Tese de doutorado - Biblioteca Digital de Teses e Dissertações - UFF
Tese de doutorado - Biblioteca Digital de Teses e Dissertações - UFF
Tese de doutorado - Biblioteca Digital de Teses e Dissertações - UFF
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
1 171<br />
CAPÍTULO 3: SER INTELECTUAL NO OITOCENTOS: REFLEXÕES EM<br />
CLARO-ESCURO<br />
Nos capítulos anteriores, vimos como a escritura <strong>de</strong> Alencar dialoga com o que<br />
percebemos como uma poética da restauração: em torno <strong>de</strong>la são tecidos signos<br />
moduladores <strong>de</strong> imagens ligadas ao nacional: a paisagem, o mar e o porto ligam-se no<br />
ambicioso projeto alencarino <strong>de</strong> representar literariamente a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> brasileira, em uma<br />
história alternativa. Este projeto une a reflexão sobre os caminhos possíveis para a criação<br />
<strong>de</strong> uma literatura brasileira à prática literária, em uma práxis <strong>de</strong>senvolvida lenta e<br />
gradualmente, e muitas vezes <strong>de</strong> forma contraditória.<br />
Via vária que conduz à mesma encruzilhada, as imagens moduladas por Alencar são<br />
as linhas <strong>de</strong>lineadoras do esboço do rosto brasileiro, a se <strong>de</strong>senhar em claro-escuro, em<br />
tantos tons e nuances quanto às dúvidas que a permeiam.<br />
Ser intelectual no Brasil oitocentista era conviver frente à fratura imposta pela<br />
condição periférica e pós-colonial; pelo liberalismo tupiniquim, a reivindicar o escravismo<br />
como espinha dorsal do projeto Brasil; pela incipiência do diálogo crítico, abafado pela<br />
prática da patronagem e centrado antes nas relações privadas do que na consciência<br />
artística. A solidão é um topos recorrente no Romantismo, mas no contexto brasileiro a sua<br />
marca nos revela a condição do intelectual frente às especificida<strong>de</strong>s do país.<br />
A recorrência <strong>de</strong>sse topos em Alencar não po<strong>de</strong> ser pensado fora dos “impulsos <strong>de</strong><br />
mudança trazerem a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> implantar a idéia do marco-zero, na formulação <strong>de</strong> um<br />
reinício sob a égi<strong>de</strong> da alegorização da origem <strong>de</strong> uma coisa e <strong>de</strong> uma causa novas”<br />
(HELENA, 2000, p. 20), a traçar “o contraponto entre a sociabilida<strong>de</strong> e a solidão, que se<br />
inscreverá no rosto mutante do Romantismo” (HELENA, 2000, p. 21):