Tese de doutorado - Biblioteca Digital de Teses e Dissertações - UFF
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recebimento <strong>de</strong> cabedais ou <strong>de</strong> gêneros <strong>de</strong> tráfegos; para os<br />
particulares era o provimento da mercê que haviam<br />
requerido, ou a reforma da sentença que haviam agravado;<br />
para as mulheres, além da parte que tomavam no que dizia<br />
respeito aos seus pais, irmãos e maridos, havia a curiosida<strong>de</strong>,<br />
sentimento po<strong>de</strong>roso em todas as filhas <strong>de</strong> Eva.<br />
69 (ALENCAR, 1966, p. 15-16).<br />
Espera indiciada na figuração da casa <strong>de</strong> Guerra dos Mascates, propositalmente<br />
construída para ser ponto <strong>de</strong> referência aos que chegam do mar 70 ; e na voz narrativa <strong>de</strong> O<br />
Garatuja a <strong>de</strong>scortinar um cenário on<strong>de</strong> os galeões da frota estão sempre a partir para a<br />
metrópole, em uma cida<strong>de</strong> cuja face dá para o mar. (ALENCAR, 1966, p. 1272).<br />
O porto é limite ao olhar do colonizador, quando em solo brasileiro: colono.<br />
Martim, em Iracema, tem sua perspectiva modificada pelo amor à tría<strong>de</strong> Iracema /terra<br />
virgem / natureza, que o faz entrar em conflito. O mar para ele emerge como signo da<br />
guerra e da conquista, mas também como limite: seu em relação à metrópole, o que lhe<br />
causa nostalgia:<br />
Lembra-se do lugar on<strong>de</strong> nasceu, dos entes queridos que<br />
<strong>de</strong>ixou. Saberá ele se tornará a vê-los algum dia? Arrojou-se<br />
nas ondas e pensou banhar seu corpo nas águas da pátria,<br />
como banhara sua alma nas sauda<strong>de</strong>s <strong>de</strong>la. (ALENCAR,<br />
1980, p. 23 e 57)<br />
e <strong>de</strong> Iracema – colonizada, em relação ao além-mar, que lhe é vedado.<br />
Assim, as imagens da terra e do mar “<strong>de</strong>senca<strong>de</strong>iam uma série <strong>de</strong> metáforas com as<br />
quais se constrói a imagem do Estado na engenharia da usina <strong>de</strong> códigos usados para<br />
promover a interseção entre práticas discursivas e sociais” (HELENA, 2001, p. 111). O mar<br />
69 É interessante como em poucas linhas Alencar mapeia esta imaginária Bahia seiscentista, em um texto que<br />
dialeticamente inventa e inventaria a estrutura social, econômica e política <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> patriarcal,<br />
revelando via ficção o embate entre o po<strong>de</strong>r, o domínio e a liberda<strong>de</strong> no Brasil colonial.<br />
70 Como referido anteriormente no trabalho.