<br />

dimensão <strong>de</strong> seu legado: neste sentido escreve “Como e porque sou romancista”, prefácio a<br />

O Guarani no qual refaz a sua experiência como romancista, em um percurso constituído e<br />

construtor <strong>de</strong> imagens da memória subjetiva a cruzarem a coletiva.<br />

Neste texto confessional, o artesanato da memória vincula-se ao romanesco e ambos<br />

ao cruzamento da memória nos âmbitos coletivo e privado (evi<strong>de</strong>ntemente inseparáveis),<br />

em uma reflexão sobre a estética e poética do romance.<br />

71 Indicamos a ambigüida<strong>de</strong> presente na escolha do portador <strong>de</strong>sta carta que discute, sobretudo, caminhos para<br />

a construção <strong>de</strong> uma prosa capaz <strong>de</strong> se posicionar frente à falência do épico: embora Alencar tivesse<br />

realmente um amigo com esse nome, Jaguaribe é um rio que corta o interior do Ceará, alegorizando a idéia <strong>de</strong><br />

um olhar para o sertão, percebido como terra <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong>.

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